Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

NOSSOS VOTOS DE BOAS FESTAS

Aos amigos que acompanham o nosso "blog" queremos, nessa oportunidade, desejar um Natal muito feliz, com as bençãos de Deus, e um Novo Ano de 2009 repleto de eventos felizes e de muita paz no seio de suas famílias.
E para que conheçam mais uma parte da nossa família, aí segue o "link" que os conduzirá ao cartão de boas festas que preparamos para todos os nossos parentes e amigos queridos, entre os quais incluímos os nossos leitores.
Boas Festas!!!
Nelson Azambuja e Família.

VIRTUS IN MEDIUM EST


Um dia desses, enquanto realizava as minhas abluções vespertinas (na verdade, tratava-se apenas do meu banho diário), dei-me conta de que é, exatamente, nesta hora, que mais ponho a minha cabeça a funcionar, com ótimo proveito para a solução dos meus problemas. Como tenho um chato hábito de não desperdiçar o meu tempo, sempre procuro fazer, pelo menos, duas coisas ao mesmo tempo. Isso, evidentemente, contrariando à teoria das mulheres que dizem que homem nenhum consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. A favor das mulheres, o fato de que, na verdade, sempre procuro encontrar duas coisas que, razoavelmente, se compatibilizem, pois de outra forma tal ação poderia vir a tornar-se um esforço sobre-humano – ninguém é de ferro! Prosseguindo, em nenhuma outra hora ou situação sinto-me tão à vontade para pensar do que quando estou tomando banho. A sensação é tão agradável que já estou tomando três banhos por dia (e penso seriamente em ampliar essa média) para contar com mais tempo para pensar. Contra a minha salutar intenção, o fato de que tenho outras coisas para fazer e enquanto tomo os meus banhos não posso fazer nenhuma delas, além de pensar. Este é exatamente o outro fator positivo a favor do banho como esta situação privilegiada: o fato de que enquanto alguém toma banho, fica absolutamente impedido de fazer qualquer outra coisa a não ser pensar. O que facilita em muito a minha vida – e faz as mulheres darem muita risada.

Então, como ia dizendo, tomava banho e pensava. E como não tinha qualquer outro compromisso a não ser tomar banho, pensava sobre vários assuntos ao mesmo tempo, meus pensamentos vagavam de um a outro, sem a menor responsabilidade. De onde fico com a impressão de que todos os grandes pensadores e filósofos da história e do mundo passavam a maior parte do seu tempo no banheiro – tomando banho ... e pensando! E o pensamento tem a capacidade impressionante de provocar outros pensamentos; não, de puxar outros pensamentos, às vezes de alguma forma correlacionados, às vezes sem qualquer conexão um com o outro. E de repente me botei a pensar em como as pessoas possuem, em geral, a tendência de se bi polarizarem. Ou estão de um lado da questão, ou estão do outro, não pode nunca haver o meio-termo. Gabam-se de assim proceder e condenam os que assim não agem. Em geral, o que é a favor de um dado argumento, não vê qualquer ponto positivo no argumento contrário. Os poucos que assim ousam, são mal vistos; a primeira reação é a ofensa direta: “fulano está em cima do muro!”. Por que tem que ser assim?

Quando São Tomás de Aquino, no século XIII, usou pela primeira vez a expressão latina "Virtus in Medium Est", que significa, como não é difícil de adivinhar, “A Virtude Está No Meio”, ele pretendeu sintetizar a liturgia da Ascensão de Cristo e seus reflexos em nossas vidas: de nada adianta ficar olhando para o céu se não nos preocupamos em viver as virtudes da fé e da caridade já, aqui na terra; tanto um extremo quanto o outro fazem de nós pessoas alienadas, que ou vivem mergulhadas no mundo como vermes que rastejam sobre a terra, buscando unicamente os bens terrenos, ou como seres aéreos, com a cabeça “fora do ar”, “fora da casinha”, que não se preocupam com o presente.


O nobre objetivo de São Tomás de Aquino, frade dominicano, teólogo, distinto expoente da escolástica, proclamado santo e cognominado Doctor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja Católica e chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios, foi popularizado com o passar dos tempos, mas isso não significa que a expressão não continue valendo. Os extremos são maus, não importa o assunto que esteja sendo tratado. Todo o exagero é pernicioso e entendemos isso a partir das coisas mais simples: comer demais faz engordar e cria problemas para a saúde, da mesma maneira que comer muito pouco leva aos exageros da magreza, tão em moda hoje em dia, responsável por tantos males no mundo das modelos.




Os exemplos são incontáveis e basta pararmos um pouco para pensar e nos daremos conta disso. Mas o mais interessante de tudo isso é o fato de que as pessoas, de uma maneira geral, não se apercebem de que perambulam pelos extremos; e mais, gabam-se disso! É muito comum ouvir-se a sentença: “é preciso ousar, é preciso ir aos extremos!”; da mesma forma que a palavra “medíocre” tornou-se comum para expressar a coisa ou pessoa vulgar, ordinária ou comum quando, na verdade, a origem da palavra é bem outra. E isso não é recente, pois há muito que, por exemplo, “mediocracia”, de acordo com o “Aurélio”, significa “predomínio social das classes médias, da burguesia”, sempre com sentido pejorativo. Mas não é exatamente isso o que se deseja, que não haja nem tão ricos (extremo), nem tão pobres (o outro extremo), mas que haja a predominância de classe média? Sábio era Aluísio Azevedo que em sua “Casa de Pensão”, já dizia: “Não as vá procurar (as moças) na alta sociedade ...! mas indague-as cá por baixo, na mediocracia, que as há de descobrir”.

O resultado desse procedimento generalizado, no cotidiano da vida em sociedade, são as discussões acaloradas e sem término, muitas vezes até mesmo ríspidas, pela única razão de que o meio termo não pode existir: é o famoso “nem oito, nem oitenta” ou o “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, que os nossos avós sensatos diziam. Pessoalmente, estou convicto de muita coisa no mundo poderia mudar para melhor, se as pessoas fossem menos radicais em seus atou ou opiniões; sem que fosse necessário, ao esportista gaúcho, usar camisa azul e vermelha no gre-nal para dizer que é mais ponderado ou, ao tradicionalista rio-grandense-do-sul, usar lenço vermelho e branco ao pescoço para significar que não é nem chimango nem maragato. Nesse caso, estariam ambos “indo ao extremo” da ponderação.

Tenham todos uma boa discussão!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A REVOLUÇÃO DE 1932

Generalidades
A Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 32 ou Guerra Paulista, foi o movimento armado ocorrido no Brasil entre Julho e Outubro de 1932, quando o estado de São Paulo visou à derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas e à instituição de um regime constitucional após a supressão da Constituição de 1891 pela Revolução de 1930.
Obviamente, um estado forte como São Paulo, não deixaria o movimento de 1930 sem uma pronta resposta, assim que tivesse a oportunidade mais favorável. Essa foi a primeira grande revolta contra o governo de Getúlio Vargas e o último grande conflito armado ocorrido no Brasil.
No total, foram 85 dias de combates, (de 9 de julho a 2 de outubro de 1932), com um saldo oficial de 934 mortos, embora estimativas, não oficiais, reportem até 2.200 mortos, sendo que inúmeras cidades do interior do estado de São Paulo sofreram danos devido ao combates.
A política centralizadora de Vargas desagradara as oligarquias estaduais, especialmente as de São Paulo. As elites políticas, do Estado economicamente mais importante, sentiam-se prejudicadas e os liberais reivindicam a realização de eleições e o fim do governo provisório. O governo Vargas reconhece oficialmente os sindicatos dos operários, legaliza o Partido Comunista e apóia um aumento no salário dos trabalhadores. Estas medidas irritam ainda mais as elites paulistas. Em 1932, uma greve mobiliza 200 mil trabalhadores no Estado. Preocupados, empresários e latifundiários de São Paulo se unem contra Vargas.
Apesar da derrota paulista em sua luta por uma constituição, dois anos depois da revolução, em 1934, uma assembléia eleita pelo povo promulga a nova Carta Magna.
Atualmente, o dia 9 de julho, que marca o início da Revolução de 1932, é a data cívica mais importante do estado de São Paulo e feriado estadual. Os paulistas consideram a Revolução de 1932 como o maior movimento cívico de sua história.


Contexto
Na primeira metade do século XX, o Estado de São Paulo vivenciara um acelerado processo de industrialização e enriquecimento devido aos lucros da lavoura de café e à articulação da política do café-com-leite, pela qual se alternavam, na presidência da República, políticos dos Estados de São Paulo e de Minas Gerais.
No início de 1929 o governo federal de Washington Luís, ao nomear o paulista Júlio Prestes, preteriu a vez de Minas gerais no jogo da sucessão presidencial, rompendo a "aliança café-com-leite", na qual São Paulo e Minas gerais, os Estados mais ricos da União, alternavam-se no poder, desde o governo de Campos Salles (1898-1902). Assim, Minas rompe com São Paulo, une-se á bancada gaúcha no Congresso e promete apoio a Getúlio Vargas, se este concorresse á presidência.
Em setembro de 1929, Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba formaram a "Aliança Liberal" lançando Vargas à presidência e João Pessoa, da Paraíba, à vice. Apoiavam também o partido, a classe média e os tenentes, que defendiam reformas sociais e econômicas para o país.
Em meio à grave crise econômica, devido à Grande Depressão de 1929 que derrubara os preços do café, Júlio Prestes foi eleito presidente em 1º de março de 1930, pelo Partido Republicano Paulista, mas não tomou posse.
A ala mais radical da Aliança Liberal resolve pegar em armas e usa o assassinato de João Pessoa, em julho de 1930, como o estopim do movimento. O crime não teve motivos políticos, mas foi usado como tal, cujo impacto emocional deu novo ânimo aos oposicionistas derrotados. Cresce o apoio popular e os preparativos do golpe foram levados adiante e com rapidez pois se aproximava o momento da posse de Júlio Prestes. Em 3 de outubro de 1930 estoura a insurreição. Os rebeldes tomam os três Estados que irradiaram a revolução (Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba) e rumam para a capital federal.
Vencida a revolução, Getúlio Vargas foi nomeado chefe do governo provisório e põe fim à supremacia política de São Paulo e Minas Gerais no governo federal e instalando no Brasil uma ditadura. Minas Gerais, porém, apoiou a Revolução de 1930 e a ditadura de Getúlio Vargas.
Júlio Prestes e o presidente Washington Luís e vários outros apoiadores de Júlio Prestes foram exilados na Europa e os jornais que apoivam Júlio Prestes foram destruídos (na época se dizia empastelados), entre eles, a Folha de S. Paulo e o Correio Paulistano.
Getúlio nomeou interventores para o governo dos Estados, sendo que para São Paulo foi designado o tenente, promovido a coronel, pela Revolução de 1930, João Alberto Lins de Barros, considerado pelas oligarquias como "forasteiro e plebeu" e também chamado de “ o pernambucano”, pelo povo paulista.
Em 1932 a irritação dos paulistas com Getúlio Vargas não cedeu com a nomeação de um paulista, Pedro Manuel de Toledo, como interventor do Estado, pois tanto este quanto Laudo Ferreira de Camargo (que havia renunciado por causa da interferência dos tenentes no governo), não conseguiam autonomia para governar.
Começou-se, então a tramar-se um movimento armado visando à derrubada da ditadura de Getúlio Vargas, sob a bandeira da proclamação de uma nova Constituição para o Brasil.A primeira grande manifestação dos paulistas foi um mega comício - na época se dizia meeting -, na Praça da Sé, no dia do aniversário de São Paulo em 25 de janeiro de 1932, com um público estimado em 200.000 pessoas. Em maio de 1932, ocorreram vários comícios constitucionalistas. (abaixo, cartaz revolucionário de 1932)


O Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático de São Paulo, que antes apoiara a Revolução de 1930, uniram-se na Frente Única para exigir o fim da ditadura do "Governo Provisório" e uma nova Constituição. Assim, São Paulo inteiro estava contra a ditadura.
Os paulistas consideravam que o seu Estado estava sendo tratado pelo Governo Federal, que se dizia um "Governo Provisório", como uma terra conquistada, expressão de autoria de Leven Vanpré, governada por tenentes de outros estados e sentiam, segundo afirmavam, que a Revolução de 1930 fora feita "contra" São Paulo, pois Júlio Prestes havia tido 90% dos votos dos paulistas em 1930.
O estopim da revolta foi a morte de cinco jovens no centro da cidade de São Paulo, assassinados a tiros, por partidários da ditadura, pertencentes à "Legião Revolucionária", criada por João Alberto Lins de Barros e orientada pelo Major Miguel Costa, em 23 de maio de 1932.
Pedro de Toledo tentara formar um novo secretáriado, independente de pressões dos tenentes, quando chegou a São Paulo Osvaldo Aranha, representando a ditadura, querendo interfir na formação do novo secretariado. O Povo quando ficou sabendo, saiu as ruas, houve grandes comícios e passeatas, e no meio do tumulto, a multidão tenta invadir a séde da "Legião Revolucionária". Ao subirem as escadarias do edifício, são recebidos a bala.
A morte dos jovens deu origem a um movimento de oposição que ficou conhecido como MMDC, atualmente denominado oficialmente de MMDCA, sigla formada com as iniciais de seus nomes: Mário Martins de Almeida (Martins), Euclides Bueno Miragaia (Miragaia), Dráusio Marcondes de Sousa (Dráusio), Antônio Américo Camargo de Andrade (Camargo) e Orlando de Oliveira Alvarenga (Alvarenga).
O dia 23 de maio é sagrado em São Paulo como o Dia do Soldado Constitucionalista.
Esse fato levou à união de diversos setores da sociedade paulista em torno do movimento de constitucionalização. Neste movimento, liderado pelo MMDC, tanto se uniu o PRP e Partido Democrata, chamados, pela ditadura, de "oligarquia" e que pretendiam a volta da supremacia paulista e do PRP ao poder, quanto segmentos que desejavam a implantação de uma verdadeira democracia no Brasil, mais ampla que a democracia da Constituição de 1891.


A Revolução e Suas Conseqüências
Em 9 de julho eclodiu o movimento revolucionário, com os paulistas acreditando possuir o apoio de outros Estados, notadamente Minas Gerais (porque o apoio desse estado que dois anos atrás havia provocado a revolução de 1930, justamente contra São Paulo?), Rio Grande do Sul (e eu fico me perguntando de onde vinha essa crença, se considerarmos que Getúlio Vargas era gaúcho e dois anos antes havia dado um golpe com o apoio de todos os gaúchos) e do sul de Mato Grosso, para a derrubada de Getúlio Vargas. Pedro de Toledo, que ganhara forte apoio dos paulistas, foi proclamado governador de São Paulo e foi o comandante civil da revolução constituionalista. (abaixo, foto de 1932 mostrando soldados paulistas entrincheirados).


Foi lançada uma proclamação da "Junta Revolucionária" conclamando os paulistas a lutarem contra a ditadura. Formavam a Junta Revolucionária, Francisco Morato do Partido Democrático, Antônio de Pádua Sales do PRP, Generais Bertoldo Klinger e Isidoro Dias Lopes. O general Euclides Figueiredo assumiu a 2º Região Militar.
Alistaram-se 200.000 voluntários, estimando-se que destes, 60.000 combateram nas fileiras do Exército constitucionalista.
No Estado, a Revolução de 1932, contou com um grande contingente de voluntários civis e militares e o apoio de políticos de outros Estados, como Borges de Medeiros (do Rio Grande do Sul), Artur Bernardes (de Minas Gerais) e João Neves da Fontoura (também gaúcho). No atual Mato Grosso do Sul foi formado um estado independente que se chamou Estado de Maracaju, que apoiou São Paulo.
São Paulo esperava a adesão do interventor do Rio Grande do Sul, o estado mais bem armado, mas este na última hora decidiu enviar tropas não para apoiar São Paulo, mas para combater os paulistas (confirmando o que se havia suspeitado acima).
Apesar da "traição" oficial do governo do estado, alguns gaúchos entraram na luta no próprio Rio Grande. Liderados por Borges de Medeiros um batalhão de cerca 450 homens praticava, utilizando termos atuais, táticas de guerrilha para fixar tropas federais, isto é, atacando destacamentos que partiriam do Rio Grande do Sul para vir reforçar os getulistas contra São Paulo, impedindo-os de chegar nos frontes, principalmente na frente paranaense.
Os revolucionários rio-grandenses tiveram um fim na Batalha de Cerro Alegre, no município de Piratini no dia 20 de setembro de 1932, quando foram mortos mais de duzentos homens das forças constitucionalistas e o líder Borges de Medeiros preso. Infelizmente os feitos destes bravos revolucionários estão quase esquecidos, principalmente pelo fato de não haver apoio oficial do governo, considerado uma grande traição pelos paulistas, criando assim uma rivalidade entre os dois Estados. O movimento paulista estendeu-se até 2 de outubro de 1932, quando foi derrotado militarmente. (abaixo foto do Ibirapuera - Monumento aos heróis de 1932)

Observe-se que, em 9 de julho, Getúlio Vargas já havia estabelecido eleições para uma Assembléia Nacional Constituinte e que já havia nomeado um interventor paulista - as duas grandes exigências de São Paulo. Porém a interferência do governo federal e dos tenentes em São Paulo continuava forte. Estes atos do Governo Provisório, porém, não evitaram o conflito, já que o que a elite paulista realmente almejava voltar a dominar a política nacional, como fazia anteriormente, reparando a injustiça de Júlio Prestes não ter tomado posse em 1930, dar uma constituição ao Brasil e terminar com as interferências da ditadura no governo de São Paulo.
Porém o término da revolução constitucionalista marcou o início do processo de democratização. Em 3 de maio de 1933 foram realizadas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte quando a mulher votou pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. Nesta eleição, graças à criação da Justiça Eleitoral, as fraudes deixaram de ser rotina nas eleições brasileiras.
Na versão do governo, a revolução de 1932 não era necessária pois as eleições já tinham data marcada para ocorrer. Segundo os paulistas, não teria havido redemocratização no Brasil, se não fosse o Movimento Constitucionalista de 1932.
Getúlio, terminada a revolução de 1932, se reconcilia com São Paulo, e depois de várias negociações políticas, nomeia um civil e paulista para interventor em São Paulo: Armando de Sales Oliveira, participando, mais tarde, em 1938, pessoalmente da inauguração da avenida 9 de julho em São Paulo.Durante o Estado Novo, os dois interventores federais em São Paulo saíram das hostes do Partido Republicano Paulista: Adhemar Pereira de Barros (1938-1941) e Fernando de Sousa Costa (1941-1945) que havia sido secretário da agricultura do Dr. Júlio Prestes.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A REVOLUÇÃO DE 1930

Generalidades
Dá-se o nome de Revolução de 1930 ou Revolução de 30 ao movimento armado liderado pelos estados do Rio Grande do Sul, Paraíba e de Minas Gerais que culminou com o golpe de Estado que depôs o presidente paulista Washington Luís em 24 de outubro deste ano. (abaixo, foto de Washington Luís).


Em 1929 lideranças do estado de São Paulo romperam a aliança com os mineiros representada pela política do café-com-leite, e indicaram o paulista Júlio Prestes como candidato à presidência da República, quando deveria ser indicado candidato mineiro de comum acordo e com o apoio destes dois estados. Como reação, o Presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, passou a apoiar a candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas. Em 1º de março de 1930 houve eleições para presidente da República que deram a vitória ao candidato governista Júlio Prestes, que não tomou posse em virtude do golpe de estado desencadeado a 3 de outubro de 1930 e foi exilado. (abaixo, foto de Júlio Prestes de Albuquerque).

Getúlio Vargas assumiu a chefia do "governo provisório" em 3 de novembro de 1930, data que marca o fim da República Velha.
As várias correntes históricas podem dizer o que quiserem e justificar da forma como bem entenderem, mas há várias coisas que devem ser ditas, a priori, sobre essa revolução, por gente com isenção de ânimo e que, não tendo vivido à época, apenas se baseou nas leituras que realizou de várias fontes.
A primeira delas é que, se havia, como havia, a propalada “política café com leite”, como processo político e tal como era exercida, ela era válida do ponto de vista legal e, portanto, mesmo que condenável do ponto de vista moral, ela não poderia ser refutada através de um golpe, como o foi. Comparada ao que existe atualmente em matéria de “conchavos políticos”, a “política café com leite” era, literalmente, uma brincadeira de criança. Muito mais se levarmos em conta que as eleições no Brasil sempre foram diretas e que cabia ao povo, manifestar-se contra essa política através do seu instrumento legal que era o voto.
Comprovando o que foi dito acima, o estado do Rio Grande do Sul opôs-se àquele estado de coisas, justamente lançando candidato fora do eixo São Paulo, Getúlio Vargas. Até aí, tudo bem. O que está absolutamente errado é concorrer a um cargo eletivo, ser derrotado – e nesse caso, pelo povo, já que as eleições foram diretas - e então virar a mesa. Quer dizer, se Getúlio tivesse vencido as eleições, estaria tudo bem; como perdeu, faz uma revolução? Isso tem nome: GOLPE! Quem sempre foi a favor da legalidade das coisas, tem que ser coerente: sempre a favor da legalidade e também neste caso ou, sempre a favor do golpe e nesse caso, dar e justificar o golpe.
O terceiro ponto para o qual gostaria de chamar a atenção dos leitores, no que se refere a essa “revolução”, é a facilidade como esse golpe aconteceu. Afinal de contas, mesmo se contarmos com Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba totalmente a favor, o que fez o resto do Brasil para reagir? E se a eleição foi legal e Getúlio derrotado, aonde andava o exército nacional a essas alturas, nessa época sediado no Rio de Janeiro, o segundo maior centro do país, contando ao seu lado com o primeiro maior centro do país, São Paulo? Só o “Tenentismo” poderia justificar essa facilidade que ninguém podia explicar.Confesso que fiz uma força incrível para para dar razão aos responsáveis por essa “revolução”, mas por mais que tenha tentado, não consegui!


Contexto Histórico
Na República Velha (1889-1930), vigorava no Brasil a chamada "política do café com leite", em que políticos de São Paulo e de Minas Gerais, se alternavam na presidência da república.
A crise da República Velha havia se prolongado ao longo da década de 1920, perdendo visibilidade com a mobilização do trabalhador industrial, com as Revoltas nazifacistas e as dissidências políticas que enfraqueceram as grandes oligarquias, ameaçando a estabilidade da tradicional aliança rural entre os estados de São Paulo e Minas Gerais (a "Política do café com leite").
Em 1926, setores que se opunham ao Partido Republicano Paulista (PRP) fundaram o Partido Democrático (PD), que defendia um programa de educação superior. Mas o maior sinal do desgaste republicano era a superprodução de café, alimentada pelo governo com constantes “valorizações” do trabalho rural e generosos subsídios públicos.
Porém, no começo de 1929, Washington Luís indicou o nome do Presidente de São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor, no que foi apoiado por presidentes de 17 estados. Apenas três estados negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Os políticos de Minas Gerais esperavam que Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, o então governador do estado, fosse o indicado. No mesmo ano, em Juiz de Fora, o Partido Republicano Mineiro (PRM) passa para a oposição, forma a Aliança Liberal com os segmentos progressistas de outros Estados e lança o gaúcho Getúlio Vargas para a presidência, tendo o paraibano João Pessoa como vice.
Assim a política do café com leite chegou ao fim e iniciou-se a articulação de uma frente oposicionista ao intento do presidente e dos 17 estados de eleger Júlio Prestes. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba uniram-se a políticos de oposição de diversos estados, inclusive do Partido Democrático de São Paulo, para se oporem à candidatura de Júlio Prestes , formando, em agosto de 1929, a Aliança Liberal.
Em 20 de setembro do mesmo ano, foram lançados os candidatos da Aliança Liberal às eleições presidenciais: Getúlio Vargas como candidato a presidente e João Pessoa (presidente da Paraíba e sobrinho de Epitácio Pessoa) como candidato a vice-presidente. Apoiaram a Aliança Liberal intelectuais como José Américo de Almeida e Lindolfo Collor, membros das camadas médias urbanas e a corrente político-militar chamada "Tenentismo" (que organizou, entre outras, a Revolta Paulista de 1924), na qual se destacavam Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes, Siqueira Campos, João Alberto Lins de Barros, Juarez Távora e Miguel Costa e Juraci Magalhães e três futuros presidentes da república.O presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos, diz em discurso, ainda em 1929: " Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pelas armas". Esta frase foi vista como a expressão do instinto de sobrevivência de um político experiente e um presságio.


A Revolução
As eleições foram realizadas no dia 1º de março de 1930 e deram a vitória a Júlio Prestes que obteve 1.091.709 votos contra apenas 742.794 dados a Getúlio. Ressaltando que Getúlio teve quase 100% dos votos no Rio Grande do Sul.
A Aliança Liberal recusou-se a aceitar a validade das eleições, alegando que a vitória de Júlio Prestes era decorrente de fraude. Além disso, deputados eleitos em estados onde a Aliança Liberal conseguiu a vitória, não obtiveram o reconhecimento dos seus mandatos. A partir daí, iniciou-se uma conspiração, com base no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.
A conspiração sofreu um revés em junho com o brado comunista de Luís Carlos Prestes que seria um ex-membro do movimento tenentista, mas ele tornou-se adepto das idéias de Karl Marx assim começou a apoiar o comunismo. Isso o levou, depois de um tempo, à tentativa frustada da intentona comunista pela ANL. Logo em seguida outro contratempo: morre em acidente aéreo o tenente Siqueira Campos.
No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado por João Dantas em Recife, por questões políticas e de ordem pessoal, servindo como estopim para a mobilização armada. João Dantas seria, logo a seguir, barbaramente assassinado.
As acusações de fraude e a degola arbitrária de deputados mineiros e de toda a bancada da Paraíba da Aliança Liberal; o descontentamento popular devido à crise econômica causada pela grande depressão de 1929; o assassinato de João Pessoa e o rompimento da política do café com leite, foram os principais fatores, (ou pretextos na versão dos partidários de Júlio Prestes), que criaram um clima favorável a uma revolução.
Getúlio tentou várias vezes a conciliação com o governo de Washington Luís e só se decidiu pela revolução quando já se aproximava a posse de Júlio Prestes que se daria em 15 de novembro.
A revolução de 1930 iniciou-se, finalmente, no Rio Grande do Sul em 3 de outubro, às 17 horas e 25 minutos. Osvaldo Aranha telegrafou a Juarez Távora comunicando início da Revolução. Ela rapidamente se alastrou por todo o país. Oito governos estaduais no nordeste foram depostos pelos tenentes.No dia 10, Getúlio Vargas lançou o manifesto "O Rio Grande de pé pelo Brasil" e partiu, por ferrovia, rumo à capital federal (então, o Rio de Janeiro). (abaixo, foto de Getúlio Vargas e partidários)



Esperava-se que ocorresse uma grande batalha em Itararé (na divisa com o Paraná), onde as tropas do governo federal estavam acampadas para deter o avanço das forças revolucionárias, lideradas militarmente pelo coronel Góis Monteiro.
Porém em 12 e 13 de outubro ocorreu o Combate de Quatiguá, que pode ter sido o maior combate desta Revolução, mesmo tendo sido muito pouco estudado. Quatiguá localiza-se à direita de Jaguariaiva, próxima a divisa entre São Paulo e Paraná.
A batalha não ocorreu em Itararé,já que os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e o Almirante Isaías de Noronha depuseram Washington Luís, em 24 de outubro e formaram uma junta de governo.
Jornais que apoiavam o governo deposto foram empastelados; Júlio Prestes, Washington Luís e vários outros próceres da “república velha” foram exilados.
Às 3 horas da tarde de 3 de novembro de 1930, a junta militar passou o poder, no Palácio do Catete, a Getúlio Vargas, (que vestiu farda militar pela primeira vez na vida, por sugestão de seus assessores, para incutir no povo a "aura revolucionária"), encerrando a chamada república velha.
Na mesma hora, no centro do Rio de Janeiro, os soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar os cavalos no obelisco da avenida Rio Branco, marcando simbolicamente o triunfo da Revolução de 1930.Getúlio tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes. A constituição de 1891 foi revogada e Getúlio passou a governar por decretos. Getúlio nomeou interventores para todos os Governos Estaduais, com exceção de Minas Gerais. Esses interventores eram na maioria tenentes participantes da Revolução de 1930.

domingo, 23 de novembro de 2008

HOMENAGEM A PORTO ALEGRE

Fugindo à rotina, aproveito esse tempo, há tanto e por todo o canto, chuvoso, para prestar uma singela homenagem à cidade de Porto Alegre, minha terra natal.

A ideia não é descrever, geográfica ou historicamente, a capital mais meridional do país. Sem desprezar qualquer dessas características, Porto Alegre representa, para mim, antes de qualquer coisa, a cidade onde nasci e me criei, onde conheci a minha namoradinha, ainda menina, que viria a ser a minha esposa, até hoje; a cidade onde desfrutei a minha adolescência, os meus colégios de primário, ginásio e científico, daqueles tempos; da minha Faculdade de Engenharia da UFRGS e dos meus primeiros trabalhos como profissional. E a cidade que, por força desses mesmos trabalhos, eu deixaria com 32 anos de idade, para morar em Florianópolis.

Para realizar essa homenagem, apenas fiz juntar três ingredientes: uma linda canção gaúcha, “Coração Porto-Alegrense”, cujos compositores, também gaúchos são Sérgio Napp e César Dorfman; umas fotos maravilhosas da cidade, antigas e recentes, com muito poder evocativo, para mim; e uma linda poesia do grande poeta gaúcho, da cidade do Alegrete, Mário Quintana. Depois, foi só misturar bem e cozinhar em fogo brando ... Ah, devo dizer que a ideia da produção dessa apresentação veio da minha querida prima Ieda Maria, muito carinhosamente chamada, por todos os seus primos, de Iedinha. Gaúcha que ama o seu torrão, sugeriu-me a ideia de prestar essa homenagem à cidade onde crescemos e a alguns lugares onde brincamos juntos, nos nossos irresponsáveis e maravilhosos tempos de criança.

Para apreciar o resultado, o que vocês têm a fazer é clicar no link Porto Alegre. Lá chegando, encontrarão outras instruções simples. Levará um par de minutos para abrir, já que o arquivo é meio pesado.

Quem conhece Porto Alegre, reconhecerá, dos tempos dos bondes, o viaduto sobre a Avenida Borges de Medeiros, a Praça da Matriz dos velhos tempos, ainda com o antigo Auditório Araújo Viana ao seu lado, a Avenida João Pessoa vista da "Lomba do Sétimo", podendo-se enxergar o antigo Colégio Júlio de Castilhos, incendiado ao final da década de 1950 e que deu lugar à Faculdade de Ciências Econômicas, além de outros monumentos das nossas lembranças.

O tão conhecido, e não menos lindo, "por do sol no Guaíba"

Evidentemente, a apresentação tocará mais a quem é de Porto Alegre; entretanto, sabemos que, de alguma forma, muitos dos nossos amigos já têm um pezinho por lá, de tanto ouvirem falar. Além do mais, sensibilidade independe do lugar de origem das pessoas; e se há coisa que os nossos amigos têm de sobra é essa qualidade.

domingo, 16 de novembro de 2008

A REVOLUÇÃO DE 1923

Generalidades


A Revolução de 1923 foi o movimento armado ocorrido durante onze meses daquele ano, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em que lutaram, de um lado, os partidários de Borges de Medeiros (borgistas ou chimangos) e, de outro, os aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil (assisistas ou maragatos). (Na foto abaixo, Borges de medeiros)


A Revolução surgiu numa conjuntura em que as oposições se uniram contra Borges de Medeiros, que se perpetuava no comando do Rio Grande do Sul, amparado na autoritária Constituição castilhista de 1891. A política econômica de Borges precipitara o Estado numa crise financeira que contribuíra para descontentar a elite estancieira. Também boa parte do movimento operário e estudantil opunha-se a Borges por conta de divergências anteriores. No plano nacional, se isolara com o malogro da chamada reação republicana, por meio da qual tentara opor-se ao presidente da República, Arthur Bernardes, recém eleito. O Exército ficou mais próximo dos revolucionários, ao contrário de 1893. O pretexto para a eclosão da revolução foi a suposta apuração fraudulenta das eleições estaduais de 1922. Presidira a comissão apuradora na Assembléia do Estado o então deputado Getúlio Vargas. Joaquim Francisco de Assis Brasil era o candidato da oposição contra Borges.


Antecedentes e Causas




Júlio de Castilhos foi substituído na presidência do Estado por Borges de Medeiros, que seguiu adotando os mesmos métodos e que também tinha como objetivo perpetuar-se no poder. Em 1922, Borges resolve candidatar-se a outro mandato na presidência do Estado e contava, como sempre, com a força do PRR, que não hesitava em apelar para a fraude e a violência, para garantir a reeleição.
Todavia, dessa feita, há um fato novo: forma-se uma aliança entre vários segmentos da sociedade gaúcha para estimular uma oposição organizada. O veterano político Assis Brasil desafia Borges na disputa nas urnas. Divide-se, assim, o Rio Grande, entre borgistas e assisistas, chimangos (numa alusão ao pseudônimo dado a Borges por Ramiro Barcelos, Antônio Chimango) e maragatos (como eram chamados os adeptos do Partido Federalista, identificados pelo uso do lenço vermelho).
A campanha eleitoral ocorre sob um clima de repressão e violência. Opositores do governo são presos, espancados e até mortos. Locais de reunião dos assisistas são fechados e depredados pela polícia borgista.Quando se anuncia o resultado das urnas, com a previsível vitória de Borges de Medeiros, a revolta é geral. A comissão apuradora de votos, formada por pessoas fiéis ao governo, é acusada de fraude eleitoral pela oposição. A disputa nas urnas transforma-se em disputa pelas armas. A oposição, liderada por Assis Brasil, adere à revolta armada para derrubar Borges de Medeiros, que toma posse para um novo mandato em 25 de janeiro de 1923 (abaixo, foto de Assis Brasil).


Setores importantes da sociedade gaúcha já andavam descontentes com o governo. A política econômica de Borges precipitara o Estado numa crise financeira que contribuíra para descontentar tanto a elite estancieira como boa parte do movimento operário e estudantil. No plano nacional, Borges se isolara ao fazer oposição à candidatura de Artur Bernardes, afinal eleito Presidente da República.Em verdade, o ódio entre as facções era mais antigo. Vinha desde a Revolução Federalista de 1893, que teve como marca “a degola”, dilacerando vidas e trazendo desgraça e tristeza para muitas famílias de ambos os lados. Essa Revolução deixou sentimentos de vingança e violência em muitos corações, que teve quase uma continuidade com a Revolução de 1923.


Desdobramentos


Os combates iniciaram ao final de janeiro. As cidades de Passo Fundo e Palmeira das Missões foram atacadas pelos caudilhos maragatos Mena Barreto e Leonel da Rocha, que encontraram forte resistência.
A expectativa de Assis Brasil e seus aliados, ao partir para a luta armada, era a de que o Presidente da República Arthur Bernardes, que não nutria simpatias por Borges, decretasse intervenção federal no Rio Grande do Sul. Mas Borges, um político hábil, se aproximou de Bernardes e frustrou as expectativas de seus opositores.
Os maragatos, que não estavam devidamente organizados para enfrentar as forças governistas, nem tinham objetivos militares definidos, ficaram confusos ao verem que a pretendida intervenção federal não viria. A continuidade da luta dependia das ações isoladas empreendidas por caudilhos como Honório Lemes e José Antônio Matos Neto, o “Zeca Netto”. Mas as operações militares ficavam restritas a regiões distantes de Porto Alegre e não conseguiram causar dano à superioridade dos borgistas. Logo os maragatos começaram a ressentir-se da falta de homens e de armas.Para Assis Brasil e seus aliados mais lúcidos ficou claro, desde logo, que não havia possibilidade de vitória militar e por isso manifestaram disposição de negociar com o lado contrário (abaixo, foto de Zeca Netto - sentado, à esquerda - e líderes revolucionários).



Zeca Netto, que se opunha a qualquer acordo com Borges, tentou uma última cartada. Imaginou que, se atacasse e tomasse uma cidade importante, poderia intimidar os borgistas. Assim, em 29 de outubro, atacou Pelotas, então a maior cidade do interior gaúcho, de surpresa, ao alvorecer, mas a manteve sob seu controle por apenas seis horas, porque as hostes governistas conseguiram se rearticular e receber reforços. Na iminência de ser atacado por forças superiores, o velho caudilho, de 72 anos de idade, retirou suas tropas.
A partir deste episódio, já não tinham os maragatos condições de seguir lutando. Por iniciativa do governo federal, realizaram-se negociações comandadas pelo ministro da Guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, com a participação do senador João de Lira Tavares, representante do Congresso.
Em dezembro de 1923, pacificou-se a revolução no Pacto de Pedras Altas, residência de Assis Brasil. Borges de Medeiros pôde permanecer até o final do mandato em 1928, mas a Constituição de 1891 foi reformada. Impediu-se o instituto das reeleições, a indicação de intendentes e do vice-presidente do Estado (abaixo foto histórica da entrada de Zeca Netto em Pelotas).





O acordo foi importante para o Rio Grande do Sul. O sucessor de Borges no governo gaúcho foi Getúlio Vargas. Em 1930, a frente única rio-grandense, sob sua liderança, assume o governo do país. Segundo o historiador gaúcho Antônio Augusto Fagundes,a Revolução de 1923 “foi a última guerra gaúcha, fechando a trindade que se iniciara em 1835 e continuara em 1893”.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A REVOLUÇÃO FEDERALISTA DE 1893

Generalidades

Antes de penetrar na Revolução propriamente dita e para que bem se possa entendê-la, bem como o que a segue, é muito importante que o leitor tenha em mente que o epísódio em pauta teve o seu início apenas quatro anos após a Proclamação da República do Brasil, uma transformação radical para um país que viveu apenas 67 (sessenta e sete) anos sob o regime imperial, imediatamente após a sua independência.
A Revolução Federalista de 1893 ocorreu no sul do Brasil, logo após a Proclamação da República (1889), e teve como causa principal a instabilidade política gerada pelos federalistas, que pretendiam "libertar o Rio Grande do Sul da tirania de Júlio Prates de Castilhos", então presidente do Estado.
Empenharam-se em disputas sangrentas que acabaram por desencadear uma guerra civil, que durou de fevereiro de 1893 a agosto de 1895, e que foi vencida pelos seguidores de Júlio de Castilhos.
A divergência teve inicio com atritos ocorridos entre aqueles que procuravam a autonomia estadual, frente ao poder federal e seus opositores. A luta armada atingiu as regiões compreendidas entre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
O Partido Federalista do Rio Grande do Sul havia sido fundado em 1892 por Gaspar Silveira Martins. Em tese, o Partido defendia o sistema parlamentar de governo e a revisão da Constituição, pretendendo o fortalecimento do Brasil como União Federativa.
Desta forma, esta filosofia chocava-se frontalmente contra a constituição do Rio Grande do Sul de 1891. Esta era inspirada no positivismo e no presidencialismo, resguardando a autonomia estadual, filosofia adotada por Júlio de Castilhos, chefe do Partido Republicano Rio-grandense (PRR), e que seguia o princípio comtiano-positivista das "pequenas pátrias".
Júlio de Castilhos exerceu influência singular sobre a política gaúcha. Redigiu praticamente sozinho a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul de 1891 e usou todos os meios possíveis para sua aprovação. Tal constituição inspirava-se muito fortemente no Positivismo do filósofo francês Auguste Comte, e garantia ao governante os meios legais de implementar a política de inspiração positivista. Embora tida por autoritária, tal constituição pretendia implementar, no caráter do regime republicano, aspectos racionais, baseados na História e na Ciência a fim de superar aspectos populares ou metafísicos (abaixo as fotos de Júlio de Castilhos, a esquerda e Gaspar Silveira Martins, à direita).


Durante a Revolução Federalista de 1893, no Rio Grande do Sul, eram chamados de gasparistas ou maragatos, os seguidores de Gaspar da Silveira Martins, frontalmente opostos aos castilhistas, pica-paus ou chimangos, seguidores de Júlio de Castilhos.
Os chimangos estavam no poder com Júlio de Castilhos e tinham forte vínculo com o Governo Federal. O motivo da alcunha veio do chapéu usado pelos militares que apoiavam essa facção, que possuía listras brancas e que, segundo os revolucionários, seriam semelhantes a um tipo de pica-pau do Sul do Brasil. Esta denominação se estendeu a toda facção que passou, posteriormente a usar o lenço branco ao pescoço.
O termo maragato, no Brasil, foi usado pela primeira vez para se referir uma das duas grandes correntes políticas gaúchas, surgida no Rio Grande do Sul em 1891, no esteio da Revolução Federalista e identificada pelo uso do lenço vermelho. Os maragatos foram os que iniciaram a revolução, justificada como resistência ao excessivo controle exercido pelo governo central sobre os estados. O objetivo da revolução seria, portanto, garantir um sistema federativo, e a adoção da forma parlamentarista de governo. A origem do termo tem uma explicação complexa. No Uruguai eram chamados de maragatos os habitantes da cidade de San José de Mayo, Departamento de San José, talvez porque os seus primeiros habitantes fossem descendentes de maragatos espanhóis. Na província de León, Espanha, existe uma comarca denominada Maragateria, cujos habitantes têm o nome de maragatos, e que, segundo alguns, é um povo de costumes condenáveis, vivendo a vagabundear de um ponto a outro, com cargueiros, vendendo e comprando roubos e por sua vez roubando, principalmente animais; são uma espécie de ciganos. Na época da revolução, os republicanos legalistas usavam esta apelação como pejorativa, atribuindo-lhes propósitos mercenários. A realidade oferecia alguma base para essa assertiva: o caudilho estrategista brasileiro Gumercindo Saraiva, um dos líderes da revolução, havia entrado no Rio Grande do Sul vindo do Uruguai pela fronteira de Aceguá (Uruguai), no Departamento de Cerro Largo, comandando uma tropa de 400 homens entre os quais estavam uruguaios, supostamente descendentes de maragatos. A família de Gumercindo, embora de origem portuguesa, possuia campos em Cerro Largo. A atribuição desse apelido aos revolucionários, entretanto, foi um tiro que saiu pela culatra. A denominação granjeou simpatia. Os próprios rebeldes passaram a se denominar "maragatos", e chegaram a criar um jornal que levava esse nome, em 1896.

O Início do Conflito

As desavenças iniciaram-se com a concentração de tropas sob o comando do maragato João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares, barão de Itaqui, em campos da Carpintaria, no Uruguai, localidade próxima a Bagé . Logo após o potreiro de Ana Correia, vindo do Uruguai em direção ao Rio Grande do Sul, encontrava-se o coronel caudilho federalista Gumercindo Saraiva (abaixo, foto histórica de Gumercindo Saraiva - terceiro sentado, da esquerda para a direita - e alguns líderes do movimento).


Eficientemente, os maragatos dominaram a fronteira, exigindo a deposição de Júlio de Castilhos, que havia sido eleito presidente do estado pelo voto direto. Havia também o desejo de um plebiscito onde o povo deveria escolher a forma de governo.
Devido à gravidade do movimento, a rebelião adquiriu âmbito nacional rapidamente, ameaçando a estabilidade do governo rio-grandense e o regime republicano em todo o país. Floriano Peixoto, então na presidência da República, enviou tropas federais sob o comando do general Hipólito Ribeiro para socorrer Júlio de Castilhos.
Foram estrategicamente organizadas três divisões, chamadas de legalistas: a do norte, a da capital e a do centro. Além destas, foi convocada a polícia estadual e todo o seu contingente para enfrentar o inimigo.

O Final do Conflito
A revolução federalista foi vencida pelo governo central em junho de 1895 no combate de Campo Osório. Saldanha da Gama, possuidor de um contingente de 400 homens, lutou até a morte contra os Pica-paus comandados pelo general Hipólito Ribeiro.
A paz finalmente foi assinada em Pelotas no dia 23 de agosto de 1895. O presidente da República era então Prudente de Morais, e o emissário do governo federal era o general Galvão de Queirós.

domingo, 9 de novembro de 2008

A REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Generalidades
“Guerra dos Farrapos” ou “Revolução Farroupilha” são os nomes pelos quais ficou conhecida uma revolução ou guerra regional, de caráter republicano, mantida contra o governo imperial do Brasil, pela então província de São Pedro do Rio Grande do Sul (hoje estado do Rio Grande do Sul). O movimento resultou na declaração de independência daquela província, como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense, que perdurou por dez anos. Desenvolveu-se de 1835 a 1845, tornando-se o conflito armado mais duradouro que ocorreu no continente americano.
É muito importante que se destaque que a revolução, originalmente, não possuía caráter separatista, mas era dirigida contra o presidente da Província e Comandante das Armas; ela influencioua vivamente movimentos que ocorreram em outras províncias brasileiras (1842 em São Paulo e Sabinada na Bahia) e consagrou-se como a semente que consuziria à proclamação da república do Brasil. Mesmo considerando os reais motivos do movimento, o Império não poderia aceitar a destituição de seua delegados, fosse por golpe ou não. Assim se iniciava a luta que se estenderia por dez sofridos anos (abaixo, carga da Cavalaria Farroupilha).





A Revolução Farroupilha teve como líderes principais, o Coronel Bento Gonçalves da Silva, General Antônio de Souza Neto, Onofre Pires da Silveira Canto, Manuel Lucas de Oliveira, Antônio Vicente da Fontoura, Pedro José de Almeida (o Pedro Boticário), Davi José Martins (Davi Canabarro); além desses, recebeu inspiração ideológica de italianos carbonários refugiados, como o cientista Tito Lívio Zambeccari e o jornalista Luigi Rossetti, além de Giuseppe Garibaldi, que embora não pertencesse à carbonária, esteve envolvido em movimentos republicanos na Itália. A questão da abolição da escravatura também esteve envolvida, organizando-se exércitos que contavam com homens negros que aspiravam à liberdade (abaixo, Bento Gonçalves).





Antecedentes e Causas
A justificativa original do movimento se centrava no conflito político entre os liberais que propugnavam um modelo de estado com maior autonomia às províncias e o modelo imposto pela constituição de D. Pedro I, de caráter unitário. Além disso, havia uma disseminação de ideais separatista, tidos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade, seguindo o exemplo da Província Cisplatina (abaixo, General Neto).





Entretanto, o movimento também encontrou forças na posição secundária, tanto econômica como política, que a Província de São Pedro do Rio Grande ocupava nos anos que se sucederam à Independência. Diferentemente de outras províncias, cuja produção de gêneros primários se voltava para o mercado externo, como o açúcar e o café, a do Rio Grande do Sul produzia principalmente para o mercado interno. Seus principais produtos eram o charque e o couro. As charqueadas produziam para a alimentação dos escravos africanos, indo em grande quantidade para abastecer a atividade mineradora nas Minas Gerais, para as plantações de cana de açucar e para a região sudeste, onde inciava-se a cafeicultura. A região, desse modo, encontrava-se muito dependente do mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado e benefíciios tarifários, podia importar o produto por custo mais baixo. Além disso, instalava-se nas Províncias Unidas do Rio da Prata, uma forte indústria saladeiril, da qual participava Rosas, e que, junto com os saladeros do Uruguai (que deixara de ser brasileiro) competiria pela compra do gado da região, pondo em risco a viabilidade econômica das charqueadas sul-riograndenses (abaixo, Garibaldi).



Conseqüentemente, o charque rio-grandense tinha preço maior do que o similar oriundo da Argentina e do Uruguai, perdendo assim competitividade no mercado interno. A tributação da concorrência externa era uma exigência dos estancieiros e charqueadores . Esta tributação não era do interesse dos principais compradores brasileiros que eram os que detinham as concessões das lavras de mineração, os produtores de cana-de-açucar e os cafeicultores, pois veriam reduzida a lucratividade das mesmas, por maior dispêndio na manutenção dos escravos.
Há que considerar, ainda, que o Rio Grande do Sul, era região fronteiriça aos domínios hispânicos situados na região platina. Devido às disputas territoriais nesta área, nunca fora uma Capitania Hereditária no período colonial e, sim, parte de seu território , desde o século XVII ocupado por um sistema de concessão de terras a chefes militares. Estes dispunham de capacidade de opor-se militarmente ao fraco exército imperial na região. Ainda mais, na então ainda recente e desastrosa Guerra da Cisplatina, que culminou com a perda da área territorial do Uruguai, anteriormente anexada ao Brasil, as posições dos militares e caudilhos locais foram sobrepujadas por comandos oriundos da corte imperial (como o Marquês de Barbacena). Além disso a imposição de presidentes provinciais por parte do Governo imperial que ia contra o direcionamento político da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul, era mais um motivo de desagrado da elite regional.
Também é preciso citar o conflito ideológico presente no Rio Grande do Sul, a partir da criação da Sociedade Militar, no Rio de Janeiro, um clube com simpatia pelo Império, e até mesmo suspeito de simpatizar com a restauração de D. Pedro I. Um dos seus líderes foi o Conde de Rio Pardo, que ao chegar a Porto Alegre em outubro de 1833, fundou ali uma filial. Os estancieiros rio-grandenses não viam com bons olhos a Sociedade Militar e pediam que o governo provincial a colocasse na ilegalidade. Entre os protestos eclodiu uma rebelião popular, liderada pelos majores José Mariano de Matos e João Manuel de Lima e Silva que foi logo abafada e seus líderes punidos.
Não se pode deixar de mencionar, neste episódio, o importante papel representado pela Maçonaria brasileira, também evidentemente interessada na instauração da República. O próprio líder do movimento, Bento Gonçalves, rapidamente galgou todos os seus níveis e o grande pacificador do movimento, o Duque de Caxias, não por acaso, era também Maçon.


O Desenvolvimento da Revolução
Em 9 de setembro de 1836 os farrapos, comandados pelo General Netto, impõem violenta derrota ao coronel João da Silva Tavares, no Arroio Seival, próximo a Bagé. Empolgados pela grande vitória, os chefes farrapos decidem, em virtude do impasse político em que o conflito havia chegado, pela proclamação da República Rio-Grandense. O movimento deixava de ter um caráter corretivo e passava ao nível separatista.
Bento Gonçalves, então em cerco a Porto Alegre, recebe a notícia da proclamação da República e da indicação de seu nome como candidato único a presidente. Decide então contornar a capital da província para se juntar aos vitoriosos comandados de Netto. Quando vai atravessar o rio Jacuí na altura da ilha de Fanfa, é emboscado por Bento Manuel e pela esquadra do inglês John Grenfell. Bento Gonçalves e os principais chefes no local são presos, e a tropa é desbaratada. O governo imperial, após esta vitória, oferece anistia aos rebeldes para acabar de vez com o conflito. Netto, contudo, tendo concentrado tropas ao redor de Piratini, a capital da República, decide continuar a luta. Bento Gonçalves, escolhido presidente da República, só assume o seu posto em dezembro de 1837, após fugir da prisão em outubro.
A partir 1840 começa a decadência da revolução e com a tomada de Caçapava, atual capital e considerada inexpugnável por sua posição geográfica, inicia-se a fase da "República andarilha", até que Alegrete é escolhida como nova capital. Em Taquari, farroupilhas e imperiais travaram a maior batalha da guerra, com mais de dez mil homens envolvidos, entretanto sem resultados decisivos. São Gabriel foi perdida em junho, e alguns dias depois o General Netto só escapa do imperial Chico Pedro graças à sua destreza como cavaleiro. Em julho, novo fracasso farroupilha, desta vez em São José do Norte. Bento Gonçalves começa a pensar na pacificação. Em novembro é a vez de Viamão cair, morrendo no combate o italiano Luigi Rossetti, o criador do jornal "O Povo" órgão de imprensa oficial da república.


O Final do Conflito
Por fim, a 1 de Março de 1845, assinou-se a paz: o “Tratado de Poncho Verde” ou “Paz do Poncho Verde”. Entre as principais condições impostas pelos revolucionários estavam a anistia plena aos revoltosos, a libertação dos escravos que combateram no Exército piratinense e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas. O cumprimento parcial ou integral do tratado até hoje suscita discussões. A impossibilidade de uma abolição da escravatura regionalmente restrita, a persistência de animosidade entre lideranças locais e outros fatores administrativos e operacionais podem ter ao menos dificultado, senão impedido o cumprimento integral do mesmo.
Dos escravos sobreviventes, alguns acompanharam o exército do General António Neto em seu exílio no Uruguai, outros foram incorporados ao Exército Imperial e muitos foram vendidos novamente como escravos no Rio de Janeiro.
É interessante observar que a atuação de Luís Alves de Lima e Silva (o Duque de Caxias) foi tão nobre e correta, para com os oponentes, que a Província, novamente unificada, o indicou como senador. O Império, reconhecido, outorgou ao General o título nobiliárquico de Conde de Caxias (1845). Mais tarde, em 1850, com a iminência da Guerra contra Rosas seria indicado Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

TRIBUTO A PATSY CLINE

Patsy Cline, nascida Virginia Patterson Hensley, no dia 8 de setembro de 1932 e tragicamente falecida em um acidente aviatório em 5 de março de 1963, foi uma cantora norte-americana “country” que deleitou-se com a música popular através do sucesso durante a era do “Nashville Sound”, no início dos anos sessenta. Desde a sua morte, com a tenra idade de trinta anos, no pico da sua carreira, ela tem sido considerada uma das mulheres vocalistas de maior sucesso, influentes, reverenciadas e aclamadas do século XX. A história de sua vida e carreira foi objeto de vários livros, filmes, documentários, artigos e peças de teatro.
Patsy Cline foi mais conhecida por seu maravilhoso timbre e a emocionalmente expressiva e vigorosa voz de contralto que, junto com seu papel como movedora e agitadora da indústria da música “country”, tem sido citada e louvada como inspiração por vários vocalistas de vários gêneros musicais.
Postumamente, milhões de seus álbuns foram vendidos nos últimos 45 anos e ela recebeu numerosos prêmios que lhe proporcionaram um status de ícone semelhante ao das lendas da música Johnny Cash e Elvis Presley. Apenas dez anos após a sua morte, ela tornou-se o primeiro artista solo feminino introduzido ao “Country Music Hall of Fame” (Hall da Fama da Música Country). Em 2001 ela foi votada pelos artistas e membros da indústria da música country como Número 1 no especial para televisão da Country Music Television das “40 Maiores Mulheres da Country Music” de todos os tempos e, em 1999, ela foi votada como a Número 11 no especial da VH1 “As 100 Maiores Mulheres do Rock and Roll” de todos os tempos, por membros e artistas da indústria do Rock. De acordo com a sua placa de 1973 do Hall of Fame da Country Music, “Sua herança de gravações eternas é o testemunho à sua capacidade artística".
Patsy Cline nasceu na cidade de Winchester, estado da Virginia, filha de Sam e Hilda Patterson Hensley, um ferreiro e uma costureira, e era a mais velha de três crianças. Teve uma infância infeliz e cresceu uma garota pobre “no lado errado dos trilhos”, seu pai tendo abandonado o lar quando ela tinha quinze anos de idade. Uma grave doença, enquanto criança, causou-lhe uma infecção na garganta que, de acordo com Patsy, resultou no grande presente que foi a sua voz.
Para ajudar a sustentar a sua família após seu pai tê-la abandonado, ela desistiu do secundário e teve vários empregos: engarrafadora de refrigerantes e garçonete durante o dia e cantora de boates locais à noite, vestindo o seu famoso vestido com franjas à moda do oeste, desenhado por ela própria e feito por sua mãe Hilda.




Após ter sido descoberta e brilhar por oito anos como cantora, o avião em que viajava de volta para casa, em Nashville, pilotado por seu segundo marido, sob mau tempo, após um show beneficente em Kansas City, Kansas, bateu às 18:20 hs, de acordo com o relógio de Patsy, em uma floresta nas vizinhanças de Camden, Tennessee , a somente 150 km do seu destino. O avião havia caído com o nariz para baixo e não houve sobreviventes.
Muitos dos itens recolhidos pelos fãs, após o acidente, foram mais tarde doados ao “The Country Music Hall of Fame”, mas o vestido branco de chifon que Patsy usara no seu último concerto, nunca foi encontrado.
Ela foi enterrada em sua cidade natal, Winchester, Virginia, no Shenandoah Memorial Park e seu túmulo é marcado com uma simples placa de bronze onde se lê: Virginia H (Patsy Cline) “A morte não pode matar o que nunca morre: Amor.”
Entre os seus grandes sucessos, podemos encontrar: "Always", "Walkin' After Midnight", "I Fall to Pieces", "She's Got You", "
Crazy", e "Sweet Dreams".



Após essa curta biografia, do alto da minha ignorância, eu pergunto aos meus amigos: sabem de quem eu estou falando? Possivelmente, a grande maioria dirá um sonoro não; não irá reconhecê-la ou se lembrar, tal como aconteceu comigo. Esta foi exatamente a razão porque tanto desejei escrever esse tributo a Patsy Cline. Entretanto, escutem as melodias "Always", do inesquecível Irving Berlin, e “Crazy”, do famoso Willie Nelson, aqui colocadas como anexos e, tal como eu fiz, deliciem-se, recordem, comovam-se e prestem também tributo, se assim o desejarem, à garota que as interpreta, Patsy Cline.

domingo, 2 de novembro de 2008

AS REVOLUÇÕES DO RIO GRANDE DO SUL

Como algo absolutamente natural, pelo fato de ser gaúcho, embora da capital, Porto Alegre, sempre tive muita curiosidade acerca das revoluções que se desenvolveram no Rio Grande do Sul, bem como daquelas em que o estado tenha sido, de uma forma ou outra, parte ativa envolvida. Essa curiosidade nunca me foi satisfeita, de forma espontânea, por meu pai que, embora sendo natural de Santiago do Boqueirão e criado em Bom Jesus, portanto digno representante do gaúcho da campanha e dos campos de cima da serra, além de oficial da Brigada Militar do Estado, sempre foi muito calmo e de índole pacífica; posso até mesmo presumir que nunca tenha gostado muito do assunto “revoluções”, pois, de uma forma geral, elas sempre se revelaram, e tiveram origem, como uma forma de subversão da ordem constituída, algo com que meu pai nunca concordou. Como iniciativa minha, nunca lhe coloquei a questão, pois, à época em que o tinha à disposição, tais assuntos ainda não me interessavam; quando me tornei adulto e eles passaram a me interessar, já era tarde demais, pois as oportunidades em que pudéssemos dispor de tempo comum livre para ouvir os relatos das “histórias do Rio Grande”, passaram a rarear cada vez mais.



Recentemente, após ler “Narrativas de Terra e Sangue”, de Arthur Ferreira Filho, um tio de meu pai, minha curiosidade sobre o assunto voltou a aguçar-se e me propus a pesquisar sobre “As Revoluções do Rio Grande do Sul”.
Minha principal fonte de informações foi a “internet” embora tenha lido livros importantes no que se refere ao episódio da “Revolução Farroupilha”. E, claro, não é meu objetivo escrever um tratado sobre cada uma dessas revoluções, mas somente apresentá-las reunidas, resumidamente, em ordem cronológica, de forma a bem poder situar o leitor que se aventurar a travar conhecimento com essas histórias. Pretendo, com isso, colocar o leitor na seqüência dos movimentos, podendo, mais facilmente, entender as causas que os provocaram e as conseqüências da sua ocorrência, o que sempre tive dificuldade em entender. Quero também deixar bem claro, que não é minha intenção, de forma alguma, justificar, condenar, exaltar, colocar-me a favor ou contra qualquer dos movimentos apresentados; até mesmo meus poucos comentários colocados, visam apenas chamar a atenção do leitor menos avisado para referências que a própria fonte destaca e que demonstram coerência, ou o seu oposto, dentro das ações das pessoas envolvidas. A propósito, costumo muito ouvir dizer que o tempo se encarregará de demonstrar a razão ou a sua falta, o acerto ou erro de determinadas atitudes tomadas por este ou aquele personagem. Não creio mais nisso; hoje, estou convencido que na história, só e apenas triunfa, pelo menos frente ao grande público, o lado vencedor. Basta conferir.

Abaixo, as ruínas jesuítas de São Miguel das Missões, Patrimônio da Humanidade desde 1983 no estado do Rio Grande do Sul.


Cumpre também observar, que essa pequena relação de cinco revoluções não esgota, de forma alguma, todos os movimentos em que se envolveram os gaúchos, mas apenas os mais importantes e conhecidos, segundo o que me consta, durante o período pós-independência, pré-república e sua consolidação. Por questão de justiça para com os gaúchos, seria necessário analisar as razões pelas quais o povo do Rio Grande do Sul muito esteve envolvido em ações belicistas, entre outras a sua posição geográfica com relação aos problemas fronteiriços e ao governo central e a sua economia primordialmente dirigida à pecuária, pelo menos inicialmente. Mas tal não é o objetivo da pesquisa.
Abaixo, episódio da Batalha dos Farrapos, apresentada em óleo sobre tela de José Wasth Rodrigues.



Entretanto, é preciso que se diga, que por força mesmo desses movimentos, o estado possui papel marcante na história do Brasil, tendo sido palco da maior guerra civil do país e do mais longo conflito armado das Américas: a Revolução Farroupilha.
Posto que, mesmo resumido, o espaço dedicado a cada movimento ficou bastante grande para reuni-los todos em um mesmo artigo, publicaremos cada um deles individualmente, na ordem cronológica dos acontecimentos. Iniciaremos com a "Revolução Farroupilha".

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

RESGATANDO ARTHUR FERREIRA FILHO

Ultimando os preparativos para a nossa última viagem de Florianópolis (SC) para Gramado (RS), adentrei novamente o escritório de nossa casa em Canasvieiras - com um pouquinho de saudade antecipada pelas coisas que ia estar deixando - para mais uma olhada nas estantes de livros. O objetivo era encontrar algo leve, em peso e conteúdo, para ler durante a viagem, se a oportunidade surgisse. E encontrei um volume fino, com o título "Narrativas de Terra e Sangue", cujo autor chama-se Arthur Ferreira Filho".
Pois bem, esse escritor, é tio materno de meu pai Carlos Ferreira de Azambuja e, conseqüentemente, meu tio avô. Meu pai, muito mais Azambuja que Ferreira, sempre foi bastante reservado, em geral, e mais ainda no que se referia à sua vida familiar. Teve as suas razões, surgidas ainda em sua infância, e as carregou por toda a vida. Através dele muito pouco transpirou acerca dos meus antepassados Azambujas ou Ferreiras, muito embora fossem famílias muito grandes, tanto a nivel regional, como nacional. Uma peculiaridade curiosa, entretanto, é que meu irmão Nei e eu ainda carregamos em nossos nomes o sobrenome Ferreira, exatamente por solicitação de Arthur Ferreira Filho. Pelo menos até pouco tempo atrás, era normal que os filhos ajuntassem ao seu prenome, o último sobrenome da mãe e o último sobrenome do pai. A pedido deste nosso tio avô, já antecipando o conseqüente desaparecimento do sobrenome Ferreira nos nomes dos filhos de meu pai, a ele sugeriu que o mantivesse em nossos nomes, o que evitaria a extinção do sobrenome, pelo menos por mais uma geração. Mal sabia ele que a minha esposa Selene sugeriria, numa singela homenagem, que o nosso terceiro filho, e primeiro homem, se tornasse Júnior; para minha alegria e "transtorno" permanente para o meu filho, dado o comprimento quilométrico de seu próprio nome: Nelson Sant'Anna Ferreira de Azambuja Júnior!

Nasceu Arthur Ferreira Filho na histórica Fazenda do Bujuru, em São José do Norte, cidade fronteira à importante cidade de Rio Grande, porto marítimo na entrada da Lagoa dos Patos, sul do estado do Rio Grande do Sul, na data revolucionária de 20 de setembro (por acaso mesma data natalícia de meu pai), em 1899; faleceu em Porto Alegre em 25 de março de 1996, com 96 anos de idade. Muito cedo transferiu-se para Bom Jesus, situado na região nordeste do estado, cidade da qual seria, primeiro, delegado, e mais tarde, Prefeito Municipal. Foi também Prefeito de Passo Fundo e São Leopoldo.
Descendente de antiga família de fazendeiros e militares do sul do estado do Rio Grando do Sul, foi engenheiro, militar, escritor, sociólogo, historiador e político brasileiro. Positivista, era filiado ao Partido Republicano Rio-grandense. Foi Capitão da Brigada do Norte durante a Revolução de 1923 e chegou a Tenente-Coronel em 1925, em operações de guerra nos estados de Santa Catarina e Paraná. Mereceu várias condecorações e medalhas, foi diretor da Biblioteca Pública do Estado e membro, entre outros, do Instituto Geográfico do Rio Grande do Sul, Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, Academia Rio-grandense de Letras, da qual foi quatro vezes presidente. Escreveu vários livros, entre eles uma "História Geral do Rio Grande do Sul" e "Narrativas de Terra e Sangue". Não é meu objetivo transcrever as "Memórias" deste gaúcho ilustre, mas gostaria muito de registrar que Arthur Ferreira Filho encarna o que o Rio Grande tem de melhor, com sua experiência da "campanha do tempo das tropeadas de gado gordo para a tablada de Pelotas e dos negócios de mulas de tiro para as áreas mineiras e já para as urbanizações de São Paulo". "Castilhista" de berço, manteve-se sempre dentro dos padrões éticos da filosofia positivista de Augusto Comte, mostrados no regime de nobre conduta cívica dos governos de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Em todas as funções públicas de que se ocupou, sempre desempenhou fecunda e honesta administração. E, mais do que qualquer outra coisa, assistiu e participou da consolidação de República, colaborando para a sua manutenção, inclusive colocando em risco a sua própria vida.
Li o seu livro "Narrativas de Terra e Sangue" em dois dias e nunca, como autêntico gaúcho não-bairrista, me deliciei tanto com as histórias e "causos" das coisas do Rio Grande, como com as narradas por Arthur Ferreira Filho. Como diz Ângelo Torres, prefaciando seu livro de memórias, "Quem quiser conhecer o Rio Grande a cavalo, do Império e dos primeiros anos da República, deve percorrer as páginas de Narrativas de Terra e Sangue", onde Arthur Ferreira Filho relata as histórias pastoris daquele tempo, com uma simplicidade e, ao mesmo tempo, uma emoção que não pode deixar de fazer retornar às suas origens os gaúchos que, como eu, por tanto tempo se mantiveram espacialmente distantes do seu querido torrão natal.
Faço público o meu lamento, por não possuir, à época em que nos deixou, o conhecimento necessário para bem poder expressar ao meu pai, a minha enorme admiração por esse seu tio querido, após tomar conhecimento de uma pequeníssima parcela de sua obra e de sua vida.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

THE NETHERLANDS OU HOLLAND?

Há poucos dias atrás, comentando sobre a questão “Pequim ou Beijing?” e motivado por aquela discussão, lembrei-me de ter ouvido e freqüentemente ainda ouvir, muitas vezes, pessoas – incluindo autoridades - usarem indiscriminadamente as palavras “Holanda” e “The Netherlands” (em português, Países Baixos). E lembrei-me também do meu amigo Gilberto Valente Canali, que havia feito, logo após ter-se formado em Engenharia Civil, um curso em Delft, “The Netherlands”, casualmente localizada na região de “Holland”, e resolvi realizar uma pequena pesquisa para esclarecer o assunto. Vamos lá...
Netherlands é o país europeu, parte do "Reino das Netherlands", que consiste das Netherlands, propriamente ditas, das Antilhas das Netherlands e Aruba, no Caribe. As Netherlands são uma monarquia constitucional democrática parlamentar, localizada na Europa Ocidental. Faz fronteira com o Mar do Norte, ao norte e oeste, com a Bélgica, ao sul e com a Alemanha a leste. É, portanto, o País. A figura abaixo mostra as Netherlands (em vermelho) e sua relação com a Europa.





A Holanda (em língua inglesa e dutch, Holland) é uma região na parte ocidental das Netherlands. Uma importante potência marítima e econômica no século XVII, a Holanda hoje é constituída pelas províncias Holanda do Norte e Holanda do Sul (“dutch provinces”) e é, portanto uma parte das Netherlands. Por falar em “Dutch”, é oportuno lembrar que essa palavra é usada para se referir às pessoas, à língua e à qualquer coisa nativa das Netherlands (em dutch, Nederland); em conseqüência, é absurdo dizer “fulano é holandês”, a “língua holandesa” etc…, mas deveria ser dito “fulano é dutch”, a “língua dutch” etc.. Consequentemente, quando referindo-se às “Netherlands”, como um todo, o adjetivo a ser empregado é “Dutch”. Tal termo não pode ser usado para “Holanda” em um contexto moderno, porque ele se refere a toda Netherlands e não apenas à Holanda. A figura que segue mostra a Holanda (em laranja) dentro das Netherlands.
Com relação à língua falada nas Netherlands, é interessante registrar que tanto o “dutch” como o “frisian” são línguas oficiais daquele país.





As Netherlands são, muitas vezes, chamadas de Holanda, o que é, portanto, formalmente incorreto, uma vez que a Holanda do Norte e a Holanda do Sul são meramente duas de suas doze províncias. Esse exemplo de “pars pro toto” ou sinédoque é bem similar à tendência que existe em se referir ao Reino Unido como “Inglaterra”.
O nome Holland (tanto em inglês, quanto em dutch) apareceu documentado, pela primeira vez, em 866 AD, para caracterizar a região ao redor de Haarlem e, por volta de 1064, era usada para indicar o nome de todo o distrito. Nessa época os habitantes de Holland referiam-se a si próprios como “Hollanders”; Hoje em dia, esse termo refere-se, especificamente, ao povo das provícias de North Holland e South Holland. Portanto, estritamente falando, o termo “Hollanders” não se refere ao povo de toda as “Netherlands”, embora, coloquialmente, Hollanders (holandeses) seja muitas vezes e erradamente usado nesse contexto mais amplo.





A palavra Holland é derivada do termo “dutch” holtland (que significa “terra florestada”). Essa variação de escrita permaneceu em uso até mais ou menos o século XIV em cuja época o termo estabilizou-se como Holland. Popular, mas incorreta, a etimologia sustenta que Holland é derivada de hol land (“terra côncava”) e foi inspirada pela geografia de terras baixas predominantes na Holanda. Em contrapartida, a palavra “dutch” Nederland, significa terras baixas ou inferiores” e, essa sim, tem a sua razão de ser.
Como a maioria sabe, as Netherlands é, geograficamente, um país de terras baixas, com 60% de sua população vivendo abaixo do nível do mar. Áreas significativas do país foram obtidas através de aterro marítimo e preservadas através de um elaborado sistema de diques e “polderes”. Não é à toa que grandes e renomados centros de hidráulica surgiram exatamente naquele país e têm, por tanto tempo, atraído estudiosos de todo o mundo em busca de novos e eficientes conhecimentos nessa área.