Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

UM POUCO DE GEORGE ORWELL


Tomei conhecimento do nome de George Orwell e li o seu livro (provavelmente) mais importante, “Nineteen Eighty-Four” (“1984”, em português), no final da década de ’50 ou início da década seguinte. Com certeza, à época, eu era muito novo e pouco experiente para plenamente entender e tirar da obra o que de melhor ela poderia fornecer em meu próprio proveito. Mas fiquei fascinado pelo autor e sua maneira clara e sucinta de expor suas idéias mais complexas. Logo em seguida tive oportunidade de ler outra de suas obras, intitulada “Burmese Days” (no Brasil publicada sob o título “Dias na Birmânia”). Após isso, só depois de vários anos voltei a ler George Orwell, na figura de sua novela “Animal Farm” (em língua portuguesa, “A Revolução dos Bichos”). Curiosamente, então conhecedor da fama de “1984”, foi a obra desse autor que mais me impressionou, pois plenamente mostrava, em uma linguagem simples, objetiva e, propositalmente, ingênua, a sua característica mais reconhecida e palpável ao longo de sua curta vida: a sua completa aversão ao totalitarismo, de qualquer espécie.
Eric Arthur Blair, em geral apenas conhecido por seu “nome de pena”, George Orwell, foi um escritor inglês, nascido na Índia Britânica em 1903 e falecido em Londres, vitimado pela tuberculose, em 1950, com a idade de 46 anos. Durante a maior parte de sua carreira, Orwell foi melhor conhecido por seu jornalismo, através de ensaios, revisões, colunas em jornais e revistas e em seus livros de reportagem, deles sobressaindo-se “Homage to Catalonia” (em português, “Homenagem à Cataluña”), de 1938; este, um relato pessoal de Orwell sobre suas próprias experiências e observações durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936 e encerrada em 1939 com a ascensão de Francisco Franco ao poder.
Entretanto, os leitores modernos são mais frequentemente introduzidos a Orwell como um novelista, particularmente através de seus já mencionados títulos de enorme sucesso “A Revolução dos Bichos” e “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”. O primeiro deles frequentemente imaginado como a refletir os desenvolvimentos na União Soviética após a Revolução Russa; o último, retratando a vida sob a regra totalitária; ambos considerados poderosas novelas distópicas, advertindo sobre um mundo futuro em que o estado exerce completo e temível controle. Sobre “1984”, uma curiosidade: originalmente intitulada “Last Man in Europe” (O Último Homem na Europa), a obra foi renomeada “Nineteen Eighty-Four” por razões desconhecidas, possivelmente uma mera reversão dos dois últimos dígitos do ano em que ela foi escrita.
George Orwell foi um escritor, sobretudo, muito coerente. Quando a Guerra Civil Espanhola explodiu em 1936, Orwell e sua esposa decidiram lutar pelos Republicanos do governo espanhol contra os Nacionalistas de Franco, então em ascensão; enquanto no “front” em Huesca, Aragon, Orwell foi atingido na garganta por atirador de elite fascista; em Barcelona, ele juntou-se ao anti-Stalinista Trotskysta “Partido Trabalhista de Unificação Marxista” (“Partido Obrero de Unificacíon Marxista”) espanhol – POUM. Quando os comunistas ganharam o controle parcial e tentaram “purgar” o POUM, muitos dos amigos de Orwell foram presos, assassinados ou desapareceram; ele e sua esposa com muito esforço conseguiram escapar vivos em 1937. Sua “Homenagem à Cataluña”, autobiográfica, foi escrita na primeira pessoa, alguns poucos meses após os eventos.
Para os que não estão familiarizados com o estilo do autor inglês, relacionamos abaixo, para o deleite dos leitores do nosso “blog”, algumas de suas citações mais importantes, coletadas de site (http://www.george-orwell.org/l_quotes.html) da Internet, porque, realmente, valem à pena.
· "Os homens somente podem ser felizes quando não partem do princípio de que o objetivo da vida é a felicidade."
· "Se a liberdade possui, de fato, algum significado, ela significa o direito de dizer às pessoas aquilo que elas não desejam ouvir."
· "Enxergar o que está em frente ao nariz de alguém, necessita um enorme esforço contínuo."
· "Muitas pessoas, verdadeiramente, não desejam ser santos. E é possível que, alguns que alcançam ou aspiram à santidade, nunca tenham tido muita tentação a ser seres humanos."
· "O Pacifismo é, objetivamente, pró-fascista. Isso é senso comum elementar. Se você obstrui o esforço de guerra de um lado, você automaticamente apóia o esforço do lado contrário. Não há uma forma real de permanecer fora de uma guerra como a atual. Na prática, “aquele que não está comigo, está contra mim.”
· "O esporte sério não tem nada a ver com o “fair play”. Tem uma ligação estreita com ódio, ciúme, ostentação, desprezo por todas as regras e prazer sádico em testemunhar violência. Em outras palavras: é guerra, a exceção do tiroteio."
· "Falar a verdade em tempos de velhacaria universal é um ato revolucionário."
· "O grande inimigo da linguagem clara é a insinceridade."
· "Para um escritor criativo, a posse da verdade é menos importante do que a sinceridade emocional."
· "Cada geração imagina a si própria como mais inteligente do que aquela que passou antes dela e mais sábia do que a que vem após ela."
· "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros."
· "A mais rápida maneira de terminar uma guerra é perdê-la."
· "Deve-se acreditar numa autobiografia somente quando ela revela alguma desgraça. Um homem que só dá conta de boas coisas de si mesmo está provavelmente mentindo, uma vez que qualquer vida, quando vista de dentro, é simplesmente uma série de fracassos."
· "A linguagem política – e com variações essa é a verdade de todos os partidos políticos - é projetada para fazer mentiras soarem confiáveis e assassinato respeitável e para dar uma aparência de solidez ao puro vento."
· "Os Santos deveriam ser sempre julgados culpados até que provados inocentes."
· "Com a idade de 50 anos, cada homem tem a face que merece."
· "Em geral, os seres humanos querem ser bons, mas não muito bons e nem todo o tempo."
· "A propaganda é o barulho de um bastão dentro de um balde de lavagem."
· "Liberal: um adorador do poder sem poder."
· "Aquele que controla o passado, controla o futuro. Aquele que controla o presente, controla o passado."
· "Dormimos seguros em nossas camas porque homens rudes permanecem prontos na noite para infligir a violência àqueles que nos fariam mal."
· "O poder não é um meio, é um fim. Uma pessoa não estabelece uma ditadura a fim de salvaguardar uma revolução; uma pessoa faz a revolução a fim de estabelecer a ditadura. O objeto da opressão é a opressão. O objeto da tortura é a tortura. O objeto do poder é o poder."
· "A guerra é uma maneira de quebrar em pedaços, ou despejar na estratosfera, ou afundar nas profundezas do oceano, materiais que poderiam, se não fosse assim, ser usados para fazer as massas mais confortáveis e, por conseqüência, a longo prazo, mais inteligentes."
Como encerramento deste artigo, para nossa meditação, gostaria de deixar uma frase escrita no primeiro capítulo da obra de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”, evidentemente dita por um dos líderes de seus personagens animais:


“O Homem é o único inimigo real que temos. Remova o Homem da cena e a causa maior da fome e do trabalho excessivo será abolida para sempre. O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Ele não produz leite, não põe ovos, é muito fraco para puxar o arado, não corre suficientemente rápido para caçar coelhos. Entretanto ele é o senhor de todos os animais. Ele os põe a trabalhar, retorna-lhes o mínimo suficiente para evitar-lhes a inanição e todo o resto mantém para si próprio.”