Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A HISTÓRIA DO IMPÉRIO PERSA (IRÃ) - Parte 8 (Final)

V – IMPÉRIO TIMÚRIDA (1370-1507)


Reconstrução facial de Timur
a partir do crâneo
O Irã permaneceu dividido até a chegada de Amir Timur (ou Tamerlão, do turcomano Timur-i-Lenk, Timur, o coxo), de origem mongol ou turca, pertencendo à dinastia Timurid. O Império Timúrida, como seus predecessores, era também parte do mundo Persianato e no seu auge envolveu o Irã moderno, o Cáucaso, Mesopotâmia, Afeganistão, muito da Ásia Central, bem como partes do atual Paquistão, Síria e Turquia. Timur conquistou grandes partes da Ásia Central de 1363 em diante, com várias alianças, sendo reconhecido como líder entre eles em 1370.
Após estabelecer uma base de poder na Transoxiana, Timur iniciou sua campanha para o oeste em 1380, invadindo o Irã em 1381. Cerca de 1389 Timur havia adentrado o território principal da Pérsia onde teve muitos sucessos, acabando por conquistar sua maior parte. Em 1400-1401 ele conquistou Alepo e Damasco, na Síria e a área oriental da Anatólia; em 1401 ele destruiu Bagdá e em 1402 derrotou os Otomanos na Batalha de Ankara, tornando-se o mais proeminente governante muçulmano da época, com o Império Otomano mergulhando na guerra civil. Seu regime caracterizou-se pela inclusão de iranianos em posições administrativas e pela promoção da arquitetura e poesia e durou até a sua morte em 1405.
Timur indicara seus filhos e netos como líderes das diferentes partes do seu império. Após a sua morte a família caiu rapidamente em disputas e guerras civis e muitas das suas governanças tornaram-se efetivamente independentes. Entretanto os governantes timúridas continuaram a dominar muito daquela área, perdendo os territórios do Cáucaso e Anatólia cerca de 1430.
Com a destruição das cidades persas pelas guerras, o assento da cultura persa quedou-se em Samarkand e Herat, que se tornaram centros da renascença timúrida. As campanhas de Timur ficaram conhecidas por sua brutalidade: muitas cidades foram destruídas e estima-se que suas conquistas custaram a morte de 17 milhões de pessoas.
Seus sucessores Timúridas, mantiveram o poder sobre a maioria do Irã até 1452, quando perderam a maior parte para os Kara Koyunlu, que foram conquistados pelos Ak Koyunlu, liderados por Uzun Hasan, em 1468; Uzun Hasan e seus sucessores foram os governantes do Irã até a ascensão dos Safávidas.

V.1 – OS KARA KOYUNLU

Os Kara Koyunlu, também chamados “Turcomanos das Ovelhas Negras” foram uma federação tribal Oghuz Turca xiita que governou o território que compreendia os atuais Azerbaijão, Armênia, noroeste do Irã, Turquia Oriental e a região nordeste do Iraque, de 1375 a 1468. Em algum momento eles haviam estabelecido sua capital em Herat (Irã Oriental). Foram vassalos do Sultanato Jalairida, em Bagdá e Tabriz (extremo noroeste do Irã), cerca de 1375, quando o líder de sua tribo principal governava de Mosul (cidade do norte do Iraque, no rio Tigre). Eles então se rebelaram contra os Jalairidas, assegurando sua independência da dinastia com a conquista de Tabriz por Qara Yusuf. Em 1400, Timur derrotou Kara Koyunlu e Qara Yusuf fugiu para o Egito buscando refúgio com o Sultanato Mameluco. Cerca de 1406 ele reuniu um exército e tomou novamente Tabriz. Em 1410 os Kara Koyunlu capturaram Bagdá, onde instalaram uma linha secundária dos “Ovelhas Negras” que apressou a queda dos Jalairidas que eles haviam servido anteriormente. Embora a luta interna entre os descendentes de Qara Yusuf após a sua morte, em 1420, e a crescente ameaça da dinastia Timúrida, os Kara Koyunlu mantiveram um forte controle sobre as áreas que eles dominavam. Jahan Shah fez paz com o timúrida Shahrukh Mirza que durou pouco, pois quando este morreu, em 1447, os “Ovelhas Negras” anexaram porções do Iraque e a costa oriental da Península Arábica, além da região ocidental do Irã controlada pelos timúridas. Embora muito território tenha sido ganho durante o seu reinado, ele foi complicado por seus filhos rebeldes e os quase autônomos governantes de Bagdá, que ele expulsou em 1464. Em 1466, Jahan Shah tentou tomar Diyarbakir (na atual Turquia) dos Ak Koyunlu, sofrendo um catastrófico fracasso que terminou com a morte de Jahan Shah e o colapso do controle dos “Ovelhas Negras” turcomanos no Oriente Médio. Cerca de 1468, no seu auge, sob Uzun Hasan (1452-1478), os Ak Koyunlu derrotaram os Kara Koyunlu e conquistaram o Iraque, o Azerbaijão e o Irã Ocidental.

V.2 – OS AK KOYUNLU

Os Ak Koyunlu (ou Aq Qoyunlu), também chamados de Turcomanos das “Ovelhas Brancas”, foram uma federação tribal turca do Persianato Sunita Oghuz que governou os modernos Azerbaijão, Armênia, Turquia Oriental, parte do Irã e o norte do Iraque, de 1378 a 1501. De acordo com as crônicas sobre o Império Bizantino, os Ak Koyunlu foram os primeiros do distrito de Bayburt (região da Anatólia Nordeste da Turquia), ao sul das montanhas Pontic, pelo menos desde os 1340, e a maioria de seus líderes, incluindo o fundador da dinastia, Qara Osman, casaram com princesas bizantinas. Os turcomanos Ak Koyunlu compraram suas primeiras terras em 1402, quando Timur lhes garantiu todo Diyar Bakr, a sudeste da atual Turquia. Por muito tempo os “Ovelhas Brancas” não puderam expandir seu território pois seus rivais, “Ovelhas Negras”, os mantinham cercados. Isso mudou com o governo de Uzun Hassan que derrotou seu líder Jahan Shah em 1467. Após a derrota de Abu As’id, o líder timúrida, Uzun Hasan conseguiu tomar Bagdá com vários territórios em torno do Golfo Pérsico. Expandiu seu reino para leste do Irã até o Khorasan. Contudo, por esta época, o Império Otomano iniciava sua expansão para o leste, tornando-se uma séria ameaça que forçou os Ak Koyunlu a uma aliança com os Karamanidas da Anatólia Central. Desde 1464 Uzun Hasan havia solicitado ajuda de um dos mais fortes inimigos do Império Otomano, Veneza. Embora suas promessas, a ajuda veneziana nunca chegou e, como resultado, Uzun Hasan foi derrotado pelos Otomanos na batalha de Otlukbeli, em 1473, embora os Ak Koyunli não fossem destruídos. Uzun Hasan morreu no início de 1478 e foi sucedido por seu filho Khalil Mirza, derrotado por uma confederação sob o comando de seu irmão mais jovem Ya’qub, na batalha de Khoy, em julho do mesmo ano. Ya’qub reinou de 1478 a 1490 sustentando a dinastia ainda por algum tempo. Contudo, durante seus primeiros quatro anos de reinado, sete pretendentes ao trono tiveram que ser eliminados. Após a sua morte a guerra civil irrompeu e os Ak Koyunlus se destruíram em combates internos, a ponto de deixarem de ser uma ameaça a seus vizinhos.

VI - IMPÉRIO SAFÁVIDA (1501-1736)

O Império Safávida inaugura o que na história da Pérsia é denominada de “Idade Moderna Inicial” e que vai de 1502 a 1925. Por essa razão, este será o último item da nossa publicação sobre o assunto e só o estudaremos parcialmente. 
O Império Safávida à época de sua maior extensão
A Pérsia passou por uma espécie de renascimento com a Dinastia Safávida, que reinou de 1501 a 1736 e cuja figura mais proeminente foi Shah Abbas I. Alguns historiadores creditam à dinastia Safávida a fundação do moderno Estado-Nação do Irã.
A dinastia Safávida foi uma das mais significativas dinastias governantes da Pérsia. Eles governaram um dos maiores impérios persas após a conquista muçulmana da Pérsia e estabeleceram a Escola dos Doze do islamismo xiita, como a religião oficial do seu império, marcando um dos mais pontos críticos da história muçulmana. Os Safávidas governaram de 1501 a 1722 (experimentando uma breve restauração de 1729 a 1736) e no seu auge controlaram todo o atual Irã, Azerbaijão, Armênia, a maior parte da Geórgia, o norte do Cáucaso, Iraque, Kuwait e Afeganistão, bem como partes da Turquia, Síria, Paquistão, Turquemenistão e Uzbequistão. O Irã Safávida foi um dos “impérios da pólvora” muçulmanos, junto com seus vizinhos, o arquirrival e principal inimigo, o Império Otomano, e o Império Mughal (ou Mogul). 
Shah Ismail I, fundador da dinastia Safávida
O governo Safávida foi fundado por Ismail, que intitulou-se Shah Ismail I. Praticamente adorado por seus seguidores militantes xiitas do Azerbaijão, Anatólia e Curdistão (militantes Qizilbash), Ismail I invadiu o Xirvam (cidade do leste do Azerbaijão) para vingar a morte de seu pai Shaykh Haydar, morto durante o cerco de Derbente (cidade mais meridional da Rússia), na república do Daguestão, mar Cáspio. Posteriormente seguiu em campanha de conquista e logo após a captura de Tabriz (uma das capitais históricas do Irã), em julho de 1501, entronou-se como Shah do Azerbaijão e cunhou moedas com seu nome, proclamando o Xiismo como religião oficial de seus domínios.
Embora inicialmente apenas os mestres do Azerbaijão e sul do Dagestão, os Safávidas haviam, de fato, vencido a luta pelo poder na Pérsia, que persistia por quase um século entre as várias dinastias e forças políticas que se seguiram à fragmentação dos Kara Koyunlu e dos Ak Koyunlu. Após um ano de sua vitória em Tabriz, Ismail I proclamou a maior parte da Pérsia como seu domínio e rapidamente conquistou e unificou o Irã sob seu governo. Em seguida, o novo Império Safávida rapidamente conquistou regiões, nações e povos em todas as direções, incluindo a Armênia, Azerbaijão, partes da Geórgia, Mesopotâmia (Iraque), Kuwait, Síria, Dagestão, grande parte do atual Afeganistão, partes do Turquemenistão e grandes áreas da Anatólia, lançando a fundação do caráter multiétnico que influenciaria pesadamente o próprio Império (muito notadamente o Cáucaso e seus povos).
Durante o reinado de Tahmasp, ele realizou múltiplas invasões no Cáucaso, que havia sido incorporado ao Império Safávida desde Shah Ismail I e por muitos séculos adiante, e iniciou o movimento de deportação e movimentação de centenas de milhares de circassianos, georgianos e armênios para o território central do Irã. Inicialmente somente colocados nos haréns reais, guardas reais e seções menores do Império, Tahmasp acreditava que poderia eventualmente reduzir o poder dos militantes xiitas criando e completamente integrando uma nova camada na sociedade iraniana. Com essa nova camada caucasiana na sociedade iraniana, o poder indisputado dos Quizilbash seria questionado e muito diminuído à medida que a sociedade tornava-se totalmente meritocrática. 
Shah Abbas I, o maior dos
monarcas Safávidas
Shah Abbas I e seus sucessores expandiriam significativamente esta política e planejamento iniciado por Tahmasp, deportando, somente durante seu reino, cerca de duzentos mil georgianos, trezentos mil armênios e de cem a cento e cinquenta mil circassianos para o Irã, completando as fundações de uma nova camada na sociedade iraniana. Com isso e com a completa desorganização dos Qizilbash por suas ordens pessoais, ele acabou por ter um completo sucesso na substituição do poder dos Qizilbash pelo dos ghulams (soldados escravos nos impérios Abássida, Otomano, Safávida e, em menor extensão, Mughal, com plural ghilman) caucasianos. Estes novos elementos caucasianos seriam, após sua conversão ao xiismo e dependendo da função, quase sempre totalmente leais ao Shah, diferentemente dos Qizilbash. As demais massas de caucasianos foram organizados em todas as outras posições disponíveis no império, incluindo o harém, exército regular, artesãos, fazendeiros etc... Este sistema de uso em massa dos súditos caucasianos existiu até a queda da dinastia Qajar.
O maior dos monarcas Safávidas, Shah Abbas I, o Grande (1587-1629), chegou ao poder com 16 anos, lutando primeiro contra os Uzbeques (habitantes do Uzbequistão), recapturando Herat e Mashhad em 1598, perdidas por seu antecessor Mohammad Khodabanda com a Guerra Otomana-Safávida (1578-1590). Depois ele virou-se contra os Otomanos, arquirrivais dos Safávidas, recapturando Bagdá, o leste do Iraque e as províncias do Cáucaso e além, cerca de 1618. Entre 1616 e 1618, após a desobediência de seus mais leais súditos georgianos Teimuraz I e Luarsab II, Abbas realizou uma campanha punitiva nos seus territórios da Geórgia, devastando Kakheti (antiga província no extremo leste da Georgia) e Tbilisi (capital e maior cidade da atual Georgia), carregando consigo entre 130.000 e 200.000 cativos georgianos para o Irã. Seu novo exército, que havia sido grandemente melhorado de acordo com o modelo britânico, com o advento de Robert Shirley e seus irmãos, que se seguiram à primeira missão diplomática na Europa, infligiram sua primeira vitória sobre os otomanos, sobrepujando-os em poderio militar. Ele também usou sua nova força para expulsar os portugueses do Bahrain (1602) e de Ormuz (1622) com a ajuda da marinha inglesa, no Golfo Pérsico. Expandiu os laços comerciais com a Companhia das Índias Orientais, estabelecendo firmes laços com as casas reais europeias, iniciados por Ismail I, anteriormente, pela aliança Habsburg-Pérsia. Assim, Abbas I pôde quebrar a dependência dos Qizilbash de poderio militar, centralizando o controle. A dinastia Safávida já havia se estabelecido com Shah Ismail I, mas com Abbas I tornou-se uma das maiores potências mundiais, junto com seu arquirrival Império Otomano, com o qual ele pode competir em pé de igualdade. Foi iniciada a promoção do turismo no Irã e sob o seu governo a arquitetura persa floresceu novamente e viu muitos novos monumentos em várias cidades iranianas, das quais Isfahan tornou-se o mais notável exemplo.
Exceção feita a Shah Abbas, o Grande, Shah Ismail I, Shah Tahmasp I e Shah Abbas II, muitos dos governantes Safávidas foram ineficazes, muitas vezes com mais interesse em suas mulheres, álcool e outras atividades de lazer. O fim do reinado de Abbas II, em 1666, marcou o início do fim da dinastia Safávida. A despeito das receitas decrescentes e das ameaças militares, muitos dos últimos shahs tinham pródigos estilos de vida. O Shah Soltan Hosain (1694-1722), em particular, era conhecido por seu amor ao vinho e seu desinteresse pelas ações de governo.
O país em declínio era repetidamente atacado em suas fronteiras. Finalmente, o chefete Ghilzai Pashtun, nomeado Mir Wais Khanm, iniciou uma rebelião em Kandahar e derrotou o exército Safávida sob o governador georgiano iraniano sobre toda a região, Gurgin Khan. Em 1722, Pedro o Grande, da vizinha Rússia Imperial, lançou a Guerra Russo-Persa (1722-1723) capturando muito dos territórios caucasianos, incluindo Derbent, Shaki, Baku, mas também Gilan, Mazandaran e Astrabad. No meio de todo o caos, no mesmo ano de 1722, um exército afegão conduzido pelo filho de Mir Wais, Mahmud, marchou através do Irã oriental, sitiou e tomou Isfahan, com Mahmud proclamando-se Xá da Pérsia. Enquanto isso, os rivais imperiais da Pérsia, otomanos e russos, tiravam vantagem do caos no país para tomar mais territórios para si. Com esses eventos, a dinastia Safávida efetivamente terminava. Em 1742, de acordo com o tratado de Constantinopla, os otomanos e russos concordaram em dividir entre si os territórios recém conquistados do Irã.
A integridade territorial do Irã foi restaurada por um líder militar iraniano nativo de origem turca, da dinastia Afshar, do Khorasan, chamado Nader Shah. Ele derrotou e baniu os afegãos, derrotou os otomanos, reinstalou os Safávidas no trono e negociou a retirada russa dos territórios iranianos no Cáucaso, pelos tratados de Resht e Ganja. Por 1736, Nader tinha se tornado tão poderoso que pode destronar os Safávidas coroando-se Shah. Nader foi um dos últimos grandes conquistadores da Ásia e brevemente possuiu o que foi provavelmente o mais poderoso império do mundo. Para ajuda financeira em suas guerras contra seus arquirrivais otomanos, ele se dedicou ao fraco, mas rico Império Mughall a leste, na Índia. Em 1739, acompanhado por seus leais súditos caucasianos, ele invadiu a Índia Mughall, derrotou um exército numericamente superior em menos de três horas, saqueando e pilhando totalmente a sua capital, Delhi, levando uma imensa fortuna de volta à Pérsia. Em seu retorno também conquistou todos os canatos do Uzbequistão, exceto Kokand, tornando-os seus vassalos. Restabeleceu firmemente o domínio persa sobre todo o Cáucaso, Bahrain, bem como grandes áreas da Anatólia e Mesopotâmia. Sem sofrer derrotas por muitos anos, sua derrota no Daguestão, as rebeliões de guerrilha dos Lezgins que se seguiram e a sua tentativa de assassinato próximo de Mazandaran, é muitas vezes vista como o ponto crítico da impressionante carreira de Nader. Frustrante para ele, os dagestanis recorreram à guerrilha e Nader, com seu exército regular pode fazer pouco progresso contra eles. Na Batalha de Andalal e na Batalha de Avaria, o exército de Nader foi totalmente derrotado e ele foi obrigado a fugir para as montanhas. Em 1747 ele foi finalmente assassinado. Sua morte foi seguida por um período de anarquia no Irã com os comandantes rivais do exército lutando por poder. A própria família de Nader, os afsharidas, logo foram reduzidos a manter apenas um pequeno domínio no Khorasan. Muitos dos territórios caucasianos se dividiram em vários canatos caucasianos. Os otomanos recuperaram territórios perdidos na Anatólia e Mesopotâmia. Oman e os canatos do Uzbequistão de Bukhara e Khiva recuperaram sua independência. Ahmad Shah Durrani, um dos oficiais de Nader, fundou um estado independente que veio a tornar-se o atual Afeganistão. Erekle II, que havia sido indicado rei do Kakheti pelo próprio Nader em 1744, declarou-se independente e tomou para si o vizinho Reino de Kartli. Mais tarde ele uniria o Reino de Kartli-Kakheti e tornar-se ia o novo rei georgiano de uma Geórgia Oriental politicamente unida pela primeira vez em três séculos. De sua capital Shiraz, Kharim Khan, da dinastia Zand, fez uma ilha de relativa calma e paz no que anteriormente havia sido um período destrutivo e sangrento; contudo, a extensão do poder Zand foi confinado ao Irã contemporâneo e partes do Cáucaso. Entre 1747 e 1795, durante o período Zand, Erekle foi, portanto, pelos acontecimentos no Irã, capaz de manter a autonomia da Geórgia. A morte de Karim Khan em 1779 conduziu a uma outra guerra civil em que a dinastia Qajar acabou por triunfar transformando-se em reis do Irã. Durante a guerra civil, o Irã perdeu, permanentemente, Basra, capturada pelos persas durante a guerra persa-otomana em 1779 e Bahrain para a família Al Khalifa após a invasão Bani Utbah, em 1783.
A partir daí, já entramos na idade moderna do Irã, que foge do escopo de nossa apresentação do Império Persa, conforme explicitado na Introdução, razão pela qual aqui encerramos a nossa postagem.

VII - CONCLUSÃO

A história do Império Persa é bem mais complexa que a de outros impérios similares e sua pesquisa foi bem mais trabalhosa que outras publicações, por vários motivos.
Sua região física, banhada pelo Mar Báltico, ao norte, e pelo Golfo Pérsico, ao sul, rota estratégica entre os países asiáticos, o Oriente Médio e a Europa, através do Mar Mediterrâneo e a Turquia, sempre foi muito cobiçada por muitos outros povos conquistadores – quando ele mesmo não exerceu este papel. Com isso, foi inevitável que sofresse, enormemente, a influência dos gregos, romanos e muitas outras nações, mas principalmente dos árabes muçulmanos, durante todo o extenso período em que foi por eles ocupado.
Em função disso, o Irã moderno, embora tenha preservado, em muito, suas próprias origens culturais, não pode esconder a imensa influência sofrida durante os muitos anos em que foi ocupado por outras civilizações.
Prova disso, a religião do Irã é, oficialmente, o islamismo do ramo Xiita, estabelecida pela constituição do país, já que o islamismo não adota a separação entre Igreja e Estado, integrando o seu governo desde a islamização do Irã, cerca do ano 640. O islamismo é professado por 99,9% da população, sendo que 93,6 5 são adeptos do xiismo; outros 6,3% seguem a seita Sunita. Os remanescentes (0,1% da população) são seguidores de credos não islâmicos, que incluem os Zoroastrianos (religião original do Império Persa, com poucas dezenas de milhares de praticantes), Judeus, Cristãos e outros. Como vimos, antes da chegada do Islamismo ao Irã, a maioria da população era Zoroastriana, culto oficial do Império Sassânida; em 1986 estimava-se a existência de 32 mil zoroastrianos no Irã, residindo principalmente nas cidades de Teerã, Yazd e Kerman. A comunidade judaica no Irão remonta aos tempos do cativeiro da Babilônia; quando Ciro II autorizou o regresso dos Judeus a Jerusalém, muitos optaram por permanecer, adotando a língua e cultura persas. A outra minoria religiosa relevante no Irão é formada pelos cristãos, estimados em 300.000, em sua maioria ortodoxos armênios, seguidos por cristãos assírios, com autonomia nas instituições de ensino. O Cristianismo é também oficialmente protegido pela constituição iraniana.
Com relação à língua, os iranianos foram bem mais felizes e o Persa é, atualmente, o idioma oficial do país. Lembrando o que vimos anteriormente, o movimento Shu’ubiyyah, criado nos séculos IX e X em resposta ao status privilegiado dos árabes, primariamente com a intenção de preservar a cultura e a identidade persas, teve como seu mais notável efeito a manutenção da língua persa até os dias atuais. Persa, o nome mais utilizado para se referir ao idioma em português, é uma forma derivada do latim e uma forma helenizada do persa antigo Parsa. Os falantes nativos do persa iraniano chamam o idioma de Farsi, forma arabizada de Parsi já que o árabe não possui o fonema “p”.
Quanto à sua etnia, por tudo quanto dissemos anteriormente, é muito fácil entender que o Irã é hoje um país multirracial. A maioria da população do Irã (entre 67 e 80%) consiste de “povos iranianos”. O maior grupo dessa categoria inclui os persas (maioria da população iraniana) e os curdos, com comunidades menores que incluem os Gilakis, Mazandaranis, Lurs, Tats, Talysh e Baloch.
Os grupos turcos (caucasianos) constituem uma minoria substancial (cerca de 15 a 24%), cujo maior grupo é o dos Azerbaijani, segunda maior etnia do Irã bem como o maior grupo minoritário. Outros grupos turcos incluem os povos Turcomanos e Qashqai.
Os árabes respondem com cerca de 2 a 3% da população iraniana. Os restantes, compondo 1% da população iraniana, consistem de uma variedade de grupos menores, compreendendo principalmente Assírios, Armênios, Georgianos, Circassianos e Mandaeanos.
Esta a história resumida do Império Persa, iniciado há 7.000 anos AC e sobrevivendo com todos os seus percalços até hoje.