Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

THE TOWER OF LONDON (A TORRE DE LONDRES)

Após a sua coroação na Abadia de Westminster, no dia de Natal de 1066, o novo Rei William, o Conquistador, retirou-se para Barking, Essex, enquanto vários baluartes eram construídos em Londres, como salvaguarda contra a ameaça da imensa e feroz população, ciente de que a sua primeira tarefa era subjugar Londres totalmente. A figura abaixo mostra uma vista aérea da Torre de Londres, às margens do Thames (rioTâmisa) e a Tower Bridge (Ponte da Torre).
Evidências arqueológicas sugerem que um desses baluartes foi construído no canto sudeste das antigas muralhas romanas, local da futura Torre de Londres. Essas defesas anteriores foram substituídas por uma grande torre de pedra, “The White Tower” (a Torre Branca) que proclamava a força e a façanha física do novo monarca Normando.
Não se sabe exatamente quando começou a construção da Torre Branca ou quando foi concluída, mas a primeira parte dos trabalhos de construção estava, certamente, a caminho, na década de 1070, sob a supervisão de Gundulf, o Bispo de Rochester. Pedreiros normandos foram empregados, algumas das pedras da construção foram trazidas da Normandia, mas o trabalho foi realizado por ingleses. A “Anglo-Saxon Chronicle” (Crônica Anglo-Saxã) comenta, em 1097, que ‘muitos condados cujo trabalho era devido a Londres foram duramente pressionados por causa da muralha que seria construída em torno da Torre’. Cerca de 1100 a Torre Branca estava pronta!
Localização da Torre na Londres Central (círculo negro)
Nada com aquilo havia antes sido visto na Inglaterra. O prédio era enorme, um retângulo de 36,0 m por 32,5 m, com uma altura de 27,5 m no lado sul, onde o terreno é mais baixo. A Torre dominava o horizonte por milhas em todas as direções.
A Torre era protegida por muralhas romanas em dois lados, fossos ao norte e oeste, com 7,5 m de largura e 3,4 m de profundidade, além de um aterro encimado por uma paliçada de madeira.
Embora muitos reis e rainhas posteriores tenham ficado na Torre, ela nunca foi construída como a principal residência real, visto que palácios como Westminster, possuíam quartos mais opulentos. Além disso, a Torre não era a primeira linha de defesa contra exércitos invasores, embora pudesse enfrentar tal desafio. A primeira função da Torre era de um baluarte-fortaleza, um papel que permaneceu imutável até o final do século XIX.
Planta moderna da Torre de Londres (orientação norte)
Como uma base de poder em tempo de paz e um refúgio em tempo de crise, as fortificações da Torre foram modernizadas e ampliadas pelos reis medievais. Uma série de campanhas de construção garantiu que, cerca de 1350, a Torre estivesse transformada na formidável fortaleza que vemos hoje.
Tais trabalhos de edificação foram iniciados no reinado de Richard, o Coração de Leão, que partindo às Cruzadas, deixou a Torre nas mãos do seu chanceler William Longchamp, bispo de Ely, que dobrou a fortaleza em tamanho, com novas defesas. Essas alterações vieram a tempo, pois na ausência do rei, seu irmão John usou a oportunidade para desafiar a autoridade do Chanceler, preparando o ataque. Sitiou a Torre e suas novas defesas resistiram até que a falta de abastecimentos obrigou Longchamp a render-se. Como sabemos, ao retornar em 1194, Richard recuperou o controle, John implorou por seu perdão e foi, mais tarde, indicado por Richard como seu sucessor. Como rei, John ficava frequentemente na Torre e foi, provavelmente, o primeiro rei a manter leões e outros animais exóticos lá.
Interior do pátio mais central, com a Torre Branca
Aos nove anos, Henry III, filho de John, assumiu um reino em crise, mas em meses os franceses foram derrotados na Batalha de Lincoln e a atenção primeira voltou-se para o reforço dos castelos reais. Os regentes do rei menino começaram uma extensão importante das acomodações reais na Torre, que incluíram a construção de duas novas torres, na frente que dava para o rio: a Wakefield, como alojamento do rei, e a Lanthorn, provavelmente pretendida para a rainha.
Quando os barões revoltosos obrigaram Henry a refugiar-se na Torre, em 1238, o nervoso rei percebeu a vulnerabilidade das defesas do castelo. No mesmo ano ele envolveu-se na construção de uma maciça muralha aos lados norte, leste e oeste, reforçada por nove novas torres e circundada por um fosso inundado, construído pelo engenheiro flamengo John Le Fossur (o cavador de valas).
Essa pública demonstração do poder real começou a preocupar os londrinos, cuja alegria foi registrada pelo escritor da época, Mathew Paris, quando uma seção de uma muralha recém construída, próximo da torre Beauchamp, ruiu.
Muralha externa da Torre de Londres e a Legges Mount ao centro
Edward I era um líder mais agressivo e confiante, que conseguiu manejar bem os rebeldes do seu país, mas ele estava determinado a completar os trabalhos defensivos que seu pai havia começado na Torre. Entre 1275 e 1285 ele gastou mais de £21.000 (aproximadamente R$76.500,00, hoje) na transformação da Torre, no maior e mais forte castelo concêntrico (um anel de defesa dentro do outro) da Inglaterra. Ele encheu o fosso e criou outra muralha envolvendo a existente, construída por seu pai, e também criou um novo fosso. Apesar de todo esse trabalho e da construção de novos alojamentos reais confortáveis, raramente ele permaneceu na Torre.
Entretanto, o reino de Edward viu a Torre ser utilizada com outros fins além de militar e residencial. Além de ser usada regularmente como prisão, o rei passou a usar a Torre como local seguro para guardar papéis valiosos e preciosidades. Um ramo principal da Casa da Moeda real foi estabelecido, uma instituição que representaria um papel importante na história do castelo, até o século XIX.
Torre de Londres à noite, despontando a Torre Branca
Edward II o filho pouco guerreiro de Edward I, carente de destreza militar e diplomacia, logo colocou em teste a eficiência das novas defesas da Torre. O descontentamento dos barões atingiu um nível comparável ao atingido durante o reinado de seu avô Henry III, e Edward II foi frequentemente forçado a nela buscar refúgio. Ele montou residência na área em torno da presente Torre Lanthorn. Os alojamentos reais anteriores nas torres Wakefield e Saint Thomas passaram a ser usadas por cortesãos e para o guarda-roupa (um departamento que armazenava preciosidades e tratava com abastecimentos reais).
Ao contrário do seu pai, Edward III foi um guerreiro de sucesso e os reis da França e Escócia, capturados, foram mantidos na torre. Ele também realizou trabalhos menos importantes na fortaleza e ampliou o cais.
Em 1399, Richard II, acusado de tirania por seu primo Henry Bolingbroke (Henry IV), foi forçado a renunciar à coroa e mantido prisioneiro na Torre.
Nossa história dos “Reis da Inglaterra” foi interrompida neste ponto, mas a história da Torre continua por reis que ainda serão considerados naquela publicação.
Durante a Guerra das Rosas, a Torre assumiu importância chave e para os vitoriosos tornou-se o local das celebrações.
Henry VI realizou torneios na Torre; Edward IV foi coroado lá, por duas vezes; Henry VII realizou festas de vitória na Torre e entreteve seus apoiadores em grande estilo. Em contrapartida, para os derrotados, a Torre foi o local de assassinatos e execuções que incluíram o próprio Henry VI, em 1471 e o jovem Edward V e seu irmão em 1483.
Capela de Saint John, dentro da Torre Branca
Henry VIII começou a trabalhar nos prédios da residência real, iniciados por seu pai Henry VII, mas em escala muito maior. Ele autorizou a realização de amplos aposentos com estruturas de madeira, principalmente para o conforto e prazer de sua segunda esposa Anne Boleyn, para a sua coroação em 1533. Entretanto, a partir daí, foram raramente usados, cessando o papel da Torre como residência real.
A decisão de Henry VIII de romper com Roma, inflou a população da Torre com prisioneiros religiosos e políticos a partir de 1530, enquanto o país se ajustava ao novo papel do seu rei como chefe supremo da nova Igreja Protestante da Inglaterra. Os prisioneiros incluíram Sir Thomas More, o bispo Fisher of Rochester e duas das esposas de Henry. Os quatro foram executados. Antes de sua morte prematura, Edward VI prosseguiu a política de execuções de seu pai.
Mary I trouxe de volta ao país o catolicismo e seu curto reinado viu muitos rivais e figuras chaves do protestantismo serem aprisionados na Torre. Lady Jane Grey foi executada na Torre sob as ordens da rainha e sua meia-irmã, Elizabeth, futura rainha, foi nela mantida prisioneira.
Elizabeth I manteve a de gula da Torre até o ponto de repleção, com prisioneiros célebres, mas como seu sucessor James I, fez poucos melhoramentos nas defesas da Torre.
O reinado de Charles I anunciou uma longa e sangrenta guerra civil entre o rei e o parlamento. Mais uma vez, a Torre foi um dos mais importantes ativos do rei. Os londrinos temiam que ele a usaria para dominá-los, mas ao final, a Torre foi vencida pelos parlamentaristas, permanecendo em suas mãos pelo resto da guerra civil. A perda da Torre e de Londres foi um golpe fatal às forças do rei e um fator crucial para a sua derrota.
Face sul da Waterloo Barracks (Quartel Waterloo)
Após a execução de Charles I, o Parlamento organizou uma grande venda das posses do rei, através da fundição do ouro e prata das ‘Joias da Coroa’ e venda das joias para o bem da riqueza da Nação. Cromwell, então ‘Lorde Protetor’, instalou a primeira guarnição permanente da Torre, que os futuros monarcas usaram para subjugar problemas na cidade.
Com a restauração da monarquia em 1660, Charles II planejou ambiciosas defesas para a Torre, que nunca foram construídas. O seu uso como prisão declinou e tornou-se o quartel-general do arsenal da Inglaterra; a maior parte do castelo foi tomada por munições e escritórios. As novas ‘Joias da Coroa’ foram expostas e, em 1671, por pouco escaparam de ser roubadas.
O Duque de Wellington foi o guardião da Torre de 1826 á 1852 e sob a sua rígida liderança o fosso, cada vez mais fétido e lodoso, foi drenado e convertido em vala seca. O grande depósito foi destruído pelo fogo em 1841 e o Duque providenciou a limpeza do entulho e iniciou os trabalhos de imensas barracas para acomodar cerca de mil homens. Em junho de 1845 o Duque deitou a pedra de fundação do Waterloo Barracks (Quartel Waterloo) nomeado da Batalha de Waterloo, sua maior vitória.
Mais defesas foram construídas, incluindo um enorme bastião de tijolo e pedra que acabou sucumbindo a uma bomba da Segunda Grande Guerra. Foi também no início do século XIX que muitas das instituições históricas da Torre a deixaram. A Casa da Moeda foi a primeira a sair do Castelo, em 1812, seguida do mini zoo em 1830, que cresceu para dar origem ao Zoo de Londres. O Arsenal deixou a Torre em 1855 e, finalmente, o Arquivo foi relocado em 1858.
Um interesse crescente, na história e arqueologia da Torre, conduziu a um processo de recondução à era medieval, numa tentativa de remover escritórios, despensas, tavernas e quarteis de má aparência, bem como restaurar as fortalezas à sua aparência original.
Na década de 1850, o arquiteto Anthony Salvin, figura de proa na restauração gótica, foi encarregado da restauração da fortaleza para um estilo mais medieval, tornando-a mais agradável ao olho – e à imaginação – Victoriana. Primeiro ele transformou a Torre Beauchamp para torna-la adequada à exposição pública dos grafites dos prisioneiros, refazendo as paredes exteriores e substituindo janelas, caixilhos e ameias. Encomendas adicionais incluíram a restauração da Torre Salgada (completada em 1858) e alterações na Capela Saint John na Torre Branca, em 1864. Salvin restaurou a Torre Wakewfield de forma a poder abrigar as ‘Joias da Coroa’, que lá permaneceram até 1967, construindo também a ponte que a ligou à Torre Saint Thomas, para que o ‘Guarda da Casa das Joias’ pudesse morar lá.
Torre Branca (século XI), peça central da Torre de Londres
Na busca do perfeito castelo medieval, seu sucessor, John Taylor, controversamente destruiu importantes prédios originais para criar uma vista desimpedida da Torre Branca e para construir uma nova muralha sul interna ao lado do velho palácio medieval.
O número de visitantes cresceu dramaticamente no século XIX. Turistas privilegiados, que pagavam por um passeio com guia, desde 1590, ou apenas gente comum que deseja passar um dia na Torre, pode visita-la. Em 1838, três das velhas gaiolas de animais do mini zoo foram usadas para fazer uma bilheteria na entrada leste, onde os visitantes podiam comprar refrescos e um guia da Torre. Ao final do reinado da rainha Victória, em 1901, mais de meio milhão de pessoas visitavam a Torre em cada ano.
A partir do século XVIII, praticamente, só foram realizados trabalhos de manutenção na Torre; grandes esforços foram despendidos para evitar o assoreamento do fosso, com pouco sucesso. Apenas um portão de acesso e uma ponte levadiça foram construídos na extremidade leste da muralha externa sul, em 1774, dando acesso do pátio externo para o cais
Na Primeira Grande Guerra, entre 1914 e 1916 vários espiões foram presos e posteriormente executados na Torre de Londres. A última execução na Torre foi a do espião nazista Josef Jakobs, em 1941, preso quando saltava de paraquedas para penetrar território inglês, munido de libras e documentos falsos. No mesmo ano, Rudolf Hess, o vice de Hitler, esteve preso na Torre por curto período de tempo, após saltar de paraquedas na Escócia, numa tentativa de obter um tratado de paz. Durante a Segunda Grande Guerra os danos de bombardeios foram consideráveis e várias instalações foram destruídas, inclusive o Bastião Norte, do meio do século XIX, diretamente atingido em outubro de 1940. Durante esse período o fosso foi usado para cultura de vegetais e distribuição de alimentos; as Joias da Coroa haviam então sido transferidas para um local seguro.
Um 'Yeoman Warder' no seu uniforme diário
Hoje a Torre é uma das maiores atrações turísticas do mundo e um “Local de Herança Mundial”, atraindo mais de dois milhões de visitantes de todo o mundo. Uma equipe de conservadores de prédios mantêm a estrutura da Torre. Entre 2008 e 2011, eles desenvolveram obras importantes na Torre Branca, limpando o exterior e removendo a poluição que estragava o prédio.
Os antigamente tão famosos “Vigias do Rei” (The Yeomen Warders), guardas cerimoniais da Torre de Londres, responsáveis pela guarda dos prisioneiros e salvaguarda das “Joias da Coroa”, atuam hoje, na prática, como guias turísticos e são uma atração turística a parte, sendo comum e popularmente conhecidos como “Beefeaters” (Comedores de Carne). Quando na Inglaterra, em 1972-1973, realizando estágio técnico na minha área de especialização, fiquei muito curioso sobre tal designação e fui buscar uma explicação para ela. Na verdade, o nome “Beefeater” é de origem incerta, com várias propostas. A mais provável proposta vem do direito que possuíam “The Yeomen of the Guards” de comer tanta carne quanto quisessem, da mesa do rei. Conde Cosimo, Grande Duque da Toscana, frequentou a corte em 1699 e ao referir-se aos “The Yeomen of the Guards”, ele disse: “Uma enorme ração de carne é diariamente dada a eles na corte ... de forma que eles podem ser chamados beef-eaters.”
Após tantos anos de existência e ter assistido a tantas aventuras e desventuras, hoje a Torre de Londres apresenta a fascinação de séculos passados, com a história turbulenta, e algumas vezes chocante, da Inglaterra e de seus Monarcas.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 5)

Edward III da Inglaterra
O REINADO DE EDWARD III (1327-1377)

A juventude de Edward foi passada na corte de sua mãe e ele foi coroado com a idade de catorze anos, após a deposição de seu pai. Após três anos de dominação por sua mãe e o amante, Mortimer, Edward instigou uma revolta no palácio, em 1330, e assumiu o controle do governo, executando Mortimer e exilando Isabella da corte. Casou-se com Philippa de Hainault, em 1328, com quem teve nove filhos que sobreviveram até a idade adulta.
A guerra ocupou a maior parte do reinado de Edward III. Com Baliol ele derrotou e colocou no exílio a David II da Escócia. A cooperação francesa com os escoceses, a agressão francesa na Gasconha e a reivindicação de Edward ao disputado trono da França (através de sua mãe Isabella), conduziram à primeira fase da “Guerra dos Cem Anos”, nome que os historiadores dão a uma séria de conflitos ocorridos por mais de um século (1337 a 1453), entre a Inglaterra e a França, e que consagrou Joana D’Arc. As causas foram complexas e variadas, incluindo ambições inglesas territoriais e dinásticas na França e vice-versa, e iniciaram quando o rei francês Philip VI confiscou a Gasconha, o que fez com que Edward III da Inglaterra se declarasse o herdeiro legítimo do trono francês, por sua mãe Isabella, filha de Philip IV e irmã de Charles IV.
Em 1340, uma frota inglesa, muito inferior, atacou e destruiu esquadra francesa, deslocada para Sluys (atual Vlissingen) para ameaçar a Inglaterra após a deflagração da Guerra dos Cem Anos, em 1337, e a guerra que se seguiu foi travada em solo francês.
Neste mesmo ano, Edward III formalmente assumiu como ‘Rei da França e do Real Exército Francês’.Embora os historiadores discutam sobre suas pretensões, tal reivindicação deu-lhe importante poder em suas negociações com Philip.
Em julho de 1346 Edward III invadiu a Normandia, marchando para o norte, onde os dois exércitos de enfrentaram em Crécy. Embora em número bem superior, os fragmentados ataques franceses foram sempre repelidos pelos arqueiros ingleses e galeses, que causaram pesadas baixas, constituindo a primeira grande vitória inglesa da Guerra dos Cem Anos, seguidas por Poitiers (1356) e Agincourt (1415).
"O Triunfo da Morte" (Pieter Bruegel) - representando a
Europa Medieval após o advento da Peste Negra.
O desastre mais tarde conhecido como “Peste Negra”, uma das mais devastadoras epidemias da história humana, chegou à Europa em 1347, onde matou entre 70 e 200 milhões de pessoas. Após o primeiro registro relatado em solo inglês, em Melcombe Regis, Dorset, a praga apareceu em vários pontos da costa sul inglesa no verão de 1348, espalhando-se para o interior. Em média, entre 30% e 45% da população mais baixa morreu, mas em algumas localidades, 80 a 90% da população sucumbiu. A praga recorreu regularmente, embora menos severamente, por toda a segunda metade do século XIV e ainda século XV. Embora várias teorias divergentes sobre a etiologia da Peste Negra, análises recentes de DNA das vítimas, nas regiões sul e norte da Europa, indicam que a responsável foi a bactéria Yersinia Pestis, provavelmente causando várias formas de pestes, entre elas a peste bubônica, transportada por ratos, passageiros regulares dos navios mercantes da época.
As hostilidades cessaram após a eclosão da Peste Negra, mas a guerra reacendeu com uma invasão inglesa na França em 1355. Edward, o Príncipe Negro e filho mais velho de Edward III, derrotou a cavalaria francesa em Poitiers (1356) e capturou o rei francês John. Em 1539 o Príncipe Negro cercou Paris com seu exército e os franceses derrotados negociaram a paz. O tratado de Brétigny, em 1360, cedeu enormes áreas da França norte e oeste à soberania inglesa. As hostilidades recrudesceram em 1369 quando os exércitos ingleses sob o comando do terceiro filho do rei, John of Gaunt, invadiu a França. O poderio militar inglês, enfraquecido após a peste, gradualmente perdeu tanto terreno que, em 1375, Edward concordou com o Tratado de Bruges, que deixava apenas as cidades costeiras de Calais, Bordeaux e Bayonne em mãos inglesas.
John of Gaunt, irmão do Príncipe
Negro e pai de Henry IV

A natureza da sociedade inglesa mudou muito durante o reinado de Edward III, que aprendeu com os enganos do seu pai e teve relações mais cordiais com a nobreza do que qualquer outro rei anterior. O feudalismo se dissipou à medida que o mercantilismo emergia: a nobreza mudou de um grande corpo com pequenas posses para um pequeno corpo com muitas terras e riquezas. Tropas mercenárias substituíram as obrigações feudais na reunião de exércitos. A taxação de exportações e comércio substituiu os impostos sobre a terra como fonte primária de financiamento do governo (e da guerra). A riqueza resultou dos mercadores, à medida que eles e outros súditos da classe média apareciam regularmente às sessões parlamentares. O Parlamento foi formalmente dividido em duas casas – a superior (dos Lordes), representando a nobreza e o alto clero, e a inferior (dos Comuns), representando a classe média – e se reunia regularmente para financiar as guerras de Edward e votar as leis. A traição foi definida pela primeira vez por lei (1352), o escritório da Justiça da Paz foi criada para ajudar os corregedores (1361) e o inglês substituiu o francês como língua nacional (1362)!
A despeito dos sucessos iniciais do rei e da prosperidade geral da Inglaterra, muito ainda permaneceu errado no reino. Edward e seus nobres estimularam o cavalheirismo romântico como seu credo, enquanto saqueavam uma França devastada; o cavalheirismo enfatizava a glória da guerra enquanto a realidade exauria as finanças. A influência da igreja diminuiu, mas John Wycliff liderou um movimento de reforma eclesiástica (como precursor da Reforma Protestante) que desafiou a exploração da Igreja pelo Rei e pelo Papa. As incursões militares fracassadas de John of Gaunt na França, causaram uma taxação excessiva, desgastando o apoio popular de Edward.
Os últimos dias do reinado de Edward III espelharam os primeiros: novamente uma mulher o dominou. Philippa morreu em 1369 e Edward tomou como amante a inescrupulosa Alice Perrers. Com Edward na senilidade e o Príncipe Negro doente, Perrers e William Latimer (o camareiro mor) dominaram a corte com o apoio de John of Gaunt. Edward, o Príncipe Negro, morreu em 1376 e o velho rei passou seus últimos dias em dor.

RICHARD II (1377 – 1399)
Richard II da Inglaterra

Como Edward, o 'Príncipe Negro', morreu cedo, a sucessão passou para o neto de Edward, Richard II, filho do ‘Príncipe Negro’ e Joan, a ‘Formosa Donzela de Kent’, que tinha apenas 10 anos de idade. A Inglaterra foi então governada, enquanto menor, por um Conselho sob a liderança de seu tio John of Gaunt, o mais poderoso dos nobres.
Em 1382 Richard II casou-se com Anne of Bohemia, que morreu sem filhos em 1394. Casou-se novamente em 1396 com Isabella de Valois, então com 7 anos de idade, filha de Charles VI da França, para encerrar uma nova luta com aquele país.
Richard afirmou autoridade real durante uma era de restrições reais. A privação econômica seguiu-se à peste negra, salários e preço subiram abruptamente. O Parlamento piorou o problema passando uma legislação que limitava os salários, mas não regulava os preços. Em maio de 1381, Wat Tyler conduziu a Revolta dos Camponeses – a mais significativa da História Inglesa - contra as opressivas políticas de governo de John of Gaunt. Iniciando em Brentwood, Essex, a turba insurgiu-se contra os coletores de impostos, uniram-se com seus colegas em Kent e milhares de pessoas saquearam o centro de Londres. Faltou ao governo qualquer competência militar significativa e decidiu seguir uma política de conciliação, através do encontro do rei com a turba e seu líder, Wat Tyler, primeiro em Mile End e então Smithfield. O rei ouviu e aceitou as demandas de Tyler e então observou enquanto seus guarda-costas assassinavam o líder rebelde, com ou sem provocação. Vendo-o morto, Richard vagou sozinho entre os rebeldes, gritando: “Vocês não terão outro líder além de mim!” Com isso a turba rebelde abandonou o centro de Londres e dispersou. Seus líderes foram posteriormente julgados e muitos enforcados. Richard havia pessoalmente visto a maior ameaça popular à monarquia medieval inglesa.
Geoffrey Chaucer, autor dos
"Contos de Canterbury"
Digno de nota, durante o reinado de Richard II, foi o surgimento, em 1387, do poema “Canterbury Tales”, do primeiro grande poeta da língua Inglesa, Geoffrey Chaucer; antes dele, a maioria dos escritores usava francês ou latim em detrimento do inglês mais plebeu. Nesse seu mais conhecido trabalho, incompleto, um grupo variado de pessoas conta histórias, para passar o tempo, durante uma peregrinação a Canterbury.
A tola generosidade de Richard aos seus favoritos – Michel de la Pole, Robert de Vere e outros – conduziu Thomas, duque de Gloucester, e quatro outros magnatas, a formar o “Lords Appellant” (Apelo dos Lordes), que julgou e condenou, por traição, os cinco mais próximos conselheiros de Richard. Como retaliação, em 1397, Richard prendeu três dos cinco lordes, coagiu o Parlamento a condená-los à morte e baniu os outros dois. Um dos exilados era Henry Bolingbroke, filho de John of Gaunt e o futuro rei Henry IV.
O rei sentia-se tão seguro que marchou para a Irlanda, pela segunda vez, em 1399, para subjugar os líderes rivais, levando consigo os seus melhores e mais leais homens. Tal expedição logrou pouco sucesso, parcialmente porque foi interrompida pelas notícias de que Bolingbroke havia aportado uma pequena força em Yorkshire. Retido na Irlanda sem meios para retornar ao País de Gales e então Inglaterra, Richard teve que apreciar seus maiores nobres desertarem para se unirem a Bolingbroke. As regiões leste e oeste da Inglaterra rapidamente uniram-se a Bolingbroke, por temor às suas próprias heranças e por antipatia geral ao governo de Richard. O norte, última esperança do rei, falhou em unir-se à causa após a queda de Chester, sem luta. Finalmente de volta à Inglaterra, Richard rendeu-se no Conway Castle, após a garantia do Duque da Northumberland de que a posição do rei seria respeitada. O rei passou à custódia de Bolingbroke, na Torre, sem qualquer resistência e foi assassinado enquanto na prisão por Henry IV.
O reinado de Ricardo II ilustra a natureza da mudança da Coroa e da Sociedade após a Peste Negra ter acabado com a metade da população, a partir de 1348. A queda de Richard foi também considerada o primeiro “round” do que os Vitorianos denominaram 'Wars of the Roses(1),' (Guerra das Rosas), as sangrentas guerras civis dos nobres que devastaram a Inglaterra de 1450 a 1487. Junto com o impacto da Peste, o legado do seu governo atingiu uma transformação social que mudou para sempre a Bretanha.
Em sua peça “A tragédia do Rei Ricardo II”, Shakespeare bem apanhou o caráter de Richard, que era capaz de ‘capturar a essência do seu súdito ... a tragédia de Richard foi que ele trocou a realidade do mundo em torno de si pela ilusão do palco’.
Antes de penetrar no reinado de Henrique IV faremos, seguindo a esta, uma publicação ‘hors concours’, sobre a Torre de Londres, já mencionada algumas vezes e da qual ainda voltaremos a falar, que teve, realmente, um papel muito importante na história dos reis da Inglaterra.

HENRY IV (1399 – 1413)

Henry IV, rei da Inglaterra

Henry, o primeiro de três monarcas da casa de Lancaster, nasceu em Lancashire, em abril de 1367. Seus pais, John of Gaunt, terceiro filho sobrevivente de Edward III, e sua mãe, Blanche of Lancaster, descendente de Henry III, eram primos. Ele casou com Mary Bohun em 1380, que gerou sete filhos e morreu em 1394. Em 1402, Henry casou-se novamente, com Joan of Navarre.
Com a morte de John Gaunt, Richard II apossou-se dos domínios da família, privando Henry de sua herança e induzindo-o a invadir a Inglaterra. Ele encontrou pouca oposição, pois a população já cansara das ações do rei. Como vimos, Richard rendeu-se em agosto e Henry foi coroado em outubro de 1399, alegando que Richard havia abdicado por vontade própria.
Tal usurpação ditou as circunstâncias do seu reinado, com rebeliões incessantes em favor de Richard, iniciadas em 1400, logo após a sua deposição.
Dessa forma, a primeira tarefa de Henry foi consolidar a sua posição. A maioria das rebeliões foi esmagada facilmente, mas a revolta do cavalheiro galês Owen Glendower, em 1400, foi bem mais séria. Em 1403 Glendower aliou-se a Henry Percy, Conde da Northumberland e seu filho Henry “Hotspur” (colérico). Esta revolta só terminou quando Hotspur foi morto pelas forças do rei, em batalha próxima de Shresbury, em julho de 1403. O também galês Owain Glyn Dwr servira no exército de Richard II na década de 1380 e a lealdade ao rei deposto encorajou-o a liderar uma revolta contra Henry IV. Em 1404 ele recebeu apoio francês e presidiu o primeiro Parlamento galês. À medida que Henry IV consolidava seu controle sobre a Inglaterra, seu filho, o futuro Henry V, conduziu as campanhas no País de Gales. Em 1409 a revolta foi abatida. Glyn Dwr voltou-se para a Guerra de guerrilha até a sua morte em 1416, atestando o permanente empenho dos galeses pela independência, embora seus príncipes tenham sido substituídos por príncipes ingleses desde Edward I.
A rebelião seguinte, de Northumberland, em 1408 foi rapidamente debelada, sendo o último desafio armado à autoridade de Henry. Contudo, ele também teve de lutar contra os ataques escoceses de fronteira e conflitos com a França. Para financiar tais atividades, Henry foi forçado a confiar nas subvenções parlamentares. Entre 1401 e 1406, o rei foi repetidamente acusado pelo Parlamento de mal gerenciar as finanças e gradualmente adquiriu novos poderes sobre os gastos e nomeações reais.
Henry acabou por desenvolver uma terrível doença de pele e epilepsia, a muitos persuadindo de que Deus o punia pela execução do arcebispo Scrope, em 1406, por conspiração contra o rei. À medida que sua saúde deteriorava, uma luta acirrada iniciou entre o seu favorito, Thomas Arundel, arcebispo de Canterbury e uma facção liderada por meio-irmãos de Henry e seu filho, o príncipe Henry. De 1408 a 1411, o governo foi dominado, inicialmente, pelo arcebispo Arundel e, posteriormente, pelo príncipe Henry. A guerra civil eclodiu na França e enquanto o príncipe Henry queria reiniciar a Guerra contra ela, o rei manifestava-se pela paz. Tais relações desconfortáveis persistiram até a morte de Henry IV, em Londres, a 20 de março de 1413 e, a despeito da quantidade de revoltas durante o seu reinado, seu filho mais velho assumiu uma indisputada sucessão.

(1) As "Wars of the Roses" (Guerras das Rosas) foram uma série de guerras dinásticas lutadas entre partidários de dois ramos rivais da real Casa dos Plantagenet, as Casas de Lancaster e York, ao trono da Inglaterra. O nome provém dos emblemas heráldicos associados às duas casas reais: a Rosa Branca de York e a Rosa Vermelha de Lancaster. A facção yorkista usava o símbolo da rosa branca desde o início do conflito, mas a rosa vermelha dos lancastrianos foi, aparentemente, introduzida posteriormente. As guerras foram travadas em episódios esporádicos entre 1455 e 1487, embora tivessem acontecido rixas relacionadas antes e após esse período, resultado de problemas sociais e financeiros que se seguiram à "Guerra dos Cem Anos".  A vitória final foi para um remoto reclamante lancastriano, Henry Tudor, que derrotou o último yorkista, rei Richardo III e casou com a filha de Edward IV, Elizabeth of York, para unir as duas casas. A Casa dos Tudor, subsequentemente, governou a Inglaterra e País de Gales até 1603.

(Continua com a PARTE 6)

domingo, 3 de novembro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 4)

O REINADO DO KING JOHN (1199 – 1216)

O Rei John (Sem Terras)
Durante o seu reinado, a guerra com a França foi reiniciada, por conta do segundo casamento de John. Solicitado a mediar as famílias rivais de Lusignan e Angoulâme, ele acabou casando com a herdeira Isabella Angoulâme, que havia sido prometida a Hugh de Lusignan. Uma revolta eclodiu e John foi instado a comparecer perante seu senhor, Philip II da França; com sua negativa ao “convite”, a guerra foi declarada.
Para aumentar os seus problemas, a morte de Hubert Walter, arcebispo de Canterbury, em julho de 1205, iniciou uma disputa entre o rei e os monges de Canterbury, sobre quem deveria nomear o seu sucessor. O Papa interveio e decidiu contra John, provocando uma série de trocas que resultaram na excomunhão de John em 1209. Posteriormente ele declarou seu reino como feudo papal e foi readmitido aos favores do papado.
Por 1206, John já havia perdido a Normandia, Anjou, Maine e partes de Poitou. Essas perdas foram um danoso golpe ao seu prestígio, sofrendo a indignidade de receber o apelido de “John Sem Terras”, pelo qual ficou muito tempo conhecido; determinou-se a recuperá-lo a custa de muito dinheiro, tornando seu governo crescentemente inescrupuloso e eficiente na administração financeira; os impostos foram aumentados e ele reduziu os direitos feudais cada vez mais cruelmente, causando o crescente descontentamento dos seus barões. As negociações entre John e eles falharam e uma guerra civil irrompeu em maio de 1215. Quando os rebeldes tomaram Londres, John foi pressionado a ceder mais e, em 19 de junho, aceitou os termos dos barões, consubstanciados na “Carta Magna”, que limitava o poder real, assegurava os direitos feudais e restabelecia a lei inglesa. Foi o primeiro documento formal estabelecendo que o monarca devia obedecer à lei tanto quanto o seu povo e que os direitos dos indivíduos deveriam ser preservados mesmo se contra os desejos do soberano.
Na verdade, esse acordo logo tornou-se impraticável quando John alegou que ele havia sido assinado sob coação. O Papa Inocêncio ficou ao seu lado e na guerra civil que se seguiu John devastou os condados do norte e a fronteira escocesa. O príncipe Louis da França, a pedido dos barões, invadiu a Inglaterra. John persistiu vigorosamente na guerra, mas sua morte, em outubro de 1216, fez com que os barões reconsiderassem, permitissem um compromisso de paz com a reedição da Magna Carta e aceitassem a sua sucessão por seu filho Henry III. Os franceses se retiraram em 1217 após grave derrota em Lincoln e Sandwich e o pagamento de pesadas multas.

O REINADO DE HENRY III (1216 – 1272)

Rei Henry III
Henry, o filho do Rei John e Isabella de Angoulême, nasceu em 1o de outubro de 1207, em Winchester, e tinha 9 anos de idade quando seu pai morreu e ele tornou-se rei. O país foi administrado por várias regências até 1234 quando Henry III finalmente tomou posse.
Ele não era um rei militar e seus problemas já iniciaram em 1237, quando seus barões reclamaram da influência dos seus parentes da Savoia(1). O casamento arranjado entre a irmã de Henry, Eleanor of England, e o nobre inglês de modesta linhagem, Simon de Montfort, piorou as relações de Henry com seus líderes nobres. Em 1242 os meio-irmãos de Henry III o envolveram numa desastrosa aventura militar na França, o que motivou o Parlamento a exigir sangue novo no conselho que agisse como “conservadores das liberdades” e que revisse as finanças reais; entretanto, o rei soube explorar as diferenças entre os seus oponentes e pouco aconteceu. Finalmente, em 1258, um acordo mal feito com o Papa o ameaçou de excomunhão. Tudo isso junto, mais as derrotas no País de Gales e crises locais, conduziu à crise principal do seu reino. As “Provisões de Oxford”, de 1258, criaram um conselho privado de 15 membros, selecionado pelos barões, para aconselhar o rei e supervisionar toda a administração; o Parlamento deveria se reunir três vezes por ano e as moradias do rei e sua família deveriam ser também reformadas.
Gasconha entre França e Espanha
Ao final de 1259, sob os termos do “Tratado de Paris”, Henry III concordou em desistir das terras que seu pai John havia perdido ao norte da França. A Normandia, Anjou, Maine, Touraine e Poitou foram entregues para que pudesse manter o controle das ilhas do Canal da Mancha e da Gasconha(2); em troca, o rei Louis IX da França suspendeu seu apoio aos barões ingleses revoltosos.
O acordo começou a romper em 1260, quando as querelas entre o conde de Gloucester e o ambicioso Simon de Montfort tornavam inevitável uma guerra civil. Em maio de 1264 Simon de Montfort teve uma retumbante vitória na batalha de Lewes, capturou Henry III e seu filho mais velho Edward, estabelecendo um novo governo. No controle da Inglaterra, Monfort reuniu uma assembleia que incluía dois cavalheiros de cada condado e dois representantes eleitos por cada burgo – precursor da moderna democracia parlamentar. Em maio de 1265, o príncipe Edward escapou da prisão e convocou as forças reais, derrotando e matando Montfort, em Evesham, assim passando o controle do reino ao seu enfraquecido pai.
O resto do seu governo foi ocupado na solução dos problemas criados pela rebelião. Henry III confiscou as terras dos partidários de Monfort, mas os “deserdados” reagiram até um acordo realizado em 1266 para que os rebeldes comprassem de volta suas terras. Por 1270 o país estava suficientemente calmo para Edward partir em uma Cruzada. Henry III morreu em 16 de novembro de 1272 antes da volta de Edward e foi enterrado na Abadia de Westminster, que ele tinha reconstruído, em sua maior parte, em estilo gótico. Seu filho Edward foi coroado em agosto de 1274.

O REINADO DE EDWARD I (1272-1307)

Edward I "Longshanks"
Edward I, apelidado "Longshanks" (longas canelas) devido à sua grande estatura, foi talvez o monarca de maior sucesso dos medievais. Os primeiros anos do seu reino marcaram um alto ponto de cooperação entre a coroa e a comunidade. Nesses anos, Edward realizou grandes avanços na reforma do governo, na consolidação do território e na definição da política externa. Possuía a força que faltou ao seu pai e reafirmou a prerrogativa real. Foi pai de muitos filhos: dezesseis de Eleanor de Castille, até a sua morte em 1290, e mais três de Margaret.
Edward apegou-se ao conceito de comunidade e embora fosse, às vezes, inescrupulosamente agressivo, governou sempre com o bem estar dos seus súditos em mente. Ele entendeu a coroa como juiz do curso de ação adequado e principal legislador do reino; a autoridade era garantido por lei e deveria ser plenamente utilizada para o bem público, mas a mesma lei também garantia proteção aos súditos do rei.
Edward I expandiu a administração em quatro setores principais: a Chancelaria – para pesquisar e criar os documentos legais -, o Erário Público – para receber e emitir moeda, inspecionar as contas dos funcionários e manter os registros financeiros -, a Moradia – uma corte móvel de funcionários e conselheiros para viajar com o rei -, e o Conselho – formado pelos seus ministros principais, juízes e clérigos mais confiáveis, um seleto grupo de magnatas, que também seguiam o rei e tratava das matérias mais importantes do reino, agindo também como corte para os casos de importância nacional. 
Em uma atmosfera de crescente antissemitismo, Edward I voltou-se contra os judeus, proibindo-os, em 1275, de realizar empréstimos a juros, sem meio de vida primário. Em 1278 ele aprisionou e sequestrou, sob pedido de resgate, 3.000 judeus; tais resgates foram pagos, mas em 1290 publicou um édito pelo qual expulsava todos os judeus da Inglaterra.
As medidas de Edward no refinamento da lei e da justiça tiveram importantes consequências na redução da prática feudal. O Estatuto de Gloucester (1278) refreou a expansão de grandes fazendas privadas e estabeleceu o princípio de que todas as concessões privadas fossem delegadas pela e subordinadas à Coroa. A jurisdição real tornou-se suprema: o erário público desenvolveu uma corte para as disputas financeiras, a Corte dos Apelos Comum surgiu para ouvir disputas de propriedades e a Corte de Justiça do Rei dedicou-se a casos criminais em que o rei tivesse um interesse conferido. Outros estatutos proibiam os vassalos de dar suas terras à Igreja, encorajavam a primogenitura e estabeleciam o rei como a única pessoa que poderia tornar um homem seu vassalo feudal. Em síntese, Edward preparou o cenário para tornar a terra um artigo de comércio.
Edward concentrou-se numa agressiva política externa. Em 1277 iniciou uma campanha contra o País de Gales que só encerrou em 1282 com a morte de Llywelyn ap Gruffydd, último príncipe do país independente. O País de Gales foi dividido em distritos, a lei civil inglesa foi introduzida e a região foi administrada por magistrados designados. Como os monarcas anteriores, Edward construiu muitos castelos para proteger sua vitória. Em 1301, o primogênito do rei foi nomeado Príncipe de Gales, um título que ainda perdura para todos os herdeiros mais velhos da coroa.
Na Irlanda, Edward teve sucesso limitado ao tentar estender a influência inglesa: introduziu um parlamento em Dublin e aumentou o comércio com pequenas cidades costeiras, mas a maioria do país era controlado por barões independentes ou chefes de tribos celtas. Manteve seus domínios na França pela diplomacia, mas foi forçado à Guerra pelas incursões de Philip IV na Gasconha; negociou uma paz em 1303 e manteve as áreas que a Inglaterra possuía antes da guerra.
Em 1292, uma disputada sucessão ao trono escocês, após a morte do rei Alexander III, permitiu a Edward I forçar os escoceses a aceitar sua soberania como “lorde supremo” da Escócia, nomeando John Baliol como rei, que lhe prestou reverência como seu lorde. Entretanto, os escoceses resistiram às exigências de Edward para o serviço militar e, em 1295 pediram ajuda aos franceses, primeira evidência documentada da “Velha Aliança”. Em 1296 Edward invadiu a Escócia e derrotou fragorosamente os escoceses sob Baliol, forçado a abdicar, e os barões escoceses reverenciaram Edward como seu rei.
Estátua deWilliam Wallace
no Castelo de Edinburgh
William Wallace (magistralmente interpretado por Mel Gibson no filme Braveheart – “Coração Valente”) incitou uma rebelião em 1297, derrotou o exército inglês em Stirling e fustigou os condados do norte da Inglaterra. No ano seguinte, Edward derrotou Wallace, na batalha de Falkirk, mas enfrentou pertinaz resistência até a captura e execução de Wallace, em 1304. Em 1306, Robert Bruce, neto de um reclamante ao trono em 1290, instigou nova rebelião desafiando Edward I, que morreu no caminho do norte para reafirmar a sua autoridade, sendo substituído, no poder, por seu filho Edward II. As campanhas de Edward na Escócia foram cruéis, provocando nos escoceses um ódio contra a Inglaterra que perduraria por gerações.
Os esforços de Edward para financiar suas guerras na França e Escócia, extenuaram as suas relações com a nobreza, ao instituir impostos sobre a renda e propriedade pessoal. Os encontros do Grande Conselho do Rei, agora referidos como Parlamento, intermitentemente incluíam membros da classe média e começaram a reduzir a autoridade real. O Parlamento reafirmou a Magna Carta e o Título da Floresta em 1297, 1299, 1300, e 1301, concluindo que nenhum imposto deveria ser arrecadado sem o consentimento do reino como um todo (como representado pelo Parlamento).

O REINADO DE EDWARD II – (1307-1327)

Edward II não possuía a dignidade de seu pai e falhou miseravelmente como rei, mais interessado em diversões do que na arte da guerra e dependente de seus favoritos. Casou com Isabella, filha do rei francês, dois anos após ascender ao trono.
Edward II da Inglaterra
Tendo herdado de seu pai a guerra com os escoceses, desde cedo demonstrou sua inépcia como soldado. Barões descontentes, sempre precavidos de Edward como Príncipe de Gales, procuraram sondar o seu poder desde o início de seu reinado. Excitou a ira da nobreza por desperdiçar os recursos da coroa com seus favoritos, criando uma impopularidade que acabaria por custar-lhe a vida.
O sonho de Edward I, de uma nação britânica unificada, desintegrou-se sob seu fraco filho. Uma rebelião dos barões abriu o caminho para Robert Bruce reconquistar grande parte da Escócia. Em 1314 Bruce derrotou as forças inglesas na Batalha de Bannockburn, sendo coroado rei da Escócia e garantindo a independência escocesa até a união da Inglaterra com a Escócia em 1707.
As preferências de Edward II por rodear-se de estrangeiros, reportavam-se ao conturbado reino de Henry III. O mais notável destes foi Piers Gaveston, um jovem gascão exilado por seu pai, por sua indevida influência sobre o então Príncipe de Gales e, muito provavelmente, amante do rei. O arrogante e devasso Gaveston exerceu considerável poder após ser chamado de volta por Edward II. Os magnatas, indispostos por tal relação, uniram-se em oposição atrás do primo do Rei, Thomas, Conde de Lancaster, conseguindo impor, através dos Parlamentos de 1310 e 1311, restrições ao poder de Edward e o exílio de Gaveston. Em 1312 os barões revoltaram-se e Gaveston foi assassinado, evitando-se uma rebelião completa apenas porque Edward aceitou restrições adicionais. Embora Lancaster tenha repartido as responsabilidades do governo com Edward, o rei caiu sob a influência de outro vil favorito, Hugh Dispenser. Em 1322 Edward, mostrando uma rara disposição para ação, reuniu um exército e, na batalha de Boroughbridge, venceu e executou Lancaster. Com Dispenser, Edward conduziu o governo, mas criaram novos inimigos, quando 28 cavalheiros e barões foram executados por rebelião e outros exilados.
Aqui faz-se necessário um parênteses para lembrar que, por esta época, a fome eclodiu na Europa como produto de um clima mais frio e úmido, combinado com a medieval inabilidade em efetivamente secar e armazenar grãos. Invernos mais frios e verões mais úmidos severamente afetaram a colheita, causando a morte, pela fome, de milhões; o canibalismo foi amplamente divulgado, da Polônia à Irlanda, e muitos morreram esmagados nas filas de pão de Londres.
Entrementes, Edward enviou sua rainha, Isabella, para negociar com seu irmão, o rei francês Charles IV, os problemas da Gasconha. Ela caiu em um aberto romance com Roger Mortimer, um dos barões desafetos de Edward, persuadindo-o a enviar seu jovem filho para a França. O par revoltoso invadiu a Inglaterra em 1326, tomou o trono em nome de Edward III, então com 14 anos e aprisionou Edward, seu pai. O rei foi deposto em 1327 e assassinado em setembro, no castelo de Berkeley.


(1) A Savoia é uma histórica região e, antes, ducado do sudeste da França, oeste da Suíça e noroeste da Itália.
(2) A Gasconha era um principado ao sudoeste da França, até 1063. Nessa época, ela desapareceu como entidade política quando o Conde de Gasconha, Bernard II Tumapaler, foi obrigado a abandonar a Gasconha para a Aquitaine, após a sua derrota para o conde da Aquitaine William VIII, na batalha de La Castelle. Após o tratado de Paris, de 1259, o ducado da Aquitaine tomou o nome de ducado da Guyenne, um termo que designava o conjunto das possessões francesas do rei da Inglaterra. A Gasconha era também a terra de Charles Ogier de Batz de Castelmore, Conde d'Artagnan (1611 – 1673) que serviu Louis XIV como capitão dos Mosquiteiros da Guarda e morreu no cerco de Maastricht na guerra França – Holanda, que inspirou o personagem d’Artagnan, de Alexandre Dumas nos “Três Mosquiteiros”. Ela é também o lar do herói da peça “Cyrano de Bergerac”, embora esse personagem tenha pouco a ver com o Cyrano real, que era parisiense.

PROSSEGUE NA PARTE 5