Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 20 de setembro de 2015

ROMA APÓS A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (PARTE 3 - Final)

IV - OS GERMÂNICOS E O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE (Continuação)

Por outro lado, na região que hoje ocupa a França moderna, outro grande grupo germânico se destacou. Os francos, pelo terceiro século da era cristã, habitavam os vales médio e inferior do rio Reno e haviam penetrado as províncias romanas em torno de 250, estabelecendo-se em dois grupos principais: francos sálios e francos ripuários, os primeiros habitando os trechos inferiores do Reno e os segundos, seu curso médio. Os sálios foram conquistados pelo imperador romano Juliano, em 358, tornando-se aliados dos romanos e ocupando seus territórios quando eles se retiraram do vale do Reno, estabelecendo-se na maior parte do território ao norte do rio Loire
Com a saída dos hunos da Gália, cerca de 480 DC, as várias tribos francas independentes que lá habitavam, ainda não constituíam uma nação. Seus chefes mais famosos foram Clódio, Meroveus (seu filho e, historicamente, fundador da dinastia merovíngia) e Childeric (filho de Meroveus), da tribo dos sálios. Com seu filho Clóvis, que o sucedeu, o reino e a história da França realmente iniciaram.
Clóvis, o truculento franco, forjou fantásticas alterações na Gália. Seu casamento com a princesa cristã Clotilde, foi seguido por sua própria conversão e, gradualmente, pela de seu povo. Com um exército bem disciplinado ele derrubou e varreu os últimos pilares do poder romano da Gália, criando um reino cristão bem ordenado que culminou com o seu reino do qual era o único mandatário.
Clóvis, o sábio rei cristão dos francos
Clóvis sucedeu seu pai Childeric com a idade de 15 anos, no comando da tribo Sália, formada por pagãos, com domínio muito limitado, os cofres vazios, sem grãos ou vinho. Tais dificuldades foram superadas por ele subjugando as tribos vizinhas dos alamanos, burgúndios, visigodos da Aquitânia[1] e os francos ripuários, e tornando o Cristianismo a religião do Estado, em 496, iniciando uma relação muito próxima entre a monarquia franca e o papado. A nova fé proporcionou grandes privilégios e meios de influência, em muitos casos favoráveis a toda a humanidade, sempre com respeito aos direitos individuais de seus cidadãos.
Com a morte de Clóvis, em Paris, em 511, o reino foi dividido entre seus quatro filhos e, pelo século que se seguiu, passou por várias divisões e reunificações até que foi, finalmente, consolidado por Clotaire II, em 613. Entretanto, imediatamente após a sua morte, os reis deixaram de exercer qualquer influência, com a autoridade passando às mãos dos funcionários mais importantes do Estado, principalmente às do administrador do Palácio, o major domus, existente em todos os reinos francos. Entretanto, na Austrasia, região leste, surgiu uma poderosa família, a Carolíngia, que reteve a posse exclusiva da administração palaciana por mais de 100 anos, governando como monarcas, de fato, não no nome. Em 687, Pepino de Herstal, o administrador palaciano Austrasiano, derrotou as forças de Neustria (a região oeste) e a Burgúndia, estabelecendo-se como major domus de um reino unido franco. Seu filho, Charles Martel, estendeu para o leste as fronteiras do reino e, em 732, repeliu os mouros numa batalha decisiva travada em um local entre Tours e Poitiers. 
Carlos Magno, legítimo sucessor dos Impe-
radores do Império Romano do Ocidente
O poder franco atingiu o seu maior desenvolvimento com o neto de Charles Martel e filho de Pepino, o Moço, Charles (768-814) que, estendendo seu reino franco até a Saxônia, Norte da Itália, Croácia, tornar-se-ia o mais poderoso monarca da Europa, como Charlemagne (Carolus Magnus, em latim, ou seja, Carlos Magno). Em 25 de dezembro do ano 800, como dito acima, foi coroado pelo Papa Leão III, em Roma, Carolus Augustus, imperador dos romanos, como o legítimo sucessor (ele e seus sucessores) dos imperadores do Império Romano do Ocidente. O título imperial de Charlemagne foi, mais tarde, conduzido pelos imperadores do Sacro Império Romano Germânico até o início do século XIX (um império que durou mais de mil anos), somente dissolvido por Napoleão em 1806. Suas terras francas, mais especificamente, se transformaram no reino da França, a partir do seu nome. Sem dúvida, assunto para uma nova e importante postagem.
Apenas para fechar o ciclo das migrações, no século VIII, marinheiros germânicos escandinavos iniciaram uma forte expansão, fundando importantes Estados na Europa Oriental e na França, enquanto colonizavam o Atlântico até a América do Norte. Posteriormente, as línguas germânicas se tornaram dominantes em vários países europeus, mas na Europa Meridional e Oriental, a elite germânica acabou por adotar os dialetos nativos eslavos ou latinos. Todos os povos germânicos acabaram sendo convertidos do paganismo para o cristianismo. Os povos germânicos modernos são os daneses (vikings), escandinavos, alemães, holandeses, ingleses, americanos, que ainda falam línguas oriundas dos antigos dialetos germânicos.

V - “INVASÃO” VERSUS “MIGRAÇÃO”

Como fecho desta nossa postagem, gostaríamos de, brevemente, tocar no polêmico e controverso assunto das teorias da invasão e da migração.
Os historiadores têm postulado várias explicações para o aparecimento dos “bárbaros” na fronteira romana: clima e colheitas, pressão da população, “impulso primitivo” em direção ao mar Mediterrâneo, ou um “efeito dominó” (pelo qual os hunos caíram sobre os godos, que por sua vez pressionaram outras tribos diante deles). Tribos bárbaras inteiras (ou nações) inundaram as províncias romanas, encerrando com o urbanismo clássico e iniciando novos tipos de povoamentos rurais. Em geral, os estudiosos franceses e italianos têm caracterizado o fato como um catastrófico evento que destruiu uma civilização e iniciou uma “Idade Negra” que recuou a Europa em um milênio. Historiadores alemães e ingleses, ao contrário, o viram como a substituição de uma “civilização mediterrânea cansada, estéril e decadente” por outra “nórdica, mais viril e marcial”. Têm usado o termo “migração” ao invés de “invasão”, aspirando a uma ideia de perambulação dinâmica do povo indo-germânico. O estudioso Guy Halsall tem visto o movimento “bárbaro” como um resultado da queda do Império Romano e não como uma sua causa. Achados arqueológicos confirmam que tribos germânicas e eslavas eram agricultores estabelecidos, possivelmente apenas empurrados na política de um império que já desmoronava por outras causas, entre elas a “Crise do Terceiro Século” (esse assunto foi abordado na minha publicação anterior sobre a história do Império Romano).
A Crise do Terceiro Século causou alterações significativas dentro do Império Romano, tanto no Ocidente como no Oriente. Em particular, uma fragmentação econômica removeu muito das forças política, cultural e econômica que mantinham a união do Império. A população rural nas províncias romanas tornou-se distanciada das metrópoles, com pouca diferença de outros camponeses ao longo da fronteira romana. Além disso, Roma passou a usar mercenários estrangeiros em escala crescente para defender-se. Esta “barbarização” do Império aconteceu simultaneamente com alterações dentro do barbaricum, designando áreas fora da civilização e/ou do Império Romano. Por exemplo, o Império Romano representou um papel vital na criação de grupos bárbaros ao longo de sua fronteira. Amparados pelo apoio e presentes imperiais, os exércitos dos chefes aliados bárbaros serviam como para-choque contra grupos hostis bárbaros. A desintegração do poder econômico romano enfraqueceu os grupos que passaram a depender dos presentes romanos para a manutenção do seu próprio poder. Com a chegada dos hunos, vários grupos foram pressionados a invadir as províncias por razões econômicas.
A natureza da tomada bárbara de províncias originalmente romanas, variou de região para região. Por exemplo, na Aquitânia, a administração provincial era praticamente autônoma. Na Gália, o colapso do poder imperial resultou em anarquia: os francos e os alamanos foram “sugados” para preencher o vácuo de poder que resultou em conflito. Na Espanha os aristocratas locais mantiveram um poder independente por algum tempo, levantando seus próprios exércitos contra os vândalos. Enquanto isso, a retirada romana da baixa Inglaterra resultou em conflito entre os chefes saxões e os bretões (cujos centros de poder recuaram para o oeste, como resultado). O Império Romano do Oriente tentou manter o controle nas províncias dos Balcãs, a despeito de um exército imperial pouco denso que confiou, principalmente, em milícias locais e num esforço extenso para refortificar o vale do Danúbio. Os ambiciosos esforços de fortificação ruíram, piorando as condições já empobrecidas da população local, resultando na colonização por guerreiros eslavos e suas famílias.
Tais mudanças parecem ter-se originado do colapso do controle político romano que expôs a fraqueza do poder local romano. Em vez de migrações em larga escala, houve a tomada militar por pequenos grupos de guerreiros e suas famílias (que, em geral, somavam dezenas de milhares de pessoas). Tal processo envolveu tomadas de decisão ativa e consciente das populações provinciais romanas. O colapso do poder centralizado enfraqueceu severamente o sentido da identidade romana nas províncias, o que explicaria as dramáticas mudanças culturais experimentadas pelas províncias nessa época, embora poucos bárbaros nelas se estabelecessem. Ao final, os grupos germânicos do Império Romano do Ocidente foram acomodados sem a expropriação ou subversão das sociedades nativas, mantendo uma forma estruturada e hierárquica (mas atenuada) de administração romana. Ironicamente, eles perderam sua identidade única como resultado dessa acomodação, sendo absorvidos na latinização. Em contraste, no leste, tribos eslávicas mantiveram uma existência mais “espartana e igualitária” ligada à terra, mesmo quando participando na pilhagem de províncias romanas. Seus modelos organizacionais não eram romanos e seus líderes não eram normalmente dependentes do ouro romano para o sucesso, adquirindo maior efeito nessas regiões do que os godos, francos ou saxões tiveram nas deles.
Seja como for, o resultado desses movimentos foi a ocupação do espaço mais importante da Europa, que conduziu à formação de uma nova cultura, eclética, que acabou sendo responsável por um conjunto de povos que, ainda presentemente, guardam características dos vários antecedentes daquela região, cujo valor é absolutamente inegável.




[1] A Aquitânia é uma das 27 regiões francesas, situada na região sudoeste a França, ao longo do Oceano Atlântico e os Pirineus, na fronteira com a Espanha. Na Idade Média foi um reino e um ducado, cujas fronteiras variaram consideravelmente.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

ROMA APÓS A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (PARTE 2)



III – A ORIGEM DAS TRIBOS GERMÂNICAS

Os povos germânicos ou germanos são um grupo etno-linguístico indo-europeu originário do norte da Europa e identificado pelo uso das línguas indo-europeias germânicas que se diversificaram do proto-germânico durante a Idade do Ferro pré-românica (Recorrer ao quadro já apresentado com a descrição sucinta das principais tribos germânicas).
Originados há cerca de 1800 AC, a partir do horizonte arqueológico da “Cultura da Cerâmica Cordada”[1], na planície norte alemã, entre o Elba e o Oder[2], os povos germânicos expandiram-se para o sul da Escandinávia e para o rio Vístula[3] durante a Idade do Bronze Nórdica, atingindo o baixo Danúbio[4], em 200 AC.
No século II AC, os teutos e cimbros entraram em confronto com Roma. Na época de Júlio César, um grupo de germânicos liderados pelo chefe suevo Ariovisto expandiu-se para a Gália (empurrando os residentes celtas para o oeste, ao Reno[5]), até ser detido por César, nos Vosges (cadeia de montanhas na Europa centro-ocidental, estendendo-se ao longo da margem oeste do Vale do Reno, na direção nornordeste, da Basileia a Mainz, por cerca de 250 km), em 58 AC. Uma onda posterior de tribos germânicas migrou para o leste e para o sul, da Escandinávia para a costa oposta do Mar Báltico, movendo-se até o rio Vístula, próximo dos Cárpatos. Incluíram tribos menos conhecidas, mas por um período em que estiveram federados, e através de casamentos inter-relacionados, resultaram em grupos familiares muito conhecidos, como os alamanos, francos, saxões, frísios e turíngios. As tentativas subsequentes do imperador Augusto de anexar territórios a leste do rio Reno foram abandonadas, depois que o príncipe querusco Armínio aniquilou três legiões romanas na Batalha da Floresta de Teutoburgo, no ano 9 DC.
Posteriormente, os soldados germânicos foram maciçamente recrutados para o exército romano, principalmente para formar a guarda pessoal do imperador romano. No leste, as tribos que haviam migrado da Escandinávia para a parte inferior do Vístula, foram em direção ao sul, pressionando os marcomanos a invadir a Itália em 166 DC. 
As invasões germânicas entre os séculos II e V DC
Por volta do século III DC, os godos governaram uma vasta área ao norte do mar Negro, de onde cruzaram o baixo Danúbio ou viajaram pelo mar, invadindo a península Balcânica e a Anatólia, na altura de Chipre. Enquanto isso, as crescentes confederações de francos e alamanos romperam as fronteiras e se estabeleceram ao longo da fronteira do rio Reno, de forma contínua infiltrando-se na Gália e na Itália, enquanto os piratas saxões devastaram as costas da Europa Ocidental.
O período de migração pode ser dividido em duas fases. A primeira, que ocorreu entre 300 e 500 DC, é parcialmente documentada por historiadores gregos e latinos, mas difícil de verificação arqueológica. Ela coloca os povos germânicos em controle de grande parte das áreas até então pertencentes ao Império Romano do Ocidente. Os tervíngios penetraram em território romano (após um conflito com os hunos) em 376 DC.
Visigodos saqueiam Roma em 410
 Depois que os hunos, no século IV, invadiram os territórios do rei godo, Hermenerico, que em seu auge estendiam-se entre o rio Danúbio e o Volga
[6] e do mar Negro ao mar Báltico, milhares de godos fugiram para os Balcãs, onde infligiram uma grande derrota aos romanos na Batalha de Adrianópolis e saquearam Roma, em 410, sob a liderança de Alarico I, antes de se estabelecerem na Ibéria (antiga Península Ibérica) e fundarem um reino que durou 300 anos. No território romano, foram seguidos pelos ostrogodos, conduzidos por Teodorico, o Grande, que se estabeleceram na Itália. Enquanto isso, várias tribos germânicas se converteram ao cristianismo ariano através do missionário Úlfilas, que inventou um alfabeto para traduzir a Bíblia para a língua gótica.
Na Gália, os francos gradualmente penetraram terras romanas durante o século V e após consolidarem seu poder sob Childeric e a vitória decisiva de seu filho Clóvis sobre Syagrius, em 486, estabeleceram-se como governantes da Gália Romana norte. Defendendo-se de desafios dos alamanos, burgúndios e visigodos, o reino franco tornou-se o núcleo da futura França e Alemanha.
O estabelecimento inicial dos anglo-saxões na Bretanha ocorreu ao final do século V, quando o controle romano naquela área chegou a um fim. 
A ocupação da Europa no ano 476 DC
Após a morte de Átila, rei dos hunos, derrotados nos Campos Cataláunicos (norte da França, 451) e em Nedau, em 453, os hérulos, em 454, se separaram dos hunos e constituíram um forte reino em torno de Brno (Morávia meridional) e Viena, submetendo as populações vizinhas, entre as quais os lombardos. Em 476, os hérulos, liderados por Odoacro, invadiram a Itália e depuseram Rômulo Augusto, o último soberano do Império Romano do Ocidente que, na verdade, governava apenas algumas regiões da Itália, já que naquela época não havia mais um império unificado no ocidente. 
Odoacro, rei dos hérulos e primeiro
germânico no Império Romano

IV - OS GERMÂNICOS E O IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE

Não muito depois de Teodorico tornar-se rei dos ostrogodos, ele e Zenão I (imperador romano do Oriente à época), concluíram um acordo que beneficiava a ambos. Os ostrogodos precisavam de um lugar para viver, e Zenão I estava tendo sérios problemas com Odoacro. Ainda que, formalmente, apenas um vice-rei do imperador Zenão I, Odoacro ameaçava territórios bizantinos e não respeitava os direitos dos cidadãos romanos na Itália. Com o encorajamento de Zenão I, Teodorico invadiu o reino de Odoacro, chegando com seu exército à península itálica em 488 e vencendo várias batalhas até 493, quando ambos assinaram um acordo que garantia a supremacia de ambos. Um banquete foi organizado para celebrar o tratado e nele Teodorico matou Odoacro com as próprias mãos. 
Romulo Augusto entrega o Império
Romano do Ocidente a Odoacro
Como Odoacro, Teodorico era formalmente apenas um vice-rei para o imperador romano em Constantinopla. Na realidade, ele agia com independência, e o relacionamento entre o imperador e Teodorico era de iguais. Contudo, diferentemente de Odoacro, Teodorico respeitava o acordo que tinha feito e permitia que os cidadãos romanos dentro do seu reino fossem submetidos à lei romana e ao sistema judicial romano. Os ostrogodos, por enquanto, viviam sob suas leis e costumes.
Teodorico foi um governante hábil, que soube conservar o equilíbrio entre as instituições imperiais e as tradições bárbaras. Homem culto, educado na corte de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, conseguiu ganhar a simpatia da aristocracia romana, cujos privilégios anteriores respeitou, e do povo, que assistia satisfeito à realização de obras públicas para a reconstrução e modernização de Roma. 
O ostrogodo Teodorico, continuador
do Império Romano do Ocidente
Embora legitimado no papel e formalmente reconhecido pelo Império Romano, Teodorico sabia que necessitava mais que isso para estabelecer-se seguramente no trono. Havia enviado uma de suas filhas, Teodegota, para casar-se com o rei dos visigodos, Alarico II, em 494, e outra, Ostrogota, como esposa de Sigismundo, dos burgúndios, em 496. Ele próprio se havia casado com Autofleda, irmã do rei Clovis I, dos francos, logo após sua vitória sobre Odoacro. Com essas alianças esperava formar um reino em que todos os povos conhecidos dos romanos como “bárbaros”, pudessem viver juntos pacificamente. Orgulhoso de sua origem gótica, Teodorico acreditava poder reconciliar os interesses romanos e germânicos, fazendo do seu reino uma continuação do Império Romano.
Embora todo o seu sucesso, Teodorico sofreu desafios e reveses. Em 507, o franco Clovis I derrotou seu aliado, Alarico II, matando-o; logo os francos recusaram intervir quando os burgúndios, que também haviam sido aliados, iniciaram incursões na costa italiana, contidas, com vantagens territoriais para Teodorico. Continuamente negociava com seus supostos aliados tentando manter a paz ao mesmo tempo que reconhecia a necessidade de satisfazer o Império do Leste. Incapaz de produzir um herdeiro, nomeou seu neto, Atalarico, filho de sua filha Amalasunta e do príncipe visigodo Eutarico, como seu sucessor. Com isso, ele trouxe o reino visigodo ao seu comando, pois seu príncipe (seu pai havia morrido cedo) era agora herdeiro do seu trono. 
Mausoléu de Teodorico, em Ravenna
Enquanto isso, a maior parte das províncias do oeste foi conquistada por ondas de invasões germânicas, muitas delas politicamente desconectadas do leste como um todo e prosseguindo num lento declínio. Importante dizer que, embora a autoridade política romana no oeste tenha terminado, a cultura romana ainda continuaria em suas províncias pelo século VI e posteriores.
Aqui, um pequeno parênteses para mencionar a segunda fase da migração germânica que, para os objetivos da nossa postagem, apresenta importância secundária. Essa segunda fase teve lugar entre 500 e 700 e viu as tribos eslavas (Ucrânia, Romênia, Bielo Rússia e outros países da atualidade se estabelecendo na Europa Central e Oriental, particularmente na Grande Germânia Oriental (limitada, a oeste, pelo rio Reno, ao sul pelo rio Danúbio, ao norte pelo mar Báltico e ao leste pelo rio Vístula), gradualmente transformando-a em predominantemente eslávica. Adicionalmente, tribos turcas (conjunto de grupos étnicos que viviam no norte, leste, centro e oeste da Ásia, noroeste da China e partes da Europa oriental), como os avaros, foram envolvidos nessa fase.
Voltando à Itália, após sua morte em Ravena (então a capital do Império), em 526, após 33 anos de reinado, Teodorico foi sucedido pelo seu neto Atalarico, inicialmente representado por sua mãe, Amalasunta, atuando como rainha regente de 526 a 534.
Não suportando a regência de uma mulher, a educação romana ministrada ao rapaz, o tratamento obsequioso de Amalasunta em relação ao Bizâncio, nem tampouco seu espírito conciliador com os romanos, a nobreza gótica decide tirar-lhe o filho e educá-lo segundo os costumes de seu povo. O jovem, no entanto, não resistiu a isso e morreu em 534 sem assumir o império. Visando a manutenção do Império, Amalasunta desposa Teodato, um dos chefes ostrogodos. Este exila a esposa e ordena sua morte em 535. Seu assassinato foi usado pelo imperador bizantino Justiniano I para não reconhecer a legitimidade do reinado de Teodato e invadir a Itália numa guerra de reconquista pelo Império Bizantino (Guerra Gótica), que levaria quase duas décadas e seria mais destruidora que as invasões bárbaras dos dois séculos anteriores.
Finalmente, em 553, na Batalha de Mons Lactarius, ao sul de Nápoles, o Império Romano do Oriente saiu vencedor e os sobreviventes do exército ostrogodo foram reduzidos à escravidão. Com a captura do último nobre, em 562, os ostrogodos caíram na obscuridade. Ao final do conflito, a Itália estava devastada e consideravelmente despovoada. Como consequência, os vitoriosos bizantinos (Império Romano do Oriente) não conseguiram resistir à invasão dos lombardos, em 568, resultando na perda de grandes regiões da península italiana. Os lombardos, chefiados por Alboíno, invadiram a Itália e fundaram um reino lombardo independente, chamado de Reino Itálico, que durou até 774, quando foi derrubado pelo franco Carlos Magno, coroado imperador dos romanos em 800. A influência dos lombardos na geografia política italiana ficou evidente na denominação regional da Lombardia, onde se falava um idioma germânico extinto do qual restam poucas evidências, o lombardo.

[1] A cultura da cerâmica cordada, alternativamente conhecida como cultura do machado de batalha ou cultura de túmulo individual, é um enorme horizonte arqueológico europeu que inicia ao final do Neolítico (Idade da Pedra), floresce através da Idade do Cobre e culmina com o início da Idade do Bronze. É o maior grupo cultural do norte e centro europeu na Idade do Cobre, indo da Holanda e Suíça, ao oeste, através da Escandinávia e Europa Central, para o leste, até o Volga superior e o médio Dnieper. Recebeu o nome “cerâmica cordada” a partir da decoração de sua cerâmica característica.
[2] O rio Elba, um dos maiores da Europa Central, nasce nas montanhas Krkonoše, ao norte da República Tcheca, antes de atravessar uma boa parte da Bohemia e da Alemanha, escoando então no Mar do Norte, em Cuxhaven.
O Oder ou Óder é um rio da Europa central que nasce na República Checa (maciço da Bohemia). Corre no rumo geral de noroeste, atravessando a planície da Silesia (Polônia), onde recebe o nome de Odra, e a extensa planície germano-polonesa, já com o nome de Oder. Serve de fronteira entre a Alemanha e a Polônia. Após percorrer 885 km, atinge o mar Báltico, ainda em terras polonesas, formando largo estuário e penetrando na Stettiner Haff, laguna que se comunica com aquele mar.
[3] O Vístula é o mais longo rio da Polônia. Tem 1.047 km e sua bacia hidrográfica banha cerca de 192 mil km², ou quase dois terços da superfície da Polônia. Ele nasce nos Beskides ocidentais, na alta Silesia (sudeste da Polônia), a 1.106 metros de altitude e percorre 1.047 km através da Polônia antes de desembocar no Mar Báltico, perto de Gdansk.
[4] O Danúbio é o segundo rio mais longo da Europa (depois do Volga), com cerca de 2900 quilômetros de extensão, atravessando o continente de oeste a leste, desde sua nascente na Floresta Negra (Alemanha), até desaguar no mar Negro (Romênia). O rio passa por diversas capitais da Europa e constitui a fronteira natural de dez nações. As mais importantes cidades nas suas margens são Ulm, Ingolstadt, Ratisbona, Linz, Viena, Bratislava, Budapeste, Vukovar, Novi Sad, Belgrado, Ruse, Brăila e Galati.
[5] O Reno é um rio com 1.233 km de comprimento que, nascendo nos Alpes, no leste da Suíça, cantão de Grisões, a montante de Coira, é o resultado da confluência de dois rios, o Reno Anterior e o Reno posterior. Atravessa a Europa de sul a norte, desaguando no mar do Norte, no grande delta do Reno e Mosa. Junto com o Danúbio, o Reno constituía a maior parte da fronteira setentrional do Império Romano, que o chamava de Rhenus. Desde essa época o Reno é um curso de água muito usado para o transporte e o comércio.
[6] O rio Volga é, com os seus 3688 km, o mais longo rio da Europa e também o maior do continente em vazão e área de bacia hidrográfica. Nasce no planalto de Valdai, no norte da Rússia, corre pela planície russa e deságua no mar Cáspio.

A seguir, encerramento com a PARTE 3.

domingo, 6 de setembro de 2015

ROMA APÓS A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (PARTE 1)

I - INTRODUÇÃO

Ao iniciar este trabalho, eu não sabia bem por onde começar, nem onde ele iria terminar. A grande ideia inicial era estudar – e após, tentar transmitir – de que forma e por quem teria sido preenchido o vácuo, físico e cultural, criado pelo Império Romano, ao final do século V da Era Cristã, ao deslocar seu quartel general de Roma para Constantinopla, na moderna Turquia, e lá, definitivamente, se extinguir.
O final do Império Romano com sede em Roma, já foi postado anteriormente, quando apresentei a totalidade daquela civilização. Para dúvidas sobre aquele período, eu remeto os meus leitores a uma longa série de publicações que fiz durante o ano de 2013, sob o título geral “Breve História do Império Romano”, em 11 partes. Apenas para relembrar, no ano 330 DC, o imperador romano Constantino I, numa tentativa de resolver a questão logística da enorme distância entre a capital Roma e as frentes militares da época, reconstruiu a capital do Bizâncio, denominando-a Nova Roma (mesmo antes de sua morte rebatizada Constantinopla). A partir daí, o Poder de Roma e da Igreja Romana começou a enfraquecer, até que ao final do século IV, com a morte do imperador Teodósio I, o Império Romano foi afinal e definitivamente dividido entre seus dois filhos, em dois: o Império Romano do Ocidente (com capital em Roma) e o Império Romano do Oriente (com capital em Constantinopla), assim abrindo as portas do ocidente às invasões germânicas. Desta feita, queremos mostrar o que aconteceu após a saída dos romanos da Itália. Quando fizemos aquela apresentação, o foco era o Império Romano e assistimos às invasões bárbaras, de passagem. Agora o foco está, justamente, nessas invasões e nos acontecimentos subsequentes, ou seja, qual a cultura que, a partir daí dominou a região e suas vizinhanças.
O assunto da queda do Império Romano inicia com o Período Migratório, conhecido em alemão como “Migração dos Povos” ou “Invasões Bárbaras”, em português. Este foi um período de intensa migração na Europa, muitas vezes definido a partir do período quando ele seriamente impactou o mundo Romano, de 376 a 800 DC, durante a transição do fim da Idade Antiga para o início da Idade Medieval. Esse período foi marcado por profundas alterações dentro do Império Romano e além de suas “fronteiras bárbaras”. Os primeiros migrantes foram as tribos germânicas (de que muito falaremos) como os Godos, Vândalos, Anglos, Saxões, Lombardos, Suevos, Frígios, Jutos e Francos; posteriormente eles foram empurrados para o oeste, pelos Hunos, Avaros, Eslavos, Búlgaros e Alanos.
É importante que eu alerte os leitores sobre um assunto que é hoje aceito com convicção quase dogmática e ... incorreta. Durante a Renascença[1], surgiu o costume de dividir a história do mundo em três grandes épocas, a saber, antiga, medieval e moderna, como se o nosso planeta tivesse testemunhado apenas dois grandes períodos de progresso: o dos gregos e romanos, de um lado, e o das invenções modernas, do outro lado. Entre os dois se localizaria a Idade Média, considerada como um intervalo de profunda ignorância e superstição, em que o homem teria vivido com os olhos vendados às maravilhas deste mundo. Nada está mais longe da verdade do que crer, por exemplo, que durante todo o período da idade medieval, que vai da queda de Roma (século V DC) ao início da Renascença Italiana, em meados do século XIII, os ideais e as instituições da humanidade eram os mesmos. Na verdade, somente o período de 400 até cerca de 800 é que se caracterizou pela maioria dos atributos comumente designados como “medievais”, onde o intelecto estagnou e mergulhou a abismos profundos de ignorância e credulidade, a atividade econômica baixou a níveis primitivos de troca direta e ruralismo, enquanto o ascetismo mórbido e o desprezo pelo mundo substituíam as atitudes sociais normais. Com a revolução carolíngia (sob o império de Carlos Magnos) do século IX, uma nova vida iniciou-se na Europa, iniciando-se uma das grandes culturas da história, caracterizada por progresso intelectual e alto grau de prosperidade e liberdade; esta segunda metade da civilização medieval, que durou até o final do século XIII, teve mais pontos de semelhança com a idade moderna do que muita gente pensa.
Devo também dizer que não vamos examinar com profundidade as causas do declínio e queda do Império Romano, matéria que excede em muito os objetivos da nossa postagem. As causas e mecanismos do declínio do Império Romano são um tema histórico introduzido pelo historiador Edward Gibbon, em seu livro de 1776 “The History of the Decline and Fall of the Roman Empire” (A História do Declínio e da Queda do Império Romano”), chamado o “primeiro historiador moderno da antiga Roma”. Ele iniciou uma discussão historiográfica sobra as causas da queda do Império Romano do Ocidente e do reduzido poder do remanescente Império Romano do Oriente. Em 1984, Alexander Demandt enumerou 210 diferentes teorias sobre a queda de Roma; novas teorias surgiram posteriormente. Nesta postagem vamos apenas tentar reunir os fatos relativos a tão importante matéria da história universal e, ordenadamente, transmitir aos nossos leitores aquilo que aprendemos.
Então, vamos a eles!
Para podermos falar sobre a migração das tribos germânicas com maior desenvoltura, vamos, inicialmente, introduzir um quadro com uma resumida apresentação de cada uma das várias tribos que participaram dos eventos da queda do Império Romano.

II - QUADRO RESUMO DAS TRIBOS GERMÂNICAS PARTICIPANTES DOS EVENTOS
Bacia do Rio Elba, mar do Norte, atuais Alemanha e Polônia


Os ALAMANOS eram uma aliança militar de tribos germânicas que habitavam a região em torno do alto rio Meno, onde hoje é a Alemanha. Aliança agressiva por natureza, foi formada para atacar a província romana da Germânia Superior. Seguiram o modelo da primeira aliança tribal germânica, a dos francos, que primeiro impediu os romanos de prosseguir ao norte do baixo Reno e em seguida invadiu a províncias romanas da Germânia Inferior.
Os FRANCOS formavam uma das tribos germânicas que adentraram o espaço do Império Romano a partir da Frísia (região europeia nas costas do sudeste do mar do Norte, do nordeste dos Países Baixos, pelo norte da Alemanha, até o sudoeste da Dinamarca), como federados, estabelecendo um reino duradouro na área que cobre a maior parte da França atual e na região da Francônia, Alemanha, formando a semente histórica desses dois países modernos. O Reino Franco passou por várias partilhas e repartições, já que os francos dividiam sua propriedade entre os filhos sobreviventes. Essa prática explica em parte a dificuldade de descrever com precisão as datas e limites físicos de quaisquer dos reinos francos e quem reinou sobre as várias seções. Em essência, no entanto, duas dinastias de líderes sucederam uma à outra, primeiro os merovíngios e depois os carolíngios.
Os SAXÕES foram uma confederação de tribos germânicas do norte da planície germânica, quase na Dinamarca, que se estabeleceram em grandes áreas da Grã-Bretanha no início da idade média, fazendo parte do grupo anglo-saxões que, finalmente, organizou o primeiro reino unido da Inglaterra. Muitos saxões, contudo, permaneceram na Alemanha, onde resistiram ao império franco em expansão.
Os FRÍSIOS eram uma antiga tribo germânica que viveu na região baixa entre o delta do Reno-Meuse-Scheldt e o rio Ems, praticamente a costa da atual Holanda, possivelmente os ancestrais da moderna etnia Frísia. Na pré-migração germânica, estes povos com os saxões e anglos ocupavam a costa europeia continental, compartilhando uma cultura comum sem poder ser definido arqueologicamente. Essa região era controlada pelos romanos e considerada parte da Gália, embora muitas de suas tribos fossem consideradas germânicas. Tal área foi posteriormente controlada pelos Francos.
Os TURÍNGIOS foram uma tribo germânica surgida tardiamente em relação a outras tribos germânicas já conhecidas, em torno de 280 DC nas montanhas Harz, da Germania Central, numa região que ainda hoje leva o seu nome - Thuringia. Devem ter preenchido um vazio deixado pelos alamanos, migrados em direção ao sul, mas não se sabe se eram remanescentes dos alamanos ou pertencentes a uma tribo menor. Foram conquistados pelos francos, cerca de 550 DC.
Os TEUTOS eram os povos germânicos que viviam no centro e norte da Europa. Originalmente estavam estabelecidos na península da Jutlândia (atualmente extremo-norte da Alemanha e parte continental da Dinamarca), assim como os jutos e os anglos. Por volta de 120 AC, os teutos se uniram aos cimbros e migraram até a Gália e ali permaneceram até 102 AC, quando foram derrotados pelo general romano Caius Marius. A partir do século II, passaram a viver nas margens do rio Meno, na região central da Alemanha.
Os CIMBROS eram uma tribo germânica que, segundo Tácito (historiador, orador e político romano que viveu entre 55 e 120 DC) e Ptolomeu (cientista grego que viveu em Alexandria, Egito, entre 90 e 168 DC), era originária da Jutlândia. Por volta de 110 AC, juntamente com elementos celtas confederados com os teutos, atacaram e pilharam a Gália e norte da Itália, entrando em conflito com a República Romana. Finalmente, foram derrotados pelos Romanos em 101 AC.
Os SUEVOS foram um grupo de povos germânicos, parte dos quais migraram à Hispânia durante as invasões bárbaras, fundando um reino na antiga província romana da Galécia (atual norte de Portugal e Galiza) que duraria entre 409 e 585 DC, data em que foi anexado pelos Visigodos. Eram originários da região entre os rios Elba e Oder, na atual Alemanha. O historiador romano Tácito chegou a referir-se a todos os germanos do além-Elba como "suevos".
Os QUERUSCOS eram uma tribo germânica que habitava a região da Baixa Saxônia, num ponto que ia de Osnabruque até Hamburgo, durante o século I AC e o século I DC. Posteriormente foram absorvidos pela confederação tribal dos Saxões. 
Curso do Danúbio entre o mar Tirreno e o mar Negro
Os MARCOMANOS eram uma tribo germânica com estreitas ligações aos suevos, que habitavam a região sul do rio Danúbio. As fontes romanas indicam que, no início da era cristã, as tribos marcomanas se estabeleceram na atual Bohemia, depois de terem sido derrotadas por Nero Cláudio Druso, general do imperador romano Augusto.
Os GODOS eram um povo germânico originário das regiões meridionais da Escandinávia. Nenhuma outra fonte primária, além de Jordanes, menciona esta longa migração, que poderia ter-se iniciado no Báltico ou no mar Negro e é possível que os godos tenham se desenvolvido como um povo distinto dos demais bárbaros nas fronteiras do Império Romano. Os godos, segundo Jordanes, distinguiam-se por usarem escudos redondos e espadas curtas e obedecerem fielmente a seus reis. No séc. II, os Godos migram sucessivamente e em pequenos grupos para as margens do Mar Negro, para aquilo que hoje é a Roménia, a Moldávia e a Ucrânia. Aí eles se dividiram em dois grupos: os tervíngios, povo gótico do qual possivelmente se originaram os visigodos, residentes nas margens do rio Danúbio e os Grutungos, povo gótico do qual possivelmente se originaram os ostrogodos, nas margens do rio Dniester. Tanto os ostrogodos quanto os visigodos nitidamente se romanizaram durante o século IV pela influência do comércio com os bizantinos, e por sua participação em um pacto militar com o Império Bizantino para ajuda militar mútua. Eles se converteram ao arianismo durante esta época.
Os HUNOS foram uma antiga confederação eurasiática de nômades ou seminômades equestres, com aristocracia de núcleo altaico (família linguística que inclui 66 idiomas e é falada por um número entre 348 e 558 milhões de habitantes, concentrados na Ásia Central). Algumas dessas tribos moveram-se para a Europa no século IV, provavelmente devido a mudanças climáticas. Eram excelentes criadores de cavalos e adeptos de combates a cavalo, com espada, lança e arco. Migraram com suas famílias e grandes rebanhos de animais domesticados e cavalos, em busca de novos pastos para se estabelecerem. Provocaram uma corrente migratória anterior à sua própria, pois outros povos se moveram para sair do seu caminho. Esse efeito dominó, de grandes populações, contornou Constantinopla e o Império Romano do Oriente, chegando aos rios Danúbio e Reno e resultando na tomada do Império Romano do Ocidente em 476, pelos hérulos chefiados por Odoacro.
Os HÉRULOS foram um povo germânico, possivelmente originários do sul da Escandinávia, que invadiram o Império Romano no século III, provavelmente após serem expulsos de sua região de origem. Segundo historiadores medievais, os hérulos, junto com os godos, participaram de várias expedições ao longo da costa saqueando os mares Negro e Egeu. São mencionados pela primeira vez em fontes romanas do século III, quando em 268 e 269 participaram de uma coalizão bárbara que reuniu mais de 300.000 guerreiros (cifra certamente exagerada por cronistas romanos e gregos) e atacou as forças do imperador Cláudio II, sobre o Danúbio. Fixaram-se na costa do mar Negro, onde foram dominados pelos ostrogodos e pelos hunos, entre os séculos III e IV.
Os BURGÚNDIOS formavam a mais antiga das tribos germânicas de áreas a leste do rio Oder, possuindo uma tradição de origem escandinava. No baixo Império Romano, instalaram-se na Germânia e na Gália na qualidade de federados. Tendo procurado se estender na Bélgica, foram abatidos por Aécio em 436 e transferidos para Saboia. De lá, eles se espalharam nas bacias do Saône e do Ródano. Foram submetidos pelos francos em 532 e seu território foi reunido à Nêustria. Deram seu nome à Borgonha.
Os LOMBARDOS ou LONGOBARDOS (em latim, "os de barba longa") eram um povo germânico originário da Europa Setentrional que colonizou o vale do Danúbio e, a partir dali, invadiu a Itália bizantina, em 568, sob a liderança de Alboíno.
Os VÂNDALOS eram uma tribo germânica oriental que penetrou no Império Romano durante o século V e criou um estado no norte da África, ocupando a cidade de Cartago, antiga cidade fenícia, que fora ocupada pelos romanos desde o fim das Guerras Púnicas. A localização de Cartago às margens do Mediterrâneo era estratégica para os vândalos. Ali centralizaram seu Estado, e logo após se estabelecerem, saquearam Roma no ano de 455, destruindo muitas obras primas de arte que se perderam para sempre.
Os TERVÍNGIOS foram um povo gótigo (dos godos) das planícies do Danúbio, a oeste do rio Dniester, nos séculos III e IV DC. Tiveram contato íntimo com os greutungios, outro povo gótico do leste do rio Dniester, bem como com o Império Romano final (ou Império Bizantino inicial).

[1] Renascimento, Renascença ou Renascentismo são termos usados para identificar o período da história da Europa, aproximadamente, entre fins do século XIV e início do século XVII. Os estudiosos, contudo, não chegaram a um consenso sobre essa cronologia, havendo variações consideráveis nas datas conforme o autor. Tal período foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana. Apesar destas transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade, economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma ruptura com as estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos nas artes, filosofia e ciências. Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista, período definido por Jacob Burckhardt como uma época de "descoberta do mundo e do homem".

Na PARTE 2, a seguir, origem e movimentos das Tribos Germânicas.