Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

Livros Preferidos

Nesta página, que está sendo publicada em caráter experimental, eu pretendo trazer ao conhecimento dos amigos que acompanham o meu blog, dentre os livros que li, aqueles que mais me impressionaram e por isso se tornaram para mim os mais importantes.
Inicialmente, devo fazer uma advertência que possa, talvez, evitar alguns comentários que fatalmente apareceriam se ela não fosse feita. São tantos os bons livros a serem lidos durante o curto período de uma vida, que, inevitavelmente, dediquei o pouco tempo de que dispus, enquanto na ativa, e o tempo maior de que agora disponho, à leitura dos livros mais antigos - e que são muitos - que merecem ser lidos, do que aos mais modernos que um dia ainda pretendo ler ...
Além de apenas apontar os títulos dos livros, pretendo também colocar uma pequena sinopse sobre a obra e sobre o seu criador, que possa, quem sabe, motivar aqueles que ainda não a conhecem, à sua leitura.
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OS MISERÁVEIS


O livro que encabeça a minha lista é “Os Miseráveis” (em Francês, “Les Misérables”), um romance histórico francês do escritor Victor Hugo. O romance foi publicado pela primeira vez em 1862, é considerado um dos maiores romances do Século XIX, fazendo parte de uma lista que conheci durante minha estada nos EUA, chamada “Os Cem Maiores Livros do Mundo” – na verdade conheci duas dessas listas, que divergem em cinco obras, de forma que passei a chama-la de “Os 105 maiores Livros do Mundo”. Sucintamente, o romance conta a história de Jean Valjean, preso por cinco anos por roubar um pão para matar a fome dos sete filhos esfomeados de sua irmã; tendo adicionado 14 anos à sua pena, por sucessivas tentativas de fuga, ele é finalmente libertado sob fiança e o autor narra sua fantástica experiência em busca da completa redenção, sempre implacavelmente perseguido pelo Inspetor Javert, convicto do cumprimento do seu dever. Em suas aventuras, Jean Valjean encontra personagens inesquecíveis, como a pobre e infeliz Fantine, sua filha recém nascida Cosette, o revolucionário estudante de direito Marius Pontmercy, que se apaixona por Cosette, Monsieur e Madame Thénardier, estalajadeiros que exploram Cosette e seus cinco filhos, entre eles Éponine (que se torna uma maltrapilha de rua) e Gavroche (menino desamado que morre nas barricadas juntando munição), o Bispo Myryel, que faz Jean Valjean mudar de vida e Enjolras, o líder dos “Amigos do ABC” no levante de Paris, entre outros. O romance inicia em 1815 e encerra em 1832, durante a revolução de junho, em Paris. Examinando a natureza da lei e do perdão, o romance discorre sobre a arquitetura e projeto urbano de Paris, política, moral, filosofia, antimonarquismo, justiça, religião, bem como tipos e natureza dos amores romântico e familiar.

Não vejo melhor forma de homenagear obra tão grandiosa, do que transcrevendo aqui o epitáfio sobre a lápide de Jean Valjean, últimas palavras e perfeita metáfora do romance. Em português:

Ei-lo, aqui dorme. Trouxe-o sempre a sorte
Em contínuos baldões, porém vivia.
Perdeu seu anjo, arrebatou-o a morte,
Sereno como a noite após o dia!

Ou no original francês:

Il dort. Quoique le sort fût pour lui bien étrange,
Il vivait. Il mourut quando il n’eut plus son ange;
La chose simplement d’elle même arriva,
Comme la nuit se fait lorsque le jour s’en va.

“Les Misérables” foi popularizado através de várias adaptações para o palco, televisão, cinema e musical, além de um recente filme sobre o musical. O tema principal deste musical é uma obra de arte dos autores Claude-Michel Schönberg e Alain Boublil, que eu apresento aqui, para os interessados, na magnífica interpretação de Susan Boyle. Quem preferir, poderá usar o "link" a seguir para ouvir a interpretação do próprio musical, na voz da personagem Fantine (Anne Hathaway)

Victor-Marie Hugo foi um poeta, romancista e dramaturgo francês, nascido em 26 de fevereiro de 1802, em Besançon e morto em 22 de maio de 1885, em Paris. Foi um dos mais importantes escritores românticos franceses e, embora seja visto na França como um dos maiores poetas do país, no estrangeiro e melhor conhecido por seus romances “Les Misérables” e “Notre Dame de Paris”, publicado em 1831.

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GUERRA E PAZ

Dando sequência à minha lista de "Livros Preferidos", hoje apresento aos leitores uma obra que, junto com a primeira apresentada, constitui uma dupla imbatível no rol dos grandes trabalhos da literatura universal. Até eu conhecer "Os Miseráveis", "Guerra e Paz" - que também faz parte da lista "Os Cem Maiores Livros do Mundo" -, era a minha preferida absoluta; hoje minha preferência é repartida com a anterior.
Quando Tolstoy começou a escrever sua novela “Guerra e Paz”, em 1863, ele pretendia, inicialmente, escrever uma crônica doméstica que se desenvolveria em 1856, envolvendo um revolucionário aristocrata e o seu retorno do exílio na Sibéria, com título totalmente diverso. Entretanto, a fim de explicar a atmosfera da Rússia logo após a Guerra da Criméia (1853. Ver artigo em meu blog http://nsantanna.blogspot.com.br/, denominado “A Guerra da Crimeia ...”, em duas partes), o autor viu que teria de ir até 1825, quando os “Dezembristas”, rebeldes da classe superior, foram presos e ou executados ou exilados; mas 1825 não poderia ser descrito sem chegar ao ano de 1812, quando Napoleão invadiu a Rússia e ocupou Moscou por um mês; contudo, 1812 obviamente necessitava de 1805 – ano em que Rússia e Áustria (como membros da Terceira Coalisão, juntos com a Inglaterra) foram derrotadas por Napoleão na Batalha de Austerlitz -, como um prelúdio adequado, ano em que, finalmente, “Guerra e Paz” inicia, tornando-se, nada mais, nada menos, do que uma tentativa de escrever a história da Rússia durante as guerras napoleônicas.
Capa de frente da obra Guerra e Paz
Como todo o romance épico, que junta história e ficção, a obra prima de Tolstoy é, em essência, uma história de duas famílias, os Rostov e os Bolkonsky, e um excêntrico forasteiro, Pierre Bezukhov, que se move entre eles. O romance entrelaça as vidas de indivíduos públicos e privados durante o tempo das guerras napoleônicas e a invasão francesa da Rússia. Os destinos dos Rostov e dos Bolkonsky, de Pierre, Natasha e Andrei, se encontram intimamente ligados com a história nacional que é representada em paralelo com suas vidas.
“Guerra e Paz” inicia na cidade russa de São Petersburg, em 1805, quando as conquistas de Napoleão na Europa Ocidental apenas começam a instilar medo na Rúsia. Muitos dos personagens do romance são apresentados numa festa da sociedade anfitriã, entre eles, Pierre Bezukhov, o socialmente complicado, mas agradável filho ilegítimo de um conde rico, e Andrey Bolkonsky, o inteligente e ambicioso filho de um comandante militar aposentado. Também encontramos a sorrateira e superficial família Kuragin, que inclui o astuto pai Vasili, o filho caçador de fortunas Anatole e a encantadora filha Helene. Somos apresentados aos Rostov, uma nobre família moscovita que inclui a jovial filha Natasha, a calma prima Sonya e o impetuoso filho Nikolai, recém alistado no exército conduzido pelo velho general Kutuzov.
As tropas russas são mobilizadas em aliança com o Império Austríaco que resiste ao assalto de Napoleão. Andrey e Nikolai vão para o front, onde o primeiro é ferido na Batalha de Austerlitz, mas sobrevive, embora seja por muito tempo considerado morto. Pierre torna-se o único herdeiro da fortuna de seu pai e casa com Helene Kuragina. Helene trai Pierre que desafia seu sedutor para um duelo em que quase mata o homem.
Liza, a esposa de Andrey, dá à luz um filho quando da sua chegada  à propriedade, para espanto da família. Liza morre do parto e dá o filho para ser criado por Marya, devotada irmã de Andrey. Pierre, desiludido com sua vida de casado, deixa sua esposa e se envolve na prática da Maçonaria; tenta aplicar os ensinamentos da prática ao gerenciamento de sua propriedade rural, repartindo seus ensinamentos com seu cético amigo Andrey que ajuda na reforma do governo russo. Enquanto isso, a fortuna da família Rostov começa a cair, em parte por causa das dívidas de jogo de Nikolai, e por isso consideram a venda de sua amada propriedade rural, Otradnoe.
Nikolai é encorajado a casar uma rica herdeira a despeito de seu anterior compromisso com Sonya. A carreira de Nikolai no exército prossegue e ele testemunha a paz entre Napoleão e o czar Alexander. Natasha cresce, vai ao seu primeiro baile e se apaixona por vários homens antes de se sentir seriamente atraída por Andrey, cujo pai objeta ao casamento e exige que ele espere um ano antes de casar com Natasha, que se submete à exigência; Andrey sai em viagem.
Após a partida de Andrey, seu pai torna-se irritado e cruel com relação a Marya que se resigna. Natasha é atraída por Anatole Kuragin que lhe confessa seu amor. Finalmente ela decide que ama Anatole e planejam fugir juntos, mas o plano falha. Andrey retorna e rejeita Natasha por seu envolvimento com Anatole. Pierre a consola e sente-se atraída por ela, que adoece.
Em 1812 Napoleão invade a Rússia e a guerra é declarada pelo Czar Alexander. Andrey retorna ao serviço militar ativo. Pierre observa a a resposta de Moscou às ameaças de Napoleão e desenvolve a ideia de que tem a missão de matar Napoleão. Os franceses se aproximam das propriedade rural dos Bolkonski e Marya e o velho príncipe Bolkonski (pai de Andrey) são aconselhados a fugir. O príncipe morre com a chegada das tropas e Marya, forçada a fugir, encontra os camponeses hostis. Nikolai aparece e salva Marya e os dois se apaixonam.
A decisiva batalha de Borodino em 07/09/1812
Russos e franceses lutam uma batalha decisiva em Borodino (com muitas baixas, sem vencedor, mas com a retirada dos russos) que permitiu, a Napoleão, a tomada de Moscou. Em São Petersburgo a vida na alta sociedade seguia quase inalterada com a ocupação de Moscou. Helene busca a anulação do seu casamento com Pierre a fim de casar-se com um príncipe estrangeiro. Perturbado com as notícias, Pierre enlouquece, abandona seus companheiros e vagueia só em Moscou.
Enquanto isso, os Rostov juntam seus pertences preparando para evacuar, mas abandonam suas posses para o transporte de soldados feridos. O irmão mais jovem de Natasha, Petya, entra para o exército. Em seu caminho saindo da cidade, os Rostov carregam junto o ferido Andrey. Pierre, ainda vagueando meio louco por Moscou, vê a anarquia, pilhagem, fogo e crimes espalhados. Ainda obcecado pela ideia de matar Napoleão, ele salva uma garota do fogo mas é preso pelas autoridades francesas. E testemunha a execução de vários de seus colegas de prisão, ligando-se a um sábio camponês chamado Platon Karataev.
A tia de Nilkolai busca um casamento entre ele e Marya, mas Nikolai resiste, lembrando-se do seu compromisso com Sonya. Marya visita os Rostov para ver o ferido Andrey e Natasha e Marya se aproximam. Andrey perdoa Natasha declarando o seu amor por ela antes de morrer. O general Kutuzov conduz as tropas russas de volta a Moscou que os franceses já haviam então abandonado, levando juntos os prisioneiros russos, inclusive Pierre. A caminho Platon adoece e é morto como um vagabundo. Os russos perseguem os franceses e seguem-se pequenas lutas de guerrilha. Petya é atingido e morre. Pierre, após ser liberado dos franceses, adoece por três meses. Após sua recuperação ele percebe seu amor por Natasha e é correspondido, casam-se em 1813 e têm quatro crianças. Natasha transforma-se em uma pesada e deselegante matrona russa. Nikolai casa com Marya, resolvendo os problemas financeiros da sua família e reconstrói a propriedade da família de Marya, danificada com a guerra. E embora algumas tensões acabam por ter uma feliz vida familiar.
Retirada de Napoleão de Moscou, em quadro de
Adolf Northern, 1828-1876
Mas algumas coisas ficam na “fervura”: Pierre está convencido de que alguma espécie de levante será necessário para varrer a corrupção e o mau gerenciamento nos altos escalões em Petersburgo. Nikolenka, o filho adolescente do falecido príncipe Andrey Bolkonsky e um grande admirador de Pierre, sonha em tornar-se um soldado nas fileiras dos revolucionários. Aqui, o romance claramente prenuncia a rebelião dos Dezembristas de 1825, como se Tolstoy, retornando aos seus primeiros planos para o livro, estivesse preparando o terreno para uma continuação, que poderia ter sido o prosseguimento do registro histórico até 1856, o ponto inicial original da sua narrativa. De fato, “Guerra e Paz” não termina com esse vislumbre de felicidade conjugal, mas com um ensaio de 35 páginas em que Tolstoy retorna ao tema da sua obra prima. Da mesma forma que a “paz” da novela é sobre duas grandes famílias e um forasteiro, a “guerra” é também sobre duas famílias e um forasteiro: os povos da Rússia e da França e o singular Napoleão, gênio militar que os coloca juntos. Tolstoy chamou a isso “a vida como uma colmeia, onde o homem, inevitavelmente, cumpre as leis que são prescritas”. Napoleão e grandes homens como ele, se imaginam totalmente livres, mas são, de fato, servos da história. Os personagens de Tolstoy muitas vezes aprendem que não podem achar que a única realidade do mundo é o seu próprio “eu”, mas reconhecem que as vidas de outras pessoas, ou outras grandes verdades, são tão importantes quanto a verdade de suas próprias existências. 
Evidentemente, não poderia encerrar essa postagem sem apresentar algo sobre o grande autor desse extraordinário romance. O Conde Lev Nikolayevich Tolstoy, mais conhecido em português como Leon, Leão ou Liev Tolstoy (ou Tolstoi), nascido em 9 de setembro de 1828 e morto em 20 de novembro de 1910, foi um romancista, dramaturgo e filósofo russo, considerado um dos maiores romancistas de todos os tempos. Suas obras mais famosas são “Guerra e Paz” (1869) e “Anna Karenina” (1877). Obteve aclamação literária antes de completar os trinta anos, com sua trilogia semiautobiográfica de novelas: “Infância”, “Meninice” e “Juventude” (1852-1856), e “Esboços de Sebastopol” (1855), baseado em suas experiências na Guerra da Criméia. Sua produção na ficção inclui dois outros romances, dezenas de contos, que incluem “A Morte de Ivan Ilyich”, “Felicidade Familiar” e “Hadji Murad”. Além disso, escreveu peças de teatro e ensaios filosóficos sobre cristianismo, resistência não violenta, arte e pacifismo.
Casa de Tolstoy na propriedade Yasnaya Poliana
Tolstoy nasceu em Yasnaya Polyana, a propriedade rural da família, na província de Tula, Rússia, a 200 km de Moscou. Foi o quarto de cinco filhos de uma família conhecida da nobreza russa, cujo pai era o conde Nikolai Ilyich Tolstoy, um veterano da guerra de 1812 e a mãe, a condessa Mariya Tolstaya (Volkonskaya), ambos mortos quando ele era jovem, sendo criado por parentes. Em 1844 começou a estudar direito e línguas na Universidade de Kazan, que abandonou no meio dos seus estudos, retornando a Yasnaya Polyana, após passando a maior parte do seu tempo em Moscou e São Petersburgo. Em 1851, após contrair pesadas dívidas de jogo, foi com o seu irmão mais velho para o Cáucaso onde se alistaram no exército, época em que começou a escrever.
Sua conversão de um autor dissoluto e privilegiado da sociedade, para o anarquista espiritual e não violento dos seus últimos dias, chegou através de sua experiência no exército e de duas viagens à Europa, em 1857 e 1860-61. Durante a sua primeira viagem, Tolstoy testemunhou, em Paris, uma execução pública que lhe marcou para o resto da vida. Numa carta a seu amigo Vasily Botkin, ele escreveu: “A verdade é que o Estado é uma conspiração projetada não apenas para explorar, mas, sobretudo, para corromper os seus cidadãos... Doravante, eu nunca servirei a qualquer governo em qualquer lugar. Na viagem de 1860-61, ele formatou seu desenvolvimento literário e político quando encontrou Victor Hugo, cujos talentos literários ele louvou após ler seu recém concluído romance “Les Misérables”. 
Primeira foto colorida de Tolstoy
na Rússia, 1908
 
Inflamado pelo entusiasmo, Tolstoy retornou a Yasnaya Polyana e fundou treze escolas para os filhos de seus servos, baseadas nos princípios que descreveu em seu ensaiode 1862 “A Escola em Yasnaya Polyana”. Seus experimento educacionais tiveram vida curta, mas podem ser consideradas como primeiro exemplo de uma coerente teoria de educação democrática.
Tolstoy foi igualmente conhecido por sua complicada e paradoxal pessoa e por seus extremos pontos de vista moralista e ascético, que adotou após uma crise moral e um despertar espiritual nos anos 1870. Suas ideias de resistência não violenta, expressa em alguns de seus trabalhos, tiveram um profundo impacto em algumas figuras proeminentes do século XX, como Gandhi e Martin Luther King. 
Tolstoy morreu de pneumonia em 1910, com a idade de 82 anos, numa estação de trem , após um dia de jornada ao sul. Renunciando ao seu aristocrático estilo de vida, ele tinha finalmente reunido energia para separar-se de sua esposa Sophia e de seus ciúmes. A polícia tentou limitar o acesso ao funeral, mas milhares de camponeses encheram as ruas. Além de dizerem saber que algum nobre havia morrido, quase nada mais sabiam sobre Tolstoy.







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