Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 24 de agosto de 2013

O FORMIDÁVEL HURRICANE SMITH

Em geral, tenho sempre uma boa lembrança da forma pela qual conheci determinado cantor, compositor ou suas músicas. Desta feita, não é o caso. Com toda a honestidade, não lembro como vim a conhecer este, na minha amadorística opinião, notável “Hurricane” Smith. Tendo iniciado sua carreira profissional, como cantor, bem mais tarde do que a maioria, não fez parte dos cantores eleitos pela minha adolescência, nunca tive um disco dele e nenhum amigo, alguma vez, me fez alguma recomendação a respeito. Penso que o “descobri” por acaso, no You Tube, cantando alguma de suas lindas músicas, fiquei encantado com o seu original timbre de voz, a qualidade de suas melodias e letras e uma, especialmente, talvez até pelo seu título, chamou-me à atenção. Por sua causa parti para a pesquisa cujo resultado apresento agora a vocês, com muito prazer.
Norman  Smith, nascido em 22 February 1923, em Edmonton, Middlesex, e morto em 3 March 2008, em East Sussex, England, foi um músico, produtor de discos e engenheiro inglês. Serviu na RAF (Real Air Force – Força Aérea Britânica) como piloto de planador, durante a Segunda Guerra Mundial. Após uma carreira sem sucesso como músico de jazz, Smith ligou-se à EMI(1)  como um aprendiz de engenheiro de som, em 1959. A história foi, pelo menos, curiosa. Quando Norman Smith viu o anúncio no “The Times”, naquele ano, estabelecendo que a EMI estava procurando por aprendizes de engenheiros com menos de 28 anos de idade ele, que já tinha 35 anos, decidiu mentir sobre a sua idade. Na entrevista, sua insolente crítica a Cliff Richard, a estrela em ascensão do selo, coincidiu com o ponto de vista do interlocutor e fez com que Smith sobressaísse frente à centena ou mais de candidatos. Ele foi um dos três aprendizes contratados na hora e passou a trabalhar nos estúdios da Abbey Road da EMI.
Norman Smith e os Beatles. Tudo começou assim
Norman Smith foi o primeiro engenheiro de gravação dos Beatles (considerado responsável por ajudar os Beatles a alcançar seu incrível som de estúdio), para todas as suas gravações pela EMI, desde o dia em que eles foram ouvidos para o seu contrato de gravação (6 de junho de 1962) até o seu álbum “Rubber Soul”, de 1965, quando a EMI o promoveu de engenheiro a produtor. Em resumo, Norman supervisionou o som de todas as canções dos Beatles, de “Love me Do” até “Michele”, pouco menos de 100 canções ao todo.
Foi John Lennon quem conferiu a Smith o apelido “Normal”, rapidamente aceito pelos demais Beatles; com isso, Lennon tecia uma humorística referência à natureza absolutamente calma e imperturbável de Smith.
Enquanto ainda trabalhando com os Beatles, a companhia de publicação dos discos da banda, “Dick James Music”, ofereceu a Smith a quantia de quinze mil libras pelos direitos totais de uma música que ele escrevera.
Já então uma figura histórica dos estúdios da Abbey Road em Londres, Smith descobriu e produziu a banda Pink Floyd(2) , produzindo seus primeiro, segundo e quarto álbuns de estúdio: “The Piper at the Gates of Dawn”, “A Saucerful of Secrets”, and “Ummagumma”. Durante as sessões para a canção “Remember a Day”, o baterista Nick Mason agitou-se porque não conseguia fazer a parte correta da bacteria na canção. Norman Smith que tinha, enquanto criança e adolescente, ensaiado com vários instrumentos que incluíram bateria, piano, vibrafone e trombone, entre outros, e sabendo exatamente o que desejava da bateria, tocou, ele próprio, a parte do baterista.
Em 1968 Smith produziu um dos primeiros “álbuns-conceito” de rock, o “S. F. Sorrow”, dos “The Pretty Things”(3) .
Ele produziu também as primeiras gravações da Barclay James Harvest(4) , incluindo o seu álbum altamente classificado “Once Again”, e muitos anos mais tarde seu nome foi explicitamente citado na canção de John Lees, "John Lennon's Guitar".
Hurricane Smith no auge da carreira
Em 1971, Smith, usando o pseudônimo de “Hurricane Smith”, tirado de um filme americano de 1952, com o mesmo nome, conseguiu um sucesso #2 nos Reino Unido, com "Don't Let It Die" (clique aqui para assistir a um vídeo raro de Hurricane Smith cantando sua criação). Essa gravação, de uma melodia simples e feliz, foi na verdade uma demonstração de uma canção que ele havia escrito (clique aqui para acompanhar a letra) na esperança de que John Lennon a gravasse. Quando ele a tocou para o amigo produtor Mickie Most, este ficou impressionado e disse-lhe para soltar a gravação como ela estava. Em 1972 ele escreveu e gravou a sua canção “Oh Babe, What Would You Say”, que tornou-se um #1 Cash Box nos USA e um sucesso Billboard Pop #3, alcançando o #4 in the UK Singles Chart e um entre os dez melhores em todo o mundo. Sobre esta melodia, Hurricane Smith teria dito que o produtor que nele habitava projetara a letra (clique aqui para apreciar a letra) para recapturar a sua era jovem, era quase como a história de sua vida, quando ele ia a um baile, mas era tão tímido que não teria coragem nem para tirar uma moça para dançar. E voltava para casa imaginando um romance que nunca acontecera. Era uma música sobre essas fantasias. Uma versão de “Who Was It?”, de Gilbert O’Sullivan, foi também incluída no álbum de estreia de Smith e atingiu o # 23 nos UK.
Hurricane Smith e sua melodia eterna
Seguiram-se outras gravações tais como "My Mother Was Her Name" (1972), "Beautiful Day, Beautiful Night" (1973), "To Make You My Baby" (1974) e “A Melody You Never Will Forget" (1977), entre outras. Sobre esta última, a primeira que ouvi do nosso personagem e que alavancou a minha pesquisa, apenas descobri, com muito esforço, o ano em que teria sido lançada; mais nada sobre ela, nem mesmo a sua letra. Contudo, todas essas tentativas de Smith não produziram o sucesso pretendido.
Smith também gravou uma faixa instrumental intitulada "Theme From an Unmade Silent Movie" (Tema para um Filme Mudo não Realizado), que o apresentador de radio Tony Butler, radicado nas West Midlands, adotou como tema musical de seu show de esportes, numa tentative, muitas vezes com sucesso, de encorajar o time local da região a marcar um golo. Ela foi executada, em sua homenagem, pela Orquestra Sinfônica da Cidade de Birmingham, em 6 de junho de 2008, três meses após a sua morte.
Rye, Sussex, o local de descanso de Hurricane Smith
Com a aposentadoria, Smith mudou-se para Rye, em Sussex, sul da Inglaterra, uma pequena cidade com menos de 5.000 habitantes, situada a aproximadamente três quilômetros da costa, nas confluência dos rios Rother, Tillingham e Breede. Um local digno de hospedar o “Norman Normal Hurricane Smith” onde, com direito a castelo, moinho, típicas casas medievais, estreitas ruas calçadas com pedra, praia próxima e sua esposa, ele desfrutou o seu retiro e deleitou-se contando as histórias dos seus dias em Abbey Road, até a sua morte.
In 2004, com a idade de 81 anos, Smith lançou um novo CD, “From Me To You”, (De Mim Para Você), reunindo novas gravações dos seus próprios e maiores sucessos, "Don't Let It Die" e "Oh Babe, What Would You Say?". Incluídos nos compactos estavam mensagens de Sir Paul McCartney e membros do Pink Floyd. Mas, como um artista solo em seu pleno direito, Smith nunca recebeu as honras a que teria direito.
Smith escreveu um livro de memórias intitulado “John Lennon Called Me Normal”. O livro foi lançado como edição limitada em 16 de março de 2007, na “The Fest for Beatles Fans” em Secaucus, New Jersey. Na ocasião, Smith apareceu e cantou "Oh Babe". O livro contém fotos inéditas, fatos históricos desconhecidos sobre os Beatles e Pink Floyd, em Abbey Road Studios, bem como detalhes da vida de Smith como piloto de planador da RAF.
O Grand Piano Challen Baby de Hurricane Smith
Em dois de julho de 2007, menos de um ano antes de sua morte, Hurricane Smith deu uma entrevista a Robert Silverstein, do Music Web Express 3000 (MWE3), em que comenta sobre o seu livro e outros assuntos. São palavras dele: “O livro é a história da minha vida, que inclui os Beatles. Eu realmente iniciei como engenheiro de som em Abbey Road, mas logo tornei-me um produtor. Mas sempre fui um compositor, não com muito sucesso, até um dia em que, produzindo uma árdua sessão do Pink Floyd, como em todas as pausas que fazíamos, ao anoitecer, fomos jantar. Mas dessa vez eu me desculpei com eles e voltei aos estúdios onde fiquei batendo no piano. E então, uma melodia me veio à cabeça, com exceção de uma linha que era ‘don’t let it die’; e eu não conseguia entender porque aquela linha veio à minha cabeça e quando tentei escrever a letra, não consegui, sempre voltando à mesma linha ‘don’t let it die.’ E então, após assistir a um programa de TV em que se falava da destruição do meio ambiente, matança dos animais etc, etc., eu pensei que o tema daria uma ótima letra para a música que eu acabara de compor e então a escrevi: e assim nasceu ‘Don’t Let It Die’. Gravei então a ‘demo’ para ela, pensando em John Lennon para interpretá-la, pois ele havia brincado que aos Beatles estava faltando uma canção quando gravavam a trilha sonora para o filme ‘Help!’. Toquei a ‘demo’ para Mickie Most, um produtor amigo que já nos deixou, para ouvir a sua opinião. Ao acabar de ouvir ele disse: ‘isso está muito bom, quem é? Toque outra vez’. Ao final da segunda vez ele disse: ‘Bem, eu lhe digo: isso é um disco de sucesso #3! Quem está cantando?’ E quando eu lhe disse que era eu que interpretava e que a havia feito pensando em John Lennon para gravar, ele respondeu: ‘Não, oh bem... esqueça John Lennon. Lance-a como está!’ Então eu a lancei e ela tornou-se um #2 aqui. E essa é uma pequena história sobre ‘Don’t Let It Die.’ ”
Em outro trecho da entrevista, quando perguntado sobre a possibilidade de ainda vir a escrever novas melodias, ele teria respondido: “Não, agora não mais. Estou com 84 anos agora e levo uma vida muito calma. Sento no piano de vez em quando e me divirto sozinho, mas não escrevo mais ... Infelizmente, aqueles dias já se foram. Tenho muito orgulho das canções que escrevi, muitas canções. Quando volto ao passado e algumas vezes ouvindo minhas composições, penso comigo: ‘Esta é uma letra muito boa, muito boa!’ E lembro das inspirações às minhas melodias e letras. Eu sempre tive, desde muito jovem, melodias em minha cabeça. Eu sou um homem-melodia. Sempre tive isso em minha vida: Melodia! Tenho muito orgulho das melodias que escrevi ao longo dos anos!”
Hurricane Smith, aos 83, com Seth
Em março de 2006, um compositor americano chamado Seth Swirsky, que entrevistava pessoas para o seu documentário “Histórias dos Beatles”, conseguiu uma entrevista fantástica com Hurricane Smith, de quem se tornou grande amigo, em sua residência de Rye. Dois anos mais tarde, em quatro de março de 2008, um dia após a sua morte, Seth escreveria sobre o seu amigo de tão curta, mas proveitosa amizade: “Acabei de receber a notícia de que morreu, ontem cedo, Norman Hurricane Smith, o legendário engenheiro de gravação dos Beatles, por longo período. Ele tinha 84 anos de idade e tive a oportunidade de viver com ele um dia inteiro, exatamente há dois anos atrás, entrevistando-o para o meu documentário ‘Beatles Stories’, em sua casa em Sussex, England. Ele foi um homem extraordinário. Espero e confio que você está em paz, Norman. Você foi um homem admirável. E eu sou muito feliz port ê-lo conhecido e tido algum tempo com você. Muito obrigado por dar ao mundo a bela e importante música dos Beatles, Pink Floyd, Pretty Things e, evidentemente, sua própria grande música, especialmente uma das minhas canções favoritas, ‘Oh Babe, What Would You Say’. Descanse em plena paz.”
Hurricane Smith em 1968 e 2007
Smith morreu com a idade de 85 anos em 3 de março de 2008 em in East Sussex, England, com mais de 50 anos de uma sólida carreira no “show business” internacional e uma lenda do mundo “pop” do Reino Unido. Este foi o formidável Norman Hurricane Smith!


[1] “EMI Group Limited”, também conhecido como “EMI Music” ou simplesmente “EMI”, foi uma companhia multinacional britânica de gravação e publicação de música e, também por algum tempo, uma empresa de fabricação de equipamentos e dispositivos eletrônicos, com quartel general em Londres, Reino Unido. Ao tempo do seu colapso, em 2012, ele era o quarto maior grupo de selos de discos na indústria de gravações. Seus selos de gravações incluíam a EMI Records, Parlophone e a Capitol Records. O Grupo EMI também possuía um braço maior de publicação, a EMI Music Publishing, também sediada em Londres, com escritórios em todo o mundo.

[2] A “Pink Floyd” foi uma banda inglesa de rock, que alcançou aclamação internacional com sua música progressiva e psicodélica.

[3] Pretty Things foi um outro conjunto inglês famoso da década de 60 que continua se apresentando até hoje.

[4]Barclay James Harvest foi uma banda inglesa de rock progressive, fundada em Saddleworth, grande Manchester, em setembro de 1966 por John Lees, Les Holroyd, Stuart “Woolly” Wolstenholme e Mel Pritchard.