Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 18 de março de 2016

STRANGER IN PARADISE (ESTRANHO NO PARAÍSO)

I - INTRODUÇÃO

“Stranger in Paradise´é uma canção popular do musical Kismet, de 1953, creditada a Robert Wright e George Forrest. Como todas as músicas do musical, esta melodia foi tomada emprestada de músicas compostas por Alexander Borodin, compositor clássico russo que viveu entre 1833 e 1887. Neste caso, trata-se do original “Dança Deslizante das Donzelas”, das “Danças Polovtsianas” da ópera “Príncipe Igor”. No musical, a canção é um dueto de apaixonados que descreve os sentimentos excelsos que o amor traz às suas cercanias. Versões posteriores da melodia foram muito editadas para serem executadas por artistas solo masculinos.
Talvez eu surpreenda, negativamente, os meus leitores e os desagrade algo, mas como tudo se originou do clássico de Borodin, é por ele que vou iniciar a história de “Stranger in Paradise”, para corretamente “dar a Cesar o que é de Cesar”.

II – O COMPOSITOR ALEXANDER BORODIN
Alexander Borodin em dezembro de 1864

Alexander Porfiryevich Borodin, nascido em 12 de novembro de 1833 e morto em 27 de fevereiro de 1887, na São Petersburgo da romântica Rússia Czarista, foi um compositor romântico de origem georgiana, além de médico e químico. Foi apenas um dos proeminentes compositores do século XIX, conhecidos como “O Poderoso Punhado”, “Os Cinco”, “O Círculo de Balakirev” ou “A Nova Escola Russa”, um grupo ativo em São Petersburgo, Rússia Imperial, dedicado a produzir uma espécie única de música clássica russa, ao invés de imitar modelos europeus ocidentais anteriores. Tal grupo reuniu-se de 1856 a 1870 e era formado por Mily Balakirev, o líder, César Cui, Modest Mussorgsky, Nikolai Rimsky-Korsakov e Alexander Borodin. “O Poderoso Punhado” era um ramo do movimento Nacionalista Romântico na Rússia, repartindo objetivos artísticos similares com a “Colônia Abramtsevo” e o “Renascimento Russo”.
Borodin é melhor conhecido por suas sinfonias, seus dois quartetos de cordas, “Nas Estepes da Ásia Central” e sua ópera Príncipe Igor. A música de “Príncipe Igor” e seus quartetos de cordas foram posteriormente adaptados para a confecção do musical americano “Kismet”. Um notável advogado dos direitos das mulheres, Borodin foi um promotor da educação na Rússia e fundou a “Escola de Medicina para Mulheres”, em São Petersburgo.
Borodin era filho ilegítimo de um nobre georgiano de 62 anos, Luka Stepanovich Gedevanishvili, e uma mulher russa casada, de 25 anos, Evdokia Konstantinovna Antonova, que por essas circunstâncias foi registrado como filho de um dos servos de seu pai, Porfiry Borodin, daí obtendo o seu sobrenome. Com isso, tanto Alexander Borodin como seu pai nominal Porfiry eram oficialmente servos de seu pai biológico Luka. Entretanto, Alexander foi emancipado da servidão aos sete anos e lhe foi concedido, bem como a sua mãe, moradia e dinheiro, sem que nunca tenha sido publicamente reconhecido por sua mãe, que permanecia próximo, mas era sempre referida como “tia” do jovem Borodin. Sempre foi bem amparado por seu pai biológico e cresceu numa enorme casa de quatro pisos, presente do nobre para Alexander e sua “tia”. Embora o seu registro não permitisse a matrícula em escolas adequadas, Borodin recebeu uma ótima educação em todos os assuntos, através de tutores particulares em casa. Em 1850 ele entrou na Academia Médico Cirúrgica em São Petersburgo, onde seguiu a carreira de químico. Com a graduação, passou um ano como cirurgião num hospital militar seguido de três anos em estudos científicos avançados na Europa Ocidental. Em 1862 Borodin retornou a São Petersburgo para assumir uma cadeira em química na Academia Imperial Médico-Cirúrgica, onde passou o restante da sua carreira científica, pesquisando, lecionando e supervisionando a educação de terceiros. Acabou por estabelecer cursos médicos para mulheres, em 1872.
Borodin conheceu e começou a tomar aulas de composição com Mily Balakirev em 1862 e sob a sua tutela em composição, começou sua Sinfonia No 1 em Mi-bemol maior, apresentada em 1869, com a condução de Balakirev. No mesmo ano, Borodin começou sua Sinfonia No 2 em Si Menor, que não foi um sucesso em sua primeira apresentação em 1877, com a regência de Eduard Nápravnik; entretanto, com alguma reorquestração mínima, teve uma apresentação de muito sucesso em 1879, pela Escola de Música Livre sob a direção de Rimsky-Korsakov. Em 1880 ele compôs o popular poema sinfônico “Nas Estepes da Ásia Central”. Dois anos mais tarde ele começou a composição de uma terceira sinfonia que ficou inacabada com a sua morte; dois de seus movimentos foram posteriormente completados e orquestrados por Glazunov. Em 1868 Borodin distraiu-se do trabalho inicial com a Segunda Sinfonia por sua preocupação com a ópera “Príncipe Igor”, vista por alguns como seu trabalho mais significativo e uma das mais importantes óperas russas. Contém as “Danças Polovtsianas”, muitas vezes executadas com um Concerto por si só, formando o que é, provavelmente, a composição mais conhecida de Borodin. Esta - assim como poucos outros trabalhos - ficou inacabada à época de sua morte, sendo completada, postumamente, por Rimsky-Korsakov e Alexander Glazunovde, em 1890.
Túmulo de Borodin, no cemitério de Tikhvin
em São Petersburgo
Borodin casou-se com Ekaterina Protopopova, uma pianista, em 1863 e teve pelo menos uma filha, chamada Gania. A música permaneceu, para Borodin, como uma vocação secundária. Teve má saúde, superando a cólera e vários pequenos ataques de coração. Morreu subitamente durante um baile na Academia, sendo enterrado no cemitério de Tikhvin, Monastério Alexander Nevsky, em São Petersburgo.

III – O “PRÍNCIPE IGOR” DE BORODIN

O Compositor adaptou o libreto do antigo épico russo “O Poema do Anfitrião de Igor”, que conta a campanha do príncipe russo Igor Svyatoslavich contra as tribos invasoras Cumans[1] (também chamadas Polovtsianas), em 1185. Ele também incorporou material tirado de duas crônicas medievais Kievan.
Após ter brevemente considerado “A Noiva do Tsar”, de Lev Mei, como um assunto (retomado em 1898 por Nikola Rimsky-Korsakov, em sua nona ópera), Borodin iniciou a busca de um novo projeto para a sua primeira ópera. Vladimir Stasov, crítico e conselheiro do “Poderoso Punhado” sugeriu “O Poema do Anfitrião de Igor”, um poema em prosa épico do século XII, enviando a Borodin o cenário para uma ópera em três atos, em 30 de abril de 1869. Inicialmente, Borodin achou a proposta instigante, mas assustadora. Iniciou os trabalhos em setembro de 1869, por árias de alguns personagens isolados e por esboços das “Danças Polovtsianas”. Mas abandonou em seguida os trabalhos por um período de quatro anos, durante os quais trabalhou em suas sinfonias. Retornou ao “Príncipe Igor” em 1874, mas sua ocupação principal, para consternação de seus companheiros, era a química, com a pesquisa e o ensino, e Borodin trabalhou em sua ópera por quase 18 anos e ainda assim não conseguiu completa-la antes de sua morte.
A ópera acontece no ano de 1185, na cidade de Putivl (durante o Prólogo, Atos 1 e 4) e num acampamento Polovtsiano (nos Atos 2 e 3).
O livreto de "Príncipe Igor", ópera em 4 atos
e Prólogo, de Alexander P. Borodin
O Prólogo acontece na praça da Catedral e Igor prepara-se para iniciar a sua campanha contra os Polovtsianos e suas Khans que atacaram as terras russas. Enquanto o povo canta, ocorre um eclipse solar que gera total consternação como mau presságio. Dois soldados desertam certos de que Vladimir Yaroslavich, o Príncipe Galitsky (irmão da esposa de Igor), lhes ofereceria trabalho mais a seu gosto. Embora Yaroslavna, esposa de Igor, considere a eclipse sinal de mau presságio, Igor insiste que a honra o obriga à guerra. O povo canta um grande coro de louvor enquanto o anfitrião põe-se a caminho contra os Polovtsianos.
No Ato 1 o mau caráter do príncipe Galitsky e seus homens é apresentado enquanto eles se aproveitam da ausência de Igor para viverem na luxúria em Putivl. Num quarto do Palácio de Yaroslavna, ela se preocupa por não ter tido notícias de Igor e seus homens, enquanto sua governanta entra com jovens mulheres que revelam o sequestro de uma jovem pelo seu irmão e do seu mau procedimento e seus homens por toda a cidade. Galitsky entra em seus aposentos e é repreendido por ela pelos seus atos; ele lhe diz que pode tomar o trono quando quiser, sendo por isso ameaçado por ela de chamar o pai de ambos, que o havia expulsado de casa. Os nobres da corte entram para avisar que Igor, seu filho e seu irmão haviam sido presos pelos Polovtsianos, seu exército destroçado e que a cidade encontrava-se ameaçada de invasão. Os nobres dizem que vão organizar a defesa, mas Galitsky retorna exigindo que ele seja aclamado o novo príncipe. A cidade é um caos.
No Ato 2, donzelas Polovtsianas cantam e dançam a famosa “Dança Deslizante das Donzelas” - nesta cena ouve-se, claramente, o motivo que deu origem a “Stranger in Paradise” – e Konchakovna, filha do chefe cuman, une-se a elas esperando que seu amado retorne breve. Vladimir, filho de Igor encontra-se com Konchakovna, sua amada, e cantam o seu desejo de casarem, sabendo que o pai dela permitirá, mas não o seu pai. Igor chega e canta lamentando a sua sorte, sendo consolado por Khan Konchak que lhe diz não ser prisioneiro, mas um digno convidado. Oferece-lhe a liberdade mediante a promessa de não o atacar novamente, mas Igor a recusa por não querer mentir. Khan Konchak chama seus escravos para dançarem as “Danças Polovtsianas”.
No Ato 3 o exército Polovtsiano canta as suas glórias enquanto o cristão Ovlur prepara cavalos para Vladimir e Igor que agora concorda em fugir. A aflita Konchakovna suplica que Vladimir a leve ou fique com ela e Igor é obrigado a fugir só. Konchakovna soa o alarme e Vladimir é preso, mas Konchak não permite que os guardas o matem, punindo-os e realizando o casamento de Vladimir com Konchakovna.
No Ato 4, de volta a Putivl, Yaroslavna arrasada por sua separação de Igor, vê chegarem dois cavalos com ele e Ovlur. O casal festeja a sua sorte e os dois soldados que se juntaram ao seu irmão, sem perceber a presença de Igor, cantam uma canção que troça com ele. Quando finalmente o vêm, correm à igreja e badalam o sino para anunciar a volta de Igor; o povo se reúne e, com alegria celebra a volta do seu príncipe.
Embora raramente executada completa fora da Rússia, “Príncipe Igor” recebeu duas novas produções mais recentes, uma na Companhia de Ópera e Ballet do Estado Bolshoi, em 2013, e outra no Metropolitan Opera Company da cidade de New York, em 2014.
Naturalmente, a ópera completa seria muito longa para apresentar nesta postagem. Assim, para os que têm mais interesse na música clássica, estou disponibilizando um clip com a versão completa das “Danças Polovtsianas”, com a duração de menos de 10 minutos, para que os leitores possam, posteriormente, compará-las com a melodia popular “Stranger in Paradise”.

IV – OS COMPOSITORES ROBERT WRIGHT E GEORGE FORREST

Com relação à canção popular “Stranger in Paradise”, conforme dito na Introdução, seus autores são George Forrest e Robert Wright.
George Forrest, nascido em 31 de julho de 1915 e falecido em 10 de outubro de 1999, foi um escritor de música e letra para musicais de teatro, mais conhecido por seu “Kismet”. Nascido George Forrest Chichester Jr., no Brooklin, New York, também conhecido profissionalmente por Chet Forrest, por toda a sua carreira trabalhou exclusivamente com o compositor-letrista Robert Wright.
Robert (Bob) Craig Wright, nascido em 25 de setembro de 1914 e falecido em 27 de julho de 2005, foi um compositor-letrista americano para Hollywood e o teatro musical, melhor conhecido por seus musicais da Broadway e o seu trabalho “Kismet”.
O par tinha uma grande afinidade para adaptar temas de música clássica adicionando letras a tais temas para apresentação em musicais nos teatros de Hollywood e Broadway. Wright dizia que que a música era, usualmente, uma colaboração a 50% entre Wright e Forrest, mas embora ambos fossem creditados igualmente como compositores-letristas, era Forrest quem trabalhava com a música. “Kismet” foi um de vários trabalhos que Forrest criou com Wright, encarregados pelo empresário Edwin Lester para a Ópera Leve Municipal de Los Angeles (Los Angeles Civic Light Opera – LACLO). A “Canção da Noruega”, “Cigana”, “Madalena” e sua adaptação de “A Grande Valsa”, foram também encomendadas por Lester par a LACLO, que então exportava a maioria dessas produções para a Broadway. Forrest e Wright venceram um Prêmio Tony (Tony Award) por seu trabalho em “Kismet” e, em 1995, receberam o Prêmio Richard Rodgers da Fundação ASCAP (American Society of Composers, Authors and Publishers).

V - O MUSICAL “KISMET”

“Kismet” é, portanto, um musical com letras e adaptação musical (bem como alguma música original) de Robert Wright e George Forrest, a partir de música de Alexander Borodin e com livro de Charles Lederer e Luther Davis. Este musical, por sua vez, é uma adaptação da peça teatral “Kismet” de 1911, de Edward Knoblock. Os autores usaram a música de Borodin por sentirem nela um adequado sabor exótico e inebriantes melodias. A história se passa em Bagdá, na idade áurea do islamismo medieval e trata de um astuto poeta que escapa de problemas por várias vezes enquanto sua bela filha encontra e se apaixona pelo jovem Califa.
Logo original de "Kismet", para a
Broadway, em 1953
O musical, conforme mencionado acima, foi encomendado por Edwin Lester, apresentado em Los Angeles e depois em São Francisco, no verão e outono de 1953, vencendo o Tony Award de melhor musical em 1954. A produção mudou para a Broadway em dezembro de 1953, sendo apresentada no Ziegfeld Theatre, com direção de Albert Marre, coreografia de Jack Cole e suntuosos cenários e costumes por Lemuel Ayres. O elenco original estrelou com Alfred Drake no papel do poeta Haji, Doretta Morrow como sua filha Marsinah, Richard Kiley como o jovem Califa de Bagdá, Henry Calvin como o Vizir e Joan Diener como Lalume, a sedutora esposa do mau Vizir. O show abriu em meio a uma greve da imprensa e como a crítica não estava disponível, os produtores usaram a propaganda da TV para promover o espetáculo. O musical ganhou a atenção popular e teve 583 apresentações de sucesso. “Kismet” teve ainda mais sucesso em Londres, com 648 apresentações no Stoll Theatre, a partir do início de abril de 1955. A produção londrina abriu com as três estrelas do elenco da Broadway, Drake, Morrow e Diener, que foram posteriormente substituídos por Tudor Evans, Elizabeth Larner e Sheila Bradley, respectivamente.
A peça abre numa mesquita onde um Imam reza ao nascer do sol. Três pedintes sentados fora do templo e um quarto, Haji, fora a Meca. Um poeta entra para vender seus versos e sua linda filha Marsinah se junta a ele, sem sucesso. Marsinah é enviada para roubar laranjas no Bazaar, para seu café, enquanto seu pai senta para esmolar. Os mendigos objetam ao fato do poeta tomar o lugar de Haji ao que ele responde ser seu primo, ameaçando amaldiçoar aos que não lhe derem esmola. Hassen-Bem, um homem do deserto confunde o poeta com Haji e o sequestra; o poeta, que daqui para a frente é referenciado como Haji, é levado a Jawan, um conhecido bandido que havia sido amaldiçoado por Haji quinze anos atrás com o desaparecimento do seu filho e que agora deseja a remoção da maldição. O novo Haji, vendo a oportunidade de ganhar algum dinheiro, promete retirar a maldição por 100 peças de ouro. Jawan parte para Baghdad em busca do seu filho e Haji se regozija com suas novas riquezas.
De volta à cidade, o Vizir (autoridade com poder de polícia) anda pelo Bazaar com sua sedutora mulher Lalume, em busca de um empréstimo muito necessário. Em troca do dinheiro emprestado pelo Rei de Ababu, o Califa deveria casar com uma (ou as três) das princesas de Ababu, que realizam uma dança sensual e dizem a Lalume que desejam retornar ao lar, mas são por ela convencidas que Baghdad é uma cidade mais excitante que qualquer outra.
Enquanto isso Marsinah é perseguida pelo mercador de frutas de quem roubara, mas seu pai chega para salvá-la e dá-lhe metade do dinheiro que obtivera. O jovem Califa, que viajava incógnita com seu conselheiro, se apaixona por Marsinah e a segue. Em outro local, Haji se deleita com algumas escravas, em trajes sumários, que recém comprara e é detido pela polícia que busca por Jawan. A polícia reconhece em suas moedas o “penacho” de uma família que Jawan havia roubado e o prende como ladrão. Enquanto isso, Marsinah encontra uma rara casa com um lindo jardim, que pensa em comprar para seu pai e ela. Ela admira o jardim quando o jovem Califa adentra fingindo ser o jardineiro e se apresenta. Eles se apaixonam e nesta cena interpretam “Stranger in Paradise”. Prometem se encontrar novamente no jardim ao nascer da lua.
No palácio do Vizir, Haji está sendo julgado pelo roubo de 100 peças de ouro e sem necessitar de provas ele o condena a 20 chicotadas e à perda de sua mão direita. Lalume, atraída pelo poeta, implora pelo perdão do seu marido, mas o Vizir não se convence e manda açoitá-lo novamente. Um guarda entra para avisar que haviam capturado Jawan que entra e pergunta a Haji pelo seu filho, quando vê no pescoço do Vizir um medalhão que seu filho usava quando despareceu: o Vizir é o seu filho! Jawan louva o poder de Haji que pode amaldiçoar e desfazer a maldição e se emociona por encontrar o seu filho; entretanto o Vizir condena o seu próprio pai à morte, porque não pode ter um pai como o maior criminoso da Mesopotâmia.
Jawan é conduzido para a execução e o Vizir percebe que Haji o havia amaldiçoado. Quando a ponto de mata-lo, entra o Califa e comunica que encontrou uma noiva e que casará com ela à noite. O Vizir se apavora porque se o Califa não casar com uma princesa da Ababu ele estará arruinado, e conclui que é tudo culpa da maldição de Haji e lhe implora para retirá-la, prometendo-lhe a suspensão da pena e o título de Emir. Haji concorda embora Lalume saiba que ele não é nenhum mágico, e decide que pode ser a sua chance de ter uma boa vida e promete ajuda-lo dizendo-se apaixonada por ele. Com o retorno do Vizir, Haji canta uma canção mística, enquanto as escravas dançam selvagemente distraindo o Vizir, e salta em fuga por uma janela.
No Ato 2, o Califa e a procissão de casamento aproximam-se da casa de sua amada e, dentro, Marsinah pensa no seu jardineiro e apresenta uma reprise de “Stranger in Paradise”. Haji entra, conta da situação deles e diz que têm que fugir imediatamente para Damasco, mas Marsinah recusa. Eles têm uma discussão séria e ela foge de forma que quando o Califa chega, não a encontra.
O Vizir é informado de que a noiva do Califa desapareceu. Ele se alegra com a notícia e com o fato de ter um mago como Emir e instrui Lalume a manter feliz o seu novo Emir, o que ela está louca para fazer. Haji e Lalume planejam uma viagem quando Marsinah entra e eles se reconciliam; ela lhe conta do seu amor e pede que o encontre. Ao mesmo tempo, no quarto vizinho, o Califa ordena que o Vizir encontre o seu amor.
O Vizir, tentando convencer o Califa de que pensar em uma esposa é apenas uma fase, mostra-lhe seu harém por uma vigia, onde ele vê Marsinah e fica horrorizado achando que ela é um membro do harém do Vizir. O Vizir, certo de que Haji era o responsável por tudo, diz que ela é uma de suas esposas e o Califa concorda em escolher a sua esposa naquela noite; para não parecer que havia mentido para o seu príncipe, o Vizir casa-se imediatamente com Marsinah.
Naquela noite, as candidatas ao Califa dançam para ele, que permanece impávido. Haji busca por Marsinah; o Vizir agradece a Haji por ter colocado a amada do Califa em seu harém e rindo lhe conta que casou com a linda Marsinah. Vendo o que tinha acontecido, Haji tira do turbante uma placa em branco e a joga na piscina; inventa uma história para o Vizir, que entra na piscina para recuperá-la, e quando o faz, Haji o afoga.
Haji então explica ao Califa tudo o que havia acontecido e o Califa volta a se unir a Marsinah. O Califa perdoa a Haji por ter matado um servidor público, mas o poeta pede, como sua punição, ser banido para um oásis com a viúva do Vizir, para consolá-la em sua dor.

VI – OUTRAS APRESENTAÇÕES, FILMAGENS E GRAVAÇÕES

O musical foi reapresentado no “Lincoln Center’s New York State Theater”, estreando em 22 de junho de 1965, para 39 apresentações, estrelando Drake, Lee Venora, Anne Jeffreys e Henry Calvin. O “New York City Opera” apresentou o musical em outubro de 1985, estrelando George Heam (Haji), Susanne Marsee (Lalume) e Maryanne Telese (Marsinah), com direção de Frank Corsaro.
Outras versões, bem estilizadas, foram depois lançadas, com adição de novas melodias. Novas apresentações também foram encenadas através das séries do “New York City Center Encores”, com novo elenco e foi revivido em 2007 pelo “English National Opera” no “London Coliseum”, estrelando os veteranos dos musicais do West End, Michael Ball, Faith Prince e Alfie Boe. Também foram liberadas duas gravações de estúdio, uma por Jay Records, em 1989 e outra em 1991, com direção musical de Paul Gemignani.
Do musical foi realizado um filme em Cinemascope, em 1955, pela MGM, dirigido por Vincent Minnelli e estrelado por Howard Keel, como Haji, Ann Blith, como Marsinah, Dolores Gray, como Lalume e Vic Damone, como o Califa. Este último, que muito pouco filme fez, mas foi um cantor importante para os jovens adolescentes das décadas de 1950 e 1960, ainda está vivo com a idade de 87 anos. Do filme estamos apresentando “Stranger in Paradise”, da cena do jardim quando o Califa e Marsinah se encontram pela primeira vez. Para “matar a saudade”!
Uma versão para a televisão foi transmitida em 1967, estrelando Barbara Eden como Lalume, José Ferrer como Haji, Anna Maria Alberguetti como Marsinah e George Chakiris (o mesmo portorriquenho do “West Side Story” – Amor Sublime Amor) no papel do Califa. A transmissão foi encurtada para 90 minutos através do corte de uns poucos números musicais.
No que se refere às gravações da melodia “Stranger in Paradise”, a versão mais popular foi a cantada por Tony Bennett (1953), mas outras versões, pelos “The Four Aces” (apoiados pela orquestra de Jack Pleis) e Tony Martin, também receberam grande favor popular em 1954. A versão de Bennett alcançou a primeira posição no Quadro de Simples, no Reino Unido, em maio de 1955. Apenas em 1955, “Kismet” e suas melodias chegaram a Londres, junto com Tony Bennett.
A enorme popularidade de “Stranger in Paradise” no Reino Unido deve-se ao fato de que não menos de seis versões despontaram no topo do quadro em 1955: além de Tony Bennett, foram incluídos os Four Aces, Tony Martin, Bing Crosby, Don Cornell, além de uma versão instrumental com Eddie Calvert.
Mose Allison, Sarah Brightman, Ray Conniff, Sammy Davis, Jr., Percy Faith, Al Hirt, Engelbert Humperdinck, Gordon MacRae, Johnny Mathis, Keely Smith, Curtis Counce, Isaac Hayes, the Ink Spots, Jack Jones, Mantovani, Martin Denny, Wes Montgomery, André Rieu, Saint Etienne, George Shearing, Sun Ra, the Supremes and Toots Thielemans, estão entre outros artistas que gravaram novas versões da mesma melodia. Neil Young apresentou também a canção ao vivo. Em 1965, The Ventures lançaram sua versão com dois outros nomes: “The Stranger” and “Ten Seconds to Heaven”. Mais recentemente, em 2011, Tony Bennett regravou a música em dueto com Andrea Bocelli, para o seu álbum Duetos II.
Não conheço todas essas gravações, nem iria submetê-las aos meus leitores. Mas tenho as minha preferidas, que gostaria de apresentar. Na voz masculina, como se trata de uma música extremamente romântica, fico com meu cantor preferido, Johnny Mathis. Na interpretação feminina, pela mesma razão, apresento uma das minhas preferidas, Sarah Brightman. Para a versão instrumental, eu recomendo e apresento a Orquestra de Mantovani, que executa essa melodia de uma maneira inconfundível com seus violinos maravilhosos. Mas não gostaria de omitir a versão instrumental, com coral, do nosso imortal Ray Conniff que, definitivamente, consagrou “Stranger in Paradise”, numa versão mais leve, alegre e vibrante.
Espero que apreciem, como eu, essa maravilha da música clássica e ao mesmo tempo popular.

[1] Os cumans eram um povo nômade turco, braço ocidental da confederação Cuman-Kipchak. Após a invasão mongol de 1237, muitos deles procuraram asilo na Hungria.

terça-feira, 8 de março de 2016

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 10 - Última)

X - CONCLUSÃO


E aqui encerramos esta verdadeira empreitada. Mais longe não importa ir, já que o objetivo da postagem era apenas a Revolução Russa. O que segue é a continuação de um regime que se foi gradativamente atenuando, com uma brusca reviravolta ao final da década de 1980, em direção a um capitalismo econômico, embora ainda mantendo um sistema autoritário de governo, com imprensa controlada e restos do famoso regime comunista, relativamente recente e plenamente documentado para uma busca fácil. Entretanto, à guisa de conclusão, eu gostaria de colocar uma séria pergunta aos meus leitores, para motivar uma discussão adicional: A Revolução Russa terá valido à pena?
Em primeiríssimo lugar, eu mesmo que coloco a pergunta já me antecipo e digo que de pouco adianta colocar essa questão, porque ela, boa ou ruim, de fato aconteceu e nada mais se pode fazer a respeito, além do fato de que uma quantidade significativa de pessoas pondera que “nada neste mundo acontece por acaso”.
Em segundo lugar, tal questão deveria ser colocada ao povo russo e a mais ninguém, porque foi ele que sofreu a revolução e porque, segundo os líderes revolucionários, foi em nome desse povo russo que ela foi realizada. É conversa aceita, em geral pelos profissionais revolucionários, que as revoluções são produto do povo. Entretanto, é muito fácil de entender, que Povo nenhum faz revoluções se não contar com líderes carismáticos e, principalmente, sem meios materiais importantes: armas principalmente, mas também transportes, meios de comunicação, alimentos e recursos financeiros. Na minha modestíssima opinião, a revolução russa não teria sequer acontecido – e muito menos saído vitoriosa – se os seus líderes não se tivessem aproveitado do fato de que a Rússia estava participando da Primeira Guerra Mundial. E, na falta de outras provas, a maior delas foi o fracasso de todos os seus movimentos anteriores visando melhorar as condições de vida do atrasado povo russo daquela época e substituir o poder absoluto do Czar por um poder menos tirano. Isso foi conseguido? 
Ruínas de instalações de Gulag, Sibéria
De tudo o que li e pesquisei para a realização do presente trabalho, nunca entendi que o povo russo sequer pretendesse sacar do poder o Czar, quanto mais transformar o regime vigente (fosse qual fosse à época) num regime marxista/socialista/comunista. O povo russo da época era extremamente ignorante em sua grande maioria e não é preciso rever estatísticas para aceitar essa assertiva. Não podemos confundir a nobreza, o clero e os militares russos da época do Czar, que viviam em São Petersburgo e Moscou, com o povo russo, vivendo num país rude, de clima inclemente e solo pouco produtivo (o solo mais produtivo da Rússia encontrava-se na Ucrânia)! O povo russo era composto de 95% de camponeses que habitavam uma nação de fantásticas dimensões territoriais, em sua maioria muito afastados do poder central e, em consequência, sem poder ser devidamente atendido por esse mesmo poder; além disso, a imensa maioria desse povo não possuía a menor ideia do que fosse socialismo, marxismo ou comunismo. O que esse povo queria era o que o povo de qualquer país ou região sempre desejou: alimento, moradia, educação para os seus filhos, mínimas condições de saúde e segurança. E o povo russo não possuía absolutamente nada disso. Isso poderia ter sido conseguido sem a revolução russa? Obviamente que sim! Nem o mais maquiavélico marxista / comunista se atreveria a dizer que não. Todos os países antigos ou modernos que não adotaram o comunismo, estão aí para demonstrar que sim. Alguns desses países possuíam condições de vida até mesmo piores que os russos, tiveram as suas revoluções e não fizeram essa escolha. E aí, na minha opinião, reside a grande maldade que os líderes revolucionários russos perpetraram contra o seu povo. Esses líderes, todos com problemas pessoais brutais, viveram longe do povo russo, na Europa; eram estudiosos das doutrinas marxistas e usaram esse mesmo povo para implementar a sua ideologia, na melhor das hipóteses, porque acreditavam, possivelmente, que poderiam resolver os seus problemas dessa forma. Mas não apenas isso. Não vou ao ponto de dizer que tivessem agido de má intenção, para prejudicar o povo, já que eram parte da nação. A menos da seríssima intenção de derrubar o Czarismo, até mesmo por fortes razões pessoais. Porque, na verdade, tiveram inúmeras oportunidades para resolver os problemas do povo de forma pacífica, sem matança e refugaram essas oportunidades, como ficou claramente demonstrado por tudo quanto se escreveu nessa postagem. No início da Revolução em fevereiro de 1917, o Czar já havia renunciado, havia um governo provisório constituído, pronto para formar um regime social democrático. Mas para os bolchevistas isto não era suficiente; o mais importante era a vitória da ideologia comunista. Além disso, não apenas não devemos desprezar, como devemos colocar como razão principal, a ambição pessoal de todos os líderes revolucionários da história, não apenas da revolução russa, pelo poder. Se não fosse assim, eu pergunto, por que os líderes revolucionários tornaram-se ditadores ao final da revolução ao invés de entregarem o poder ao povo? Por que um Stalin tornou-se o ditador que, na história, mais concentrou poder em suas mãos e mais matou amigos e inimigos, antes, durante e após o período revolucionário? Por que o mesmo fato ocorreu na revolução francesa, a mais decantada e celebrada revolução da história e ícone para os próprios revolucionários russos, onde os líderes, em ondas sucessivas se devoraram uns aos outros, passaram de uma monarquia a uma república, até o surgimento de um Napoleão, imperador absoluto de uma nação que fez uma revolução para tirar um rei e que, em menos de 30 anos retornava à monarquia? Que também teve um “Reino do Terror”, mas onde, pelo menos, as mortes foram contadas aos milhares e não aos milhões! Os líderes russos se aproveitaram da ignorância do povo russo para impor à nação russa a sua ideologia, adquirida durante os seus anos de exílio no exterior, uma ideologia estrangeira, importada, com duplo objetivo, se quiserem, nessa ordem: resolver, sim, o problema social do povo russo, mas implementar a ideologia marxista, em que acreditavam e, com ela, a tomada do poder com a queda do Czarismo. 
Aleksandr Solzhenitsyn,, Vladivostok
(extremo sudeste da Rússia), verão de 1994
A entrada da Rússia na 1ª Grande Guerra, grandemente favoreceu os objetivos de tais líderes. As condições de vida do povo foram agravadas por todas as razões deste mundo: recursos financeiros e materiais necessários à guerra, envio de soldados do povo para serem mortos, carência cada vez maior de recursos na pátria em alimentos e todas as demais consequências de uma guerra dessas proporções, em que o exército russo estava sendo fragorosamente derrotado. Tais líderes usaram exatamente essas bandeiras para contarem com a adesão e colaboração do povo: o término da guerra e alimentos para o povo. Notem a coincidência das datas da revolução russa com o início da derrocada da Rússia na 1ª Grande Guerra: 1917. E esses líderes saíram vencedores, em nome do povo, do mesmo povo que, posteriormente, foi brutalmente morto aos milhões, por fome e por fuzilamentos, em nome da mesma revolução que os redimiria.
Voltando à pergunta “Valeu à Pena?”, a história encarregou-se de contar o que aconteceu, através da desintegração da União Soviética em 15 países independentes, formalmente decretada em 26 de dezembro de 1991, como resultado da declaração No 142 do Soviete Supremo da União Soviética, reconhecendo a independência das antigas Repúblicas Soviéticas e criando a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), seu colapso sendo saudado pelo oeste como uma vitória da liberdade e um triunfo da democracia sobre o totalitarismo, após 74 anos de sofrimentos. Entretanto, a desintegração soviética já se iniciara em março de 1985, com a eleição de Mikhail Gorbachev para o cargo de Secretário Geral, pelo Politburo. Mas o mais importante não foi, propriamente, o fim do regime, mas sim o reconhecimento do seu fracasso pelos novos líderes que emergiram, do ponto de vista social, econômico e político, como amplamente divulgado pela mídia internacional. De uma certa forma, um replay ampliado do que já acontecera com a morte de Stalin e a ascensão de Khrushchev, em 1953. Some-se a tudo isso, o fato de que são vários os autores que já disseram e têm dito, que Marx e Engels, criadores da teoria comunista, teriam se horrorizado se tivessem vivido para ver o que os líderes da revolução russa fizeram em nome do Marxismo/Socialismo/Comunismo. Ainda muito mais apoiados pelo fato de que tal tipo de revolução somente poderia ocorrer a partir de países desenvolvidos, com a indústria e o proletariado já bastante avançados. Tal seria o caso da Alemanha e Inglaterra, principalmente, razão pela qual tais líderes muito tempo viveram na Alemanha e Suíça, por exemplo.
Finalmente, mesmo considerando que a Revolução Comunista da Rússia tivesse valido à pena, não poderíamos deixar de perguntar: valeu à pena para quem? Para os líderes revolucionários que já estão todos mortos e nem sequer viveram para ver o resultado final? Para o povo, que vivenciou a revolução e sentiu na carne o seu drama particular, ou que viu os seus parentes, filhos, mães e pais morrerem de fome ou assassinados por um pelotão de fuzilamento, ou ainda morrerem esgotados num campo de trabalhos forçados? Ou para os que ainda viveram para ver a queda de Stalin, a esperança renovada ou ainda o fim da União Soviética, sonho de muitos russos? Que os leitores cheguem às suas próprias conclusões.
Afirmo aos meus leitores que foi imensa a bibliografia consultada para a elaboração dessa pesquisa (e daí não relacioná-la toda), que resultou nessas cinquenta e três páginas de texto, muito condensadas. Entretanto, para os que ainda quiserem se aprofundar mais no assunto que, obviamente, possui uma quantidade imensa de material produzido, apresento abaixo apenas alguns poucos títulos, que tratam de assuntos mais específicos, deixando para os meus leitores a tarefa de buscarem os mais genéricos, até mais fáceis de serem encontrados. 
Nem o grande líder Lenin escapou à derrocada da URSS:
março de 1990, na Romênia, após o fuzilamento do líder
comunista Nicolae Ceausescu.
1) “A Carta Testamento de Lenin”: Nesta carta escrita pelo próprio Lenin, em 1923, ele propõe, entre outras coisas, alterações à estrutura do governo soviético, critica os membros líderes da liderança soviética e sugere que Joseph Stalin seja removido de sua posição como Secretário Geral do Partido Comunista Soviético.
2) "Since Lenin Died" (Desde que Lenin Morreu): Neste ensaio, escrito em 1925, Max Forrester Eastman (04/01/1883 – 25/03/1969) descreveu “O Testamento de Lenin”, cópia que ele retirara da URSS clandestinamente, durante sua estadia na Rússia, onde viveu por um ano e nove meses entre 1922 e 1924 (fim da guerra civil, primeiro ano de Lenin e ano de sua morte). Eastman foi influenciado pela rivalidade mortal entre Leon Trotsky e Joseph Stalin, que culminou com o assassinato de Trotsky, e pelos indiscriminados abusos cometidos durante o “Grande Expurgo” de Stalin. Enquanto na União Soviética, Eastman iniciou uma amizade com Trotsky que durou até o seu exílio e assassinato no México. Tendo dominado a língua russa em pouco mais de um ano, Eastman traduziu vários trabalhos de Trotsky para o inglês, incluindo sua monumental “História da Revolução Soviética”, em três volumes. Após retornar aos EUA, em 1927 (depois de ficar três anos na Europa), Eastman publicou vários trabalhos que foram muito criticados pelo sistema stalinista. Em outros ensaios, Eastman descreveu as condições existentes para artistas e ativistas políticos na Rússia. Tais ensaios o tornaram muito impopular entre americanos esquerdistas da época. Posteriormente, entretanto, seus escritos sobre o assunto foram citados por muitos, da esquerda e da direita, como sóbrios e realistas retratos do sistema soviético sob Stalin. As experiências de Eastman na União Soviética e seus estudos, fizeram-no mudar sua visão do Marxismo sob os russos, mas seus compromissos com as ideias políticas esquerdistas não se abateram.
3) “A História da Revolução Soviética”: Escrito por Leon Trotsky, em 1930. E traduzido para o inglês, em 1932, por Max Eastman, em três volumes: “A Derrubada do Czarismo”; “A Tentativa da Contrarrevolução”; “O Triunfo dos Soviéticos”. É a história da Revolução Russa de 1917 escrita por um dos seus líderes. Em sua nota sobre o autor, na primeira tradução inglesa, Max Eastman escreveu que "esta presente obra ... vai tomar o seu lugar de importância na vida de Trotsky ... como uma das realizações suprema desta mente versátil e poderosa”.
4) “O Discurso Secreto”: de Nikita Khrushchev, apresentado em 25 de fevereiro de 1956, com o título “Sobre o Culto da Personalidade e suas Consequências”, foi proferido durante o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética. Num discurso secreto, diante de plenário fechado, Khrushchev denunciou o culto à personalidade de Stalin. Além disso, revelou que Stalin havia prendido milhares de pessoas e enviado a um imenso sistema de campos de trabalhos políticos (o famoso Gulag). Essa revelação foi atendida com assombro por muitos dos presentes ao discurso, mas ajudou a quebrar um pouco do poder que Stalin ainda tinha sobre o povo.
5) “The Great Terror”: Este livro, do historiador britânico Robert Conquest (1917-2015), de 1968, popularizou a frase “O Grande Terror”. O título de Conquest foi uma alusão ao período que foi chamado “Reino do Terror”, ocorrido durante a Revolução Francesa de 1789, durante o seu período mais sangrento, de junho a agosto de 1794, bem como um título alternativo ao período da história soviética conhecida como “O Grande Expurgo”. Uma versão revisada do livro, com o título “O Grande Terror: Uma Reavaliação”, foi editada em 1990, após a possibilidade que teve de atualizar o texto com a consulta dos recém-abertos arquivos soviéticos.
6) “The Harvest of Sorrow (A Colheita do Sofrimento) – A Coletivização e o Terror SoviéticosFome”: É um livro de 1987, de Robert Conquest, a primeira história completa da mais horrenda tragédia do século XX. Entre 1929 e 1932, o Partido Comunista Soviético aplicou um duplo golpe no campesinato russo: a extinção dos Kulaks (Camponeses, para evitar a confusão com os Gulag), tomada de suas terras e deportação de milhões de famílias camponesas; e a coletivização, a abolição da propriedade privada da terra e a concentração dos camponeses restantes em fazendas coletivas controladas pelo Partido. Tais medidas foram seguidas, em 1932-1933, por uma “fome do terror’, infligida pelo Estado sobre os camponeses coletivizados da Ucrânia e certas outras áreas, tornando impossível altas quotas de grãos, removendo quaisquer outras fontes de alimentação e proibindo ajuda de outros locais, mesmo de outras áreas da União Soviética, para alcançar e atenuar a fome da população esfaimada. A quantidade de mortos, estimada, resultante dessas medidas de Stalin descritas nesse livro, chegou a 14,5 milhões de pessoas, mais do que o número total de mortes de todos os países na 1ª Guerra Mundial. Ambicioso, meticulosamente pesquisado e lucidamente escrito, “A Colheita do Sofrimento” é um testamente profundamente comovente àqueles que morreram, que registrará na consciência ocidental um sentimento do lado escuro da história desse século.
7) “Age of extremes - The short twentieth century: 1914-1991” (Era dos Extremos - O Breve Século XX: 1914 – 1991): Este é um livro de História escrito por Eric Hobsbawm, o maior historiador esquerdista de língua inglesa, em 1994, que discorre sobre o século XX, mais precisamente do início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, até a queda da União Soviética, no ano de 1991. É muito interessante apreciar a forma como Hobsbawm - um marxista irredutível que defendeu o indefensável, quando numa entrevista que chocou leitores, críticos e colegas, alegou que o assassinato de milhões orquestrado por Stalin na União Soviética teria valido à pena se dele tivesse resultado uma "genuína sociedade comunista" – apreciou a Revolução de 1917, principalmente quando comenta a atuação de Stalin.
8) “Le Livre Noir du Communisme – Crimes, terreur, répression” (O Livro Negro do Comunismo – Crimes, terror, repressão): Stéphane Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné, Andrzej Paczkowski, Karel Bartosek e Jean-Louis Margolin constituem a equipe de historiadores e universitários - que permanecem ou estiveram ligados à esquerda – que trazem a público, em 1999, o saldo estarrecedor de mais de sete décadas de história de regimes comunistas: massacres em larga escala, deportações de populações inteiras para regiões sem a mínima condição de sobrevivência, expurgos assassinos liquidando o menor esboço de oposição, fome e miséria provocadas que dizimaram indistintamente milhões de pessoas, enfim, a aniquilação de homens, mulheres, crianças, soldados, camponeses, religiosos, presos políticos e todos aqueles que, pelas mais diversas razões, se encontraram no caminho de implantação do que, paradoxalmente, nascera como promessa de redenção e esperança. Os autores não hesitam em usar a palavra genocídio, pois foram cerca de 100 milhões de mortos! Esse número assustador ultrapassa amplamente, por exemplo, o número de vítimas do nazismo e até mesmo o das duas guerras mundiais somadas. Genocídio, holocausto, portanto, confirmado pelos vários relatos de sobreviventes e, principalmente, pelas revelações dos arquivos hoje acessíveis.
Finalmente, àqueles que ainda acharam pouco e possuem estômago suficientemente forte, eu recomendo que assistam ao documentário abaixo, de uma hora e vinte e seis minutos de duração, que eu assisti. Afinal, é muito pouco tempo quando comparado ao tempo de sofrimento de todos os que são apresentados no documentário: “A VERDADEIRA HISTÓRIA DO COMUNISMO SOVIÉTICO”


Assim como esse documentário, eu dedico essa minha postagem aos vinte ou trinta milhões de vítimas russas que a União Soviética fez ao longo de sua existência.