Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quarta-feira, 31 de julho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 11 (FINAL)

Império Bizantino no exílio(em cinza), ou Império de Niceia
No início da postagem, como tenho feito sempre, lembro do interesse e/ou necessidade de recorrer ao "Anexo III - Imperadores do Império Romano do Oriente".
O Império de Niceia lutou para sobreviver nas décadas seguintes e, por meados do século XIII, perdeu muito do sul da Anatólia. Numerosas pazes e alianças foram estabelecidas e quebradas, à medida que evoluíam as lutas entre o Império Latino, os búlgaros e os seljúcidas de Iconium (atual Konya, na Turquia). Seu sucessor, João III Ducas, expandiu o território até ao Mar Egeu e aliou-se ao Sacro Império Romano-Germânico casando com a filha de Frederico II. Seus sucessores foram Teodoro II Láscaris e João IV Láscaris que, muito jovem, teve o trono usurpado por Miguel VIII Paleólogo, autoproclamado co-imperador e regente após afastar os tutores legítimos, iniciando a Dinastia Paleóloga (1261 a 1453).
Miguel VIII Paleólogo planejou atacar Constantinopla, o que seus antecessores nunca tinham feito. Aliando-se a Gênova (rival de Veneza nas rotas do comércio mediterrânico) consegue reconquistar a cidade em 1261, porém Constantinopla não recuperou o antigo esplendor, iniciando a decadência que quase dois séculos depois levaria ao fim definitivo do império, principalmente pelas novas ameaças, agora do Império Otomano.
Os esforços de Andrônico II e, mais tarde, de seu neto Andrónico III marcaram as últimas tentativas genuínas do Bizâncio em restaurar a glória do império. Durante o reinado de Andrônico II, o império perdeu boa parte da Bitínia para os otomanos de Osman I e os búlgaros tomaram entre 1305-1307, sob Teodoro Svetoslav da Bulgária, uma parte significativa do nordeste da Trácia.
Durante o reinado de Andrónico III, que assumiu o império após uma desastrosa guerra civil, novos territórios foram perdidos: na Ásia Menor os otomanos tomaram Niceia (1331) e Nicomédia (atual İzmit) (1337), restando ao império poucos territórios costeiros. Após uma desastrosa guerra contra o Império Búlgaro, Constantinopla, no acordo de paz, perdeu mais alguns territórios.
As coisas tornaram-se piores para Bizâncio durante a guerra civil que se seguiu à morte de Andrônico III. Os seis longos anos de guerra civil devastaram o império, permitindo que o governante sérvio Estêvão Uroš IV Dušan conquistasse a maior parte dos territórios restantes do império principalmente na Macedônia formando o Império Sérvio, um reino que teve vida curta. Em 1354, um terremoto devastou Gallipoli, permitindo que os otomanos se estabelecessem na Europa. Também houve uma guerra contra os genoveses.
Sob João V Paleólogo, o império assistiu à conquista turca de Andrinopla (atual Edirne) e Filipópolis (atual Plovdiv). Novas guerras civis assolaram o império e quando estas cessaram os turcos haviam derrotado os sérvios tornado-os vassalos do império. Depois da Batalha do Kosovo, grande parte dos Bálcãs foi dominado pelos turcos.
Os imperadores recorreram à ajuda do Ocidente, mas o papa só considerou o envio de ajuda em troca de uma reunião da Igreja Ortodoxa com a Santa Sé de Roma (separadas desde o cisma de 1054). A Unidade da Igreja (aprovada no Segundo Concílio de Lyon em 1272) foi considerada e, ocasionalmente, realizada por decreto imperial, mas os cidadãos e o clero ortodoxo intensamente ressentiram a autoridade de Roma e o rito latino. Algumas tropas ocidentais chegaram para reforçar a defesa cristã de Constantinopla, mas a maioria dos governantes ocidentais, distraídos com seus próprios assuntos, não fez nada para com os otomanos que estava tomando os territórios remanescentes dos bizantinos. Na década de 1370, uma nova guerra civil depôs João V, quando o império era pouco mais do que um estado vassalo dos otomanos, em favor de seu filho Andrônico IV Paleólogo, mas o Império foi obrigado a ceder Galípoli e Filadélfia para os turcos otomanos. Tenedos, despovoada, foi cedida aos genoveses, tornando-se território neutro.
O império sentiu-se um pouco desafogado quando, em 1402, Tamerlão derrotou os otomanos na Batalha de Ancara, e pelo interregno no império otomano causado por guerra civil entre os herdeiros do sultão Bayezid I. Foi durante a guerra civil otomana que Bizâncio reconquistou a margem europeia do Mar de Mármara e Tessalônica, posteriormente retomada pelos turcos.
Em 1422, Manuel II Paleólogo apoiou um príncipe otomano ao trono, visando uma duradoura trégua no futuro, ao que o sultão Murad II respondeu com um contingente de 10 mil soldados para cercar Constantinopla mais uma vez. Após várias horas de batalha, ordenou a sua retirada acrescentando mais uma sobrevida a Constantinopla.
A grande verdade é que o cisma entre Igrejas Católica e Ortodoxa manteve Constantinopla distante das nações ocidentais e, mesmo durante os cercos de turcos muçulmanos, não conseguira mais do que indiferença de Roma e seus aliados. Em uma última tentativa de aproximação para evitar a constante ameaça turca, o Imperador João VIII Paleólogo promoveu um concílio em Ferrara, na Itália, onde as diferenças entre as duas fés foram rapidamente resolvidas. Entretanto, a aproximação provocou tumultos entre a população bizantina, dividida entre os que rejeitavam a igreja romana e os que apoiavam a manobra política de João VIII.
João VIII morreu em 1448, e seu filho Constantino XI assumiu o trono no ano seguinte. Era uma figura popular, tendo lutado na resistência bizantina no Peloponeso frente ao exército otomano, mas seguia a linha de seu pai na conciliação das igrejas oriental e ocidental, o que causava desconfiança não só entre o clero bizantino como também no Sultão Murad II, que via esta aliança como um ameaça de intervenção das potências ocidentais na resistência à sua expansão na Europa.
Constantino XI, último imperador Romano do Oriente

V.3.4 – A Queda do Império Romano do Oriente

Em 1451, Murad II morreu, sendo sucedido por seu jovem filho Maomé II (ou Mahmed II). Inicialmente, Maomé prometera não violar o território bizantino. Isto aumentou a confiança de Constantino que, no mesmo ano se sentiu seguro o suficiente para exigir o pagamento de uma anuidade para a manutenção de um obscuro príncipe otomano, mantido como refém, em Constantinopla. Mais furioso pelo ultraje do que pela ameaça a seu parente em si, Maomé II ordenou os preparativos para um cerco total à capital bizantina.
Os dois lados se prepararam para a guerra. Os bizantinos, agora com a simpatia das nações católicas, enviaram mensageiros às nações ocidentais implorando por reforços e conseguindo promessas. Três navios genoveses contratados pelo Papa estavam a caminho com armas e provisões. O Papa ainda havia enviado o cardeal Isidro, com 300 arqueiros napolitanos de sua guarda pessoal. Os venezianos enviaram em meados de 1453 um reforço de 800 soldados e 15 navios com suprimentos, enquanto os cidadãos venezianos residentes em Constantinopla aceitaram participar das defesas da cidade. A capital bizantina ainda recebeu reforços dos cidadãos de Pera e genoveses renegados, entre os quais Giovanni Giustiniani Longo, que se encarregaria das defesas da muralha leste, e 700 soldados. Tonéis de fogo grego(1) , armas de fogo e todos os homens e jovens capazes de empunhar uma espada e um arco foram reunidos. Entretanto, as forças bizantinas provavelmente não chegavam a 7 mil soldados e 26 navios de guerra ancorados no Corno de Ouro. Maomé, por sua vez, reuniu um exército estimado em 100 mil soldados, 80 mil dos quais soldados turcos profissionais e os demais mercenários e aventureiros que seriam usados para os ataques diretos.
Maomé II, turco conquistador de Constantinopla
Os otomanos iniciaram o cerco construindo rapidamente uma fortaleza 10 km ao norte de Constantinopla. Maomé II sabia que os cercos anteriores haviam fracassado porque a cidade recebia suprimentos pelo mar; tratou então de bloquear as duas entradas do Mar de Mármara, com uma fortaleza armada com 3 canhões no ponto mais estreito do Bósforo, e pelo menos 125 navios ocupando Dardanelos, o mar de Mármara e o oeste do Bósforo.
Constantinopla estava despovoada e em ruínas. A população da cidade havia colapsado de tal forma que já era pouco mais do que um aglomerado de vilas separadas por campos. O pavor agia como uma epidemia, corroendo os nervos dos patrícios, dos nobres, da corte e do povo em geral. Dias mais depressivos sobrevieram quando a grande bombarda(2) turca (a Grã Bombarda) começou a despejar bolas de pedra contra as portas e as muralhas da cidade. Pela frente, os turcos invasores viam uma linha de 22 km de muralhas e 96 torres bem fortificadas por vencer.
O cerco começou oficialmente em 6 de abril de 1453, quando o grande canhão disparou o primeiro tiro em direção a Constantinopla. A muralha, até então imbatível naquele ponto, não havia sido construída para suportar ataques de canhões e em menos de uma semana começou a ceder. Todos os dias, ao anoitecer, os bizantinos se esgueiravam para fora da cidade para reparar os danos causados pelo canhão com sacos e barris de areia, pedras estilhaçadas da própria muralha e paliçadas de madeira. Os otomanos evitaram o ataque pela costa, onde as muralhas eram reforçadas por torres com canhões e artilheiros que poderiam destruir toda a frota em pouco tempo. Com isso, o ataque inicial restringiu-se a uma só frente, o que possibilitou tempo e mão de obra suficientes aos bizantinos para suportarem o assédio.
Giovanni Longo, comandante bizantino
No início do cerco, os bizantinos conseguiram duas vitórias animadoras. Em 12 de abril, o almirante búlgaro a serviço do Sultão, Suleimã Baltoghlu, foi repelido pela armada bizantina ao tentar forçar a passagem pelo Corno de Ouro. Seis dias depois, o Sultão Maomé II tentou um ataque à muralha danificada, mas foi derrotado por um contingente bem menor, mas mais bem armado de bizantinos, sob o comando de Giovanni Longo.
Em 20 de abril os bizantinos avistaram os navios enviados pelo Papa, mais um outro navio grego com grãos da Sicília, que atravessaram o bloqueio de Dardanelos quando o Sultão deslocou seus navios para o Mar de Mármara. Baltoghlu tentou interceptar os navios cristãos, mas viu sua frota ser destruída por ataques de fogo grego despejado sobre suas embarcações. Os navios chegaram com êxito ao Corno de Ouro e Baltoghlu foi humilhado publicamente pelo Sultão e dispensado.
Em 22 de abril, o sultão aplicou um golpe estratégico nas defesas bizantinas. Impossibilitado de atravessar a corrente flutuante que fechava o Corno de Ouro, o sultão ordenou a construção de uma estrada de rolagem ao norte de Pera, por onde os seus navios poderiam ser puxados por terra, contornando a barreira. Com os navios posicionados em uma nova frente, os bizantinos logo não teriam recursos para reparar suas muralhas. Sem escolha, os bizantinos se viram forçados a contra-atacar, e em 28 de abril tentaram um ataque surpresa aos turcos no Corno de Ouro, mas foram descobertos por espiões e executados. Os bizantinos então decapitaram 260 turcos cativos e arremessaram seus corpos sobre as muralhas do porto.
A Grã Bombarda, origem do canhão
Bombardeados diariamente em duas frentes, os bizantinos raramente eram atacados pelos soldados turcos. Em 7 de maio o Sultão tentou um novo ataque ao vale do Lico (o rio Lico adentra Constantinopla pelo noroeste da Turquia), mas foi novamente repelido. No final do dia, os otomanos começaram a mover uma grande torre de assédio, mas durante a noite soldados bizantinos conseguiram destruí-la antes que fosse usada. Os turcos também tentaram abrir túneis por baixo das muralhas, mas os gregos cavavam do lado interno e atacavam de surpresa com fogo ou água. A mão de obra estava sobrecarregada, os soldados cansados e os recursos escasseando; o próprio Constantino XI coordenava as defesas, inspecionava as muralhas e reanimava as tropas por toda a cidade.
Ao mesmo tempo, os turcos enfrentavam problemas. O custo para sustentar um exército de 100 mil homens era muito grande e oficiais comentavam da ineficiência das estratégias do Sultão até então. Maomé II se viu obrigado a lançar um ultimato a Constantinopla: os turcos poupariam as vidas dos cristãos se o imperador Constantino XI entregasse a cidade. Como alternativa, prometeu levantar o cerco se Constantino pagasse um pesado tributo. Com os tesouros vazios desde o saque feito pela Quarta Cruzada, Constantino foi obrigado a recusar a oferta e Maomé lançou um ataque rápido e decisivo. Ordenou que as tropas descansassem no dia 28 de maio para se prepararem para o assalto final no dia seguinte. Pela primeira vez em quase dois meses não se ouviu o barulho dos canhões e das tropas em movimento. Para quebrar o silêncio e levantar o moral para o momento decisivo, todas as igrejas de Constantinopla tocaram seus sinos por todo o dia.
Durante a madrugada do dia 29 de maio de 1453, Maomé lançou um ataque total às muralhas, composto principalmente por mercenários e prisioneiros, concentrando o ataque no vale do Lico. Por duas horas, o contingente superior de mercenários europeus foi repelido pelos soldados bizantinos sob o comando de Giovanni Giustiniani Longo, providos de melhores armas e armaduras e protegidos pelas muralhas. Mas com as tropas cansadas, teriam agora que enfrentar o exército regular de 80 mil turcos.
O exército turco atacou por mais duas horas, sem vencer a resistência bizantina. Então abriram espaço para o grande canhão, que abriu uma brecha na muralha por onde os turcos concentraram seu ataque. Constantino XI em pessoa coordenou uma cadeia humana que manteve os turcos ocupados enquanto a muralha era consertada. O Sultão então lançou mão dos janízaros, que escalavam a muralha com escadas. Mas após mais uma hora de combates, os janízaros ainda não haviam conseguido entrar na cidade.
Constantino XI lutando na defesa de Constantinopla
Com os ataques concentrados no vale do Lico, os bizantinos cometeram a desatenção de deixar o portão da muralha noroeste semi-aberto. Um destacamento otomano penetrou por ali e invadiu o espaço entre as muralhas interna e externa. Neste momento, o comandande Giustiniani fora ferido e havia sido retirado às pressas para um navio. Sem sua liderança, os soldados gregos lutaram desordenadamente contra os disciplinados turcos. Diz-se que no último momento, o derradeiro imperador bizantino, Constantino XI Paleólogo, foi visto pela última vez após arremessar suas insígnias imperiais, desembainhar sua espada e atirar-se em combate corpo-a-corpo, após os muros da cidade serem tomados. Giustiniani também viria a morrer mais tarde, em virtude dos ferimentos, na ilha grega de Quios, onde encontrava-se ancorada a prometida esquadra veneziana à espera de ventos favoráveis.
Maomé II em Constantinopla
Desesperados, os sobreviventes correram para suas casas a fim de salvar suas famílias. Muitos fugiram em navios, quando os marinheiros turcos viram que a cidade caíra e poderiam aproveitar para participar do butim. Os turcos saquearam e mataram o quanto puderam. A Catedral de Santa Sofia (também conhecida como Hagia Sophia), o coração de todo o cristianismo ortodoxo, viu-se repleta de refugiados à espera de um milagre que não aconteceu: os clérigos foram mortos e as freiras capturadas. Maomé II entrou na cidade à tarde em desfile triunfal e ordenou que a Catedral fosse consagrada como mesquita. Talvez por ter considerado a cidade por demais destruída, o sultão ordenou o fim dos saques e da destruição no mesmo dia (contrariando a promessa de 3 dias de saques que fizera antes da guerra). A conquista terminou com 50 mil presos, entre os quais soldados, clérigos e ministros. Este contingente bizantino recebeu autorização para viver na cidade sob a autoridade de um novo patriarca, Genádio, designado pelo próprio sultão para se assegurar de que não haveria revoltas. Caía finalmente depois de mais de dez séculos a maçã de prata ou, simplesmente, Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente.

VI – CONCLUSÃO

Esta foi a melhor forma que encontramos para narrar, de uma forma muito sintética, a história do Império Romano, uma civilização como nunca houve outra igual em todos os tempos. Foram, desde a sua fundação em 753 AC, até a sua extinção com a queda de Constantinopla, em 1453 DC, que representou o fim do Império Romano do Oriente, a bagatela de 2206 (dois mil duzentos e seis) anos de uma fantástica história de vida! Mes mo se considerarmos que o Império Romano, tal como o conhecemos, com sua sede em Roma, tenha praticamente encerrado no ano 476 DC com a queda de Rômulo Augústulo em favor do hérulo Odoacro, quando já apenas governava a cidade de Roma, sempre será considerado um império magnífico.
A herança deixada pelos romanos é absolutamente inestimável. Ao mesmo tempo em que concretizavam a ocupação dos países que invadiam, introduzindo a sua cultura, lingua, arquitetura etc..., também respeitavam e absorviam os costumes correspondentes dos povos conquistados. Hoje é possível encontrar, até mesmo em povos de formação anglo-saxã, como é o caso dos ingleses e alemães, inúmeras palavras de origem latina que, se não utilizadas rotineiramente, são perfeitamente entendidas e muitas vezes usadas, até mesmo em situações mais especiais. Isso para não falar em países como Portugal, Espanha, França e todas as suas colônias e ex-colônias espalhadas pelo mundo, em que o latim, língua oficial do Império Romano, constitui a base de formação de seus idiomas. Aonde os romanos andaram, deixaram, além dos costumes e língua, vestígios da sua fantástica arquitetura.
Termas Romanas em Bath, UK
Apenas para ilustrar, há ainda hoje, no sudoeste da Inglaterra, próximo do País de Gales, uma cidade chamada Bath (Banho, em português) que tem esse nome exatamente porque possui ruínas, hoje totalmente recuperadas, de banhos termais construídos pelos romanos durante o período em que dominaram o país. Já no agora longínquo ano de 1972 tive o enorme prazer de conhecer tal cidade, vivendo uma espécie de retorno aos esquecidos tempos em que os generais, soldados e povo romano ocuparam a tão distante Inglaterra. Outro maravilhoso exemplo da conhecida arquitetura romana, é a ponte sobre o rio Gard, porção de um aqueduto romano situado no sul da França, perto de Remoulins, Uzès e Nîmes, construída em três níveis, que assegurava a continuidade do aqueduto que trazia água de Uzès até Nîmes (próximo de Marseille), na travessia do rio Gardon (também chamado rio Gard), provavelmente do século I AC, com 49 m de altura e 275 m de comprimento. Lembranças vivas do grandioso Império Romano!
Aqueduto romano na antiga Gallia (Espanha)
AVE ROMA!


(1) Fogo grego, também conhecido como fogo à prova de água, é uma mistura viscosa que flutua e queima até mesmo em contato com água, muito utilizada pelos bizantinos contra inimigos, em geral muçulmanos. Frequentemente armazenada em pequenos vasos de barro, podia ser lançada de muralhas e barcos, diretamente sobre o inimigo. Pouco se sabe da composição química dessa arma. Os bizantinos esconderam ou destruíram a fórmula, para evitar que caísse nas mãos de inimigos, mas uma provável hipótese é que algum composto variante de nafta.
(2) O canhão que veio a ser conhecido como Bombarda Turca, Basílica, Canhão Real ou Canhão de Mehmed, foi na verdade trazido da Hungria. O seu inventor, um engenheiro de nome Orban, apresentou-o ao sultão Mehmed II após uma tentativa falha junto ao então imperador Bizantino, Constantino XI, que a recusou, na grande ironia da História. O sultão viu naquele engenho grandes potencialidades e dispôs-se a financiar a construção de um protótipo. O projeto, extremamente complexo e oneroso, teria desinteressado Constantino. Durante meses, na cidade de Edirne, noroeste da Turquia, um exército de operários trabalhou sob a orientação de Orban, consumindo quantidades enormes de bronze e outras materiais necessários à fundição das duas peças que compunham o canhão. Ligadas, as duas peças formavam um tubo cilíndrico com 5.20m de comprimento, pesando cerca de 19 toneladas, com um calibre de 75 cm, arremessando bolas de pedra com este diâmetro e pesando cerca de 600 kg, a uma distância superior a 2 km.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 10

V.3.3 – O Império Romano do Oriente
De forma análoga como fiz na Parte 9 desta História sobre o Império Romano, lembro aos leitores do interesse e da necessidade de recorrerem, desta feita, ao "Anexo III – Imperadores do Império Romano do Oriente", que apresenta a relação completa dos Imperadores mencionados nesta e nas subsequentes publicações.
Em geral, a expressão “queda do Império Romano” refere-se ao fim do Império Romano do Ocidente, conforme vimos, ocorrido em 476 DC, com a tomada de Roma pelos hérulos. O Império Romano do Oriente, que posteriormente os historiadores denominariam Império Bizantino, continuou a existir por quase mil anos, até 1453, quando ocorreu a morte de Constantino XI e a queda de Constantinopla para os turcos otomanos. Embora o Império Bizantino tenha sido uma extensão real do Império Romano, por sua origem, civilização, cultura e língua, ao longo de sua própria evolução tornou-se um mundo totalmente diverso do que havia sido o Império Romano. Em vista disso, apenas brevemente caracterizaremos a sua formação e o seu término, dando com isso fecho ao nosso trabalho. 
Constantinopla (A) entre o Mar Negro e o Mar Egeu
O Bizâncio, brevemente Nova Roma, a duradoura Constantinopla e hoje Istambul foi, originalmente, um estado grego fundado, segundo a lenda grega, pelo Rei Bizas, que naquele local se instalou pela existência da faixa de água (Estreito de Bósforo) que ligava a Ásia à Europa e o mar negro ao Mediterrâneo, através do Mar de Mármara e do Mar Egeu. Bizas, filho do rei Nisos, era um colonizador grego da cidade dórica de Megara que consultou o oráculo de Apolo, em Delfos, que o instruiu a se estabelecer em frente à “Terra dos Cegos”. Conduzindo um grupo de colonizadores Megarianos, Bizas encontrou um local onde o Chifre Dourado, um grande porto natural, encontra o Bósforo e escoa no mar de Marmara, de fronte a Chalcedo, (atual Kadiköy). Ele decidiu que os Chalcedonianos deveriam ter sido cegos por não reconhecer as vantagens que a terra do lado europeu do Bósforo tinha sobre o lado asiático. Do lado europeu havia apenas dois povoados de pescadores: Lygos e Semistra. Em 667 AC ele fundou Bizâncio, onde eles se encontravam, assim cumprindo a busca do oráculo.
O Império Bizantino, inicialmente conhecido como Império Romano do Oriente ou Reinado Romano do Oriente, sucedeu ao Império Romano (cerca de 395 DC) como o império e reinado dominante do Mar Mediterrâneo, embora o Império Romano do Ocidente continuasse a existir com sua capital em Roma, com todas as dificuldades já relatadas.
Como vimos, o embrião do Império Bizantino surgiu quando o imperador romano Constantino I decidiu construir sobre a antiga cidade grega de Bizâncio uma nova capital para o Império Romano, mais próxima às rotas comerciais que ligavam o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro, e a Europa à Ásia. Além disso, já havia algum tempo que Roma era preterida por seus imperadores que optavam por outras sedes de governo, em especial cidades mais próximas das fronteiras ou onde a pressão política fosse menor. Em geral, eles tendiam a escolher Milão, mas as fronteiras que estavam em perigo na época de Constantino eram as da Pérsia, ao leste, e as do Danúbio, ao norte, muito mais próximas da região dos Estreitos Turcos. A nova capital, batizada de Constantinopla em homenagem ao imperador, unia a organização urbana de Roma à arquitetura e arte gregas, com claras influências orientais. Era uma cidade estrategicamente muito bem localizada e sua resistência a dezenas de cercos provou a boa escolha de Constantino. Em pouco tempo, a cidade renovada tornar-se-ia uma das mais movimentadas e cosmopolitas de sua época.
Sua religião, língua e cultura, eram essencialmente gregas, e não romanas, mas para os bizantinos a palavra "grego" significava, de maneira injuriosa, "pagão". Os persas e os árabes também chamavam os bizantinos de "romanos". Preferiram chamar a si mesmos, em grego, de romioi (povo grego cristão com cidadania romana), ao mesmo tempo em que desenvolveram uma consciência nacional como residentes da Romania, como chamavam o estado bizantino e seu mundo à época.
O Império Bizantino pode ser definido como um império formado por várias nações da Eurásia que emergiu como império cristão e terminou seus mais de mil anos de história em 1453 como um estado grego ortodoxo: o império se tornou nação. Ainda que os antigos gregos não fossem cristãos, os bizantinos os reclamavam como seus ancestrais.
A dissolução do estado bizantino no século XV não desfez imediatamente a sociedade bizantina. Durante a ocupação otomana, os gregos continuaram identificando-se como romanos e helenos, identificação que sobreviveu até princípios do século XX e que ainda persiste na moderna Grécia.
O termo bizantino começou a ser utilizado por historiadores do século XVII para se criar uma distinção entre o Império da Idade Média e o da Antiguidade. Tradicionalmente, era conhecido apenas como Império Romano do Oriente (devido à divisão do Império feita pelo imperador romano Teodósio I, no século IV da Era Cristã).
Teodósio. divisor do Império Romano
O último imperador do Império Romano unificado, Teodósio, dividiu o império em duas partes dando a parte Ocidental para seu filho Honório e a parte Oriental para seu outro filho Arcádio, que tornou-se o primeiro imperador independente do Império Romano do Oriente.
O sucessor de Arcádio foi Teodósio II. De fraco caráter, deixou-se influenciar por aqueles que o rodeavam, nomeadamente a sua irmã e a sua esposa. Desenvolveu uma política externa pouco brilhante e deixou os monofisitas triunfarem no Concílio de Éfeso(1). Após o papa Celestino I ter excomungado, em 430, Nestório, o patriarca de Constantinopla, cujas teses foram derrotadas no Concílio de Éfeso, Teodósio ordenou que toda a vasta obra do patriarca fosse queimada. O seu reinado foi marcado pelo alargamento das fronteiras do Império (apesar de algumas derrotas pesadas, como contra as forças hunas de Átila) e pela controvérsia religiosa. Mandou redigir o Código Teodosiano. 
Imperadores Marciano e Pulquéria
Com a morte de Teodósio II (lembrar sempre do "Anexo III - Imperadores do Império Romano do Oriente), Marciano foi escolhido para consorte pela irmã e sucessora de Teodósio, Pulquéria, e incumbido de governar um Império humilhado e empobrecido pelas incursões dos hunos. Ao tornar-se imperador, Marciano repudiou os constrangedores pagamentos de tributo a Átila, o Huno, que este costumava receber de Teodósio em troca de não atacar o Império do Oriente. Ciente de que jamais conseguiria tomar Constantinopla, Átila voltou-se para o ocidente e liderou as suas famosas campanhas na Gália em 451 e na Itália em 452, sem molestar o território bizantino.
Marciano reformou as finanças, controlou as extravagâncias e recolonizou os distritos devastados. Repeliu ataques da Síria e do Egito (452) e reprimiu distúrbios na fronteira com a Armênia (456). O fato marcante de seu reinado é o Concílio de Calcedônia (451), no qual Marciano procurou mediar os desentendimentos entre as escolas rivais de teologia. Marciano evitou envolver-se nos destinos do Império do Ocidente, nem mesmo com as incursões de Átila e o saque de Roma pelos vândalos (455). Em 453, pouco antes de morrer, Átila voltaria a entrar em conflito com Marciano, morrendo antes de iniciar uma guerra aberta. Marciano morreu em 457 de uma doença, possivelmente gangrena, contraída durante longa uma peregrinação religiosa. Apesar de seu reinado breve e de sua aversão a envolver-se com o ocidente, Marciano é considerado um dos melhores dentre os primeiros imperadores bizantinos A Igreja Ortodoxa considera-o e a sua mulher Pulquéria como santos, celebrados em 17 de fevereiro.
Marciano, sem ter um varão para sucedê-lo no trono, tornou-o vago; entretanto, o general Aspar encarregou-se de colocar no trono alguém que lhe favorecesse: o militar Leão, assim iniciando a dinastia Leônica (457 a 518 DC), em que sobressaiu-se o imperador Zenão I. Foi nessa época que, numa tentativa de recuperação da península Itálica, enviou o rei gótico Teodorico para depor Odoacro. Teodorico assassinou-o em 493 tornando-se o primeiro governante da Itália, livrando o império Oriental de um subordinado indisciplinado e mantendo uma forma nominal de supremacia de suas terras. 
Imperatriz Teodora
Imperador Justiniano I
Na dinastia Justiniana (518 a 610 DC), que a sucedeu, destacou-se o reinado do Imperador Justiniano I, que reinou com sua esposa Teodora, durante cujo reinado foi construída a Basílica de Santa Sofia, um dos principais monumentos da arquitetura bizantina.
Heráclio deu início à dinastia Heracliana (610 a 717 DC), que se envolveu em batalhas desastrosas contra o império Sassânida (último império Persa pré-islâmico), tendo saído vencedor em 629, mas totalmente enfraquecidos e vulneráveis ambos às forças árabes muçulmanas que surgiram nos anos seguintes; a partir de 649 o império começou a sofre ataques navais dos árabes. Durante este período, a cidade de Constantinopla reduziu consideravelmente o seu tamanho, caindo sua população de cerca de 500.000 para apenas algo como 60.000 habitantes. A dinastia Heracliana chegou ao fim em 717, poucos anos após a segunda deposição de Justiniano II. 
Basílica de Santa Sofia, de pura arquitetura bizantina
A dinastia Isauriana ou Isáurica (717 a 802) iniciou-se com o reinado de Leão III, o Isáurico e encerrou-se com Irene, primeira imperatriz do Império Romano do Oriente, o que teria levado o Papa Leão III a coroar Carlos Magno como imperador do Ocidente; durante esse período foram travados inúmeros combates com árabes e búlgaros, principalmente. (Figura da Imperatriz Teodora II)
A dinastia dos Focas (802 a 820), de expressão muito pequena, foi substituída pela dinastia Amoriana (820 a 867), em que reinou, entre outros, Teodora II, esposa de Teófilo, desde a sua morte em 842, até 855. Ao seu final, o império tinha restabelecido sua posição tanto no oriente como no ocidente e a eficiência e sua estrutura militar defensiva permitiu que seus imperadores começassem a planejar as guerras de reconquista, no leste. 
Irene, primeira Imperatriz do Império do Oriente
O processo da reconquista iniciou com a dinastia Macedônica (867 a 1057) e o reinado de Basílio I que manteve guerras diversas, principalmente contra os muçulmanos que ameaçavam o império. Neste período, a situação na fronteira com os árabes permaneceu instável, com os bizantinos alternando entre ofensivas e defensivas e poucas mudanças no cenário de fronteiras. Durante esta dinastia foram também movidas batalhas contra os búlgaros e contra o novo Principado de Kiev, com a derrota definitiva dos primeiros em 1018 e a adesão dos últimos ao Império do Oriente. O século XI foi também de grande importância para os seus eventos religiosos. Em 1054, as relações entre as tradições ocidentais e orientais dentro da Igreja Cristã chegaram a uma crise terminal, com a cisão definitiva entre a Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma e a Igreja Ortodoxa Grega, com sede em Constantinopla, através do Grande Cisma do Oriente, encerrando séculos de separação gradual. A dinastia encerrou-se com os turcos seljúcidas fazendo as suas primeiras incursões do outro lado da fronteira bizantina, em 1065 e 1067. Até 1081, os seljúcidas expandiram seu domínio sobre quase todo o planalto da Anatólia e Armênia, a leste da Bitínia, no oeste, e fundaram sua capital em Niceia, a apenas 88 km de Constantinopla.
Aqui cabe um pequeno parênteses para o melhor entendimento do que ainda virá, até a tomada de Constantinopla. Os turcos seljúcidas eram uma tribo de nômades, conduzidos por Seljuque, que se instalaram perto de Bucara (agora no Uzbequistão) no final da década de 900. Alguns desses guerreiros partiram a seguir para a conquista de novas terras mais para o ocidente. Em 1071, Alp Arslan conduziu os seus homens para a Armênia, onde foi atacado por um exército bizantino sob o comando do imperador Romano IV Diógenes, fatal para os bizantinos. Os turcos fingiram fugir, cercaram o inimigo e derrotaram-no, capturando o imperador, que afinal foi libertado mediante o pagamento de resgate. Tal batalha acabou com o poderio bizantino na Ásia Menor. Os seljúcidas avançaram e fundaram um império que daria origem ao Sultanato de Rum, o primeiro império turco na Anatólia e predecessor do Império Otomano. Sob o governo do xá Malik (1055—1092) atingiram o seu auge. Em 1078 tomaram Jerusalém. A reação da cristandade à tomada de Jerusalém deu origem às famosas Cruzadas. 
Imperador Aleixo I Comneno
A dinastia Comnena (e Proto Comnena, 1057 a 1185) iniciou com uma grande tentativa de restauração do Império, enfrentando lutas contra os normandos, os seljúcidas, embora sem recursos humanos suficientes para recuperar os terrenos perdidos na Ásia Menor e sem poder avançar contra os últimos. Em 1095, enviados do imperador Aleixo falam com o Papa Urbano II sobre o sofrimento dos cristãos do Oriente, e ressaltam que sem a ajuda do Ocidente, eles continuariam a sofrer sob o domínio muçulmano. Como resposta, Urbano II convoca o Concílio de Clermont, e exorta os presentes a pegar em armas sob o signo da cruz, iniciando uma peregrinação armada para recuperar Jerusalém dos muçulmanos no Oriente. A resposta da Europa Ocidental foi esmagadora. Com a formação dessa “Primeira Cruzada”, Aleixo recuperou um número importante de cidades e ilhas e muito do oeste da Ásia Menor, marcando o fim da ameaça normanda durante o reinado de Aleixo I. Durante o reinado de Manuel I, ocorreu a formação da “Segunda Cruzada”, sempre com o objetivo de manter à distância os turcos otomanos e a sua aliança com o Reino Cruzado de Jerusalém (resultado da Primeira Cruzada), reforçando sua posição como senhor dos estados cruzados e aumentando consideravelmente os domínios do Império. Sob o governo Comneno o Bizâncio foi mais próspero do que em qualquer momento desde a invasão persa no século VII. Durante o século XII, os níveis da população elevaram-se e grandes novas extensões de terras agrícolas foram colocadas em produção. Evidências arqueológicas da Europa e Ásia Menor mostram um aumento considerável do tamanho dos assentamentos urbanos, juntamente com o aumento notável de novas cidades. O comércio também florescia: venezianos, genoveses e outros abriram as portas do mar Egeu para o comércio, o transporte de mercadorias dos reinos cruzados de Ultramar e do Egito do califado fatímida para o oeste, bem como o comércio com o império bizantino via Constantinopla. Em termos artísticos, houve um ressurgimento de mosaicos e as escolas regionais de arquitetura começaram a produzir estilos distintos que se basearam em uma série de influências culturais. 
Concílio de Clermont, origem da Primeira Cruzada
Ao final da dinastia Comnena, Andrônico I assumiu o trono através de um golpe de estado e suas medidas tomadas para reformar o governo do Império são elogiadas pelos historiadores, como acertadas e austeras, para eliminar a corrupção reinante, o que acabou por transformá-lo em um império de terror. Reincorporou ao Império alguns territórios, perdeu outros tantos, sofreu invasões dos turcos, da Armênia, dos húngaros e sérvios, além de sofrer atos de pirataria por parte de Veneza. Uma forte investida de Guilherme II da Normandia, com sua armada, acabou por causar a queda e o assassinato de Andrônico I em favor da ascensão de Isaac II Ângelo que iniciou a dinastia dos Ângelos (1185 a 1204). O seu reinado e, mais ainda, de seu irmão Aleixo III, viu o colapso do que restava da máquina do governo centralizado bizantino e da defesa. Embora, os normandos tenham sido expulsos da Grécia após uma derrota decisiva em setembro de 1085, em 1186 os valáquios (da Romênia) e os búlgaros começaram uma rebelião que levaria à formação do Segundo Império Búlgaro. A política interna dos Ângelo foi caracterizada pelo esbanjamento do tesouro público e uma má administração fiscal. A autoridade bizantina foi seriamente enfraquecida, e o vácuo crescente no poder central do império encorajou a fragmentação. De acordo com o historiador Alexandre Vasiliev, "a Dinastia Ângelo, gregos em sua origem, [...] acelerou a ruína do império, já enfraquecido com desunião interna". Esta dinastia assistiu à tomada de Constantinopla pela Quarta Cruzada, em abril de 1204 e ao seu saque pelos venezianos, em episódio que nunca foi totalmente esclarecido, mas no qual se envolveram todos os governantes do Império à época, restando o trono para Aleixo IV. Este acabou sendo assassinado e lhe sucedeu Aleixo V Ducas que acabou fugindo, deixando Constantinopla entregue agora ao Império Latino. Ao Império Bizantino restou apenas o domínio de Niceia, Trebizonda e Épiro, que se tornaram estados bizantinos sucessores. Destes, Épiro e Niceia ficaram com a melhor chance de recuperar Constantinopla e Teodoro I Láscaris, proclamado novo imperador, refugiou-se na cidade de Niceia (atual Iznik, na própria Turquia), de onde governou o Império Bizantino no exílio, iniciando a dinastia de Láscaris (1204 a 1258).

(1) O Concílio de Éfeso foi o terceiro Concílio Ecumênico (de caráter Universal) da história, realizado na cidade de mesmo nome, situada na costa ocidental da Ásia Menor, próxima à atual Selçuk, Turquia, no ano 431 DC. Tal Concílio condenou o Nestorianismo (de Nestório), que pregava a desunião entre as naturezas humana e divina de Cristo, como heresia, afirmando uma única natureza em Cristo (Monofisismo) e a maternidade divina de Maria. O Concílio seguinte, de Calcedônia, em 451, condenou o Monofisismo, afirmando o Diofisismo, unidade das duas naturezas (humana e divina) completas e perfeitas em Cristo.

Conclui na Parte 11.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 9

V.3 – A DIVISÃO: IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE E IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE

Neste ponto torna-se importante que conceituemos e bem situemos os leitores naquilo que hoje se denomina “Império Romano do Ocidente” e “Império Romano do Oriente”, prelúdio do fim do Império Romano. Entretanto, no início mesmo desta postagem, lembro do interesse e da necessidade de recorrerem os meus leitores ao Anexo II – Imperadores do Dominato, que apresenta a relação completa dos Imperadores que são mencionados nesta e nas subsequentes publicações.

V.3.1 – O Império Romano do Ocidente.
O Império Romano do Ocidente constituía a metade ocidental do Império Romano após a sua divisão por Diocleciano, em 286 DC, e que existiu, intermitentemente, em diversos períodos entre os séculos III e V, após o estabelecimento da sua Tetrarquia e as reunificações associadas a Constantino e seus sucessores. Embora unido linguisticamente - e, mais tarde, sob o cristianismo romano -, o Império Romano do Ocidente englobava, na verdade, grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas de maneira incompleta pelos romanos, diferentemente do Império Romano do Oriente, que falava o grego e era culturalmente unificado desde as conquistas de Alexandre o Grande no século IV AC. Se o Oriente helenístico sustentava-se em torno da cultura grega e da Igreja Ortodoxa, a unidade cultural do Ocidente foi gravemente afetada pelo influxo dos bárbaros, muitas vezes de forma pacífica, mesmo contratados pelos romanos como exércitos auxiliares.
Os maiores inimigos no Ocidente, sem dúvida, foram sempre as tribos germânicas atrás dos rios Reno e Danúbio, que Augusto tentara conquistar, em vão. Outro problema sério no Ocidente foi sempre a reação política causada pelo paganismo nativo contra os imperadores cristianizados. Além disso, o Império do Ocidente passaria a experimentar um forte declínio econômico – o que não ocorreu no Oriente -, especialmente por terem, imperadores como Constantino I e Constâncio II, investido vastas somas de dinheiro na economia deste último; tal declínio econômico do Ocidente seria fator importante no posterior colapso dessa área do império; sem impostos suficientes, o estado não conseguia manter um caro exército profissional e seria forçado, cada vez mais, a contratar mercenários.
Assim, após um curto período de estabilidade durante o reinado do imperador Flávio Augusto Honório, controlado por Estilicão (1)  e encerrado com a morte deste último, em 408, os dois impérios realmente divergiram e enquanto o Oriente começava uma lenta recuperação e consolidação, o Ocidente começava a colapsar completamente. Enquanto o poder enfraquecia, o Estado também perdia o controle das fronteiras e províncias e o vital controle do mar Mediterrâneo. Imperadores romanos tentaram manter forças exteriores fora do controle do mar, mas uma vez que os Vândalos conquistaram a África do Norte, as autoridades imperiais tinham que cobrir muito território com escassos recursos. As instituições políticas romanas entraram em colapso junto com a estabilidade econômica.
Embora Honório tenha governado até sua morte em 423, seu governo foi marcado por usurpações e invasões, especialmente de vândalos e visigodos. Ao final do século IV, o império começou a desintegrar-se com bárbaros do norte desafiando o controle da Roma cristã. Em 410, Roma foi saqueada por forças exteriores pela primeira vez em mais de 800 anos, pelos visigodos comandados por Alarico I e, aos poucos, a parte Ocidental do império passou a ser governada pelas tribos invasoras. A instabilidade causada por usurpadores no império ocidental ajudou essas tribos em suas conquistas, e no século V, as tribos germânicas tornaram-se os usurpadores. Apesar de breves períodos de reconquista pelo Império Romano do Oriente, o Império do Ocidente não conseguiria reerguer-se.
Imperador Júlio Nepos em moedas
Em 475, Flávio Orestes, um antigo secretário de Átila, o Huno, forçou a retirada do imperador Júlio Nepos de Ravena e proclamou seu próprio filho Rômulo Augústulo (Figura de Rômulo Augústulo) como imperador, considerado o último do Império Romano do Ocidente. Em 476, Orestes recusou-se a conceder aos Hérulos, liderados por Odoacro, o status de foederati (uma espécie de aliado subsidiado). Odoacro então saqueou Roma e mandou a insígnia imperial para Constantinopla, instalando-se como rei sobre a Itália, com a abdicação de Rômulo Augústulo. Embora alguns pontos isolados do governo romano continuassem até depois de 476, a cidade de Roma em si estava sob o comando dos bárbaros e o controle de Roma sobre o Ocidente havia efetivamente acabado. As localidades remanescentes seriam conquistadas em uma década.
Último imperador Rômulo Augústulo

V.3.2 - Migrações dos Povos Bárbaros

Acho muito importante que façamos uma breve incursão a este assunto, para que bem possamos entender a influência que tiveram os povos bárbaros sobre o Império Romano e as condições em que elas ocorreram determinando, ao final, a sua divisão em dois impérios. Infelizmente, é impossível seguir uma sequência totalmente cronológica, pois os acontecimentos muitas vezes se superpõem e sempre preferimos bem localizar totalmente um grande evento para, posteriormente, apresentar outro evento. Este é o caso, pois essas invasões, realmente, iniciaram ainda antes da divisão do Império Romano no Império Romano do Ocidente e no Império Romano do Oriente, e prosseguiram após, como muito de leve deixamos entrever.
Na História da Europa, dá-se o nome de “invasões bárbaras”, ou “período das migrações”, à série de movimentos de vários povos que ocorreu entre os anos 300 e 800, a partir da Europa Central, e que se estenderia a todo o continente. A referência aos “bárbaros”, nome cunhado pelos gregos e apenas significando estrangeiro, foi usada pelos Romanos para designar os povos que não partilhavam os seus costumes e cultura (nem a sua organização política). Estas migrações nem sempre implicaram violentos combates entre os migrantes e os povos do Império Romano, embora estes tenham existido. Em muitos casos, os povos migrantes coexistiram, pacificamente, com os cidadãos do Império Romano.
Os historiadores modernos dividem este movimento migrante, cujas razões são ainda incertas, em duas fases: na primeira, de 300 a 500, assistiu-se a uma movimentação de povos majoritariamente germânicos por toda a Europa, colidindo, portanto, com as várias regiões ocupadas pelo Império Romano. Na segunda fase, entre os anos 500 e 700, assiste-se ao estabelecimento progressivo dos Eslavos na Europa do Leste, num movimento iniciado pela ocupação da região da atual República Checa.
O progressivo desmembramento do império, aliado ao incremento da corrupção e escassez de meios para controlar e fortificar as fronteiras, levou à canalização do esforço defensivo para as regiões críticas do império, como a própria capital. Como consequência, as fronteiras tornavam-se cada vez mais instáveis e, finalmente, devido à pressão dos Hunos (2) oriundos de nordeste, as populações bárbaras adensaram a penetração no império, na tentativa de manterem-se protegidas. Derrotados pelos Hunos, parte dos Ostrogodos conseguiu fugir para oeste, aliando-se aos Visigodos, enquanto que o restante passou a integrar, tal como os Alanos e Sármatas, a poderosa cavalaria huna. Também os Visigodos foram derrotados pelos Hunos e, sem escapatória, pediram asilo nas terras do Império Romano, que seria consentido pelo imperador Valente. Dava-se assim a entrada de todo um povo ameaçado pelos hunos, como prelúdio para as grandes invasões. A penetração foi pacífica, porém os romanos passaram a explorar, de forma sórdida, os visigodos. Estes se rebelaram e surpreendentemente venceram os romanos na Batalha de Adrianópolis em 378.
Os limites do Império Romano no século IV, já dividido em Ocidente e Oriente, faziam fronteira com várias culturas não romanizadas: na África, os Berberes (3) e as tribos do Sudão; ao norte, desde a península escandinava em direção ao mar Negro; na região além do Reno e o Danúbio, os Germanos, (4) populações tipicamente nômades. No entanto, estes grupos já conheciam muitos aspectos do império e, como dissemos, alguns transitavam livremente dentro de suas fronteiras.
As relações entre bárbaros e romanos não se limitavam, contudo, à esfera comercial e cultural: o exército romano ia-se transformando num corpo profissional profusamente incorporado por mercenários que, sucessivamente, iam substituindo as legiões e a aristocracia, chegando mesmo a ingressar na família imperial — um filho de Teodósio II desposou a filha do vândalo Estilicão. A sucessiva falta de mão-de-obra no campo obrigava o império a permitir a entrada destes povos, formando assim assentamentos caracterizados distintamente: os federados (foedera), ligados a Roma por um contrato, aos quais era permitida a preservação dos costumes, organização social e política, em troca da prestação de serviço militar. No decorrer do século IV, estes tratados de federação proliferaram substancialmente, na tentativa de vencer a crise que se aproximava.
Várias tribos germanas se instalaram pacificamente no interior do império, chegando mesmo a integrar o exército romano, quer como soldados, quer como mercenários, contribuindo reciprocamente na defesa das fronteiras. Este fenômeno ganhou particular dimensão após a crise do terceiro século. Por volta do ano 400, entre trinta e cinquenta por cento do exército romano era composto de mercenários germânicos. Sem outra saída, alguns grupos bárbaros foram alistados no exército de Roma como unidades inteiras para ajudar na defesa contra outros grupos. Isso foi muito popular durante as guerras civis do século IV, quando aspirantes ao trono romano precisavam levantar exércitos rapidamente. Essas unidades bárbaras mantinham seus próprios líderes e não tinham a lealdade e a disciplina das legiões. 
Átila, o Flagelo de Deus
No século V ocorreu um afluxo exorbitante de povos bárbaros em busca de proteção contra os Hunos chefiados por Átila que se mobilizavam em direção à Europa latina. Observando a incapacidade do imperador romano de defender o território, o Papa Leão I confrontou pessoalmente Átila, em Mântua, numa conversa cujo teor nunca foi descrito, logrando fazê-lo desistir de invadir a cidade em troca de um tributo considerável. Átila morreu em 455, antecipando o colapso do império huno.
Os Visigodos, (5) inicialmente contratados pelo Imperador Graciano, que lhes deu terras, para ajudar na defesa das fronteiras do Império, foram os primeiros a chocar-se com os romanos, sendo mais tarde responsáveis pela invasão da península Itálica. Chefiados por Alarico I, revoltaram-se contra a exploração dos funcionários romanos em 401. Entraram na península Itálica e invadiram a planície do Pó, mas foram repelidos. Em 408, atacaram pela segunda vez e desta vez chegaram às portas de Roma. O chefe godo entrou em Roma em 24 de agosto de 410 e pilhou a capital do império por três dias após o que partiu para o Sul da Itália, com o objetivo de atingir a África, o que não conseguiu pela perda da frota e a sua morte precoce. Seu substituto, Ataulfo, estabeleceu-se na Gália e estendeu os seus domínios até a península Ibérica, conseguindo afastar os Alanos e os Vândalos e acabou como aliado dos romanos.
Em 406, os Alanos, (6) Suevos (7) e Vândalos (8) atravessaram a fronteira do Reno e entre 407 e 409 saquearam a Gália e, em seguida se apoderaram da Hispânia. Estilicão foi obrigado a chamar as legiões estacionadas na Britânia e na Gália do norte, acabando assim com o domínio romano sobre a Britânia. Esses povos bárbaros fundaram na África, em 429, o primeiro reino independente em solo do império. Os Suevos seriam empurrados pelos Alanos para noroeste, fixando-se na Galécia (antiga província romana na Hispânia, a noroeste da Península Ibérica, correspondendo aos territórios da atual Galiza, norte de Portugal, Astúrias e o antigo reino de Leão) enquanto que os segundos foram etnicamente absorvidos pelos Vândalos em direção à África. Nesta movimentação, os vândalos, sob a liderança de Genserico, sitiaram a cidade africana de Hipona, onde morreu Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), em agosto de 430, e ocuparam Cirta e Cartago, ao cabo de grande resistência. Apoderam-se em seguida das Baleares, da Córsega, da Sardenha e da Sicília. Por suas divergências religiosas de sua vertente ariana contra o catolicismo romano, os vândalos confrontar-se-iam, daí para a frente, várias vezes com o império, chegando mesmo a saquear Roma, em 455. Em 470, o império mediterrânico dos Vândalos estendeu-se do Norte de África às ilhas mediterrânicas. A dominação sueva foi terminada pelos visigodos quando da sua invasão bárbara da Península Ibérica, enquanto o reino vândalo foi conquistado por Belisário. 
Odoacro recebe a coroa de Rômulo Augústulo
Em 463 chegaram à península Itálica os Daneses, em seguida os Hérulos (9) liderados por Odoacro e, finalmente, os Ostrogodos liderados por Teodorico. O último imperador romano do Ocidente, Rómulo Augústulo, tinha sua autoridade praticamente restrita à cidade de Roma quando os hérulos, que faziam parte do exército romano, depuseram-no em 476, colocando no poder seu chefe, Odoacro, que se intitulou rei de Itália. Assim acabou-se definitivamente a autoridade do Império Romano do Ocidente. A historiografia escolheu essa data para marcar a Queda do Império Romano e assinalar o fim da Idade Antiga e o início de Idade Média.
Em resumo, na Península Itálica, o rei dos hérulos, Odoacro, depôs Rômulo Augústulo, último soberano do Império Romano do Ocidente, tomou o trono romano e reinou até que seu reino na Itália fosse conquistado pelos ostrogodos. Os reis listados a seguir reinaram em territórios da Itália, adotando Roma ou outras cidades, como capital, porém nenhum deles adotou o título de Imperador Romano, que continuou sendo usado pelos soberanos do Império Romano do Oriente que, por sua vez, continuou por muito tempo reivindicando os territórios na península Itálica, ocasionando conflitos conhecidos como Guerras Góticas.

Odoacro (476-493);

Reis ostrogodos da Itália

Teodorico o Grande (493-526);
Atalarico (526-534);
Teodato (534-536);
Vitige (536-540);
Ildibaldo (540-541);
Erarico (541);
Totila (541-552);
Teia (552).

Teia foi derrotado e morto pelo general bizantino Narses, e com ele terminou o domínio ostrogodo na Itália.
A Gália, que já assistira à passagem de muitos dos povos germânicos migrantes deste período, vinha sendo assediada pelos Francos (10) desde o século II. Em grande parte devido à sólida estrutura política, souberam sobreviver à fase das migrações e fixaram-se definitivamente na Gália Belga (Renânia, Bélgica e Artois), cerca de 430, também com o consentimento do Império Romano, como federados, ajudando a defender as fronteiras, durante algum tempo. Destaca-se a aliança de Childerico I com o império contra os Visigodos. Com efeito, foi a primeira dinastia de reis francos, a dos Merovíngios, que conseguiu erradicar a presença alamana, burgúndia e visigótica. Começava assim, sutilmente, a expansão do império Franco, anexando vários territórios vizinhos. O seu rei Clóvis (482-511), converteu-se para o cristianismo e promoveu uma aliança com a Igreja Católica. Em 594 os Francos deslocaram-se para o norte de Itália, travando violentos confrontos com os governantes locais.
Enquanto o desmembramento do Império Romano se tornava inevitável os Bárbaros assimilavam a língua e grande parte dos costumes romanos, enquanto introduziam, mais ou menos harmoniosamente, os hábitos e termos germânicos. Terminava assim o Império Romano do Ocidente, mas a civilização persistia: as instituições políticas, como o senado e o consulado subsistiram entre os bárbaros. Em 493, o chefe ostrogodo Teodorico tomou o poder na Itália, fazendo-se reconhecer como representante legítimo do imperador bizantino. Permaneceram intatos o estatuto do latim como língua oficial e as estruturas sociais; o grande obstáculo então eram as diferenças de religiões: o choque entre o catolicismo e o arianismo (Cristianismo em que Cristo é considerado como filho de Deus sem se confundir com o próprio Deus).
A reconquista da Itália pelos exércitos bizantinos, na Guerra Gótica, sob o imperador Justiniano I conseguiria restabelecer por algum tempo a unidade imperial, reconquistando também o norte da África e parte da Hispânia. O reino Vândalo foi, portanto, destruído em 534, enquanto que na península Ibérica a monarquia visigótica foi seriamente enfraquecida. Entretanto, as medidas de Justiniano durariam pouco tempo. Na verdade, o enfraquecimento das regiões reunificadas seria a principal causa para o impacto do surgimento do Islão, cujas repercussões se verificaram na península Ibérica e no corte de ligações entre as duas metades do Império Romano.



(1) Flávio Estilicão, nascido em território da moderna Alemanha, de pai vândalo e mãe cidadã romana, portanto de origem bárbara, mas sempre se considerando romano, foi patrício do Império Romano do Ocidente e cônsul. Figura histórica extremamente controversa, considerado fiel à causa do Império Romano do Ocidente, mas com políticas cujos efeitos sobre este Império podem ser consideradas, pelo menos, ambíguas.

(2) Os Hunos eram uma antiga confederação de nômades ou seminômades equestres da Ásia Central.
(3) Os berberes são um conjunto de povos do Norte de África que falam línguas berberes, da família de línguas afro-asiáticas. Estima-se que existam entre 58 e 75 milhões de pessoas que falam estas línguas, principalmente em Marrocos e Argélia, mas também fazendo parte deste grupo, os tuaregues, predominantemente nômades do Sahara.
(4) Povos germânicos ou Germanos são um grupo etno-linguístico indo-europeu originário do norte da Europa e identificado pelo uso das línguas indo-europeias germânicas. Originários há cerca de 1800 AC na planície norte alemã, os povos germânicos expandiram-se para o sul da Escandinávia e para o rio Vístula durante a Idade do Bronze Nórdica, atingindo o baixo Danúbio em 200 AC.
(5) Os visigodos foram um dos dois ramos em que se dividiram os godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o outro os ostrogodos. Após a queda do Império Romano do Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que se seguiram, particularmente na península Ibérica, onde substituíram o domínio romano na Hispânia, aí reinando de 418 até 711, data da invasão muçulmana. A opinião mais consagrada considera a origem da palavra na denominação de "godos do oeste", do alemão "Westgoten" ou "Wisigoten", em comparação com os ostrogodos ou "godos do leste" - em alemão "Greutungen", "Ostrogoten" ou "Ostgoten".
(6) Os alanos constituíam um povo com origem no nordeste do Cáucaso, entre o rio Don e o mar Cáspio. Migraram em direção ao ocidente durante os séculos IV e V, interferindo no Império Romano.
(7) Os suevos foram um grupo de povos germanos oriundos da região entre os rios Elba e Oder, na atual Alemanha. O historiador romano Tácito chegou a referir-se a todos os germanos do além-Elba como "suevos".
(8) Os Vândalos eram uma tribo germânica oriental que, além de penetrar no Império Romano durante o século V, criou um estado no norte da África, centralizado na cidade de Cartago.
(9) Os hérulos foram um povo germânico, originário do sul da Escandinávia.
(10) Os francos formavam uma das tribos germânicas que adentrou o espaço do Império Romano a partir da Frísia como foederati e estabeleceu um reino duradouro na área que cobre a maior parte da França dos dias de hoje e na região da Francônia na Alemanha, formando a semente histórica de ambos esses países modernos.

Prossegue na Parte 10

domingo, 14 de julho de 2013

BREVE HISTÓRIA DO IMPÉRIO ROMANO - PARTE 8

V.1.2 – A Crise do Terceiro Século

Este foi o nome dado a uma série de acontecimentos catastróficos ocorridos no Império Romano ao longo do Século III, mais precisamente do ano 235 ao ano 284. Neste período, o império foi governado sucessivamente por cerca de dezoito imperadores "legítimos" (ver o anexo “Imperadores do Principado”). A maioria deles era de proeminentes generais que assumiram o poder imperial sobre todo ou parte do império, somente para perdê-lo por derrota em combate, assassinato, ou morte natural, governando, em média, apenas dois a três anos. O número exato de imperadores do período é desconhecido, pois não considera os nomeados junto com pais e colegas, além de desconsiderar os pretendentes.
Ao final do século II, uma guerra civil de sucessão aconteceu, que abalou profundamente o império. Na primeira metade do século seguinte, o império se manteve próspero e extenso, até que o poderoso Império Sassânida(1), ao leste, iniciou ataques ao Império Romano. No ano 260, foram capturados o imperador Valeriano e todo o seu exército de 70 mil homens e, sem muita defesa, as províncias do leste foram devastadas. A peste bubônica espalhou-se pelo império tornando-se uma epidemia. Além desses problemas, o Império Romano ainda iria se deparar com outro poderoso inimigo ao norte, os godos, povo de origem germânica, das regiões meridionais da Escandinávia. O avanço da peste e os fracassos militares do império eram tão frustrantes que o povo passou a buscar novas crenças e rituais para afastar os perigos, ao mesmo tempo em que se intensificou a perseguição aos cristãos, sempre culpados do infortúnio do momento.
Uma característica marcante observada na crise do terceiro século foi a fraqueza demonstrada pelos imperadores em manter, de forma prolongada, o controle sobre o império. Essa série de imperadores fracos foi, de certa forma, um reflexo da extensa militarização do império. Em outras palavras, Roma foi abandonando gradativamente seu caráter aristocrático, percebido anteriormente nos poderes investidos ao senado romano, para tornar-se um império militar. Esse processo de enfraquecimento do senado romano foi acompanhado pelo fortalecimento, cada vez maior, das legiões romanas nas decisões relativas à escolha dos imperadores, em função de seus interesses imediatos e, por consequência, na administração do império. Isso levou, inevitavelmente, à escolha de imperadores despreparados e incompetentes.
Foi também durante a “Crise do Terceiro Século” que algumas das Províncias Romanas efetivaram rebeliões contra o governo central e que mencionaremos de passagem, considerando que os imperadores que surgiram com essas rebeliões constam da “Relação dos Imperadores do Principado”. 
Império das Gallias (verde) e Palmira (amarelo) no Império Romano (vermelho)

a) O Império das Gallias
O Império das Gálias (em latim Imperium Galliarum) é o nome moderno dado à secessão das províncias romanas da Gália, Britânia, parte de Hispânia e parte de Germânia, do Império Romano durante a “Crise do Terceiro Século”, de 259 a 274, também conhecido como Império Galo-Romano.
Seu fundador, Marco Cassiano Latínio Póstumo, estabeleceu a capital do Império em Trier, no atual estado alemão da Renânia-Palatinado.
Imperador Póstumo
Em seu trono sucederam-se uma série de usurpadores que se proclamaram imperadores romanos e são conhecidos principalmente pelas moedas que cunharam. O imperador romano da época, Galiano, empreendia uma campanha contra os marcomanos(2)  no médio Danúbio, enquanto o general Póstumo assumia a defesa da Récia (província romana na atual Suíça). O general aproveitou-se dessa posição e assumiu o trono imperial na Gália. O estabelecimento do Império das Gálias proporcionou uma resposta mais eficaz às invasões germânicas do que poderia oferecer o imperador Galiano, ocupado com a fronteira no leste e no Danúbio.
O império das Gálias foi recuperado para Roma pelo imperador Aureliano, que com uma série de campanhas militares conseguiu restabelecer o poder imperial no Ocidente e também no Oriente, onde havia sido proclamado o Reino de Palmira. 
Imperador Galiano

b) O Império de Palmira
A Palmira (hoje chamada de Tadmor) era uma antiga cidade na Síria central, localizada num oásis a cerca de 210 km a nordeste de Damasco. Sua localização estratégica, aproximadamente ao meio da distância que vai do Mar Mediterrâneo até ao rio Eufrates, tornou-a um ponto de paragem obrigatório para muitas das caravanas que seguiam por aí a sua rota comercial. O nome "Palmira" refere-se, tal como o prenome feminino, às palmeiras, árvore que, supostamente, existiria aí em grande quantidade.
Palmira tornou-se parte da província romana da Síria durante o reinado de Tibério (14 a 37 DC). A cidade continuou a desenvolver-se e a ganhar importância até que se tornou uma cidade livre, sob o império de Adriano, em 129. No século III, a sua rainha, Septímia Zenóbia criou alguns embaraços ao Império Romano ao autoproclamar-se rainha do reino de Palmira (Império de Palmira); mas em 272, o imperador romano Aureliano capturou-a e levou-a para Roma. Depois de expô-la numa parada triunfal, acorrentada a cadeias de ouro, permitiu-lhe que se retirasse para uma vila em Tibur (hoje, Tivoli, Itália) onde continuou a ter um papel politicamente ativo, durante anos. 
Imperador Aureliano

c) Imperadores Ilírios
Não se tratando propriamente de uma dinastia, é antes de tudo um conjunto de imperadores romanos que, devido à sua origem comum, ficaram conhecidos como "Ilírios". A Ilíria é uma região histórica que corresponde, aproximadamente, à antiga Iugoslávia no período entre 268 e 285. Os imperadores Ilírios ficaram famosos também por serem quase todos militares. Com Cláudio II, o Gótico (268-270), inaugura-se precisamente essa época, em que quase todos os imperadores provinham da Ilíria, que compreendia a Dalmácia, região fortemente romanizada na costa do Adriático e toda a área montanhosa adjacente, também indelevelmente marcada pela ação civilizadora romana. Apesar da escassa duração deste período Ilírio, conseguiu-se nessa época restabelecer, pela força, a unidade do Império, então muito abalada. A sucessão desses imperadores pode ser vista na relação anexa (Imperadores do Principado). Os Ilírios foram, de fato, os últimos imperadores da unidade e da afirmação da coesão do Império, que não lhes sobreviveu como unidade geopolítica una e indivisível.
Com a crise do terceiro século, começaram as transformações que, mais de um século depois, levariam ao fim do período histórico conhecido como Antiguidade e o início da Idade Média. Foram os sucessos de Aureliano que, efetivamente, encerraram a Crise do Terceiro Século do Império Romano, rendendo-lhe o título de “Restaurador do Mundo”.

V.2 – O DOMINATO

O Dominato, palavra que se origina de dominus (senhor), é o período do Império Romano que vai de 284 DC, com Diocleciano, a 565 DC, data da morte de Justiniano. O Dominato foi uma monarquia despótica e militar, do tipo helenístico, sob a influência de ideias orientais, em que o princeps converteu-se em dominus, isto é, em amo ou governante absoluto, à frente de uma grande burocracia. Durante o Dominato, os imperadores mostravam claramente a sua condição, usando coroas, púrpuras e outros ornamentos imperiais. O imperador tornava-se "senhor e deus" e todos que eram admitidos em sua presença eram obrigados a ajoelhar-se e beijar a ponta do manto real. Extinguiu-se, com isso, o Principado: os civis haviam sido derrotados pelos militares.
O cargo de princeps já trazia, na realidade, o germe da situação de Dominato: fatos como a “apoteose” dos imperadores, o poder sem limites, e o lento declinar, por parte dos Romanos, da importância que davam a vida política entre iguais, contribuíram, de forma decisiva, para a adoção de uma monarquia oriental, especialmente bem sucedida no Império Romano do Oriente. 
Imperador Diocleciano
Durante o Dominato persistiram as dinastias (“Anexo 2 - Imperadores do Dominato”), que se iniciou com Diocleciano, em 284 DC e a sua constituição da Tetrarquia, em 293 DC. A Tetrarquia designa qualquer sistema de governo em que o poder esteja dividido entre quatro indivíduos, denominados "tetrarcas", e aplica-se, usualmente, à introduzida por Diocleciano, que perdurou até 313 DC, marcando a resolução da crise do século III e a recuperação do Império Romano.
A primeira medida importante de Diocleciano foi indicar Maximiano como seu augusto ou co-imperador, em 285. Não foi propriamente uma divisão de poder, pois, na realidade, Diocleciano estava em posição superior à de Maximiano; entretanto, a partir daí, o império passou a ter dois augustos (augusti), cada qual com exército, administração e capital próprios, embora Diocleciano continuasse a ser o chefe do Estado, representando a unidade do mundo romano. Com isso, o império foi dividido entre os sectores orientais (pars Orientis), sob o controle pessoal de Diocleciano, e ocidentais (pars Occidentis), governados por Maximiano. 
Imperador Maximiano
Oito anos mais tarde, em 293, dada a crescente dificuldade de conter as numerosas revoltas no interior do império, procedeu a uma nova divisão funcional e territorial, a fim de facilitar as operações militares: nomeou um imperador menos "graduado", denominado César, subordinado a cada imperador mais graduado (augusto). Como seu césar para o oriente, Diocleciano designou Galério; Maximiano fez o mesmo, nomeando Constâncio Cloro para o ocidente. A tetrarquia concretizou-se com a divisão do império em quatro territórios:
Diocleciano controlava as províncias orientais e o Egito, com capital na Nicomédia (atual İzmit, na Turquia);
Galério administrava as províncias balcânicas, com capital em Sirmium (atual Sremska Mitrovica, na Sérvia);
Maximiano governava a Itália e a África Proconsular, com a capital em Mediolanum (atual Milão, na Itália); 
Imperador Galerio
Constâncio Cloro, pai de Constantino I, recebeu a Hispânia, a Gália e a Britânia, com capital em Augusta Treverorum (atual Trier ou Tréveris, na Alemanha).
Os césares eram chefes militares capazes de governar e proteger o império, adotados como filhos pelos augustos, a quem sucederiam em caso de morte, de incapacidade provocada pela velhice ou decorridos vinte anos de seus governos. Lugares-tenentes dos augustos, os césares também possuíam capital, exército e administração próprios.
Com a abdicação de Diocleciano (305), teve início uma guerra entre os augustos e os césares por ele nomeados e a anarquia se instaurou. De 316 a 323, Constantino e Licínio governaram Roma. A partir de 324, Constantino passou a ser o único senhor de todo o império, valendo à pena escrevermos algumas linhas sobre ele, por razões que logo serão entendidas.
Imperador Constâncio Cloro
Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande, foi um imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306, que governou uma porção crescente do Império Romano até a sua morte.
Quando Diocleciano e Maximiano abdicaram conjuntamente em 305, Constâncio (pai de Constantino) seria proclamado “augusto”, mas Constantino seria descartado como “césar” em proveito de Flávio Severo. Pouco antes da morte de seu pai, em 25 de julho de 306, Constantino conseguiu a permissão de Galério para reunir-se a ele no Ocidente, onde participou de campanha contra os “picts”, estando junto ao leito de morte de seu pai na Britânia, o que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito, proclamando-se "césar" e sendo reconhecido como tal por Galério, então "augusto" do Oriente. Assim, desde o início de seu reinado, Constantino tinha o controle da Britânia,Gália,Germânia e Hispânia, com sua capital em Trier, cidade que fez embelezar e fortificar. 
Imperador Constantino I
As guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de mais nada, um reformador militar, que, para aumentar o número de tropas a sua disposição imediata, constituiu o cortejo militar do imperador (comitatus) num corpo de tropas de elite auto suficiente - um verdadeiro exército de campanha —, principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos que se apresentavam ao exército romano nos termos de diversos tratados de paz, a começar pelo chefe dos alamanos, Chrocus, que teve um papel decisivo na aclamação de Constantino como Augusto.
Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como o primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua vitória sobre o imperador Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, próximo de Roma, em 312, que ele mais tarde atribuiria ao Deus cristão. Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em que se tornou imperador, com o Édito de Milão (3), sem tornar o paganismo ilegal ou fazer do cristianismo a religião estatal única. Na sua posição de Pontifex Maximus, estabeleceu as condições do seu exercício público e interferiu na organização da hierarquia, quando convocado.
Quando Licínio expulsou os funcionários cristãos da sua corte, Constantino encontrou um pretexto para enfrentar seu colega e, tendo negada a permissão para entrar no Império do Oriente, durante uma campanha contra os sármatas, fez disto a razão para derrotar e eliminar Licínio em 324, quando tornou-se imperador único.
Apesar de a Igreja ter prosperado sob o auspício de Constantino, ela própria decaiu no primeiro de muitos cismas públicos. Após ter unificado o mundo romano, Constantino convocou o “Primeiro Concílio de Niceia” (4), em um grande centro urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de Licínio, a fim de unificar a Igreja cristã, pois com as divergências desta, o seu trono poderia ficar ameaçado.
Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio, em maio de 330 chamando-a Nova Roma, dotando-a de um Senado e instituições cívicas semelhantes aos da antiga Roma. Entretanto, era uma cidade cristã onde encontrava-se o mausoléu onde Constantino seria sepultado. Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens dos deuses. Após a morte de Constantino, Bizâncio foi renomeada Constantinopla – em sua homenagem -, gradualmente transformando-se na capital permanente do império romano, por mais de mil anos, sendo por isso considerado como um dos fundadores do Império Romano do Oriente. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo tratado entre Constantino e seus descendentes e os godos que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira do Danúbio, fornecendo homens ao exército romano, em troca de abastecimentos. A mudança da capital imperial enfraqueceu a influência do papado de Roma, fortalecendo a influência do bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocaria, futuramente, o Grande Cisma do Oriente (5).
Além de derrotar os imperadores Magêncio e Licínio durante as guerras civis, Constantino lutou com sucesso contra os francos e alamanos, visigodos e sármatas, durante boa parte do seu reinado.
Constantino foi sucedido, em 337, por seus três filhos com sua esposa Fausta: Constantino II, Constante e Constâncio II, que dividiram entre si a administração do império até que, após uma série de lutas confusas, Constâncio II emergiu como “augusto” único.
Durante as décadas das dinastias Constantina e Valentiniana que se seguiram, o império foi dividido ao longo de um eixo leste-oeste, com dois centros de poder, um em Constantinopla e outro em Roma (logo falaremos sobre isso com mais detalhe). O reinado de Juliano, que tentou restaurar a religião helenística e romana clássica, apenas interrompeu, brevemente, a sucessão de imperadores cristãos. Teodósio I, que sucedeu à casa Valentiniana, o último imperador a governar Oriente e o Ocidente, em Constantinopla, morreu em 395 D.C., depois de, efetivamente, tornar o Cristianismo a religião oficial do Estado.

(1) O Império Sassânida foi o último Império Persa pré-islâmico, governado pela dinastia sassânida de 224 a 651 DC. O Império Sassânida, que sucedeu ao Império Parta, foi reconhecido como uma das principais potências da Ásia Ocidental e Central, juntamente com o Império Romano/Bizantino, por um período de mais de 400 anos.
(2) Os marcomanos constituíam uma tribo germânica com estreitas ligações aos suevos e que habitavam a região sul do rio Danúbio. As fontes romanas indicam que, no início da era cristã, as tribos marcomanas se estabeleceram na atual Boêmia, depois de terem sido derrotadas por Nero Cláudio Druso, general do imperador romano Augusto. No século II DC, os marcomanos federaram-se com outros povos (quados, vândalos e sármatas) para enfrentar o Império Romano. Sendo essencialmente guerreiros, os marcomanos empregavam também mulheres em combates.
(3) O Édito de Milão (313 DC), também referenciado como Édito da Tolerância, declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente do Cristianismo. O édito foi emitido em Milão, pelo tetrarca ocidental Constantino I e por Licínio, o tetrarca Oriental.

(4) O Primeiro Concílio de Niceia foi um concílio de bispos cristãos reunidos na cidade de Niceia da Bitínia (atual İznik, Turquia), pelo imperador romano Constantino I em 325 DC. O concílio foi a primeira tentativa de obter um consenso da igreja através de uma assembleia representando toda a cristandade. O seu principal feito foi o estabelecimento da questão cristológica entre Jesus e Deus, o Pai; a construção da primeira parte do Credo Niceno (credo ou profissão de fé, mais utilizado na liturgia cristã); a fixação da data da Páscoa; e a promulgação da lei canônica (lei eclesiástica interna que rege as Igrejas Cristãs).
(5) O Cisma do Oriente, também chamado de Grande Cisma ou Cisma Ocidente-Oriente, foi a divisão definitiva da “Igreja Católica Apostólica” em “Igreja Católica Apostólica Romana” e “Igreja Ortodoxa”. O cisma ocorreu no ano de 1054, na cidade de Constantinopla.



Continua na Parte 9.