Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 13 de junho de 2016

ORIGEM E FORMAÇÃO DA ALEMANHA (PARTE 5 - CONCLUSÃO)

A ALEMANHA DO PÓS-GUERRA

Como consequência da derrota da Alemanha Nazista em 1945 e o estabelecimento da “Guerra Fria”[1] em 1947 e que duraria meio século, o que restou do Terceiro Reich foi dividido em dois blocos globais, no leste e no oeste, num período conhecido como “a divisão da Alemanha”. Milhões de refugiados do Centro e Leste Europeu deslocaram-se para o oeste, a maior parte deles para a Alemanha Ocidental. Dois estados emergiram: (1) a Alemanha Ocidental foi uma democracia parlamentar, membro da OTAN[2], membro fundador do que mais tarde seria a União Europeia e uma das maiores economias do mundo; (2) a Alemanha Oriental foi uma ditadura comunista totalitária, país satélite de Moscou. 
Ocupação da Alemanha após a Segunda Grande Guerra,
com a Berlim dividida em território russo.
A ajuda americana à Alemanha global iniciou em 1948 com o Plano Marshall. O sucesso da reforma monetária realizada em 1948 no lado ocidental, enfureceu os soviéticos, que cortaram todas as ligações por rodovias, estradas de ferro e canais navegáveis entre a zona ocidental e Berlim Ocidental (a cidade de Berlim, também dividida nas porções Ocidental e Oriental, ficara totalmente dentro da Alemanha Oriental), concretizando o “Bloqueio de Berlim”, que durou de 24 de junho de 1948 a 12 de maio de 1949. Como resposta, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha iniciaram um transporte aéreo de alimentos e carvão, com distribuição de nova moeda em Berlim Ocidental que, desta forma, tornou-se economicamente integrada à Alemanha Ocidental.
Os alemães tiveram muito pouca voz no governo até 1949, quando a ocupação aliada encerrou e os dois estados emergiram. As zonas de ocupação ocidentais (americana, britânica e francesa) foram reunidas na formação da “República Federal da Alemanha” (RFA ou Alemanha Ocidental), uma democracia parlamentar com um sistema econômico capitalista e igrejas e sindicatos livres. A zona de ocupação soviética transformou-se na República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental), uma ditadura marxista-leninista com sua liderança dominada pelo Partido de Unidade Socialista da Alemanha (SED), alinhada aos socialistas e mantida sob a esfera de influência da União Soviética.
Nas zonas ocidentais de ocupação, República Federal da Alemanha, os antigos territórios prussianos foram divididos entre Renânia do Norte-Vestfália, Baixa Saxônia, Hesse, Renânia-Palatinado e Schleswig-Holstein. Württemberg-Baden e Württemberg-Hohenzollern fundiram-se mais tarde com Baden para criar o estado de Baden-Württemberg. A região de Sarre, que tinha sido administrada pelos franceses como um protetorado separado do resto da Alemanha Ocidental, foi admitido na República Federal da Alemanha como um estado separado, em 1956, após um plebiscito.
Na zona de ocupação soviética, República Democrática Alemã, os antigos territórios prussianos foram reorganizados nos estados de Brandenburgo e Saxônia-Anhalt, com as partes restantes da Pomerânia indo para Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Esses estados foram abolidos em 1952, sendo recriados após a queda da União Soviética, em 1990.
Talvez fosse uma boa ideia separar, neste ponto, a evolução da Alemanha pós-guerra, de acordo com a evolução das “duas Alemanhas”, até a sua reunificação final e definitiva, em 1990.

A REPÚBLICA DEMOCRÁTICA ALEMÃ

Em 1949 a zona soviética tornou-se a República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental), sob o controle do Partido da Unidade Socialista (SED), sem um exército significativo até os anos 1960’, mas com um serviço de Segurança do Estado (STASI) que tem sido descrito como uma das mais efetivas e repressivas agências de inteligência e polícia secreta jamais criadas, que se infiltrou em todos os aspectos da sociedade alemã.
A Alemanha Oriental era um Estado do bloco oriental sob controle político e militar da União Soviética através de suas forças de ocupação e do Tratado de Varsóvia[3]. O poder político era somente exercido pelos membros líderes (Politburo) do SED, de controle comunista. Um comando de economia ao estilo soviético foi estabelecido; em seguida, a RDA tornou-se o mais avançado estado do COMECON. Embora a propaganda da Alemanha Oriental fosse baseada nos benefícios dos seus programas sociais e a alegada ameaça permanente da invasão da Alemanha Ocidental, muitos de seus cidadãos olhavam para o ocidente em busca de liberdade política e prosperidade econômica.
Walter Ulbricht foi o presidente do SED de 1950 a 1971. Em 1933, ele havia fugido para Moscou onde serviu como agente do Comintern[4], leal a Stalin. À medida que a Segunda Grande Guerra terminava, Stalin atribuiu-lhe a tarefa de projetar o sistema alemão de pós-guerra que centralizaria todo o poder no Partido Comunista. Em 1949 Ulbricht tornou-se o presidente, primeiro ministro e secretário (chefe executivo) do SED (comunista) em 1950. 
O Muro de Berlim, construído em 1961 e símbolo da
Guerra Fria, foto batida do lado ocidental
A Alemanha Oriental estagnou na medida em que sua economia era fortemente organizada para atender às necessidades da União Soviética e a Polícia Secreta Russa-Alemã Oriental controlava totalmente a vida diária dos alemães. Cerca de 2,6 milhões de pessoas havia fugido da Alemanha Oriental até 1961, quando o Muro de Berlim foi construído e encerrou o fluxo permanente de refugiados para o Ocidente. O que a RDA chamava de “Muro de Proteção Antifascista”, foi um obstáculo imenso ao programa durante a “Guerra Fria”, mas estabilizou a Alemanha Oriental, postergando o seu colapso. Ulbricht perdeu poder em 1971, mas foi mantido como nominal chefe de estado, sendo substituído por ter falhado na solução das crises nacionais crescentes, tais como a economia decadente de 1969-70, o temor de outro levante popular, como o que ocorrera em 1953, e o sentimento de desprazer causado pela política de afrouxamento em relação ao ocidente.
A transição para Erich Honecker (Secretário Geral de 1971 a 1989) conduziu a uma mudança na direção da política nacional e esforços do Politburo dando mais atenção às reclamações do proletariado. Seus planos não tiveram sucesso, com a discórdia crescendo na população da Alemanha Oriental.
Em 1989 o regime socialista ruiu, após 40 anos, embora a sua onipresente polícia secreta, principalmente pelos graves problemas econômicos e a crescente emigração para o oeste. A cultura da Alemanha Oriental havia sido modelada pelo comunismo e, particularmente, pelo Stalinismo, e sua população original havia sofrido muito por tal exotismo. Críticos da Alemanha Oriental sempre alegaram que a dedicação do estado ao comunismo foi uma ferramenta cínica e vazia da elite governante; o argumento é desafiado por outros estudiosos que alegam que o Partido se dedicava ao avanço do conhecimento científico, desenvolvimento econômico e progresso social. Contudo, a vasta maioria viu os ideais comunistas do estado nada mais serem do que um enganoso método para controle do governo. Mais uma desastrosa experiência do comunismo.

REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA

Na Alemanha Ocidental o governo foi inicialmente formado pelo Chanceler Konrad Adenauer e sua aliança conservadora UDC/USC[5], no poder durante a maior parte do período, desde 1949. Sua capital foi Bonn até que se mudou para Berlim, em 1990, quando a RFA absorveu a Alemanha Oriental, promovendo a reunião da Alemanha e ganhando a plena soberania sobre Berlim. 
Adenauer em 1952, aliado dos EUA e
França, opondo-se à URSS.
Em todos os pontos a Alemanha Ocidental foi maior e mais rica que a Alemanha Oriental, tornada uma ditadura sob o controle do Partido Comunista e monitorado muito de perto por Moscou e pivô da “Guerra Fria”.
Konrad Adenauer foi o primeiro chanceler da Alemanha Ocidental e seu líder dominante durante o período de 1949-1963. Foi o fundador e, até a sua morte, líder da União Democrática Cristã (UDC), uma coalizão de conservadores, ordoliberais[6] e aderentes do ensino social Católico e Protestante que dominou a política da Alemanha Ocidental pela maior parte de sua história. Durante a sua chancelaria, a economia da RFA cresceu rapidamente e o país estabeleceu relações amigáveis com a França, participou da emergente União Europeia, restabeleceu as forças armadas do país e tornou-se um pilar da OTAN, além de firme aliado dos Estados Unidos. Além disso, seu governo iniciou um longo processo de reconciliação com os Judeus e Israel, após o Holocausto.
Após experimentar o seu “milagre econômico” em 1955, a Alemanha Ocidental tornou-se a mais próspera economia da Europa, com Konrad Adenauer. 
Willy Brandt, chanceler alemão e Prêmio Nobel da Paz, 1971
A “Grande Coalizão” formada entre UDC/USC e o Partido Social Democrata (PSD), os dois principais partidos da RFA, levou ao poder o líder socialista Willy Brandt, do PSD, como Chanceler Presidente e Ministro das Relações Exteriores. A Grande Coalizão vigorou entre 1966 e 1969 e tornou-se melhor conhecida por reduzir as tensões entre as nações do bloco soviético e estabelecer relações diplomáticas com a Czechoslovakia, Romênia e Iugoslávia. Willy Brandt foi o líder do PSD entre 1964 e 1987 e chanceler entre 1969 e 1974. Sob sua liderança o governo alemão procurou reduzir as tensões com a União Soviética e melhorar as relações com a RDA (Ostpolitik ou Política do Leste). As relações entre as duas “Alemanhas” encontravam-se congeladas com propaganda maciça contra cada direção. O pesado escoamento de talento da RDA havia construído o “Muro de Berlim” em 1961, que veio a piorar as tensões da “Guerra Fria”, impedindo os alemães orientais de viajarem. Embora ansioso por aliviar os sofrimentos das famílias divididas e reduzir a fricção, a política de Willy Brandt estava concentrada no seu conceito de “dois estados alemães numa só nação alemã”. A “Ostpolitik” sofreu a oposição dos elementos conservadores da RFA, mas valeu a Brandt uma reputação internacional e o Prêmio Nobel da Paz de 1971. Em setembro de 1973 a RDA e a RFA foram admitidas às Nações Unidas, passaram a manter representantes permanentes em 1974 e, em 1987, Erich Honecker, líder da RDA realizou uma visita de oficial de estado à RFA. 
Helmut Kohl, primeiro chanceler da Alemanha reunificada
Helmut Kohl trouxe os conservadores de volta ao poder em 1982, com a coalizão UDC/USC – PDL (Partido Democrático Livre da Alemanha) e serviu como chanceler até 1998. Após repetidas vitórias em 1983, 1987, 1990 e 1994; foi finalmente derrotado em 1998 por uma grande maioria de votos à esquerda, sendo sucedido como Chanceler por Gerhard Schröeder, do PSD. Kohl foi muito conhecido por orquestrar a reunificação com a aprovação das quatro grandes potências da Segunda Guerra Mundial, que ainda tinham voz ativa nos assuntos da Alemanha.

A REUNIFICAÇÃO DA ALEMANHA

Durante o verão de 1989, rápidas alterações, conhecidas como “revolução pacífica”, tiveram lugar na Alemanha Oriental que, rapidamente, conduziram à reunificação da Alemanha. Números crescentes de alemães orientais emigraram para a Alemanha Ocidental, muitos via Hungria, após a abertura de suas fronteiras. Milhares de alemães orientais também tentaram alcançar o oeste através de atalhos por protestos em instalações diplomáticas da RFA em outras capitais do Leste Europeu, principalmente em Praga. Tal êxodo gerou demandas, dentro da RDA, por mudanças políticas e demonstrações de massa em várias cidades continuaram a crescer. (Figura Queda Muro Berlim)
Incapaz de deter a crescente intranquilidade civil, Erich Honecker, da RDA, foi forçado a renunciar em outubro e, em 9 de novembro, as autoridades da Alemanha Oriental, inesperadamente, permitiram que cidadãos entrassem em Berlim Ocidental e Alemanha Ocidental. Centenas de milhares de pessoas usaram tal oportunidade, com novos pontos de passagem sendo abertos no Muro de Berlim e ao longo da fronteira com a Alemanha Ocidental. No mesmo ano o Muro de Berlim foi finalmente destruído. 
Alemanha em suas fronteiras atuais
Tais fatos conduziram a uma aceleração no processo de reformas na Alemanha Oriental, que terminou com a reunificação da Alemanha, concretizada em 3 de outubro de 1990, quando os aliados renunciaram a todas as dívidas relacionadas a territórios alemães, com o “Tratado do Ajuste Final com Respeito à Alemanha”, pelo qual a Alemanha também renunciava a todas as suas demandas de territórios perdidos durante a Segunda Grande Guerra. Esse tratado se ocupava também da reorganização da Alemanha como um todo e resolvia outras questões consequentes da Segunda Guerra Mundial. 
Bandeira da Alemanha Ocidental
e Unificada, de 1949 até hoje
Em 1998 a Alemanha foi um dos países fundadores da Zona do Euro e permanece, até hoje, uma das economias mais poderosas da Europa, contribuindo com um quarto do Produto Interno Bruto anual da Eurozona, como a “Bundesrepublik Deutschland”, ou República Federal da Alemanha, com os territórios e a bandeira que possui até hoje.

[1] A “Guerra Fria” foi um estado de tensão política e militar, após a Segunda Guerra Mundial, entre potências do bloco ocidental (Estados Unidos, seus aliados da OTAN e outros) e potências do bloco oriental (União Soviética e seus aliados do Pacto de Varsóvia). Os historiadores não concordam perfeitamente sobre as datas, mas o período entre 1947 e 1991 é comum. O termo “fria” é usado porque não havia, entre os dois lados, uma luta direta em larga escala, embora guerras regionais importantes tivessem ocorrido, apoiadas pelos dois lados.
[2] A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, assinado em 4 de abril de 1949. A Organização constitui um sistema de defesa coletiva pelo qual seus estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa. O quartel general da OTAN está localizado em Haren, Bruxelas, Bélgica, onde reside também o Comandante Aliado Supremo. A Bélgica é um dos 28 membros entre América do Norte e Europa, os mais novos dos quais, Albânia e Croácia, se uniram em abril de 2009. Vinte e dois outros países participam do programa da OTAN “Parceria para a Paz”, com quinze outros países envolvidos em programa de diálogo institucionalizado.
[3] Também chamado de “Pacto de Varsóvia”, criado em maio de 1955, de forma semelhante à OTAN, foi um tratado de defesa coletivo entre a União Soviética e sete Estados satélites soviéticos na Europa Central e Oriental, existente durante a “Guerra Fria”. Foi o complemento militar ao “Conselho para Mútua Assistência Econômica (COMECON)", a organização econômica regional para os estados comunistas da mesma região. O Pacto foi criado como reação à integração da Alemanha Ocidental na OTAN, em 1955, mas também motivado pelos desejos soviéticos de manter controle sobre as forças militares na região. Nunca houve um confronto direto entre a OTAN e o Pacto, mas o conflito foi lutado apenas em base ideológica. O Maior evento militar do Pacto, foi a invasão da Czechoslovakia (com a participação de todas as nações do pacto, com exceção da Romênia e da Albânia). O Pacto deixou de funcionar quando as Revoluções de 1989 se espalharam pela Europa Oriental, começando pelo movimento Solidariedade, da Polônia e seu sucesso em junho de 1989. Em fevereiro de 1991 o Pacto foi declarado findo em um encontro de ministros da defesa e relações exteriores dos membros que restavam, na Hungria. Em julho de 1991, o presidente da Czechoslovakia, Vaclav Havel, formalmente declarou o fim do Pacto.
[4] Ou Komintern, é o termo com que se designa a Terceira Internacional ou Internacional Comunista (1919-1943), isto é, a organização internacional fundada por Vladimir Lenin e pelo PCUS (bolchevique), em março de 1919, para reunir os partidos comunistas de diferentes países. Tinha como propósito, conforme seus primeiros estatutos, “lutar pela superação do capitalismo, pelo estabelecimento da ditadura do proletariado e da República Internacional dos Sovietes, pela completa abolição das classes e a realização do socialismo, como uma transição para a sociedade comunista, com a completa abolição do Estado, para isso se utilizando de todos os meios disponíveis, inclusive armados, para derrubar a burguesia internacional”.
[5] Informalmente também chamado de “Partidos da União” ou simplesmente “União”, o UDC/USC foi a união política da “União Democrática Cristã da Alemanha” (UDC)) com a “União Social Cristã” da Bavária (USC), ambas estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial.
[6] O ordoliberalismo é a variante germânica do liberalismo social que enfatiza a necessidade do Estado assegurar que o livre mercado produza resultados próximos ao seu potencial teórico.

sábado, 4 de junho de 2016

ORIGEM E FORMAÇÃO DA ALEMANHA (PARTE 4)

A REVOLUÇÃO ALEMÃ DE 1918

Rosa Luxemburgo a socialista judia
polonesa naturalizada alemã.
Por volta de 1900 a socialdemocracia alemã era considerada líder do movimento internacional dos trabalhadores. Nos congressos europeus da Segunda Internacional Socialista, o SPD sempre aprovava as resoluções, que previam uma ação conjunta dos socialistas em casos de declarações de guerras. Mesmo durante a crise de julho que se seguiu ao assassinato em Sarajevo, ele organizou - como também outros partidos socialistas na Europa - grandes manifestações antiguerra. Rosa Luxemburgo, porta-voz da esquerda do partido, conclamou, em nome de todo o SPD, a rejeição à guerra e à obediência. Por isso, o governo imperial planejou a prisão dos líderes do partido imediatamente após o início das hostilidades. Friedrich Ebert, um dos dois líderes do partido desde 1913, viajou, juntamente com Otto Braun, para Zurique, a fim de manter os fundos do partido a salvo do alcance do Estado.
Mas quando no dia primeiro de agosto de 1914, ocorreu a declaração de guerra alemã contra a Rússia czarista, a maioria dos jornais favoráveis ao SPD foi contagiada pelo entusiasmo geral pela guerra, por um lado, e porque o seu inimigo prioritário era a Rússia Imperial. Suas reportagens foram severamente criticadas pela liderança do partido, mas os editores acreditavam, nos primeiros dias de agosto, estar seguindo a linha política do presidente do SPD, August Bebel, falecido em 1913. Ele havia dito ao Reichstag em 1904 que o SPD tomaria parte na defesa armada da Alemanha no caso de uma guerra de agressão estrangeira. Em 1907 confirmou, na convenção Essen, que ele mesmo "carregaria a arma em suas costas" caso a guerra fosse contra a Rússia czarista, o "inimigo de toda a cultura e todos os oprimidos".
Tendo em vista a disposição da população, que acreditava em um ataque pelas potências da Entente, muitos deputados do SPD temiam se afastar de seus eleitores devido a seu pacifismo coerente. Além disso, havia a ameaça de uma proibição dos partidos, planejada pelo chanceler do Reich Theobald von Bethmann Hollweg em caso de uma guerra. Por outro lado, o chanceler tirou proveito do posicionamento anticzarista do SPD para obter o seu consentimento para a guerra.
Karl Liebknecht, camarada revolucionário
assassinado com Rosa Luxemburgo.
A liderança do partido e o grupo parlamentar estavam divididos em seu posicionamento quanto à guerra. Com Friedrich Ebert, noventa e seis representantes responderam afirmativamente à exigência dos créditos de guerra pelo governo imperial; catorze parlamentares, liderados pelo segundo presidente Hugo Haase, se manifestaram contra, mas votaram a favor da disciplina partidária. Assim, todo o grupo parlamentar do SPD aprovou no dia 4 de agosto os créditos de guerra. Dois dias antes, os Sindicatos Livres já tinham decidido uma abdicação do direito de greve e dos salários para o tempo da guerra. Com a decisão do sindicato e do partido, tornou-se possível a mobilização total do exército alemão. Mesmo Karl Liebknecht, que mais tarde tornou-se um símbolo do pacifismo, curvou-se, inicialmente, às decisões do partido. No entanto, alguns dias mais tarde, ele juntou-se ao Grupo Internacional, fundado por Rosa Luxemburgo em 5 de agosto de 1914, que posicionou-se contrariamente à guerra anteriormente defendida pelo SPD. Tal grupo deu origem à “Liga Espartaquista”, fundada no dia 1 de janeiro de 1916.
Quanto mais tempo a guerra durava e quanto mais sacrifícios exigia, menor era o número de membros do SPD dispostos a manter a "trégua" de 1914; principalmente por que, a partir de 1916, o imperador e o governo do Reich não mais decidiam as diretivas da política alemã, agora dominada pelo alto comando de guerra sob os generais Paul von Hindenburg e Erich Ludendorff, que governavam como ditadores militares.
Depois da eclosão da Revolução Russa, em fevereiro de 1917, ocorreram na Alemanha as primeiras greves organizadas. Em março e abril de 1917 participaram cerca 300.000 trabalhadores da indústria de armamento. O imperador Wilhelm II tentou acalmar os participantes da greve com sua mensagem de Páscoa do dia sete de abril, prometendo eleições gerais e igualitárias também para a Prússia, onde ainda vigorava o sufrágio de três classes.
Depois da expulsão dos opositores do SPD à guerra, revisionistas como Eduard Bernstein e centristas como Karl Kautsky, juntamente com os espartaquistas, reagiram ao descontentamento entre os trabalhadores. Em uma conferência entre seis e oito de abril de 1917 fundaram, na cidade de Gotha, o “Partido Independente Social-Democrático da Alemanha” (USPD) com Hugo Haase, que exigia o término imediato da guerra e a democratização da Alemanha, mas não possuía um programa sócio-político unificado. A Liga Espartaquista, que até então recusava uma divisão do partido, formou a ala esquerda da USPD. E, para bem identificar a separação, o SPD passou a denominar-se, a partir daí até 1919, como “Partido Majoritário Social Democrata da Alemanha” (MSPD).
Manifestação de revolucionários em Berlim, 09/11/1918
A Revolução Alemã de 1918-1919 foi uma série de eventos que ocorreram naqueles anos e que marcou o final da Primeira Guerra Mundial. Tal Revolução culminou com a derrubada do Kaiser, a abolição da monarquia no Reich Germânica e o estabelecimento de uma república democrática parlamentarista. Liderada por Rosa Luxemburgo, a Liga Espartaquista, teve importante papel na revolução, apesar de o evento não se resumir à sua atuação. À semelhança da Comunista Russa, a Revolução Alemã aproveitou a aguda crise econômica causada pela Primeira Guerra Mundial e a derrota do Império Germânico no conflito. Com a Revolução, os comunistas conseguiram controlar a região da Baviera, no sul da Alemanha, onde fundaram uma República Socialista e tentaram expandir o movimento. Assim como na Rússia, aboliram a propriedade privada dos latifúndios e das fábricas na República Socialista da Baviera. No entanto, este foi um governo revolucionário de vida efêmera que acabou sendo sufocado pelo governo socialdemocrata, através do grupo paramilitar Freikorps, que retomou o controle, suprimindo a extrema esquerda, liderada pela Liga Espartaquista. A revolução foi formalmente encerrada no dia 11 de agosto de 1919 com a aprovação da nova “Constituição de Weimar”, com as funções do Kaiser sendo transmitidas ao Reichspräsident (Presidente do Império, em tradução literal) da “República de Weimar” que teve, ao todo, três monarcas.
Com a abdicação e fuga de Wilhelm II como Imperador do Império Germânico e Rei da Prússia, ao fim da Segunda Grande Guerra, a Prússia foi proclamada “Estado Livre”, ou seja, uma República (Freistaat, em alemão) dentro da nova República de Weimar e, em 1920, recebeu uma constituição democrática.

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Quase todas as perdas territoriais do Império Germânico, para outros estados, durante a Primeira Grande Guerra e especificadas no Tratado de Versalhes, pertenciam anteriormente ao território da Prússia e, com isso, a Prússia Oriental tornou-se um exclave (território externo ao território nacional), apenas acessível por barco ou por uma estrada de ferro através do “corredor polonês”.
O governo alemão considerou, inicialmente, quebrar a Prússia em estados menores, mas o sentimento tradicionalista prevaleceu e a Prússia se tornou, de longe, o maior estado da República de Weimar, compreendendo 60% do seu território. De 1919 a 1932, a Prússia foi governada por uma coalizão dos partidos socialdemocrata, Centro Católico e democrata alemão. De 1921 a 1925, os governos de coalizão incluíram o Partido Popular Alemão. Ao contrário de outros estados do Reich Alemão[1], a regra da maioria dos partidos democráticos na Prússia nunca foi posta em perigo. No entanto, na Prússia Oriental e algumas áreas industriais, o Partido Nazista de Adolf Hitler ganhou mais e mais influência e apoio popular, especialmente a partir das classes mais baixas e médias, em 1930. Com exceção da região católica da Alta Silésia, o Partido Nazista, em 1932, tornou-se o maior partido na maior parte do Estado Livre da Prússia. No entanto, os partidos democráticos em coalizão permaneceram a maioria, enquanto os comunistas e os nazistas estavam na oposição. 
Chanceler Franz von Papen, em 1936
Em contraste com seu autoritarismo do pré-guerra, a Prússia era um pilar da democracia na República de Weimar. Tal sistema, entretanto, foi destruído pelo "golpe prussiano" do chanceler do Reich, Franz von Papen. Neste golpe de Estado, o governo do Reich depôs o governo da Prússia em 20 de julho de 1932, sob o pretexto de que este último havia perdido o controle da ordem pública na Prússia, forjando provas de que os socialdemocratas e os comunistas planejavam um golpe em conjunto. Papen nomeou a si mesmo comissário do Reich para a Prússia e assumiu o controle do governo facilitando, apenas meio ano depois, a tomada do poder, de forma decisiva, por Hitler, no Império Germânico, já que ele tinha todo o aparato do governo prussiano, incluindo a polícia, à sua disposição.
A Prússia foi efetivamente abolida em 1932 e o Estado que a assimilou, a República de Weimar, perdeu quase toda a importância jurídica e política que a Prússia havia conquistado. Posteriormente, as velhas elites prussianas acabaram por desempenhar um papel passivo com a criação da Alemanha nazista.
Adolf HItler, 1938, que suicidou-se em
1945 para escapar dos crimes cometidos
Após a nomeação de Adolf Hitler como o novo chanceler do Império Germânico pelo Presidente Paul Von Hindenburg, em 1933, os nazistas usaram a ausência de Franz von Papen como a oportunidade para nomear o comissário federal e Hermann Göring para o Ministério Prussiano do Interior. A eleição do Reichstag de 5 de março de 1933 reforçou a posição do Partido Nazista[2], apesar de não alcançar uma maioria absoluta.
Em uma reunião cheia de propaganda entre Hitler e o Partido Nazista, o "casamento da velha Prússia com os jovens alemães" foi celebrado, para conquistar os monárquicos, conservadores prussianos e nacionalistas e induzi-los a votar a favor da Lei de Concessão de 1933[3]. Com isso, Hitler rapidamente estabeleceu o regime totalitário conhecido como o Terceiro Reich.
No Estado centralizado criado pelos nazistas pela "Lei sobre a Reconstrução do Reich" (30 de janeiro de 1934) e a "Lei de Governadores do Reich" (30 de janeiro de 1935) os estados foram dissolvidos de fato, se não de direito. Os governos estaduais e federais passaram a ser controlados pelos governadores para o Reich, nomeados pelo chanceler. Paralelamente a isso, a organização do partido nos distritos ganhou cada vez mais importância, com um oficial no comando, também nomeado pelo chanceler, ao mesmo tempo chefe do Partido Nazista.
Na Prússia, esta política centralista foi ainda mais longe. Desde 1934 quase todos os ministérios foram fundidos e apenas alguns departamentos foram capazes de manter a sua independência. Hitler tornou-se, formalmente, o governador da Prússia, coadjuvado por Hermann Göring, primeiro-ministro da Prússia. Conforme previsto na "Grande Lei de Hamburgo", algumas trocas de territórios ocorreram. A Prússia foi estendida em 1º de abril de 1937, por exemplo, pela incorporação da Cidade Livre e Hanseática de Lübeck.
Oficialmente, o início da Segunda Guerra Mundial é tido como 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha e Rússia, com a subsequente declaração de guerra da Grã-Bretanha e França contra a Alemanha dois dias após. Também não existe concordância quanto à data exata do final da Segunda Guerra Mundial. O seu final é geralmente aceito como o dia do armistício, 14 de agosto de 1945, ao invés do dia da rendição formal do Japão em 2 de setembro de 1945. Novamente, tendo em vista os objetivos desta nossa postagem, não trataremos da Segunda Grande Guerra, como um assunto em si, mas apenas como mais um fator importante na formação do estado da Alemanha.
Inicialmente cabe dizer que, evidentemente, as terras prussianas transferidas para a Polônia pelo Tratado de Versalhes, foram reanexadas durante a Segunda Guerra Mundial, quando Terceiro Reich levava vantagem no conflito. À mesma época, em 1940, a Prússia foi legalmente abolida pelo Terceiro Reich.
Na Conferência de Potsdam[4], ocorrida entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, após a rendição incondicional do Terceiro Reich na Segunda Guerra Mundial, em 8 de maio de 1945, os Aliados dividiram a “Zona de Ocupação Alemã” em quatro zonas de ocupação militar: a França no sudoeste, a Grã-Bretanha no noroeste, os Estados Unidos no sul e a União Soviética no leste, surgindo os dois grandes blocos, o Oriental, sob ocupação dos soviéticos e o Ocidental, sob administração dos Aliados. A Alemanha não voltou a recuperar sua independência senão em 1949.
De acordo com a “Aliança de Época de Guerra” e a “Divisão Zonal da Alemanha”, os soviéticos ocupariam a área definida pela Zona Soviética final aprovada por Potsdam, de acordo com todo o território germânico no ano de 1937, a leste da Linha Oder-Neisse. Da mesma forma, o derrotado Terceiro Reich deveria ser tratado como a área dentro de suas fronteiras em 31 de dezembro de 1937, significando que todo a expansão nazista de 1938 a 1945 (período da Segunda Guerra Mundial) fosse declarada inválida. Tal expansão incluiria a Cidade-Estado de Danzig, administrada pela Liga das Nações, Áustria, o território ocupado da Czechoslovakia, Alsácia-Lorena, Luxemburgo, Prússia Oriental, o norte da Eslovênia e outros territórios menores. As províncias germânicas a leste da linha do Oder – Neisse que estavam formalmente dentro dos limites territoriais do Terceiro Reich em 1937, (Prússia Oriental, Leste da Pomerânia e Silésia) foram removidas pelo Acordo de Potsdam. Essas áreas, com exceção do Norte da Prússia Oriental (que foi administrativamente entregue à União Soviética), foram requisitadas pelos poloneses como “Territórios Recuperados” e assim colocados sob a administração da Polônia, aguardando um tratado de paz definitivo, que apenas foi formalizado em 1990, 45 anos mais tarde, com a queda da União Soviética.
A parte norte da Prússia Oriental foi colocada sob administração soviética pelo Acordo de Potsdam que sancionou definições administrativas de vários territórios da Alemanha Oriental à Polônia e União Soviética alterando as fronteiras do que tinha sido a Alemanha antes da guerra, para o oeste. 
Perdas sofridas pela Alemanha com a Segunda Grande Guerra
Com essas divisões, a Prússia Ocidental e a Prússia Oriental ficaram divididas pela Polônia e a União Soviética. O velho Distrito de Rosenberg tornou-se então parte do Distrito de Itawa da Polônia. Todas as cidades, daí para a frente, tiveram sua nomenclatura alterada para nomes poloneses. A Prússia Oriental perdeu toda a sua população alemã depois de 1945, quando a Polônia e a União Soviética anexaram seu território. Desde então, a área está dividida entre o norte polonês (a maioria da Varmia-Masuria), o território externo russo de Kaliningrado e o sudoeste da Lituânia (na região da Klaipeda).
O pretendido corpo governamental da Alemanha foi chamado “Conselho de Controle Aliado”. Os comandantes em chefe exerceram suprema autoridade em suas respectivas zonas e atuaram em concerto nas questões que afetavam o país como um todo. Berlim, que se situava no setor soviético (oriental), foi também dividido em quatro setores, com os setores ocidentais constituindo, posteriormente, Berlim Ocidental e o setor soviético tornando-se Berlim Oriental, capital da Alemanha Oriental (República Democrática da Alemanha).
Como parte de seus objetivos de guerra, os aliados ocidentais procuraram a extinção da Prússia, com Stalin inicialmente favorável à manutenção daquele nome. Finalmente, a Lei nº 46 de 25 de fevereiro de 1947, do Conselho de Controle Aliado, um grupo formado após a Segunda Guerra Mundial para resolver questões relacionadas à Alemanha, proclamou, formalmente, a dissolução do Estado da Prússia.


[1] O Reich (literalmente Reino), foi sempre o nome dado ao território ou governo do estado germânico, como o Sacro Império Romano Germânico ou Primeiro Reich, de 962 a 1806; o Império Germânico ou Segundo Reich, de 1871 a 1919; a República de Weimar, de 1919 a 1933; ou o Terceiro Reich, de 1933 a 1945.
[2] O Partido Nacionalista Socialista Germânico dos Trabalhadores (PNSGT), comumente referido como Partido Nazista, foi um partido político do Império ativo entre 1920 e 1945, que teve como predecessor o Partido Germânico dos Trabalhadores, que existiu entre 1919 e 1920. O partido emergiu do grupo paramilitar Freikorps, que lutou contra os levantes comunistas do após Primeira Guerra Mundial no Império. O partido foi criado como forma de afastar os trabalhadores do comunismo e atraí-los para o nacionalismo popular. Inicialmente, a estratégia política nazista focou na oposição aos grandes negócios, à burguesia e à retórica capitalista, embora tais aspectos fossem posteriormente camuflados para ganhar o apoio das entidades industriais e, na década de 1930, passou a focar nos temas antissemita e antimarxista.
[3] A Lei de Concessão de Plenos Poderes de 1933 (ou Lei Habilitante) foi aprovada pelo Reichstag e assinada pelo Presidente Paul von Hindenburg em 23 de março de 1933, como o maior passo para conceder ao chanceler Adolf Hitler, legalmente, plenos poderes, estabelecendo assim a sua ditadura. A Lei foi aprovada graças aos votos decisivos do Partido do Centro Católico. O Partido Nazi e o Partido Popular Nacional Alemão (coligado aos nazistas) formavam 52% do Reichstag, mas tal percentagem não era suficiente para aprovar a Lei Habilitante, que só poderia ser aprovada por 67% do Reichstag. Hitler negociou com o Partido do Centro Católico (Zentrum), para que seus membros votassem em favor da Lei. O Zentrum e a Igreja Católica (que chefiava o Zentrum) concordaram, desde que governo alemão assinasse uma Concordata (tratado internacional celebrado entre a Santa Sé e um Estado, usualmente com a finalidade de assegurar direitos dos Católicos ou da Igreja Católica naquele Estado ou vincular o Papado ao Estado governado pelo soberano) com o Papa.
[4] A Conferência de Potsdam teve lugar no Castelo de Cecilienhof, lar do Príncipe herdeiro Wilhelm Hohenzzolern, em Potsdam, Brandenburg, Alemanha ocupada, e é algumas vezes referida como Conferência de Berlim dos Três Chefes de Estado da URSS (União Soviética), USA (Estados Unidos) e UK (Reino Unido), respectivamente representados pelo Secretário Geral do Partido Comunista, Joseph Stalin, Presidente Harry S. Truman e Primeiro Ministro Winston Churchill (mais tarde substituído por Clement Attlee). Stalin, Truman e Churchill reuniram-se para decidir a administração da Alemanha Nazista, que se rendera incondicionalmente nove semanas antes. Os objetivos da Conferência incluíram o estabelecimento da ordem pós-guerra, questões do tratado de paz e a avaliação dos efeitos da guerra.