Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

MIKHAIL BAKUNIN E O ANARQUISMO (Parte 4)

IV - OBSERVAÇÕES E CRÍTICAS AO PENSAMENTO DE BAKUNIN

Bakunin defendia a ideia de que Deus implica na abdicação da razão humana e justiça, considerada a mais decisiva negação da liberdade humana, que culmina com a escravidão da humanidade, na teoria e na prática. E ia ao ponto de inverter o famoso aforismo de Voltaire de que se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo, afirmando: "Se Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo."
A disputa entre Mikhail Bakunin e Karl Marx realçou as diferenças entre o anarquismo e o marxismo. Os argumentos de Bakunin, de que nem todas as revoluções precisam ser, necessariamente, violentas, se contrapunham aos ideais defendidos por um número considerável de marxistas. Ele também rejeitou fortemente o conceito marxista de "ditadura do proletariado", que os seguidores de Marx, na atualidade, traduzem em termos modernos por "democracia dos trabalhadores", mas que mantém o poder concentrado no estado até a futura transição ao comunismo, se ela um dia acontecer. Bakunin, que havia abandonado os ideais de uma ditadura revolucionária, insistia que revoluções deveriam ser lideradas pelo povo, diretamente, enquanto que qualquer elite iluminada só deveria exercer influência discreta, sem jamais impor-se, na forma de uma ditadura, a outrem, nem tampouco aproveitar-se de quaisquer direitos oficiais, em termos de benefício. Bakunin defendia a abolição imediata do estado, pois todas as formas de governo levariam, eventualmente, à opressão. Quanto a isso, são palavras de Bakunin, em seu trabalho “Estadismo e Anarquismo”:

“Os marxistas defendem que nada além de uma ditadura - a ditadura deles, é claro - pode criar o desejo das pessoas, enquanto nossa resposta para isso é: nenhuma ditadura pode ter qualquer outro objetivo além de sua autoperpetuação; ela pode apenas levar à escravidão o povo que tolerá-la; a liberdade só pode ser criada através da liberdade, isto é, por uma rebelião universal por pessoas e organizações livres, das multidões de trabalhadores, de baixo para cima.”

Em sua concepção de revolução social, os trabalhadores do campo e da cidade se organizariam em uma base federalista, criando as ideias e os fatos do próprio futuro. Os sindicatos e organizações operárias poderiam tomar posse das ferramentas de produção, bem como dos prédios e recursos. Segundo Bakunin, os camponeses ocupariam a terra, colocando para fora os senhores da terra, que vivem do esforço de outros. Em sua perspectiva, as multidões, as massas de pessoas pobres e exploradas, seriam capazes de inaugurar e levar ao triunfo a Revolução Social, uma vez que estes eram os setores sociais ainda pouco corrompidos pela civilização burguesa.
No âmbito do movimento, Bakunin foi posteriormente criticado pela concepção de revolução violenta que defendia. Alguns de seus críticos afirmam sua defesa da conspiração revolucionária e aprovação da ação direta violenta contra agentes do aparato repressor estatal e a atentados individuais (o que mais tarde, de uma perspectiva legalista, viria a ser chamado de terrorismo), o que serviu como justificativa para a repressão empreendida pelas autoridades constituídas contra os anarquistas. Também com base nesses atos de violência, a oposição, ao final do século XIX, justamente difundiria a ideia de anarquia como sinônimo de caos, desordem e assassinato sem sentido.
Ainda no século XIX, outro grande pensador libertário russo, Piotr Kropotkin apresentou importantes críticas às ideias de Bakunin. Frente à ideia de Bakunin de que a revolução deve acontecer necessariamente de maneira violenta e espontânea, ele escreveu em 1891: "Um edifício baseado em alguns anos de história não se destrói com alguns quilos de explosivo". Em contraposição à revolução violenta, Kropotkin aponta, muito acertadamente, para o papel fundamental que poderia exercer a educação na transformação de uma sociedade. "Nenhuma revolução social pode triunfar se não for precedida de uma revolução nas mentes e nos corações do povo". Estas ideias influenciariam os movimentos de educação libertárias do final do século XIX início do XX entre eles o movimento de Escolas Modernas idealizado pelo pedagogo catalão Francisco Ferrer.
Em 1898 Kropotkin propôs a fundação de um Comitê Pró Ensino, do qual fizeram parte o anarquista cristão Leon Tolstoi, Jean Grave, Charles Malato e os irmãos Réclus, dentre outros grandes pensadores do movimento anarquista da época. Neste contexto, a ideia de revolução pela violência, de Bakunin, foi deixada de lado em prol da transformação através da educação libertária.
Bakunin foi também acusado de ser um autoritário enrustido. Em sua carta para Albert Richard, ele escreveu:

"Existe apenas um poder e uma ditadura que, enquanto organização, é salutar e plausível: é a ditadura coletiva e invisível, daqueles que estão aliados em nome de nosso princípio."
Entretanto, defendido por seus apoiadores, essa "ditadura invisível" não seria uma ditadura no sentido convencional da palavra; esta seria uma linguagem figurativa a rebater as posições defendidas por Richard em ocasiões anteriores. O próprio Bakunin fora cuidadoso em explicitar que os membros desta ditadura não poderiam exercer nenhum poder político institucional, nem contar com quaisquer privilégios.
O historiador anarquista Max Nettlau descreveu o pan-eslavismo de Bakunin como sendo o resultado de uma psicose nacionalista, da qual poucos estavam livres. A publicação de suas "Confissões", de 1851, escritas enquanto Bakunin era prisioneiro do Czar na fortaleza de Pedro e Paulo, foram utilizadas para atacar Bakunin porque nelas ele pedia ao Imperador perdão por seus pecados e implorava a ele que se colocasse a frente dos eslavos como redentor e pai.
Seu eurocentrismo teve como manifestações um apelo seu pela constituição dos Estados Unidos da Europa, seu suporte ao colonialismo russo, em particular como defendido por seu parente e patrono o conde Nikolay Muravyov-Amursky e sua indiferença ao Japão e aos camponeses japoneses durante e depois de sua breve estadia em Yokohama, embora o Japão fosse considerado o país mais proeminente e revolucionário da Ásia durante a Restauração Meiji, de 1866 a 1869. Estes aspectos de seu pensamento, no entanto, datam de antes dele se tornar um anarquista.
Devido a algumas de suas colocações com relação ao judaísmo, Bakunin tem sido considerado um antissemita. Este posicionamento, que nada tem a ver com o anarquismo, tem sido bastante criticado pelos libertários das gerações seguintes, identificando esta característica como uma falha de caráter mais ou menos comum entre parte dos anarquistas e socialistas da Europa do século XIX, que incluíam Proudhon.
Durante algumas discussões com Karl Marx, Bakunin apresentou comentários antissemitas comuns entre os preconceitos europeus com relação aos judeus tratando-os como uma nação sem território. Sobre eles teria dito Bakunin:

“…uma seita de exploradores, um povo de sanguessugas, um único parasita devorador, estreita e intimamente ligado, não só através das fronteiras nacionais, mas também em todas as divergências de opinião política … (judeus) cuja paixão mercantil constitui um dos principais traços de seu caráter nacional.”

Na verdade, pode-se afirmar que Bakunin era contra toda e qualquer forma de autoridade imposta pela religião ou estado, conforme trecho de seu livro "Deus e o Estado". Seria, portanto, muito simplista ou equivocado afirmar que ele era somente contra o povo semita.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MIKHAIL BAKUNIN E O ANARQUISMO (Parte 3)

III - BAKUNIN

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin
Mikhail Aleksandrovitch Bakunin nasceu em Premukhimo, na Rússia, em 30 de maio de 1814 e faleceu em 01 de julho de 1876, na cidade de Berna, na Suíça. Foi um político teórico russo e um dos principais expoentes do anarquismo nos meados do século XIX. Nascido no Império Russo, de uma família de sete filhos, proprietária de terras de tendência nobre, durante a sua infância, seu pai Alexander, que se identificava com o liberalismo europeu e a Revolução Francesa, apresentou à sua família as ideias em torno deste movimento e ofereceu aos seus filhos uma educação primária baseada nestes mesmos ideais.
No entanto, depois dos fracassados levantes dezembristas de 1825, Alexander Bakunin, horrorizado com a violência e temeroso que as ideias liberais lhe causassem problemas, tornou-se um leal czarista a defender os benefícios da aristocracia russa que, a época, era quase toda composta por famílias da nobreza daquele país. Nesta mesma época Alexander decidiu mandar Mikhail para São Petersburgo para que ele se tornasse um oficial de artilharia. Aos 14 anos de idade Mikhail Bakunin deixou a casa de sua família, em Premukhimo, para a Universidade de Artilharia em São Petersburgo. Lá o jovem Bakunin completou seus estudos em 1832, e em 1834 foi promovido a oficial júnior da Guarda Imperial Russa. Seu pai imediatamente exigiu que ele fosse transferido para o exército regular. Após a transferência de cargo, a bateria na qual Bakunin estava alistado foi enviada à Minsk e Gardinas, na Lituânia.
Deprimido e insociável, em meio ao inverno rigoroso e preso em uma pequena aldeia congelada, teve início a revolta do jovem e Bakunin passaria a negligenciar seus deveres, mentindo, para passar os dias envolto em pele de carneiro. Teria sido então nesse momento que os seus ideais libertários teriam começado a se manifestar? A necessária disciplina do exército o teria incomodado tanto? Diante da incontinência, o oficial em comando lhe deu duas opções: retomar suas funções regulares ou desligar-se do exército. Bakunin tomaria a segunda e mais fácil decisão, retornando à casa paterna no início da primavera.
Diante do seu retorno, como seria fácil imaginar, a relação com o pai se tornaria cada vez mais conflituosa e os problemas de todos se agravariam. No verão seguinte ele tomaria parte em uma briga familiar assumindo o lado de sua irmã que se rebelara contra o pai, defensor de um casamento em que sua filha se sentia infeliz, ampliando ainda mais as suas revoltas. Em 1835 Mikahil Bakunin parte para Moscou com o objetivo de estudar filosofia, caminho natural para muitos jovens incomodados por problemas existenciais. A escolha se contrapunha frontalmente ao projeto de vida defendido por seu pai: tornar-se um grande oficial de carreira militar. E acontece o inevitável rompimento.
Mikahil Bakunin passou sua juventude em Moscou, estudando filosofia, com um grupo de estudantes universitários, engajados no estudo sistemático de filosofia idealista – em oposição à materialista. A filosofia de Kant era, inicialmente, a central neste círculo de estudos, mas depois alternaram para Schelling, Fichte e Hegel. E começou a frequentar os círculos radicais onde foi, em grande medida, influenciado pelas ideias de Aleksandr Herzen, considerado “o pai do socialismo russo”, filósofo, escritor, jornalista e político russo, seu contemporâneo e um dos primeiros críticos russos ao capitalismo e à burguesia. Esses, sempre e inevitavelmente, têm sido os grandes vilões de todos os males da humanidade, como se, não existindo, pudesse existir a riqueza possível de minorar os males maiores dos miseráveis. A propósito, Herzen era filho ilegítimo de um rico proprietário de terras russo com uma jovem protestante alemã, o que poderia ajudar a explicar a sua aversão ao capitalismo e à burguesia.
Foi fortemente influenciado pelo pensamento de Hegel, sendo o autor da primeira tradução de sua obra para o idioma russo, mesma época em que começa a desenvolver uma perspectiva pan-eslávica. Depois de longas discussões com seu pai, Bakunin foi para Berlin em 1840 onde, inicialmente, planejava tornar-se um professor universitário, mas logo encontrou e passou a fazer parte de um grupo de estudantes denominado "Esquerda Hegeliana", unindo-se ao movimento socialista. Em seu ensaio de 1842 “A Reação na Alemanha”, ele argumentava em favor da ação revolucionária da negação, resumida na frase:
A paixão pela destruição é uma paixão criativa”.
Mudou-se para Dresden (Alemanha) e depois para Paris (França), onde conheceu grandes pensadores políticos entre estes George Sand, Pierre-Joseph Proudhon e Karl Marx, todos socialistas. Por essa época já havia abandonado seu interesse na carreira acadêmica, devotando mais e mais do seu tempo à promoção da revolução. Preocupado com seu radicalismo o governo imperial russo ordenou que ele retornasse a Rússia. Diante de sua recusa, todas as suas propriedades – já herdadas de seu pai - em território russo foram confiscadas. Nesta mesma época Bakunin foi para a cidade suíça de Zurique, onde permaneceu por seis meses. Em Bruxelas encontrou-se com oradores do nacionalismo e do progressismo polonês, como Joachim Lelewel, membro da Associação Internacional de Trabalhadores, junto com Karl Marx e Friedrich Engels. Logo rompeu com os poloneses por discordar de muitas das suas ideias. Foi deportado da França por discursar publicamente contra a opressão russa na Polônia. No outono de 1848 Bakunin publicou seu “Apelo aos Eslavos”, em que propunha que os revolucionários eslavos se unissem com os revolucionários húngaros, italianos e alemães para derrubar as três maiores autocracias da Europa, o Império Russo, o Império Austro-Húngaro, e o Reino da Prússia. Em 1849 foi preso em Dresden por sua participação na Rebelião de 1848, ocorrida em toda a Europa Central.
Após ter sido preso e sentenciado em vários países da Europa, foi finalmente enviado de volta ao Império Russo, onde foi aprisionado na Fortaleza de Pedro e Paulo, em São Petersburgo, onde teria assinado confissão bastante controversa. Depois de três anos ele passaria outros quatro preso nas masmorras subterrâneas do castelo de Shlisselburg, onde sofreria com o escorbuto e perderia todos os dentes como resultado de aterradora dieta. Seu contínuo aprisionamento, nessas terríveis condições, fizeram com que ele pedisse ao seu irmão que lhe trouxesse veneno para dar um fim mais digno ao seu sofrimento. Em fevereiro de 1857, sua mãe fez um apelo ao imperador Alexandre II, que resultou na deportação de Bakunin ao exílio permanente na cidade de Tomsk, na Sibéria Ocidental. Após muitas peripécias e ajudado por parentes influentes na Sibéria, conseguiu escapar do exílio indo para o Japão, Estados Unidos e, de lá, retornando para Londres, onde ficou durante um curto período de tempo em que, juntamente com Herzen, colaborou para o periódico jornal radical Kolokol ("O Sino"). Em 1863 Bakunin partiu da Inglaterra para se juntar à insurreição na Polônia, mas não conseguiu chegar ao seu destino, permanecendo algum tempo na Suíça e na Itália, onde manteve contato com Garibaldi. Foi lá que pela primeira vez ele se autodeclarou anarquista e expôs suas ideias como tal.
Apesar de ser considerado um criminoso pelas autoridades religiosas e governamentais, já naquela época, Bakunin havia se tornado uma figura de grande influência para a juventude progressista e revolucionária, não só na Rússia, mas por toda a Europa. Em 1868, tornou-se membro da “Associação Internacional de Trabalhadores” (AIT), uma federação de progressistas e organizações sindicais com grupos, em grande parte, dos países europeus. Entre os anos de 1869 e 1870, Bakunin esteve envolvido com o revolucionário russo Sergey Nechayev em um número significativo de projetos clandestinos. Em conjunto os dois teriam escrito os livretos "Palavras à juventude – princípios da revolução" e "Catecismo de um Revolucionário", obras consideradas por muitos um exemplo de frieza maquiavélica. Entretanto, logo em seguida, Bakunin reveria esta posição rompendo com Nechayev devido aos seus métodos "jesuítas", como o próprio Bakunin posteriormente definiria. Desde então passa a criticar a ideia de Nechayev de que todos os meios são justificáveis para atingir aos fins revolucionários.
Em 1870, entrou na insurreição de Lyon, um dos principais precedentes da Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história, fundado em 1871 na capital francesa por ocasião da resistência popular ante a invasão alemã, durante a guerra franco-prussiana. Em 1872 Bakunin havia se tornado uma figura influente na AIT, fazendo com que, através de suas posições, o congresso ficasse dividido em duas tendências contrapostas: uma delas, que se organizava em torno da figura de Marx, defendia a participação em eleições parlamentares e a outra, de caráter libertário, opondo-se a essa, considerada não revolucionária, se articulava em torno de Bakunin.
A posição defendida pelo círculo de Bakunin acabaria sendo derrotada em votação e, ao fim do congresso, Bakunin e muitos membros foram expurgados sob a acusação de manterem uma organização secreta dentro da Internacional. Os libertários, entre eles Bakunin responderam à acusação afirmando que o congresso fora manipulado, e que por esse motivo organizariam sua própria conferência da Internacional em Santo-Imier na Suíça depois, de 1872. Ainda que Bakunin aceitasse a análise de classes de Marx e suas teorias econômicas relacionadas ao capitalismo, reconhecendo-o em sua genialidade, ele considerava Marx um arrogante, e achava que seus métodos poderiam comprometer a revolução social. Bakunin criticava de forma efusiva o que chamava de "socialismo autoritário" (que associava sobretudo ao Marxismo) e o conceito de ditadura do proletariado, que refutava abertamente:

“Se você pegar o mais ardente revolucionário e investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele será pior que o próprio Kzar”.

Bakunin e a frase que o tornou famoso
As palavras de Bakunin, antecipadas em minha Introdução e causa primeira desta postagem, evidenciando a falha da estratégia marxista, soavam proféticas com relação aos acontecimentos do século XX.
Bakunin manteve-se envolvido em muitas atividades no âmbito dos movimentos revolucionários europeus.
De 1870 à 1876, escreveu grande parte de sua obra, textos como “Estadismo e Anarquia” e “Deus e o Estado”.  Apesar de sua saúde frágil, tentou participar em uma insurreição em Bolonha, mas foi forçado a voltar para a Suíça, disfarçado, para receber tratamento médico.
Vila Baronata, Lugano, cedida por Carlo Cafiero
Em 1873, morando em Lugano, Suíça, conviveu com Errico Malatesta, teórico e ativista anarquista italiano, também membro da AIT. Bakunin ainda participaria, em 1874, de uma tentativa de revolta na cidade italiana de Bologna. Esta, no entanto, não alcançou êxito, fazendo com que o velho revolucionário retornasse a Lugano, onde passou seus últimos anos. No final de sua vida, com muitos problemas de saúde, foi levado, por um amigo, para um hospital em Berna, onde encontrou seu fim em 1º de julho de 1876.
Seu corpo foi enterrado no cemitério de Bremgarten na cidade de Berna. Seu túmulo mantido graças às doações de um suíço anônimo, ainda é visitado por anarquistas vindos de todo o mundo.
Túmulo de Bakunin


Bakunin é lembrado como uma das maiores figuras da história do anarquismo e um oponente do Marxismo em seu caráter autoritário, especialmente das ideias de Marx de ‘Ditadura do Proletariado’. Ele segue sendo uma referência presente entre os anarquistas da contemporaneidade.

sábado, 24 de setembro de 2011

MIKHAIL BAKUNIN E O ANARQUISMO (Parte 2)

II - ANARQUISMO

Anarquismo é uma palavra de origem grega que significa, segundo a etimologia, "sem governantes", e constitui uma filosofia política que engloba teorias, métodos e ações que objetivam a eliminação total de todas as formas de governo compulsório. De um modo geral, anarquistas são contra qualquer tipo de ordem hierárquica que não seja livremente aceita e, assim, preconizam os tipos de organizações libertárias.
Anarquia significa ausência de coerção e não a ausência de ordem. A noção equivocada de que anarquia é sinônimo de caos se popularizou entre o fim do século XIX e o início do século XX, através dos meios de comunicação e de propaganda patronais, mantidos por instituições políticas e religiosas. Nesse período, em razão do grau elevado de organização dos segmentos operários, de fundo libertário, surgiram inúmeras campanhas antianarquistas. Outro equívoco banal foi considerar anarquia como sendo a ausência de laços de solidariedade (indiferença) entre os homens. À ausência de ordem - ideia externa aos princípios anarquistas -, dá-se o nome de "anomia".
Passando da conceituação do Anarquismo à consolidação dos seus ideais, existe uma série de debates em torno da forma mais adequada para se alcançar e se manter uma sociedade anárquica. Eles perpassam a necessidade ou não da existência de uma moral anarquista, de uma plataforma organizacional, questões referentes ao determinismo da natureza humana, modelos educacionais e implicações técnicas, científicas, sociais e políticas da sociedade pós-revolução. Nesse sentido, cada vertente do Anarquismo tem uma linha de compreensão, análise, ação e edificação política específica, embora todas vinculadas pelos ideais-base do Anarquismo. O que realmente varia, segundo os teóricos, são as ênfases operacionais.
O Anarquismo é uma filosofia política muito ampla e dissecá-la não é o objetivo principal da minha postagem, por isso, vamos apenas colocar aqui os seus primórdios e os principais conceitos nela envolvidos.
Piotr Kropotkin
 Piotr Kropotkin advogava que William Godwin seria o fundador do anarquismo filosófico, formulando os conceitos políticos e econômicos do anarquismo, bem como desenvolvendo o que muitos consideram a primeira expressão do pensamento anarquista moderno, mesmo não tendo adotado essa denominação em sua obra.
Nascido em 21 de dezembro de 1842 e morto em 8 de fevereiro de 1921, Piotr Kropotkin foi um geógrafo e escritor russo, um dos principais pensadores políticos do anarquismo no fim do século XIX, considerado também o fundador da vertente anarco-comunista. Seu funeral, em fevereiro de 1921, constituiu o último grande encontro de anarquistas na Rússia, uma vez que este país, desde a revolução de 1917, sob o domínio dos bolcheviques marxistas, passou a perseguir, exilar e aniquilar os ativistas libertários onde quer que fossem encontrados, reeditando a constante universal de que uma vez no poder, as boas intenções são logo esquecidas, qualquer que seja a ditadura. Uma frase de Kropotkin que, entre outras, ficou célebre: "Lenin não se compara a nenhuma figura revolucionária na história. Revolucionários têm ideais. Lenin não tem nada." E dirigindo-se diretamente a Lenin: “(...) Vladimir Ilyich [Lenin], suas ações concretas são completamente contrárias às ideias que você finge sustentar.
William Godwin
William Godwin, nascido em 3 de março de 1756 e morto em 7 de abril de 1836, foi um jornalista, filosófo político e novelista inglês. Muito conhecido por dois livros que publicou no intervalo de um ano, Godwin tornou-se uma figura proeminente entre os círculos radicais de Londres na década de 1790. Na reação conservadora subsequente ao radicalismo britânico, Godwin foi atacado, em parte por causa de seu casamento com a escritora feminista pioneira Mary Wollstonecraft em 1797 e sua cândida biografia sobre ela, após sua morte; sua filha Mary Godwin, que ficou conhecida posteriormente como Mary Shelley, seria a autora de Frankenstein. O anarquismo filosófico de Godwin postula que o Estado não possui legitimidade moral, que não há obrigações individuais ou o dever de obediência ao Estado e, consequentemente, o Estado não detém o direito de comandar indivíduos. No entanto, Godwin não advoga a revolução para eliminar o Estado. Os anarquistas filosóficos podem aceitar a existência do Estado mínimo como um mal necessário, infeliz e temporário, que se tornaria cada vez mais fraco e irrelevante diante da propagação gradual do conhecimento, sem acreditar que os cidadãos possuam obrigação moral de obedecer ao Estado quando suas leis entram em confronto com a autonomia individual. Da forma como é concebido por Godwin, o anarquismo filosófico requer que os indivíduos ajam de acordo com seu próprio julgamento e permitam a todos os outros indivíduos a mesma liberdade.
Pierre-Joseph Proudhon
 O primeiro a descrever-se como um anarquista foi Pierre-Joseph Proudhon, um filósofo francês e político, que levou alguns a chamá-lo de fundador da teoria anarquista moderna. Nascido em 15 de janeiro de 1809 e morto a 19 de janeiro de 1865, foi membro do Parlamento francês e é considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do Anarquismo. Foi, ainda em vida, chamado de socialista utópico, por Marx e seus seguidores. Sua frase mais famosa “Propriedade é roubo!” está presente em seu primeiro e maior trabalho “O que é a propriedade”, publicado em 1840. A publicação desse livro atraiu a atenção Karl Marx, que começou a corresponder-se com seu autor. Tal amizade chegou ao fim quando Marx respondeu ao seu texto “Sistema das Contradições Econômicas, ou A Filosofia da Miséria” com outro, provocadoramente intitulado “A Miséria da Filosofia”. Proudhon favoreceu as associações dos trabalhadores ou cooperativas, bem como a propriedade coletiva dos trabalhadores da cidade e do campo em relação aos meios de produção, em contraposição à nacionalização da terra e dos espaços de trabalho. Ele considerava que a revolução social poderia ser alcançada através de formas pacíficas.
O anarquismo desempenhou papéis significativos nos grandes conflitos da primeira metade do século XX. Durante a Revolução Russa de 1917, Nestor Makhno tentou implantar o anarquismo na Ucrânia, com apoio de várias comunidades camponesas, mas acabou derrotado pelo Estado bolchevique de Lenin. Quinze anos depois, anarquistas organizados em torno de uma confederação anarcossindical impedem que um golpe militar fascista seja bem sucedido na Catalunha (Espanha), e são os primeiros a organizar milícias para impedir o avanço destes na consequente Guerra Civil Espanhola. Durante o curso desta guerra civil, os anarquistas controlaram um grande território que compreendia a Catalunha e Aragão, onde se incluía a região mais industrializada da Espanha, sendo que a maior parte da economia passou a ser autogerida.
Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento anarquista deixou de ser um movimento de massas, e perdeu a influência que tinha no movimento operário dos vários países europeus. Entretanto, continuaria a influenciar revoltas populares que se seguiram na segunda metade do século XX, como o "Maio de 68", na França, o "Movimento Anti-Poll Tax", no Reino Unido e os protestos contra a reunião da OMC em Seattle, nos Estados Unidos.
Segundo a ótica anarquista, a revolução social consistiria na quebra drástica, rápida e efetiva do Estado e de todas as estruturas, materiais e não-materiais, que o regiam ou a ele sustentavam. Este princípio é primordial na diferenciação da vertente de pensamentos libertária em relação a qualquer outra corrente ideária. É a diferença básica entre o socialismo libertário e o socialismo autoritário (comunismo).
Sob a ótica do marxismo, seria necessária a instrumentalização do Estado para a prossecução planejada, detalhada e gradativa da revolução, sendo instituída a ditadura do proletariado para o controle operário dos meios de produção até a eclosão do comunismo. Sob o ideário anarquista, a revolução deve ser imediata, para não permitir que os elementos revolucionários possam ser corrompidos pela realidade estatal. De acordo com os libertários, a ditadura do proletariado nada mais é do que uma ditadura "de fato", continuando a exercer coerção, opressão e violência sobre a sociedade. Por isso, segundo os libertários, a revolução social deve ascender o mais rápido possível à sociedade anarquista, ao comunismo puro, para, através dos princípios da defesa da revolução, não permitir a ressurreição do Estado, parecendo, em tudo, bem mais honesta do que o comunismo propagado e executado. Por fim, por intermédio do processo de destruição completa do Estado, sob todas as suas formas, torna-se plenamente tangível a liberdade, podendo o sujeito renovar de forma efetiva os seus princípios e preceitos humanistas.
Desta forma, a partir da conscientização, aceitação e internalização da sua essência humana, ideia suprimida anteriormente pelo Estado, segundo os anarquistas, emerge naturalmente na sociedade humana o anseio pela ascensão da ideia-base de qualquer forma de vida real: a Liberdade. Sem sombra de dúvida, a ideia é muito boa; mas exequível na prática?
A Liberdade é a base inconteste de qualquer pensamento, formulação ou ação anarquista, representando o elo sublime que conjuga de forma plena todos os anarquistas. Assim, entre os anarquistas, a Liberdade deixa apenas o plano abstracionista (do pensamento) para ganhar uma funcionalidade prática, sendo o símbolo e a dinâmica do desenvolvimento humano real. Em outras palavras, o princípio básico para qualquer pensamento, ação ou sociedade ser definida como anarquista é que esteja imersa, tanto ideologicamente, quanto pragmaticamente (no âmbito das ações), no conceito de Liberdade. Liberdade física, de gênero, de pensamento, de ação, de expressão, de usufruto consciente dos recursos humanos, sociais e naturais, de negociação e interação, de apoio mútuo, de relacionamento e vinculação sentimental, de fé e espiritualidade, de produção intelectual e material e de realização coletiva e pessoal.
Para a encarnação da Liberdade, no entanto, é necessária a erradicação completa de qualquer forma de autoridade.
O Antiautoritarismo consiste na repulsa e no combate total a qualquer tipo de hierarquia imposta ou a qualquer domínio de uma pessoa sobre a(s) outra(s), defendendo uma organização social baseada na igualdade e no valor supremo da liberdade. Tem como principais objetivos, mas não únicos, a supressão do Estado, da acumulação de riqueza própria do capitalismo e as hierarquias religiosas. O Anarquismo difere do Marxismo por rejeitar o uso instrumental do Estado para alcançar seus objetivos e por prever uma Revolução Social de caráter direto e incisivo, ao contrário da progressão sócio-política gradual - socialismo - rumo à derrubada do Estado - comunismo - proposta por Karl Marx.
De acordo com a corrente de pensamentos libertária, a supressão da autoridade é condicionada pela ação direta de cada indivíduo livre, prescindindo-se completamente de qualquer intermediário entre o seu objetivo, enquanto defensor da Liberdade, e a sua vontade. O anarquista entende que "enquanto houver autoridade, não haverá liberdade".
Os anarquistas afirmam que não se deve delegar a solução de problemas a terceiros, mas antes, atuar diretamente contra o problema em questão, ou, de forma mais resumida, "A luta não se delega aos heróis". Sendo assim, rejeitam meios indiretos de resolução de problemas sociais, como a mediação por políticos e/ou pelo Estado, em favor de meios mais diretos como o mutirão, a assembleia (ação direta que não envolve conflito), a greve, o boicote, a desobediência civil (ação direta que envolve conflito), e em situações críticas a sabotagem e outros meios destrutivos (ação direta violenta).
Os anarquistas acreditam que todas as sociedades, quer sejam humanas ou animais, existem graças à vantagem que o princípio da solidariedade garante a cada indivíduo que as compõem. Este conceito foi exaustivamente exposto por Piotr Kropotkin, em sua famosa obra "Mutualismo: Um Fator de Evolução". Da mesma forma, acreditam que a solidariedade é a principal defesa dos indivíduos contra o poder coercitivo do Estado e do Capital.
Mas, para que a solidariedade se torne uma virtude "de fato" é necessária a erradicação de qualquer fator de segregação ou discriminação humanas. Com esse objetivo, o internacionalismo se firma enquanto o princípio proeminente da integração sócio libertária.
Para os anarquistas, todo tipo de divisão da sociedade - em todos os aspectos - que não possua uma funcionalidade plena no campo humano deve ser completamente descartada, seja pelos antagonismos infundados que ela gera, seja pela burocracia contraproducente que ela encarna na organização social, esterilizando-a. Logo, a ideia de "pátria" é negada pelos anarquistas.
Os libertários acreditam que as virtudes - bem como o seu pleno exercer - não devem possuir "fronteiras". Assim, acreditam que a natureza humana é a mesma em qualquer lugar do mundo, exigindo, independentemente do universo material ou cultural onde o ente humano esteja inserido, uma gama infinita de necessidades e cuidados. Em outras palavras: se a fragilidade do homem não tem fronteiras, por que estabelecer empecilhos ao seu auxílio?
Vale lembrar que o conceito libertário de internacionalismo se difere completamente do conceito que conhecemos - portanto, capitalista - de globalização. Globalização é a ampliação a nível mundial da difusão de produtos - ideológicos, culturais e materiais - de determinados segmentos capitalistas, visando à potencialização máxima da capacidade mercadológica dos agentes operantes - na maioria das vezes, as empresas e as grandes corporações -, sendo, para isso, desconsideradas parcial ou completamente todas as consequências humanas do processo, já que é a doutrina do "lucro máximo" que rege essas operações. Por outro lado, o internacionalismo, por se alijar completamente de todo o ideário capitalista, não possui nenhuma intenção lucrativa, capitalista, e não é permeado por estruturas privilegiadas de produção - como as indústrias capitalistas -, sendo regido pela solidariedade e mutualismo máximos.

MIKHAIL BAKUNIN E O ANARQUISMO (Parte 1)

I - INTRODUÇÃO

Esta postagem, a ser publicada em alguns capítulos, dada a extensão do tema, pretende apresentar um personagem histórico, talvez não muito conhecido pelos mais leigos na história universal, mas certamente figura célebre dos que se dedicaram ou ainda se dedicam ao Anarquismo. Consequentemente, a postagem abordará tanto o vulto histórico quanto a doutrina por ele professada, já que raros foram os personagens que se tornaram mundialmente conhecidos sem que estivessem intimamente ligados a alguma corrente política, social, econômica ou filosófica que tenha tido alguma importância significativa na definição dos rumos da História. Entretanto, por razões que explicarei a seguir, o objetivo principal dessa publicação é, antes de tudo, o personagem e nele colocaremos a ênfase principal. Por isso, iniciaremos pela exposição do movimento em si e depois falaremos do personagem que tanto motivou o nosso interesse.
Particularmente, já declaro nesta introdução, não sou nem sequer um simpatizante dessa filosofia política denominada Anarquismo, nem de Bakunin, um dos seus grandes simpatizantes e professores. Com certeza absoluta, devo à minha mãe o conhecimento do vocábulo "anarquia", quando ainda, em tenra idade, ela entrava em nosso quarto e reclamava em voz austera: "Crianças, olhem a anarquia em que está o quarto de vocês". Dessa época em diante, o termo sempre teve, para mim, esse significado pejorativo: absoluta falta de ordem ou desordem total! Somente bem mais tarde fui descobrir o original significado da palavra, mas não lembro de ter dicutido com ela tal assunto, antes que nos deixasse.
Nesse caso devo explicar as razões que me levam a escrever esta publicação. Evidentemente, nem sempre se escreve algo apenas porque se é simpatizante do assunto. Muitas vezes escrevemos para, exatamente, explicar porque se é contra um determinado assunto ou personagem. Não foi este, entretanto, o único motivo que me levou a escrever sobre este, em particular. Uma frase famosa atribuída a Bakunin chegou-me acidentalmente às mãos, há poucos dias atrás e caiu muito no meu gosto pessoal, de indivíduo declaradamente democrata, liberal e fervoroso defensor da economia de livre mercado, em ferrenha oposição a qualquer tipo de regime totalitário e à economia de estado. O interessante dessa frase é que, com outras palavras, eu já a dissera centenas de vezes a centenas de pessoas diferentes, obtendo resultados opostos, como resposta, dependendo da corrente política do ouvinte; coisa que, aliás, não entendo muito bem, porque bastaria a apreciação da história pregressa e conhecida, para que se concordasse integralmente com as palavras de Bakunin. Mas, é como dizem, o pior cego é sempre o que não quer ver ....
Como Bakunin é frequente e erroneamente citado como socialista, precursor do comunismo, marxista e outros “ismos” ou “istas” semelhantes, achei meu dever, mais pesquisar e conhecer dessa pessoa, responsável por frase tão simples e incisiva; e talvez, como produto secundário, poder ajudar a fazer com que muitos teóricos entendam a impossibilidade de muitas teorias, se é que isso é possível. Por experiência pessoal adquirida ao longo dos meus 67 anos, já cheguei à conclusão de que as pessoas mais radicais em qualquer assunto, não são convencidas da falsidade da sua crença por falta de argumentos, mas apenas porque não querem ser dela convencidos!
Também resolvi saber mais de Bakunin porque ele foi mais um pensador que conseguiu manifestar-se sobre muitas das coisas erradas do seu tempo e a elas opor-se sem, infelizmente, apresentar propostas concretas de como resolvê-las ou fazê-las certas. De certa forma, em minha opinião, de uma maneira absolutamente ingênua, desprezando totalmente o reconhecimento da natureza mais primitiva do homem e as leis básicas da natureza, tão desprezadas hoje e, ironicamente, tão defendidas por ele no passado.
Finalmente, resolvi escrever sobre esse personagem porque, na defesa das ideias em que acreditava, ele mostrou-se de enorme valor como pessoa. Tratava-se de pessoa abonada, sem grandes problemas para ter uma vida boa, confortável e sem que nada lhe faltasse e, no entanto, renunciou a tudo isso na defesa do sucesso daquilo em que, tenho a impressão, nem ele, no seu íntimo, teria verdadeiramente acreditado. E essa pessoa merece a minha simpatia, embora eu sempre creia que existam outras maneiras de melhor ser útil à humanidade do que o seu sacrifício irracional puro e simples.
E assim, feita essa pequena introdução sobre o assunto, vamos ao que interessa. Como sempre tenho dito, não tenho, novamente, a pretensão de apresentar algo de novo, no sentido de novas descobertas; evidentemente, algumas das coisas que aqui serão arroladas, poderão ser novidade para algumas pessoas que ainda nada leram sobre o assunto. Mas a postagem sempre será muito mais um trabalho de pesquisa, organização e síntese, para fins de apresentação e melhor compreensão por parte dos eventuais leitores. E, claro, sempre visando aumentar os meus próprios conhecimentos.
No próximo capítulo, a continuação, com a apresentação da filosofia do Anarquismo.

domingo, 11 de setembro de 2011

A MENTIRA TEM PERNAS MUITO CURTAS

Esta minha postagem será muito curta, porque auto explicada por notícia publicada por fonte absolutamente insuspeita, à qual tive acesso de forma totalmente acidental, pois constava de um elenco de notícias publicadas em meu banco particular. Enquanto aguardava por retorno de um desses famigerados “telemarketings” da vida, para não perder o meu tempo, visto que a demora é insuportável, como é do conhecimento geral, li a manchete em questão e me interessando por ela fui atrás da notícia integral. E me animo a escrever essa postagem, porque trata-se de assunto tão sério, que não me permite calar, embora todos os meus leitores saibam perfeitamente bem que o assunto político não faz parte do escopo do meu “blog”.
O Governo Federal tem feito propaganda deslavada das “pseudo obras” que tem realizado na infraestrutura nacional, utilizando-se, inclusive, de uma musiquinha muito ao gosto dos brasileiros, onde a letra diz, entre outras coisas, que “o Brasil está em boas mãos, nas mãos do povo brasileiro …”. E junto com a musiquinha passa a relatar uma série de obras que estaria supostamente realizando, de conhecimento apenas da própria cúpula governamental. Com isso, o atual governo mente ao povo do Brasil, pelo menos de três formas.
Inicialmente, mente na base, quando diz que o Brasil está em mãos do povo brasileiro. O Brasil não está em mãos do povo brasileiro, mas sim nas mãos de uma absoluta minoria deste povo que, por diversas formas de negociações, nem sempre as mais limpas possíveis - isso após ter criado 30.000 cargos de confiança para poder manejar ao seu bel-prazer todas as organizações públicas nacionais –, conseguiu controlar de forma única na história de República desse país, os três poderes da nação: executivo, legislativo e judiciário! A única coisa que o povo brasileiro tem feito, iludido por toda a máquina de propaganda criada por este e por governos passados, apenas comparável à máquina de propaganda nazista do Terceiro Reich de Hitler, é mal votar; e por isso agora paga muito caro!
Mente, portando, em segundo lugar, porque o Brasil não está em boas mãos, mas sim em péssimas mãos, como a mídia honesta não cansa de demonstrar. Os eventos esportivos que deverão ser realizados no Brasil nos próximos anos estão seriamente comprometidos pela falta da infraestrutura necessária para tanto. Para “recuperar” o atraso nas obras necessárias, o atual governo propôs a forma menos democrática e mais escandalosa que alguma mente pode conceber em pleno século XXI: contratar as obras necessárias sem as devidas concorrências públicas que tornam os processos mais honestos e legais. Desta vez foram tão longe que até o Supremo Tribunal Federal (STF), com onze membros, hoje composto por nada mais, nada menos de 9 (nove!) juízes indicados por presidentes que hoje, na ativa ou aposentados, ainda atuam como base de apoio do atual presidente, decidiu vetar o pedido presidencial julgando-o inconstitucional! A questão vai agora ao Congresso que, tudo indica, deverá aprovar o mesmo pedido.
Finalmente, mente quando elenca,de forma deslavada, obras de infraestrutura que estaria contruindo, quando todos sabem que não está fazendo nada daquilo que proclama aos quatro ventos.
Em vista disso, e para provar que não estou mentindo, segue, na íntegra, artigo publicado pelo conhecido periódico “O Estado”, de São Paulo. Para não me alongar demasiadamente (e já me alonguei, nessa matéria), leiam a notícia em sua íntegra e tirem as suas próprias conclusões!
“Economia
9/11/2011 10:17:00 AM
Infraestrutura brasileira piora pelo 2º ano seguido
São Paulo, 11 - A qualidade da infraestrutura brasileira piorou em relação ao resto do mundo pelo segundo ano consecutivo. Desta vez, no entanto, o País despencou 20 posições no ranking global de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de 84º para 104º lugar. Em 2010, já havia perdido três colocações por causa da lentidão do governo para tirar projetos importantes do papel. A tendência não é nada animadora. Na avaliação de especialistas, com a paralisia verificada em algumas áreas este ano a situação tende a piorar. É o caso da malha rodoviária. No ranking mundial, elaborado com base na opinião de cerca de 200 empresários nacionais e estrangeiros, a qualidade das estradas brasileiras caiu 13 posições e está entre as 25 piores estruturas dos 142 países analisados. A preocupação é que, depois dos escândalos de corrupção no Ministério dos Transportes, muitas obras estão paralisadas. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), foram suspensos 41 editais, que estão sendo liberados de acordo com a prioridade do ministério. O órgão destaca, entretanto, que esses processos estavam em diferentes estágios, alguns na fase anterior à abertura das propostas. Apesar disso, afirma que conseguiu executar R$ 1,2 bilhão em agosto. Mas será preciso bem mais energia para melhorar a posição no ranking mundial, avalia o consultor para logística e infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet. Ele destaca que já esperava essa piora do País em relação ao resto do mundo. 'A economia brasileira está crescendo e a infraestrutura está estagnada, em deterioração.' Um dos pontos críticos, na opinião do executivo, é o sistema portuário, que recebeu nota de 2,7 pontos (quanto mais próximo de 1, pior). Com isso, a qualidade dos portos brasileiros caiu sete posições e está entre os 13 piores sistemas avaliados pelo Fórum Econômico Mundial. Entre todas as áreas, os portos ocupam a pior posição, 130º. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. AE."