Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

A HISTÓRIA DO IMPÉRIO PERSA (IRÃ) - Parte 4

III.3 – IMPÉRIO PARTA (OU IMPÉRIO ARSÁCIDA) (247 AC-224 DC)
 
Andrágoras, o sátrapa selêucida que
deu origem ao Império Parta
 
Para bem entendermos a ascensão do Império Parta, temos que voltar um pouco no tempo já que os partas surgiram na história do Irã, bem antes da queda do Império Selêucida.
Em 247 AC, conforme já mencionado acima, Andrágoras, o governador Selêucida (sátrapa) da Pártia, proclamou a independência dos selêucidas, no momento em que, seguindo a morte do rei da Pérsia, Antíoco II, Ptolomeu III (terceiro rei da dinastia ptolemaica, no Egito, de 246 a 222 AC) tomou o controle da capital Selêucida na Antióquia, deixando incerto, por um período, o futuro da dinastia Selêucida. 
Arsaces I, fundador da dinastia
Arsácida da Pártia
Antes que Arsaces I da Pártia se tornasse o fundador da dinastia Arsácida, ele fora eleito líder das tribos Parni (dos Parnos), uma antiga tribo do centro da Ásia, de povos de etnia iraniana oriental e uma das várias tribos nômades da confederação do Dahae. Falavam uma língua iraniana oriental, em contraste com a língua iraniana do noroeste, falada naquela época na Pártia, província do noroeste, primeiro sob os aquemênidas e então sob o Império Selêucida. Com a independência da Pártia do Império Selêucida e a resultante perda do apoio militar daquele império, Andrágoras teve dificuldade na manutenção da suas fronteiras e cerca de 238 AC, sob o comando de Arsaces I e seu irmão Tiridates, os Parnos invadiram a Pártia tomando controle da sua região norte. Logo em seguida os Parnos tomaram o resto da Pártia de Andrágoras, matando-o no processo. O Império Parta foi, portanto, o reino da dinastia Arsácida (de Arsaces I), que reuniu e governou o Platô Iraniano após a conquista Parni de Pártia, derrotando o Império Selêucida ao final século III AC, com o controle intermitente da Mesopotâmia entre 150 AC e 224 DC. O Império Parta rapidamente incluiu também a Arábia Oriental. 
Fraates I, primeiro imperador Arsácida
sem interferência Seêucida
Por um tempo, Arsaces consolidou a posição na Pártia e Hircânia (província a sudeste do mar cáspio no moderno Irã), aproveitando a invasão do território selêucida no oeste por Ptolomeu III (246-222 AC) do Egito. Este conflito com Ptolomeu, a Terceira Guerra Síria[1], também permitiu que Diodotus I (sátrapa selêucida da Báctria) se rebelasse formando o Reino Greco-Bactriano, na Ásia Central, conforme visto anteriormente. Seu sucessor, Diodotus II, formou uma aliança com Arsaces contra os Selêucidas, mas Arsaces foi temporariamente despejado da Pártia pelas forças de Selêucos II (como vimos anteriormente), em 246-225 AC. Após algum tempo no exílio entre a tribo nômade Apasiacae, Arsaces conduziu um contra-ataque e recapturou a Pártia. Antíoco III, o Grande (222-187 AC), não pode retaliar à época pois suas tropas se encontravam envolvidas no sufoco da rebelião de Molon na Média. Em 210 ou 209, entretanto, ele lançou uma campanha maciça para retomar a Pártia e Báctria, sem sucesso, mas com um armistício de paz com Arsaces II: este ficava com o título de rei em troca de sua submissão a Antíoco III como seu superior. Os Selêucidas não puderam mais intervir nos assuntos da Pártia devido à crescente intromissão da República Romana e a derrota selêucida em Magnésia (região da Grécia), em 190 AC. Phriapatius da Pártia (191-176 AC) sucedeu a Arsaces II e Fraates I da Pártia (176-171 AC) posteriormente ascendeu ao trono, governando a Pártia sem mais interferência selêucida. 
Mitrídates I, que expandiu o Império
Parta para o leste, sul e oeste
Fraates I expandiu o controle da Pártia, mas a maior expansão do seu poder e território aconteceria no reinado de seu irmão e sucessor, Mitrídates I da Pártia (já mencionado anteriormente), que escritores comparam a Ciro, o Grande.
As relações entre Pártia e Greco-Báctria se deterioraram com a morte de Diodotus II, quando Mitrídates I capturou duas eparquias[2] deste reino. Desviando seus objetivos do reino Selêucida, Mitrídates I invadiu a Média e ocupou a Ecbatana (cidade importante da Média, oeste do Irã) em 147 ou 148 AC, região desestabilizada pela supressão selêucida recente de uma rebelião conduzida por Timarchus (usurpador no reino Selêucida entre 163 e 160 AC). Essa vitória foi seguida da conquista da Babilônia, na Mesopotâmia, onde Mitrídates I teve moedas cunhadas em Selêucia e uma cerimônia de investidura oficial. Enquanto Mitrídates retirava-se para Hircânia, suas forças subjugavam reinos menores, com sua autoridade estendendo-se para leste até o rio Indus. Embora Hecatompylos tivesse servido como primeira capital Parta, Mitrídates I estabeleceu residências reais em Selêucia, Ecbatana, Ctesifonte (mais tarde a capital oficial do reino 33 quilômetros a sudeste da moderna Bagdá, Iraque) e a recém fundada cidade de Mithradatkert (fortaleza de Mitrídates, antiga Nisa, no Turquemenistão), onde tumbas dos reis Arsácidas foram construídas e mantidas.
Conforme introduzido acima, Demétrio II Nicator esboçou uma contraofensiva contra os Partas na Mesopotâmia, mas embora alguns sucessos iniciais, foi derrotado, capturado e conduzido para Hircânia onde foi tratado com toda a hospitalidade, recebendo de Mitrídates I a sua filha como esposa. Da mesma forma, Antíoco VII Sidetes, irmão de Demétrio II, assumindo o trono logo tentou a retomada da Mesopotâmia, então sob Fraates II da Pártia (138-128 AC). Houve um instante em que os Partas pediram a paz que Antíoco VII se recusou a aceitar, a menos que eles desistissem de todas as terras conquistadas, com exceção da própria Pártia, pagassem pesado tributo e libertassem Demétrio II. Os Arsácidas libertaram Demétrio II enviando-o para a Síria, mas negaram o atendimento das demais condições. Tendo que subjugar as revoltas que eclodiam, a principal força parta penetrou na região matando Antíoco VII em batalha. Seu filho Selêucos tornou-se refém dos Partas e sua filha foi adicionada ao harém de Fraates II.
Enquanto os partas voltavam a conquistar os territórios perdidos no oeste, outra ameaça surgia no leste. Em 177-176 AC, após receber invasões da China que forçaram outras invasões culminando com a ocupação das fronteiras nordeste do Império Parta, Mitrídates I foi forçado a deslocar-se para Hircânia, após sua conquista da Mesopotâmia. Uma das tribos invasoras (Saka) mantinha mercenários que lutavam com Fraates II, contra Antíoco VII, mas que chegaram tarde para participar do conflito; quando Fraates II recusou-se a pagar seus salários, os Saka se revoltaram e ele tentou submetê-los com a ajuda de antigos soldados selêucidas que também o abandonaram, se aliando aos Saka. Fraates II marchou então contra essa força combinada e foi morto em batalha. Seu sucessor Artabano I da Pártia (128-124 AC) teve destino semelhante lutando contra nômades no leste. Mitrídates II da Pártia (124-90 AC) recuperou, mais tarde, todas as terras perdidas aos Saka no Sistan[3]
Mitrídates II, iniciador do comércio da seda com a China
Em seguida à retirada Selêucida da Mesopotâmia, o governador Parta da Babilônia foi enviado pela corte Arsácida a conquistar Charakene[4] (Characene, Mesene ou Meshan), então dominada por Hyspaosines, de Charax Spasinou. Quando a tentativa falhou, Hyspaosines invadiu a Babilônia em 127 AC, ocupando a Selêucia. Contudo, em 122 AC Mitrídates II expulsou Hyspaosines da Babilônia fazendo os reis de Charakene vassalos dos Partas. Depois que Mitrídates II estendeu o controle parta mais a oeste, ocupando Dura-Europos (margem direita do Eufrates, atual Síria) em 113 AC, meteu-se em conflito com o Reino da Armênia. Suas forças derrotaram e depuseram Artavasdes I da Armênia em 97 AC, tomando seu filho Tigranes – que se tornaria Tigranes II, o Grande, da Armênia (95-55 AC) - como refém.
Durante o reino do Imperador Wu de Han (141 – 87 AC), o Império Han, da China, enviou uma delegação à corte de Mitrídates II, em 121 AC, abrindo relações comerciais oficias com a Pártia, via “Estrada da Seda”, embora sem conseguir uma desejada aliança militar para combater seus inimigos. Os mercadores da Sogdia, falando uma língua iraniana oriental, serviram como os revendedores primários desse vital comércio da seda entre a Pártia e a China Han[5].
O Império Parta transformou-se no arqui-inimigo oriental do Império Romano, limitando a sua expansão além da Capadócia (Anatólia Central). Os dois impérios colidiram por mais de dois séculos na Mesopotâmia, com sérias derrotas iniciais infligidas aos romanos, como a de Crassus, na Batalha de Carrhae (moderna Harran, a sudeste da Turquia), em 54 AC, ou a de Marco Antônio (36 AC). O Império Yuezhi Kushan, na região norte da Índia, garantia a segurança da fronteira leste da Pártia e, por isso, a partir de meados do século I AC, a corte Arsácida focou na defesa da fronteira oeste, principalmente contra Roma.
Um ano após Mitrídates II ter subjugado a Armênia, Lucius Cornelius Sulla, o pro-cônsul (funcionário romano que atuava em nome de um cônsul) romano da Cilícia[6], fez um acordo com o diplomata Parta Orobazus, pelo qual ambos acordavam que o rio Eufrates serviria como fronteira entre Pártia e Roma. A despeito desse acordo, em 93 ou 92 AC, a Pártia lutou na Síria (margem romana do Eufrates) contra o líder tribal Laodice e seu aliado selêucida Antíoco X Eusebes. Quando um dos últimos monarcas selêucidas, Demétrio III Eucaerus, tentou sitiar Beroia (moderna Alepo), a Pártia enviou ajuda militar aos habitantes e Demétrio foi derrotado.
Após o governo de Mitrídates II, Gotarzes I governou a Babilônia e Orodes I (90 a 80 AC) governou a Pártia separadamente; esse sistema de monarquia dividida enfraqueceu a Pártia, permitindo que Tigranes II da Armênia anexasse território parta a oeste da Mesopotâmia. Essas terras só retornariam à Pártia durante o reinado de Sanatruces da Pártia (78 a 71 AC). Logo após a eclosão da Terceira Guerra Mitridática (última das três guerras entre Roma e Pártia), Mitrídates VI do Ponto, um aliado de Tigranes II da Armênia, pediu ajuda da Pártia contra Roma, que Sanatruces recusou dar. Quando o comandante romano Lucullus marchou contra Tigranocerta, a capital da Armênia, em 69 AC, Mitrídates VI e Tigranes II pediram ajuda de Fraates III da Pártia (71 – 58 AC), que também não os atendeu. Após a queda de Tigranocerta, ele reafirmou, com Lucullus, o Eufrates como limite entre a Pártia e Roma.
O filho de Tigranes II da Armênia, Tigranes, o Jovem, tentou um golpe contra seu pai e falhou. Fugiu então para Fraates III, convencendo-o a marchar contra a nova capital armênia em Artaxarta. Quando este cerco falhou, Tigranes o Jovem fugiu novamente, desta vez para o comandante romano Pompeu, oferecendo-se como guia através da Armênia, mas quando Tigranes II submeteu-se a Roma como rei cliente, Tigranes o Jovem foi levado para Roma como refém. Fraates III exigiu a liberdade de Tigranes o Jovem, que Pompeu recusou. Em retaliação, Fraates III lançou uma invasão na Corduene (sudeste da Turquia) onde, de acordo com relatos romanos conflitantes, o cônsul romano Lucius Afranius expulsou os Partas, por meios militares ou diplomáticos.
Fraates III foi assassinado por seus filhos, Orodes II da Pártia e Mitrídates III da Pártia, após o que Orodes virou-se contra o irmão que fugiu da Média para a Síria Romana. O pro-cônsul romano na Síria, Aulus Gabibius, marchou em apoio a Mitrídates III mas teve que retornar em ajuda a Ptolomeu XII que enfrentava revolta no Egito. Mesmo sem o apoio romano, Mitrídates III conquistou a Babilônia, cunhando moedas na Selêucia até 54 AC, quando um general de Orodes II, conhecido apenas como Surena, recapturou a Selêucia executando Mitrídates III.
Marcus Licinius Crassus, um dos membros do primeiro triunvirato romano (Cesar, Crassus e Pompeu), agora pro-cônsul da Síria, invadiu a Pártia em 53 AC como atrasado apoio a Mitrídates III. Enquanto seu exército marchava para Carrhae, Orodes II invadiu a Armênia impedindo o apoio de Artavasdes II da Armênia, aliado de Roma, persuadindo Artavasdes a uma aliança de casamento entre Pacorus I da Pártia, príncipe herdeiro, com a sua irmã. Surena, com um exército com inferioridade de quatro para um, lutou e venceu o exército de Crassus, que fugiu para o interior da Armênia. À frente de seu exército, Surena aproximou-se de Crassus para propor uma negociação que Crassus aceitou. Quando montava para o encontro, um oficial seu suspeitou de uma emboscada e segurou as rédeas do seu cavalo, provocando uma súbita luta entre partas e romanos que acabou com a morte de Crassus. Com seu exército, cativos de guerra e um precioso saque, Surena viajou 700 km de volta para Selêucia onde sua vitória foi celebrada. Temendo suas ambições para com o trono Arsácida, Orodes II mandou executar Surena logo em seguida.
Estimulados por sua vitória sobre Crassus, os Partas tentaram capturar territórios romanos na Ásia Ocidental. O príncipe herdeiro Pacorus I, com seu comandante Osaces, atacou a Síria até a Antióquia, em 51 AC, mas foi repelido por Gaius Cassius Longinus que emboscou e matou Osaces. Os Arsácidas se juntaram a Pompeu contra Júlio Cesar (no Primeiro Triunvirato), enviando também tropas para apoiar as forças contra Cesar Augusto na batalha de Philippi, Macedônia, em 42 AC, que selou a vitória do Segundo Triunvirato (Gaio Julio Cesar Octaviano ou Cesar Augusto, Marco Antônio e Marco Emilio Lepido) contra os assassinos de Júlio Cesar, Cassius e Brutus. Após a ocupação da Síria, Pacorus I e seu comandante Barzapharnes invadiram o Levante romano. Subjugaram todos os povoamentos ao longo da costa do Mediterrâneo até Ptolomais (moderna Acre, em Israel), com a exceção do Tiro. Na Judea, as forças judias pró Roma, do alto sacerdote Hircano II, Fasael e Herodes foram derrotadas pelos Partas e seu aliado judeu Antígono II Matatias, mais tarde rei da Judea, enquanto Herodes fugia para sua fortaleza de Massada. A despeito desses sucessos, os Partas logo foram expulsos do Levante por uma contraofensiva romana. Uma força parta na Síria, comandada pelo general Pharnapates, foi derrotada pelo romano Ventidius na batalha de Amanus Pass, causando a retirada de Pacorus I da Síria; quando ele retornou, na primavera de 38 AC, enfrentou Ventidius em nova batalha no nordeste de Antióquia. Pacorus foi morto durante a batalha e suas forças se retiraram para além do Eufrates. Sua morte causou uma crise na sucessão, quando Orodes II escolheu Fraates IV da Pártia como seu novo herdeiro.
Assim que assumiu o trono, Fraates IV eliminou a concorrência ao trono matando e exilando seus próprios irmãos. Um deles, Monaeses, fugiu para Marco Antônio e convenceu-o a invadir a Pártia. Marco Antônio derrotou o aliado da Pártia, Antígono II Matatias, da Judea, em 37 AC, instalando Herodes o Grande, como rei cliente, em seu lugar. No ano seguinte, quando Marco Antônio marchou para Erzurum (extremo leste da Anatólia), Artavasdes II da Armênia, mudou de lado mais uma vez, enviando tropas adicionais para ele. Marco Antônio invadiu a Média Atropatene (o moderno Azerbaijão Iraniano), então governado pelo aliado da Pártia, Artavasdes I da Média Atropatene, com a intenção de capturar sua capital Praaspa. Contudo, Fraates IV emboscou a retaguarda das forças de Marco Antônio causando a retirada do apoio de Artavasdes II às forças de Marco Antônio. Os Partas perseguiram e fustigaram o exército de Marco Antônio em sua retirada para a Armênia, que finalmente conseguiu alcançar a Síria, muito enfraquecido. Através de um ardil que prometia um casamento de aliança, Marco Antônio aprisionou Artavasdes II em 34 AC, enviando-o para Roma e lá executando-o. Posteriormente tentou uma aliança com Artavasdes I da Média Atropatene, cujas relações com Fraates IV haviam recentemente azedado. Tal ideia foi abandonada quando as forças de Artavasdes I se retiraram da Armênia em 33 AC, escapando de uma invasão parta, enquanto seu rival Cesar Augusto atacava suas forças a oeste. Após o suicídio de Marco Antônio no Egito, o aliado da Pártia, Artaxis II reassumiu o trono na Armênia.
Cerca de 26 AC, Tiridates II da Pártia depôs Fraates IV - por curto espaço de tempo -, que rapidamente restabeleceu seu domínio com a ajuda dos nômades da Cítia. Tiridates II fugiu para os romanos levando consigo um dos filhos de Fraates IV. Em 20 AC Fraates IV conseguiu negociar a liberdade de seu filho com os romanos, que receberam em troca os estandartes legionários tomados em Carrhae, em 53 AC, bem como os sobreviventes prisioneiros de guerra, com isso selando uma paz com Roma, já sob Otaviano, agora Cesar Augusto, como primeiro Imperador Romano. Com o príncipe, Augusto também deu a Fraates IV uma escrava italiana que tornou-se mais tarde a rainha Musa da Pártia. Para garantir que seu filho Fraataces herdasse o trono sem incidentes, Musa convenceu Fraates IV a dar seus outros filhos a Augusto como reféns, fato que ele usou como propaganda de submissão da Pártia a Roma, como um de seus grandes feitos. Quando Fraataces assumiu o trono como Fraates V (2 AC a 4 DC), Musa casou com seu próprio filho governando junto com ele. A nobreza parta, desaprovando as relações incestuosas de mãe e filho e a noção de um rei de sangue não Arsácida, obrigou o casal ao exílio em território romano. Seu sucessor, Orodes III, reinou por apenas dois anos e foi sucedido por Vonones I, que tinha adotado maneirismos romanos por sua estada em Roma. A nobreza parta, enfurecida pelas simpatias de Vonones pelos romanos, apoiou um vindicante rival, Artabano III da Pártia (10 a 38 DC), que derrotou Vonones enviando-o para o exílio na Síria Romana.
Durante o reinado de Artabano III, dois irmãos plebeus judeus, Anilai e Asinai, de Nehardea (próxima da moderna Fallujah, Iraque), lideraram uma revolta contra o governador Parta, da Babilônia, derrotando-o e conseguindo de Artabano III o direito de governar a região, com medo de mais revoltas. A esposa Parta de Anilai envenenou Asinai com medo de que ele atacasse seu esposo por ser casado com não judia. A seguir, Anilai envolveu-se em um conflito armado contra um genro de Artabano III, que acabou derrotando-o. Com o regime judeu removido, os babilônios nativos passaram a ameaçar a comunidade judia obrigando-a a emigrar para a Selêucia. Quando esta cidade rebelou-se contra o domínio Parta, em 35-36 DC, os judeus foram novamente expulsos pelos gregos e arameus locais, desta feita para Ctesifonte, Nehardea (cidade da Babilônia próxima do encontro do Eufrates com o Nahr Malka e da moderna Faluja) e Nisibis (antiga Mesopotâmia, hoje moderna Turquia).



[1] As Guerras Sírias foram uma série de seis guerras entre o Império Selêucida e o Reino Ptolomaico do Egito, estados sucessores do Império de Alexandre, o Grande, durante os séculos II e III AC, pela conquista da região da Coele-Síria, uma das poucas rotas para o Egito. Esses conflitos drenaram material e homens de ambas as partes conduzindo às suas eventuais destruições e conquistas por Roma e Pártia.
[2] Eparquia é uma palavra grega que pode ser traduzida como domínio ou jurisdição sobre algo como uma província, prefeitura ou território. No uso secular, a eparquia denotava um distrito administrativo na região do reino Greco-Báctria.
[3] Conhecido em épocas anteriores como Sakastan (terra dos Saka), o Sistan é uma região histórica e geográfica que seria formada pelos atuais Irã oriental, sul do Afeganistão e oeste do Paquistão.
[4] Charakene foi um reino do Império Parta localizado no início do Golfo Pérsico, parte sul do atual Iraque. Sua capital, Charax Spasinou, foi um importante porto para o comércio entre a Mesopotâmia e a Índia, também provendo instalações para a cidade de Susa, mais a montante no rio Karun.
[5] A dinastia Han foi a segunda dinastia imperial da China (201 AC a 220 DC), e seu período é considerado a era de ouro da história chinesa. Até hoje o grupo étnico majoritário da China refere-se a si próprio como o “povo Han” e a china daquela dinastia ficou sendo conhecida como China Han.
[6] Na antiguidade, a Cilícia era a região costeira da Ásia Menor, existindo como entidade política do Reino Armênio da Cilícia, durante o antigo Império Bizantino. Estendendo-se da costa sul da moderna Turquia, a Cilícia avança ao norte e nordeste da ilha de Chipre, correspondendo à moderna região de Çukurova, na Turquia.
Continua com a Parte 5

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A HISTÓRIA DO IMPÉRIO PERSA (IRÃ) - Parte 3

III.2 – CONQUISTA HELÊNICA E IMPÉRIO SELÊUCIDA (312-248 AC)


Alexandre, o Grande, da Macedônia

Entre 334 e 331 AC, Alexandre III, o Grande, da Macedônia, derrotou Dario III nas batalhas de Granicus, Issus e Gaugamela, rapidamente conquistando todo o Império Persa. Como rei do Império Persa, Alexandre ainda invadiu a Índia, em 326, conquistando importantes batalhas e retornando, finalmente, à Babilônia, por solicitação de suas tropas, ansiosas por retornar ao lar. Morreu na Babilônia, no palácio de Nabucodonosor, em 323 AC, cidade em que planejava estabelecer a capital do seu império, sem executar uma série de campanhas planejadas que seriam iniciadas com uma invasão da Arábia.
Jovem e sem deixar herdeiro (seu único filho legítimo conhecido, Alexandre IV, gerado por Roxane, nasceria após a morte de Alexandre), o império macedônico de Alexandre entrou em colapso e passaria por 40 anos de guerras civis, ao final das quais o mundo helenístico se estabeleceria em quatro blocos estáveis de poder: o Egito Ptolomaico[1], a Mesopotâmia e Ásia Central Selêucida, a Anatólia Atálida[2] e a Macedônia Antigônida (de Antígono II ou Gônatas). Durante o processo, Alexandre IV e Felipe III (um meio irmão de Alexandre) foram assassinados. 
Seleucos I Nicator, primeiro
imperador grego da Pérsia
após Alexandre
Seleucos I Nicator, um dos generais de Alexandre, estabeleceu-se na Babilônia em 312 AC - ano geralmente usado para definir a data da fundação do Império Selêucida -, assumindo o controle da Pérsia e Mesopotâmia e formando o Império Selêucida, sua descendência ficando conhecida como a dinastia Selêucida. Após vencer Antígono Monoftalmo (da Macedônia) na Batalha de Isso em 301 AC, ao lado de Lisímaco, Seleucos obteve controle sobre a Anatólia oriental e sobre a parte norte da Síria. Nessa última área, fundou uma nova capital em Antióquia (antiga Antakia, na Síria, hoje na Turquia), às margens do rio Orontes, próximo ao Mediterrâneo, cidade a qual deu o nome do pai. Uma outra capital alternativa foi estabelecida em Selêucia, margem ocidental do Tigre, ao norte da Babilônia, Mesopotâmia. O império de Seleucos alcançou sua extensão máxima após a morte de seu aliado de longa data, Lisímaco, na Batalha de Corupédio em 281 AC. Seleucos ampliou seu controle, abarcando a Anatólia ocidental. Ainda tinha esperanças de controlar as terras de Lisímaco na Europa - Trácia, e mesmo a própria Macedônia -, mas terminou por ser assassinado em 281 AC por Ptolomeu Cerauno, da Macedônia, logo ao chegar ao continente europeu.
Seu filho e sucessor, Antíoco I Sóter, mostrou-se incapaz de recomeçar de onde seu pai havia parado, nunca conquistando as partes europeias do império de Alexandre. Ainda assim, possuía um reino incrivelmente vasto - consistia de basicamente todas as porções asiáticas do império e a tarefa de apenas manter o império já foi formidável, tendo como inimigos mais importantes Antígono II Gônatas, na Macedônia, e Ptolomeu II Filadelfo, no Egito.
Uma revolta na Síria eclodiu quase imediatamente. Logo foi obrigado a fazer paz com o assassino de seu pai, Ptolomeu Cerauno, aparentemente abandonando a Macedônia e a Trácia. Na Anatólia não pôde subjugar a Bitínia (região a noroeste da Ásia Menor, na costa do Mar Negro) ou as dinastias persas que governavam na Capadócia (região central da Ásia Menor). Em 278 AC os gauleses (povos de origem celta oriundos do oeste europeu, principalmente França atual) irromperam na Anatólia e Antíoco I conseguiu vencê-los utilizando elefantes de guerra da Índia.
Ao final de 275 AC, a questão da Coele-Síria[3], aberta entre as casas de Seleucos e Ptolomeu, desde a repartição de 301 AC, levou a hostilidades (Primeira Guerra Síria). Embora sempre estivesse no domínio ptolomaico, a casa de Seleucos manteve sua reivindicação. A guerra não alterou materialmente as fronteiras dos dois reinos, embora cidades fronteiriças como Damasco e os distritos costeiros da Ásia Menor pudessem trocar de mãos.
Seu filho mais velho, Seleucos, havia governado no oriente, como vice-rei, de 275 AC até 268/267 AC e foi condenado à morte por Antíoco sob acusação de revolta. Cerca de 262 AC, Antíoco tentou quebrar o crescente poder de Pérgamo pela força das armas, mas foi derrotado e morreu pouco depois, sendo sucedido por seu segundo filho Antíoco II Theos (261 AC)
Antíoco II Theos herdou de seu pai em 261 AC, um estado de guerra com o Egito Ptolomaico, a “Segunda Guerra Síria”, lutada ao longo das costas da Ásia Menor, e as constantes intrigas de déspotas triviais e agitadas cidades estados da Ásia Menor. Antíoco II também fez alguma tentativa para colocar um pé na Trácia. Durante a guerra, recebeu o título Theos (Deus em grego) dos cidadãos de Mileto por ter libertado a cidade de seu tirano Timarchus. Durante o tempo em que se ocupava com a guerra contra o Egito, seu sátrapa na Pártia[4], Andrágoras, proclamou sua independência. Da mesma forma, seu sátrapa, Diodotus, na Báctria[5], também revoltou-se, em 255 AC, fundando o reino Greco-Bactriano que, posteriormente, expandiu-se na Índia, em 180 AC, para formar o Reino Indo-Grego (180-1 AC). Então, cerca de 238 AC, Arsaces conduziu uma revolta dos partas contra Andrágoras, conduzindo à fundação do Império Parta.
Por essa época, Antíoco II fez paz com Ptolomeu II Filadelfo, encerrando a Segunda Guerra Síria. Para selar o pacto, Antíoco repudiou sua esposa Laodice I e exilou-a em Éfeso (costa oeste da Anatólia, próximo de Mileto), casando-se com a filha de Ptolomeu, Berenice, recebendo importante dote. Durante sua estada em Éfeso, Laodice I urdiu várias tramas para tornar-se rainha novamente. Em 246 AC, Antíoco II havia deixado Berenice e seu filho pequeno, Antíoco, na Antióquia, para viver novamente com Laodice I, na Ásia Menor. Laodice usou a oportunidade para envenenar Antíoco, enquanto seus sectários assassinavam Berenice e seu filho na Antióquia. Laodice então proclamou rei Seleucos II, seu filho mais velho com Antíoco.
Quando Seleucos II Calínico, subiu ao trono por volta de 246 AC os selêucidas já estavam em declínio. Além das secessões da Pártia e da Bactriana, seu reinado começou a Terceira Guerra Síria. Ptolomeu III, irmão de Berenice e governante do Egito, invadiu o Império Selêucida marchando vitorioso para o Tigre e além. Teve a submissão das províncias orientais do Império Selêucida enquanto as frotas egípcias varriam a costa da Ásia Menor. Seleucos II permaneceu seguro no interior da Ásia Menor e quando Ptolomeu voltou ao Egito, conseguiu recuperar o norte da Síria e as províncias mais próximas do Irã. Contudo, Antíoco Hierax, um irmão mais jovem de Seleucos II, se estabelecera como seu rival na Ásia Menor, com um grupo ao qual a própria Laodice aderira. Na Batalha de Ancyra (cerca de 235 AC), Seleucos II sofreu uma enorme derrota e deixou o país, além das montanhas Taurus (cadeia de montanhas que separa a região costeira mediterrânea do sul da Turquia do Planalto Central Anatoliano), para o seu irmão e outras potências da península. Seleucos II então empreendeu uma marcha forçada para recuperar a Pártia, o que resultou em nada. Alguns autores mencionam que ele teria feito uma paz com Arsaces da Pártia, que reconhecera sua realeza. Também na Ásia Menor a dinastia selêucida perdia controle, pois os gauleses já se haviam estabelecido completamente na Galácia[6]; reinos semi-independentes e semi-helenizados haviam surgido na Bitínia, em Ponto[7] e na Capadócia (região da Anatólia Central); e a cidade de Pérgamo, no ocidente, sob Áttalus I, asseverava sua independência sob a Dinastia Atálida, formando o Reino de Pérgamo. Antíoco Hierax, após uma tentativa fracassada para tomar os domínios de seu irmão, quando os seus próprios se perdiam, pereceu como fugitivo na Trácia em 227 AC. Cerca de um ano mais tarde, Seleucos II foi morto numa queda do seu cavalo, sendo sucedido por seu filho mais velho Seleucos III Cerauno e, posteriormente, por seu filho mais novo Antíoco III, o Grande. 
Antíoco III, recriador do império Selêucida
Seleucos III Soter, chamado Seleucos Cerauno, teve um breve reinado de três ano (225-223 AC) e foi assassinado na Anatólia por membros do seu exército enquanto em campanha contra Attalus I de Pérgamo.
O irmão de Seleucos III Cerauno estava na Babilônia quando do seu assassinato e sucedeu-o como Antíoco III, em 223 AC, herdando um estado desorganizado. Entretanto, sob o seu governo, a Pérsia teve um reflorescimento e Antíoco III se tornaria o maior dos governantes selêucidas após o próprio Seleucos I.
A Ásia Menor havia se separado e as províncias mais orientais se haviam dissolvido: a Báctria, sob o grego Diodotus de Báctria e a Pártia sob o chefete Arsaces. Logo que subiu ao poder, a Média (região noroeste do Irã, base cultural e política dos medas) e Fars se revoltaram com seus governadores, os irmãos Molon e Alexander.
O jovem rei, sob a influência do ministro Hermeias, chefiou um ataque à Síria Ptolomaica ao invés de enfrentar pessoalmente os rebeldes. O ataque contra o Império Ptolomaico foi um fiasco e os generais enviados contra Molon e Alexander foram um desastre. Somente na Ásia Menor, onde Aqueus, primo do rei, representou a causa Selêucida, seu prestígio foi recuperado, com o envio do poder Pérgamo de volta aos seus limites anteriores. Finalmente, em 221 AC, Antíoco III foi para o leste abafando a rebelião de Molon e Alexander. Seguiu-se a submissão da Média Menor, que havia feito sua independência com Artabazanes, após o que retornou para a Síria. Enquanto isso, o próprio Aqueus agora se revoltava, tomando o título de rei na Ásia Menor; admitindo que seu poder não estivesse sedimentado para um ataque à Síria, Antíoco desistiu de Aqueu, na ocasião, preferindo renovar suas tentativas contra a Síria Ptolomaica.
As campanhas de 219 e 218 AC levaram os exércitos selêucidas aos confins do reino ptolomaico, mas em 217 AC, Ptolomeu IV derrotou Antíoco III na Batalha de Ráfia, anulando todos os seus sucessos e causando a sua retirada para o norte do Líbano, embora ainda mantendo o controle de Selêucia Pieria (o porto de Antióquia). Em 216 AC os exércitos de Antíoco III marcharam para a Anatólia ocidental para abafar uma rebelião liderada por seu próprio primo, Aqueu. Em 214 AC Aqueu foi derrotado, preso e executado, mas a cidadela foi mantida até 213 AC por sua viúva Laodice, que então se rendeu. Tendo assim recuperado a parte central da Ásia Menor (já que o governo Selêucida teve que tolerar as dinastias de Pérgamo, Bitínia e Capadócia), Antíoco III iniciou a recuperação das províncias externas do norte e leste. Obrigou Xerxes da Armênia a reconhecer sua supremacia em 212 AC. Em 209, invadiu a Pártia, ocupando a capital do Império Parta, avançando até a Hircânia (sudeste do mar Cáspio, moderno Irã) e com o rei parta, Arsaces II, aparentemente implorando por paz.
O ano de 209 viu Antíoco III na Báctria, onde derrotou o rei greco-bactriano Eutidemo I (que se havia revoltado contra Diodotus) na batalha de Arius. Após sustentar um cerco em sua capital Bactra, Eutidemo I obteve uma paz honrosa pela qual Antíoco III prometeu a seu filho Demétrius a mão de uma de suas filhas. Seguindo os passos de Alexandre, atravessou para o Vale de Kabul (no atual Afeganistão), alcançando o reino do rei indiano Sofagaseno, em 206 AC.
Impérios Romano, Selêucida e Parta no ano 200 AC
De Selêucia, Antíoco III conduziu uma curta expedição ao Golfo Pérsico contra a Gerrha (margem ocidental do Golfo) na costa da Península Arábica, em 204/205 AC. Parece ter restaurado o Império Selêucida no leste, o que lhe fez merecer o título de “o Grande”. Nessa mesma época, Ptolomeu V Epifânio assumia o trono do Egito, quando Antíoco III teria feito um pacto com Felipe V da Macedônia para repartir as suas possessões. Por tal pacto, Felipe receberia as terras em torno do mar Egeu e Cirena (na atual Líbia), ao passo que Antíoco III anexaria o Egito e Chipre. Uma vez mais, Antíoco III atacaria a província de Coele-Síria e Fenícia e por 199 AC parece ter tido sua posse antes de que Scopas a recuperasse brevemente para Ptolomeu. Em 198 AC, Antíoco III derrotaria Scopas na batalha de Panium, próximo das fontes do rio Jordão, marcando o fim do domínio ptolomaico na Judéia e restaurando a glória do Reino Selêucida.
Antíoco III ainda realizou outras incursões à Ásia Menor quando enfrentou o antagonismo da República Romana, principalmente ao se aproximar do cartaginês Aníbal. Em 192 AC invadiu a Grécia, mas em 191 os romanos forçaram sua retirada para a Ásia Menor, logo invadida por eles que, já em 190 AC, a tinham em suas mãos. Pelo tratado de Apamea (188 AC), Antíoco III abandonou todo o país ao norte e oeste das montanhas Taurus. Como consequência deste golpe no poder Selêucida, as províncias externas do império, recuperadas por Antíoco III, readquiriram suas independências. Numa nova expedição ao Luristão, enquanto pilhando um templo persa, Antíoco III morreu em 187 AC.
O reino de seu filho e sucessor, Seleucos IV Filopator (187-175 AC), foi consumido na busca de recursos para pagamento de grandes indenizações aos romanos; ele acabou assassinado por seu ministro Heliodoro.
O irmão mais novo de Seleucos IV, Antíoco IV Epifânio, assumiu o trono em seu lugar e tentou restaurar o poderio e o prestígio Selêucida, iniciando por uma guerra contra o Egito Ptolomaico, antigo inimigo, derrotando e perseguindo o exército egípcio até Alexandria. Antíoco IV foi então informado de que delegados romanos, liderados pelo procônsul Gaius Popillius Laenas, solicitavam um encontro com o rei selêucida, que concordou. Sem quaisquer preâmbulos, Antíoco IV foi instado a retirar-se do Egito por ordem do senado, com o que concordou para não entrar em guerra com o império romano novamente. A última parte do seu reino assistiu a uma crescente desintegração do Império, embora seus maiores esforços. Enfraquecido econômica, militar e por perda de prestígio, o Império tornou-se vulnerável a rebeldes nas áreas orientais, que começaram a mais solapar o reino, enquanto os Partas ocupavam o seu vácuo de poder para ocupar os antigos territórios persas. A agressiva helenização (ou desjudaização) provocou uma rebelião armada total na Judea – a Revolta dos Macabeus. Os esforços consumidos com os Partas e Judeus, bem como para manter o controle das províncias, provaram estar além do poder do Império enfraquecido. Antíoco morreu durante uma expedição militar contra os partas em 164 AC.
Após a morte de Antíoco IV, o império Selêucida tornou-se crescentemente instável, tendo que enfrentar guerras civis que enfraqueciam a autoridade central. Seu filho mais jovem, Antíoco V Eupator, foi destronado pelo filho de Seleucos IV, Demétrio I Soter, em 161 AC, que tentou restaurar o poder selêucida na Judea, particularmente. Foi derrubado em 150 AC por Alexander Balas, um impostor que (com apoio do Egito), reivindicava ser filho de Antíoco IV. Alexander Balas reinou até 145 AC quando foi destronado pelo filho de Demétrio I, Demétrio II Nicator que se mostrou incapaz de controlar o reino. Enquanto dominava a Babilônia e a Síria oriental, de Damasco, os restantes apoiadores de Balas, dominavam na Antióquia. Por 143 AC os judeus, sob os Macabeus, haviam consolidado sua independência. A expansão Parta prosseguia. Em 139 AC, Demétrio II era derrotado e capturado em batalha, pelos Partas. Por essa época, todo o Platô Iraniano havia sido perdido para o controle Parta.
O irmão de Demétrio II Nicator, Antíoco VII Sidetes, assumiu o trono com a captura de seu irmão. Enfrentou a enorme tarefa de restaurar um império em rápida desagregação e enfrentando ameaças em várias frentes. O controle da Coele-Síria era ameaçada pelos rebeldes macabeus judeus. Antigas dinastias vassalas na Armênia, Capadócia e Ponto, ameaçavam a Síria e o norte da Mesopotâmia; os nômades partas, brilhantemente liderados por Mitrídates I da Pártia, haviam dominado as áreas altas da Média; a intervenção romana era uma ameaça permanente. Antíoco VII conseguiu submeter os Macabeus e manter as dinastias da Anatólia sob submissão temporária. Em 133 AC ele se dirigiu para o leste com o pleno poder do exército real apoiado pelo príncipe Hasmoneano, João Hircanus, para fazer retroceder os Partas. Teve um sucesso inicial espetacular, recapturando a Mesopotâmia, Babilônia e Média, e derrotando e matando em combate pessoal, o sátrapa parta da Selêucia. No inverno de 130/129 AC, seu exército estava disperso pela Média e Fars quando o rei Parta, Fraates II, contra-atacou. Contando apenas com as tropas imediatamente à disposição, Antíoco VII Sidetes, algumas vezes chamado “o último grande rei selêucida”, foi emboscado e morto pelos Partas. Após a sua morte, todos os territórios orientais recuperados foram recapturados pelos Partas, os Macabeus se rebelaram novamente, a guerra civil dividiu o império em pedaços e os Armênios começaram a invadir a Síria, pelo norte.
Mitrídates VI, último rei do império Selêucida
Cerca de 100 AC, aquele que havia sido uma vez o formidável Império Selêucida, limitava-se apenas à Antióquia e algumas cidades sírias. A despeito do claro colapso do seu poderio e do declínio do seu reino em torno deles, os nobres continuaram a brincar de “fazedores de reis” numa base regular, com ocasionais intervenções do Egito e outras potências estrangeiras. Os selêucidas existiram somente porque nenhuma nação os quis absorver, usando-os como um útil amortecedor entre outros vizinhos. Nas guerras da Anatólia, entre Mitrídates VI do Ponto (que não tem nada a ver com os Mitrídates da dinastia Parta) e Sulla (general, estadista e cônsul romano por duas vezes) de Roma, os selêucidas foram totalmente abandonados por ambos. O ambicioso genro de Mitrídates VI, Tigranes o Grande, rei da Armênia, contudo, viu a oportunidade para expansão na constante disputa para o sul e, em 83 AC, com o convite de uma das facções nas intermináveis guerras civis, ele invadiu a Síria estabelecendo-se como seu governante e dando um fim ao Império Selêucida, virtualmente.
Cneu Pompeu Magno, o
derradeiro golpe romano
no império Selêucida
O domínio selêucida, contudo, não acabara totalmente. Em seguida à derrota de Mitridates e Tigranes em 69 AC pelo general romano Lucullus, muito próximo de Sulla, um resto do reino selêucida foi restaurado sob Antíoco XIII. Mesmo assim, as guerras civis não terminaram, pois um outro selêucida, Felipe II, contestou o poder. Após a conquista romana do Ponto, os romanos ficaram crescentemente alarmados com a constante fonte de instabilidade na Síria sob os Selêucidas. Assim que Mitrídates VI foi derrotado por Pompeu, em 63 AC, este se encarregou de refazer o Oriente helenístico, com a criação de novos reinos clientes e o estabelecimento de províncias. Enquanto nações clientes como Armênia e Judea puderam continuar com algum grau de autonomia som o domínio de reis locais, Pompeu via os selêucidas como muito complicados para continuar. Acabando com os dois príncipes selêucidas rivais, ele tornou a Síria uma província romana.
Império Selêucida em sua máxima extensão,
às vésperas da morte de Seleucos I, 281 AC
A língua, filosofia e arte gregas vieram com os colonizadores. Durante a Era Selêucida, a língua grega tornou-se a linguagem comum da diplomacia e literatura por todo o Império Persa e o zoroastrismo foi levado para o oeste, vindo a influenciar o judaísmo. A extensão do Império Selêucida, que cobria desde o mar Egeu até o atual Afeganistão, trouxe uma multidão de povos: gregos, persas, medos, sírios, judeus, indianos, entre outros. Sua população total foi estimada em 35 milhões de habitantes, ou 15% da população mundial na época em que era o maior e mais poderoso império do mundo. Seus governantes mantinham uma posição política cujo interesse era salvaguardar a ideia de unidade racial introduzida por Alexandre. Em 313 AC, os ideais helênicos (disseminados por filósofos, historiadores, oficiais em reserva e casais de ligação inter-racial provindos do vitorioso exército macedônio) haviam começado sua expansão de quase 250 anos nas culturas do Oriente Médio e da Ásia central. O esqueleto estrutural da forma de governo do império consistia em estabelecer centenas de cidades para troca e ocupação. Muitas cidades começaram - ou foram induzidas - a adotar não só pensamentos filosóficos, como também sentimentos religiosos e políticas de natureza helênica. A tentativa de sintetizar o helenismo com culturas nativas e diferentes correntes intelectuais resultou em sucessos de tamanho ou naturezas diferentes - tendo como consequência paz e rebelião simultâneas em diferentes partes do império.


[1] Ptolomeu I Sóter foi um general macedônio de Alexandre, o Grande, que se tornou governador do Egito de 323 AC a 283 AC, fundando a Dinastia Ptolemaica. Tomou o título de rei a partir de 305 AC, instituindo então o culto dinástico do rei-salvador (Sóter), de acordo com a tradição dos Faraós egípcios. Recusou-se a pagar tributo ao rei da Macedônia, sucessor de Alexandre Magno. Fundou um império poderoso que, sem conquistas territoriais, manteve um reconhecido esplendor econômico e cultural, firmado em novas e eficazes formas administrativas. Instituiu sua capital em Alexandria, cidade fundada por Alexandre.
[2] A dinastia Atálida foi uma dinastia helênica que reinou na Anatólia, da cidade de Pérgamo (leste da Anatólia), após a morte de Lisímaco, um general de Alexandre. Um dos oficiais de Lisímaco, Philetaerus, tomou o controle da cidade em 282 AC. Os Atálidas seguintes foram descendentes de seu pai e expandiram a cidade a um reino. Attalus I proclamou-se rei em 230 AC.
[3] Coele-Síria, Coelesíria ou Celesíria, foi uma região da Síria, na antiguidade clássica, limitada pela Síria, Mesopotâmia e Península Arábica. A área hoje é parte das modernas nações do Líbano, Síria e Israel.
[4] A Pártia é uma região histórica no nordeste do Irã, base política e cultural da dinastia Arsácida (ou Parta), governadores do Império Parta (247 AC-224 DC).
[5] Báctria ou Bactriana era o nome de uma região histórica da Ásia Central, localizada entre a cordilheira do Indu Kush e o rio Amu-Darya, cobrindo uma região plana que abrange os atuais Afeganistão, Uzbequistão e Tajiquistão.
[6] Galácia era o nome de uma região da Anatólia central que abrangia a região de Ancara e Çorum, na província de Yozgat da moderna Turquia. Ela recebeu este nome por causa dos imigrantes gauleses vindos da Trácia que se assentaram ali e formaram a classe dominante do século III AC em diante, logo depois da invasão gaulesa dos Balcãs em 279 AC.
[7] O Reino do Ponto foi um antigo estado helenístico, localizado a norte da península da Anatólia, atual Turquia.